Cinco
altos quadros da diplomacia de Moscovo morreram em situação
inexplicável ou vítimas de violência, no espaço de 60 dias. O mesmo vem
sucedendo a opositores.
A esperança
média de vida está a aumentar na Rússia, sendo hoje de 65 anos de
acordo com dados do Banco Mundial, e as sucessivas mortes de diplomatas
registadas nos últimos 60 dias não irão perturbar este padrão, mas
vieram introduzir um factor preocupante para o pessoal político ligado
ao presidente Vladimir Putin.
Se o
Kremlin tem sido responsabilizado, direta ou indiretamente, com provas
ou apenas suspeitas e deduções, pela morte de opositores declarados do
presidente ou daqueles que romperam com ele, agora tem de enfrentar
danos colaterais das suas decisões políticas. Mais algumas mortes
inexplicadas. O caso mais recente foi o do embaixador junto das Nações
Unidas, Vitaly Churkin, que morreu subitamente no passado dia 20 em Nova
Iorque, um dia antes de completar 65 anos. Aparentemente, de ataque
cardíaco fulminante. Mas, sinal de que nem todas as dúvidas estão
ultrapassadas, os médicos legistas pediram na passada quarta-feira a
realização de novos exames, tendo-se recusado a especificar a causa da
morte de Churkin, uma pessoa saudável.
O
diplomata, que representava o seu país na ONU desde 2006, era um firme
advogado das políticas de Vladimir Putin e destacara-se, em 2016, por
uma série de trocas de palavras tensas com a então representante dos
EUA, Samantha Power, sobre o bombardeamento russo a Aleppo.
Outros
casos recentes e inexplicados de mortes de diplomatas russos ocorreram,
respetivamente, em Atenas e Nova Deli. No primeiro caso, o responsável
pela secção consular, Andrei Malanin, de 55 anos, no início de janeiro,
apareceu morto no seu apartamento, aparentemente de causas naturais. Foi
aberta uma investigação pelas autoridades locais. O segundo caso
aconteceu no final do mês passado na capital da Índia, quando o
embaixador Alexandre Kadakin, de 67 anos, morreu subitamente de ataque
cardíaco, não tendo historial deste tipo de doença. Segundo algumas
fontes, estaria a servir como mediador entre a Índia e o Paquistão, cuja
relação é, deforma recorrente, bastante tensa. No passado, tivera
declarações duras contra os talibãs afegãos, apoiados por setores dos
militares paquistaneses, segundo a maioria das análises sobre o conflito
naquele primeiro país.
Menos
interrogações levantaram as mortes do embaixador na Turquia, Andrei
Karlov, abatido a 19 de dezembro de 2016, em Ancara, por um agente de
polícia no ativo, que invocou os ataques russos em Aleppo para o seu
gesto. Karlov era creditado pela reaproximação entre Putin e Recep
Tayyip Erdogan. Horas antes, em Moscovo, o responsável pelo departamento
da América Latina no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Petr
Polchikov, de 56 anos, era encontrado morto no seu apartamento em
Moscovo. Tinha uma ferida de bala na cabeça.
Além dos diplomatas referidos, um elemento próximo de Putin e seu conselheiro, Mikhail Lesin, fundador da Russia Today,
foi encontrado morto num hotel de Washington, em novembro de 2015. A
investigação final concluiu que a morte de Lesin se deveu a excesso de
álcool. Mas um detalhe, resultado de uma anterior investigação de março
de 2016, apontava noutro sentido: todo o corpo de Lesin apresentava
contusões graves provocadas por "instrumento contundente". Lesin passara
a viver nos EUA após se distanciar de Putin.
Outras
dúvidas - e também certezas - existem no desaparecimento de opositores a
Putin. Em 2006, Alexandre Litvinenko, de 44 anos, que abandonara os
serviços secretos russos, que colaborava com o MI6 britânico, tendo-se
tornado um crítico do Kremlin, acaba por morrer em Londres devido a
envenenamento por ação de polónio-210, uma substância radioativa. O
inquérito britânico apontou a responsabilidade à secreta russa. Seis
anos depois, em novembro de 2012, Alexandre Perepilichny, de 44 anos, um
banqueiro que revelara as ligações entre o Estado e as máfias russas, é
encontrado morto enquanto fazia desporto. No estômago foram encontrados
vestígios de uma planta venenosa, que só existe nos Himalaias.
Menos
sofisticado foi o instrumento da morte de Boris Abromovich Berezovsky
que, aos 67 anos, foi encontrado enforcado na sua residência nos
arredores de Londres. Opositor desde a chegada de Putin ao Kremlin,
Berezovsky era alvo de um pedido de extradição de Moscovo, que as
autoridades britânicas sempre se recusaram a dar luz verde. Não havia
bilhete de despedida e a polícia nunca descartou o cenário de "uma
segunda parte". E na própria Rússia, o líder da oposição, Boris Nemtsov,
de 55 anos, é morto a tiro em Moscovo, em fevereiro de 2015; em outubro
de 2006, fora a vez da jornalista Anna Politkovskaya ser assassinada à
entrada de sua casa, na capital russa. Politkovskaya era intransigente
crítica da estratégia de Putin para o conflito na Chechénia.
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