“Estou decepcionado com o MDM”. É assim como Mahamudo Amurane olha, hoje, para o partido que suportou a sua candidatura nas autárquicas de 2013, em Nampula. O edil da terceira maior cidade afirma que o projecto político ao qual aderiu e investiu tempo e conhecimento foi abandonado pelo partido. Por isso, está decepcionado com a gestão do MDM e com Daviz Simango. A decepção é tal que Amurane não recomenda nem o partido nem o seu líder como alternativas políticas para Moçambique. Só assim fala quem tem a certeza de que não vai precisar do apoio do partido nas eleições de 2018. Mas Amurane não diz sim, nem diz não. Ele sorri e reitera que só avança com o MDM se Daviz Simango fizer, publicamente, um pedido de desculpas. Mas lembra: “O MDM não é nem deve ser a única força política em que todos devem fazer o seu melhor na gestão municipal. Tenho a certeza de que, terminado o meu mandato, vou continuar a servir a minha sociedade, independentemente de estar ou não com o MDM”. Aliás, Amurane diz que foi graças ao seu trabalho que o MDM “respirou com fôlego” em Nampula. “Com o trabalho de Amurane em Nampula, as pessoas viram que o MDM é um partido com o qual podem contar”, declarou, insinuando que quem precisa do outro é o partido.
O edil de Nampula voltou a dizer que há uma intenção deliberada de “denegrir” a sua imagem. Explica que o objectivo não era de o retirar do partido ou da gestão municipal, mas de o silenciar. Mesmo assim, não se cala e lamenta que a campanha contra a sua pessoa esteja a ser liderada pelo presidente do MDM. Por isso, acusa Daviz Simango de não ser uma pessoa aberta ao diálogo e de defender ideias contrárias ao que pratica. “Diz que os outros estão há 40 anos no poder. E ele está há quantos anos? Vai fazer 15 anos e acho que isso não é pouco. Ele devia dar exemplo, cumprindo apenas dois mandatos. Critica os outros afirmando que reúnem todos os poderes, mas ele reúne o poder de presidente do partido, candidata-se a Presidente da República e ainda quer nomear governadores provinciais”.
As críticas são, também, extensivas à selecção dos candidatos a deputados da Assembleia da República. Amurane diz que os deputados do MDM foram nomeados a dedo e não foram os membros da base a escolher os seus representantes. “Isso aconteceu em 2014 e vai acontecer em 2019. E um deputado indicado a dedo pelo presidente do partido praticamente vai ser um papagaio, não tem nem legitimidade nem liberdade para transmitir seja qual for o projecto da comunidade. O deputado vai transmitir a ideia de um homem, o homem que o indicou para entrar nas listas”, criticou.
Condição para voltar ao MDM
“Só aceito concorrer pelo MDM, em 2018, se o presidente do partido fizer, publicamente, um pedido de desculpas e reconhecer a culpa. Esta é a condição e não vou recuar. Eu não sou homem que fala uma coisa e faz outra. Sou muito coerente naquilo que eu acredito. E, se eu voltar, vão ter que contar com a minha decepção em relação à linha do pensamento do partido. Houve uma intenção deliberada de denegrir a imagem de Amurane. A intenção nem era para retirar Amurane, era para o escravizar, era para dizer ‘cuidado com os passos que você está a tomar, são contrários à linha do partido. Fica na gaveta’. E eu disse ‘na gaveta não fico, intimidação não aceito e esqueçam a manipulação’. Neste momento, estou concentrado na gestão do município, cumprindo o meu manifesto eleitoral. Tomem as decisões que julgarem melhor, não estou preocupado.”
Falta de exemplo na gestão
“Hoje, todos criticam ladrão, ladrão, sai, sai. Qual é a alternativa política que apresentam? Quando ele lá chegar, o que é que vai fazer? O senhor jornalista já ouviu o que é que ele vai fazer na educação? O que é que vai fazer na agricultura? como é que vai resolver o problema de transporte? A cidade da Beira, que ele dirige, é uma lástima. É preciso dar exemplo. Diz que os outros estão há 40 anos no poder. e ele está há quantos anos? Vai fazer 15 anos e acho que isso não é pouco. Ele devia dar exemplo, cumprindo apenas dois mandatos. Critica os outros afirmando que reúnem todos os poderes, mas ele reúne o poder de presidente do partido, candidata-se a Presidente da República e ainda quer nomear governadores provinciais. É essa alternativa?”
Críticas a Daviz Simango
“Na última reunião do MDM em que participei, em Nampula, o presidente trazia um vídeo sobre cenas de violência ocorridas em Gaza, durante a campanha para as presidenciais de 2014. Eu fique horrorizado com aquilo. Um presidente a orgulhar-se dos membros do MDM que espancavam os membros da Frelimo. E a dizer ‘vejam, é assim como devemos agir quando os outros não querem nos deixar avançar’. Significa que quando os outros são violentos, você também deve ser violento. Um homem que aspira ao poder tem este tipo de comportamento, imagina quando ele estiver no poder. Quem criticar será degolado. São essas coisas que nós não devemos aceitar, porque já sofremos muito e agora queremos acabar com isto”.
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