Hotel Saraiva de Carvalho. Marquês de Pombal Presidente. E um general Inverno. Dois professores coleccionaram as respostas mais disparatadas dos alunos de História, que tem das piores médias. Porquê?
A pergunta era daquelas de algibeira e vinha num teste de História: “Qual a batalha em que desapareceu D. Sebastião?” A resposta está parcialmente correta e parcialmente… confusa. “D. Sebastião desapareceu quando estava a combater os mouros na cidade marroquina de Alcácer do Sal.” Não, o facto de esta batalha, memorável batalha, ter ocorrido no distante ano de 1578 não explica a (imemorial) troca do aluno de “Quibir” por “Sal”.
Mas esta é apenas uma das muitas, mesmo muitas respostas “disparatadas” que Isabel Moreira de Brito, há duas décadas professora de História, recolheu e publica agora no livro “D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal?”. São sobretudo respostas em testes do Ensino Básico ou do Secundário. Mas outras há que surgiram também nos Exames Nacionais do 12.º ano. A explicação dos equívocos, acredita Isabel Moreira de Brito, é muitas vezes a ansiedade decorrente das provas e a falta de estudo do próprio aluno. Mas o atual programa de História, demasiado extenso sobretudo no Secundário, também pode contribuir para que haja tantos (e tão divertidos quanto inenarráveis) enganos.
“O próprio exame de História também é um problema, porque englobava apenas a matéria do 12.º ano e, agora, engloba a matéria de três anos, o que tornou o exame bastante difícil. E muitas vezes o que é lecionado nos programas de História não vai ao encontro da realidade que estão a viver e acaba por se tornar pouco apelativo. Eles começam [no Secundário] pela civilização grega e só depois, no 12.º, chegam à História contemporânea. É evidente que, no início, não é fácil que um aluno de 14 anos, ainda algo imaturo pela idade que tem, se interesse pela Idade Média ou pelas instituições medievais.E o professor tem de encontrar estratégias para despertar a curiosidade – mas nem sempre é fácil”, explica ao Observador a professora do Agrupamento de Escolas de Alpendorada, em Marco de Canaveses.
Voltando a D. Sebastião e a Alcácer-Quibir. Um outro livro agora lançado — sim, há dois –, “História de Portugal em Disparates”, de Luís Mascarenhas Gaivão, outrora professor de História e hoje aposentado, reúne igualmente respostas (pouco conseguidas, claro) sobre esta famigerada batalha. Ou melhor, opiniões. Uns alunos opinam que, “como não tinha homens”, D. Sebastião “não devia ter ido para a guerra”. Mas o que é que aconteceu em Marrocos? “Era burro [D. Sebastião] e borrou-se, armando-se em bom”. Outro estudante, incrédulo, é mais parco em palavras na hora de responder: “Foi tudo tão mal organizado e tão absurdo que contado ninguém acredita.”
“Sinto que os alunos chegam mal preparados ao Ensino Básico”, lamenta Luís Mascarenhas Gaivão. “E vão para o Secundário com falhas graves na língua portuguesa. Tudo se complica na História, claro, porque muitas vezes os textos que servem de base às perguntas são, por exemplo, medievais e por aí fora, longe da linguagem dos alunos hoje. E como é que os alunos, que mal sabem ler, vão saber interpretar e escrever? Não vão. Então, a disciplina torna-se mal-amada”.
Há enganos que dificilmente podem ser explicados pela extensão do programa lectivo. Durante um teste, e à pergunta “refira a importância da Batalha de Waterloo para a História da Europa”, respondeu o aluno, ignorando que a batalha ocorreu em 1815 e resultou na derrota (e fim da hegemonia) de Napoleão Bonaparte: “Waterloo foi muito importante para a Europa, pois com este tema os Abba venceram o Festival Eurovisão da Canção”. Uma resposta com potencial para levar o general prussiano Gebhard von Blücher e o Duque de Wellington a voltarem-se no túmulo às gargalhadas.
“Também há alunos que vão para o exame sem estudar. E estas situações mais descabidas acabam por acontecer. Vão para exame sem estudar porque nem precisam da nota da disciplina. Fazem lá as contas deles, sabem que têm um 12 ou um 13 na frequência, a nota do exame é 30% da nota final, e não se preocupam. E depois acontecem situações como esta. É preocupante”, explica Isabel Moreira de Brito.
Preocupantes são igualmente as respostas a perguntas relacionadas com a religião, por exemplo. No livro “História de Portugal em Disparates”, de Luís Mascarenhas Gaivão, e à pergunta “o que é a Era Cristã”, há respostas (e equívocos) de bradar aos céus. “Os cristãos são todos os que acreditam num só Deus: Alá.” Haverá certamente um teólogo ou outro que discorde do aluno em causa. Mas dificilmente deixará de se rir da seguinte resposta: “Era Cristã era uma palavra que os cristãos usavam muito: era Cristã”.
O famoso “general” que é uma estação do ano
“Indique o nome da Aliança criada na Europa após a derrota de Napoleão Bonaparte”, pedia-se num teste. A resposta? “A Santa Aliança, da responsabilidade de Deus, do Filho e do Espírito Santo.” Não era bem, bem. Era uma “Santa Aliança”, sim, mas nada tinha a ver diretamente com a Santíssima Trindade da doutrina cristã. Tratou-se de um tratado político-religioso elaborado pelo czar russo Alexandre I, sendo assinado em Paris, em setembro de 1815, pelo czar, pelo rei da Prússia, Frederico Guilherme III, e pelo imperador da Áustria, Francisco I, e resultou da união dos três ramos da família cristã europeia: os ortodoxos russos, os protestantes prussianos e os católicos austríacos.
E à pergunta “quais as causas da derrota de Napoleão Bonaparte na Rússia?”, o que respondeu um aluno de Isabel Moreira de Brito? “Napoleão foi derrotado por um general chamado Inverno numa batalha ocorrida perto de Moscovo. O general Inverno, um dos mais importantes de toda a Rússia, conduziu os seus exércitos à vitória e obrigou Napoleão a retirar-se da Rússia.” Se a resposta era uma metáfora, está… meio correta. De facto, o Inverno, a estação e não um general, foi importante (fundamental na verdade) na derrota das tropas de Napoleão. Após a rejeição, por parte do czar Alexandre I, do Bloqueio Continental proposto por Napoleão, este último invadiu a Rússia. Isto em 1812. As tropas comandadas pelo general Mikhail Kutuzov recuavam queimando tudo à sua passagem, tática de guerra a que se chamaria de “terra queimada”. No dia 14 de setembro, o exército de Napoleão entrava em Moscovo. A cidade tinha sido também incendiada. Não tardaria, chegava o Inverno e 40 graus abaixo de zero. Os franceses bateram em retirada. Mas cerca de seiscentos mil soldados morreram durante a invasão napoleónica da Rússia.
A professora também se diverte com as correções. E uma resposta disparatada que contenha um raciocínio correto é valorizada. Não é certamente o caso da resposta à pergunta “identifique o tema representado na obra A Escola de Atenas, de Rafael”. Trata-se, na verdade, de um dos frescos mais conhecidos do período renascentista, ilustra a Academia de Platão, e foi encomendado a Rafael pelo Papa Júlio II, que pretendia demonstrar a continuidade histórica do pensamento filosófico, sendo igualmente uma alegoria complexa ao conhecimento profano – pois estão nele representados, além de filósofos, matemáticos, astrónomos, humanistas ou artistas. O aluno não sabia a resposta de todo em todo. Então, resolveu “analisar” a pintura à sua maneira. “A obra representa uma espécie de Universidade Sénior da época. No centro do quadro, os homens representados são velhos, têm uma barba branca. Além disso, aparecem mais idosos, alguns com bengala e com livros na mão, por isso é que andam a estudar. A obra chama-se A Escola de Atenas, portanto, seriam idosos de Atenas e, provavelmente, estariam no intervalo de alguma aula. Vemos alguns sentados nos corredores a ler e a escrever, se calhar até estavam a copiar o trabalho para casa.”
Apesar de tudo, esta é talvez a resposta disparatada favorita de Isabel Moreira de Brito: “A capacidade imaginativa foi tão grande e a argumentação tão boa, que eu achei brilhante na altura a forma como ele explicou aquilo. Obviamente não tinha nada a ver com a obra. [Risos] Mas os pormenores da explicação, tudo o que viu no quadro… é delicioso. Claro que é um desconsolo para um professor uma resposta disparatada. Mas nos casos em que a resposta errada não é um disparate total, em que o aluno trocou a informação mas percebeu o essencial, o raciocínio é obviamente aproveitado e tido em consideração na avaliação”.
"Há necessidade de se reduzirem os programas de História A, nomeadamente os seus conteúdos ao que é essencial, acabando-se com a tal ‘ditadura dos conteúdos’, veiculada pelos manuais, que acabam, demasiadas vezes, a substituir-se aos programas disciplinares."
Rafael, tal como Miguel Ângelo, por exemplo, foi um dos mais importantes pintores do Renascimento. Donatello voltou-se sobretudo para a escultura. À pergunta “em que áreas artísticas se destacaram Rafael, Miguel Ângelo e Donatello?”, um aluno respondeu no teste: “Destacaram-se no cinema, nos filmes das Tartarugas Ninja”.
Mas voltando à pintura. É nesta (e na análise desta) que surgem as respostas mais “inspiradas”. Vejamos um exemplo: “Analise a obre de Hyacinthe Rigaud, em que Luís XIV aparece retratado, destacando os símbolos do poder representados.” O aluno respondeu no respetivo teste de História: “O rei usa sapatos com salto alto, leggings, uma blusa com imensos folhinhos e bordados. Vê-se que a moda era uma das suas preocupações. Na minha opinião, podemos dizer que já naquela época existiam metrossexuais. Luís XIV é um exemplo.” É certo que o Rei Sol gostava que o retratassem como imperador, omnipresente e magnífico, sempre altivo nos retratos, nunca sorrindo – até porque a doença cedo lhe levaria os dentes. Vaidade? Talvez. Avarento? Um pouco, sim. Metrossexualidade? Era cedo para tal…
O Marquês de Pombal que foi Presidente
A classificação média de História A no exame do Secundário é uma das piores entre todas as disciplinas. Nos últimos cinco anos rondou sempre os 10 valores. Foi negativa (9,3) em 2016, subindo em 2017 para 10,2. Mas excluindo o exame nacional do 12.º ano, a média de História A foi mesmo a mais baixa entre todas as disciplinas: 12,98 valores, atrás da Matemática (13,8) ou do Português (13,4).
O presidente da Associação de Professores de História, Miguel Monteiro de Barros, apresenta ao Observador uma das causas principais para este “estado de coisas”: “Os programas da disciplina de História A são demasiado extensos, para mais quando se equaciona a necessidade que professores e alunos sentem de que se lecionem todos os conteúdos que possam vir a estar presentes nas provas de História”. Defende por isso a redução desses programas e o desenvolvimento de competências históricas, “através da interpretação, da reflexão e da crítica de fontes”. Só assim, acrescenta, “se conseguem ultrapassar situações em que os alunos se limitam a cruzar informações avulsas recolhidas nas aulas com informações recolhidas na Internet. Os resultados dos exames refletem esta realidade”.
"Os alunos vão para o Secundário com falhas graves na língua portuguesa. Tudo se complica na História porque muitas vezes os textos que servem de base às perguntas são, por exemplo, medievais. Como é que os alunos, que mal sabem ler, vão saber interpretar e escrever? Não vão."
Às vezes a “investigação” (feita muitas vezes com recurso a resumos “abrasileirados” encontrados na Internet e pouco aprofundados) acaba por resultar em confusão e respostas com erros de palmatória. “A Internet pode ser prejudicial se não se seguirem as recomendações dos professores. São recomendados determinados sítios que os alunos deverão consultar. Mas nem sempre isso acontece. Muitas destas respostas um pouco absurdas têm mesmo a ver com isso: não se ouviu bem na sala de aula, não se anotou qual era a resposta certa, e depois, em casa, o estudo também não é devidamente feito. Por iniciativa própria tanto podem encontrar o trigo como o joio”, garante Isabel Moreira de Brito.
Luís Mascarenhas Gaivão, que durante três décadas foi professor do Ensino Básico e se aposentou há oito anos, garante que, apesar dos disparates que foi encontrando, os alunos, hoje como anteriormente, são “inteligentíssimos”. E explica: “Que ninguém pense o contrário. Em muitos dos disparares eu percebo que o aluno está a pensar. O problema é que demasiadas vezes preocupam-se em decorar o programa e não entendem a História. O professor esforça-se para que entendam. Mas nem sempre é fácil. Porque os professores estão a lecionar com um cutelo no pescoço.”
Cutelo? “As turmas são grandes demais, os programas extensos demais. O principal problema está no programa. Não está bem elaborado e não se adapta às idades dos alunos. São programas elaborados por ‘eminências’ ministeriais que não conhecem a realidade. É elaborado por professores? Muitas vezes são ‘professores’ que nunca lecionaram. Ou se lecionaram, só lecionaram no começo. Estão nos gabinetes e por lá continuam, não conhecem a realidade. Têm que perceber que uma criança não pode ter a mesma capacidade de raciocínio de um adolescente, por exemplo. Não tem as mesmas noções de tempo, de espaço, são noções ainda incipientes. E é por isso que surgem os erros”, explica o autor do livro “História de Portugal em Disparates”.
Mas voltando ao “joio” da professora Isabel. Eis exemplos colhidos da História de Portugal. “O que aconteceu ao Presidente do Conselho com a revolução do 25 de Abril?” O aluno, desconhecendo certamente que o ditador morreu a 27 de julho de 1970, respondeu: “Salazar deixou de governar e foi para o exílio”. O presidente era, naturalmente, Marcello Caetano, e Caetano exilou-se mesmo (no Brasil) após a revolução. Já no livro “História de Portugal em Disparates”, de Luís Mascarenhas Gaivão, o 25 de Abril é descrito por um aluno (quase poeticamente, diga-se) como o dia em que os militares “disseram adeus à ditadura e olá à liberdade”. Outro há que garante: “Acabou-se com a PIDE e com a independência”, concluindo depois: “Já se podiam fazer deflamações do Estado e dizer bocas sem ir preso”.
Recuemos na História. “Indique a função desempenhada pelo Marquês de Pombal durante o reinado de D. José I.” A resposta foi: “O Marquês de Pombal era o Presidente da República do rei D. José.” Ser Presidente da República numa… Monarquia é complicado. Sebastião José de Carvalho e Melo era primeiro-ministro. Foi quaaaaase. Adiante. “Qual o nome do militar português responsável pela vitória em Aljubarrota?” O aluno responderia no teste: “Nuno Álvares Pereira, que tinha o título de Conde Estável.” Podia ter respondido apenas Nuno Álvares Pereira e a resposta estaria correta. Mas não: inventou. E trocou “condestável” por “ Conde Estável”. O posto de condestável do Reino foi criado por D. Fernando I, em 1382, e designava o comandante-supremo do Exército. O condestável era a segunda figura da hierarquia militar, logo a seguir ao monarca.
"Claro que é um desconsolo para um professor uma resposta disparatada. Mas nos casos em que a resposta errada não é um disparate total, em que o aluno trocou a informação mas percebeu o essencial, o raciocínio é obviamente aproveitado e tido em consideração na avaliação."
O escritor José Saramago, por exemplo, viajou no tempo (até ao século XVIII) durante um teste de História. “Indique o nome do monarca responsável pela construção do Convento de Mafra.” A resposta: “O Convento de Mafra foi mandado construir por D. João V e o escritor Saramago escreveu num diário todos os pormenores da construção”. Mais uma vez, o aluno é “tramado” pelo excesso de resposta. E disparate, claro.
Como disparatada foi a resposta à pergunta: “Caracteriza o estilo manuelino”. “O estilo manuelino foi criado por D. Manuel I, um rei que era muito estiloso.” É certo que a exuberância das formas (nas áreas arquitectónica, decorativa e escultórica) carateriza o estilo manuelino. Mas o Convento de Cristo, em Tomar, e Mosteiro dos Jerónimos ou a Torre de Belém, em Lisboa, não são propriamente um muppie ambulante com a figura “estilosa” de D. Manuel I lá decalcada, qual anúncio da Benetton. A pergunta é idêntica no livro de Luís Mascarenhas Gaivão e a resposta igualmente um disparate: “O istilo Manuel Lino eram âncoras e cordas, ingreijas e casas com as pontas em bico. Tinham a característica do gosto da arte. Quadros sobre o mar e quadros sobre a Cruz de Cristo. Era feito com plantas, esferas e animais e caracterizava-se com as leis do mar e o material que era usado.”
A Estátua da Liberdade num avião em 1885?
Mas a restante História, que não só a de Portugal, também é maltratada em testes e exames. Num tempo, o século XIX, em que o transporte aéreo intercontinental não existia, à pergunta “refira qual o país que ofereceu a Estátua da Liberdade aos EUA” um aluno respondeu assim: “A Estátua da Liberdade foi feita pelos franceses, que a ofereceram aos americanos e, para isso, tiveram de transportá-la de avião.” Mesmo hoje, transportar uma estátua em bronze com 46 metros de altura e 158 toneladas de peso é missão difícil. Em abril de 1885 a estátua chegou aos Estados Unidos a bordo do navio francês Isère.
Vinte anos antes, a 14 de abril de 1865, o 16.º presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, foi alvejado num camarote do Teatro Ford, em Washington, pelo fundamentalista sulista John Wilkes Booth. Morreria. “Mencione em que circunstâncias foi assassinado o presidente norte-americano Abraham Lincoln?” “O presidente foi assassinado quando passava pelas ruas de Dallas num carro descapotável”, respondeu o aluno, confundindo Lincoln com… John F. Kennedy.
E à pergunta “defina Pré-História”, o que terá sido respondido? “Foi a época em que viveram os dinossauros e terminou com a invenção da escrita por Gutenberg.” Pobres dinossauros, que viveram na Terra há aproximadamente 245 milhões de anos, durante a era Mesozoica. E pobre Gutenberg, que foi “apenas” o criador do processo de impressão com tipos móveis, a tipografia. Definindo (bem) a Pré-História, é o período que se inicia com o aparecimento dos primeiros seres humanos na Terra e que perdurou até ao surgimento (cerca de 4000 a.C.) da escrita.
No livro “História de Portugal em Disparates” as definições de Pré-História são diferentes em quase tudo menos no erro. “A Pré-História é o que já passou há muitos anos, quando não havia quase nada do que há hoje”, responde um aluno no teste. Outro elabora mais: “Foi um tempo passado à milésimos de anos, onde viviam os povos primitivos e onde ezestiam animais que não há hoje.” E depois há o aluno “darwinista” que se ficou pelo símio, claro: “Foi com o início da terra, quando os animais eram grandes e monstruosos. As pessoas eram descendentes de macacos e, a partir de então, foram-se desenvolvendo, dando origem a novos macacos.”
“O meu disparate favorito? Acho que é este da Pré-História, sim. Acredite, o aluno respondeu-me mesmo isto no teste: que os homens primitivos descendiam dos macacos e que se desenvolveram originando novos macacos. E não é que é a mais pura verdade? Em parte, claro…”, graceja Luís Mascarenhas Gaivão.
“Ao escrever este livro a ideia não era ficar-me apenas pela história disparatada, pelo absurdo, pela história engraçada. Mas também contar um pouco a história como ela é”, garante Isabel Moreira de Brito. “É uma forma de os alunos perceberem que através do erro podem melhorar. É isso que faço na sala de aula. Hoje falei sobre o 25 de Abril ao 12.º ano. Sobre o início da revolução. E estava a falar em Otelo Saraiva de Carvalho. E a partir do erro de um outro aluno — que por acaso nem aparece aí no livro — disse-lhes: ‘Atenção, não é hotel; é o Otelo…’ Porque em mais do que um teste me apareceu ‘Hotel Saraiva de Carvalho’. Riram- se e perceberam, claro. Através de um pequeno erro, de uma história que acaba por ser uma simples graça, aprendem alguma coisa”. Luís Mascarenhas Gaivão tentou sempre fazer o mesmo: utilizar o erro para ensinar. “No livro, a minha ideia foi reescrever a História com os disparates dos alunos. Mas há aqui também uma preocupação didática. Ao citar o disparate, com alguns comentários ad hoc, vou chamando a atenção para aquilo que é o erro. A História é uma ciência. E como ciência que é, tem que ser rigorosa”, lembra.
Mas alunos há que preferem a Internet (e o aparente facilitismo que a mesma lhes proporciona) ao estudo. “Qual a obra criada durante o Iluminismo com o objetivo de compilar diferentes áreas do conhecimento e cultura?” Não, não foi a enciclopédia. Para um aluno da professora Isabel, “foi a Wikipedia”.
Texto de Tiago Palma, ilustração de Maria Gralheiro.
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