Candidato da direita, sob suspeita de ter pago centenas de milhares de euros à mulher por emprego fictício, diz-se vítima de "um golpe de Estado institucional" da esquerda.
As denúncias acumulam-se e a sorte de François Fillon começa a inverter-se. Uma sondagem publicada esta quarta-feira indica que se as eleições presidenciais francesas fossem agora, o candidato da direita não conseguiria votos suficientes para passar à segunda volta, ficando atrás de Marine Le Pen e de Emmanuel Macron. Num encontro com deputados do seu partido, Fillon afirmou-se vítima de um “golpe institucional” protagonizado pela esquerda e pediu 15 dias aos apoiantes para tentar limpar o seu nome.
O inquérito do instituto Elabe para o jornal económico Les Echos é um forte indicador dos danos causados pelas revelações feitas pelo semanário Le Canard enchaîné, segundo o qual o erário público pagou mais de 500 mil euros em salários à mulher de Fillon, por um emprego como assistente do então deputado, sem que ela tenha realmente executado funções. Esta segunda-feira o semanário voltou à carga, revelando que Penelope Fillon foi contratada pelo deputado que sucedeu ao marido quando ele transitou para o Governo do então Presidente, Nicolas Sarkozy, somando salários que totalizaram quase 900 mil euros brutos.
Fillon, que até à semana passada era considerado favorito à vitória, tombou para o terceiro lugar, obtendo entre 19 e 20% das intenções de voto, menos 5 a 6 pontos percentuais face ao anterior inquérito. Em contrapartida, o independente Emmanuel Macron mantém a sua posição, conseguindo entre 22 a 23% de votos à primeira volta, que seria ganha pela líder da Frente Nacional com uma votação entre os 26 e os 27%.
Num cenário de segunda volta frente a Le Pen, Macron surge como vencedor, obtendo 65% das intenções de voto. Caso Fillon conseguisse passar esta ronda, continua a ser apontado como vencedor, mas com uma margem inferior face à líder da extrema-direita (59%).
Ainda antes de conhecida esta sondagem, multiplicavam-se já notícias de que os dirigentes dos Republicanos, a actual designação da grande formação da direita francesa, estão a estudar nomes alternativos a Fillon, que no ano passado bateu o antigo primeiro-ministro Alain Juppé nas primárias do partido.
“Ninguém vai impedir François Fillon e a direita de estarem presentes na primeira ou na segunda volta das eleições presidenciais”, afirmou o porta-voz do candidato no final de um encontro com deputados republicanos.
Vários parlamentares que falaram aos jornalistas sob condição de anonimato contaram que Fillon disse estar a ser vítima de “uma tentativa de golpe institucional”, “vinda da esquerda”, resultado de uma “operação que é organizada e profissional”. Segundo as mesmas fontes, terá reafirmado a sua inocência e afastou as sugestões para que o partido adopte um plano B para as presidenciais, dizendo acreditar que dentro de duas semanas o inquérito preliminar aberto pela polícia francesa estará concluído e o seu nome terá sido limpo. “São 15 dias em que temos de resistir. Quinze dias”.
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