quarta-feira, 2 de agosto de 2017

IURD e Frelimo na mesma cama


Por Edwin Hounnou
No passado colonial, pela força da Concordata, um entendimento de 1942, entre o Vaticano e o Estado Novo, de António Salazar, e mantido até ao derrube do regime colonial-fascista, a Igreja Católica passou a vigorar como a religião do Estado e as forças armadas passaram a ter o privilégio de incorporar sacerdotes nas forças armadas – capelães – a fim de proporcionarem assistência religiosa aos militares, benzerem as armas e os massacres da guerra colonial.
Os padres, através desse entendimento, tinham um salário fixado pelo Estado e a Igreja Católica era preferência dos governantes coloniais em cerimónias públicas, por isso, o ensino primário aos negros tinha sido outorgado às missões católicas cuja tarefa primordial era, somente, salvar as almas, relegando o bem-estar dos negros para um plano menos importante.
Até os limites do ensino ao negro eram propostos pelos mais altos mandatários da Igreja Católica portuguesa que diziam que ao negro não necessário fazê-lo doutor, pois, bastava uma quarta classe para que, apenas, pudesse entender a vontade e as ordens do branco.
E nada mais que isso. O resto era mesmo uma excepção, tal como ensino e a formação de seminaristas (futuros sacerdotes) que não obedeciam aos limites impostos pela Igreja/Estado. Porém, a verdade manda dizer que houve excepção à esta regra de líderes religiosos e sacerdotes que foram para além das imposições.
Vale aqui recordar as figuras do primeiro bispo da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende e do primeiro arcebispo de Nampula, Dom Manuel Vieira Pinto e dos Padres Brancos e os Padres de Burgos confrontavam-se com o regime colonial. Em orações e homilias da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é frequente ouvir-se falar pela lucidez “dos nossos governantes”, em referência a gatunos que atiraram o país para a sarjeta e ostracismo internacional, por dívidas inconstitucionais.
A recente atribuição do espaço da antiga FACIM, na baixa da Cidade de Maputo, é o culminar da falta de vergonha a que o governo de Filipe Nyusi atingiu. Era previsível que o executivo agisse desse modo, pois, as grandes notícias do Estado eram, ultimamente, anunciadas em sinagogas da IURD, para demonstrar o casamento entre o Estado e a IURD.
Era suposto esperar que, naquele espaço, fossem erguidos hotéis, supermercados, jardins e não uma sinagoga de uma seita que tem vindo a depauperar famílias moçambicanas através do palavreado.
Um amigo meu, defraudado, dizia - “Que tristeza! Cada vez com maior frequência, me pergunto para quê serviu tanta dor, tanto sangue, tanta luta!! É necessário desencadearmos uma nova mobilização para alterarmos a presente realidade.
Esta IURD é a Igreja Católica da era colonial. Mas isso é uma amostra do comportamento da classe dominante”. A classe dos novos endinheirados sem causa, da burguesia parasita, dos ricos acantonados à volta dos cofres do Estado. Em Estado moderno e laico, as decisões são anunciadas no parlamento e na presidência da república, e não em comícios, sinagogas, catedrais ou mesquitas.
Quando assim acontece é sinal inequívoco de que o Estado está capturado por corruptos e assassinos. A IURD, em Moçambique, substituiu a Igreja Católica da era colonial na sua relação com o Estado e isso, em democracia, é muito mau.
É prejudicial à sociedade moçambicana e ao povo.

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