Guy Debord, um pensador francês, escreveu ainda em 1967 um dos livros que melhor retrata o mundo que herdamos actualmente: "A Sociedade do Espectáculo". Na obra, Debord faz um retrato sombrio de uma sociedade onde a cultura da aparência, das ilusões colectivas e da mediatização da imagem caracterizam as relações entre as pessoas que a constituem.
Nesse tipo de sociedade, quase tudo se resume ao consumo directo de entretenimento, onde as pessoas guiam as suas vidas pelo que é determinado pelos meios de comunicação social de massas (como a televisão e, hoje em dia, a internet). As pessoas não conseguem dissociar a imagem da realidade e a única mensagem, assumida quase que religiosamente pelas massas, é a de que "o que aparece é bom; e o que é bom aparece". Então, todo o mundo quer, mais do que tudo, aparecer. E para aparecer, porque o mundo também é intrinsecamente materialista, é preciso ter. Então, todo o mundo quer ter. Ostentar. Possuir. Obter e consumir bens materiais passa a ser a condição necessária para as pessoas aparecerem e serem socialmente visíveis. Mostrar aos outros que se tem e que se consome tais bens passa a ser um espectáculo onde quase todos querem ser actores.
Olhem para o vosso universo social e para a competição desenfreada em que quase todos se encontram: luta-se para se ter o melhor emprego, o melhor salário, o melhor carro, a melhor casa, as melhores roupas, as melhores comidas, os melhores electrodomésticos, os melhores telefones, os melhores parceiros e derivados.
Obviamente que existe quem controla essa sociedade do espectáculo e dita as suas dinâmicas e tendências. A cultura de massas é difundida pelos meios de comunicação social que têm donos. Esses donos têm os seus agentes (publicitários, apresentadores, actores, músicos e derivados, no contexto moçambicano). Esses agentes são pessoas compradas e orientadas por interesses elitistas que os contratam para disseminar apenas o que lhes convêm, beneficia ou rentabiliza. É precisamente assim como o que tais meios de comunicação social de massas veiculam é rigorosamente controlado por quem os domina.
Estás a dizer isso tudo porquê afinal, oh Edgar? É simples. A mais recente música do cantor Ziqo, intitulada "Tseke" (podem ver a imagem promocional na imagem que acompanha o presente texto) e onde ele diz, dentre outras coisas, "vamos comer tseke/se você não quer futseke", não é mais do que a mensagem oficial dos poderosos que controlam Moçambique para o seu sofrido povo. Os mesmos que faliram as contas públicas do país, os que são responsáveis pela bancarrota financeira e económica do Estado moçambicano e os que menos ou nada se ressentem do incomportável custo de vida actual mandaram o Ziqo, seu inconfundível agente de estupidificação popular, dizer ao povo para, diante da fome e da ausência crescente de soluções alimentares básicas, ir comer tseke ou então que se dane.
Sei que virão aqui os bombeiros de plantão do sistema a dizer que tentei forçar uma interpretação restritiva da expressão "vamos comer tseke/se você não quer futseke"... Ora, não se precisa de ser especialista na língua ronga/changana para se saber que "futseke" quer dizer, em português corrente e sem papas na língua, "que se foda(m)". Do mesmo modo que todos os moçambicanos com apenas dois pares de neurónios sabem que o Ziqo (artista comercialmente bem sucedido, com chorudos endorsements publicitários do sistema e que provavelmente ainda coma tseke por mero capricho) é um cantor de campanha política e social do sistema, na vertente de entretenimento. É o advento da sociedade do espectáculo em Moçambique, onde de forma "soft" e através da música, o poder constituído manda o seu próprio povo se foder. E a música vai ser um sucesso exactamente por isso. Vai "bater" nos meios de comunicação social exactamente por isso. É, aparentemente (?) bom comer tseke, hoje em dia... até o milionário Ziqo come!
Nesse tipo de sociedade, quase tudo se resume ao consumo directo de entretenimento, onde as pessoas guiam as suas vidas pelo que é determinado pelos meios de comunicação social de massas (como a televisão e, hoje em dia, a internet). As pessoas não conseguem dissociar a imagem da realidade e a única mensagem, assumida quase que religiosamente pelas massas, é a de que "o que aparece é bom; e o que é bom aparece". Então, todo o mundo quer, mais do que tudo, aparecer. E para aparecer, porque o mundo também é intrinsecamente materialista, é preciso ter. Então, todo o mundo quer ter. Ostentar. Possuir. Obter e consumir bens materiais passa a ser a condição necessária para as pessoas aparecerem e serem socialmente visíveis. Mostrar aos outros que se tem e que se consome tais bens passa a ser um espectáculo onde quase todos querem ser actores.
Olhem para o vosso universo social e para a competição desenfreada em que quase todos se encontram: luta-se para se ter o melhor emprego, o melhor salário, o melhor carro, a melhor casa, as melhores roupas, as melhores comidas, os melhores electrodomésticos, os melhores telefones, os melhores parceiros e derivados.
Obviamente que existe quem controla essa sociedade do espectáculo e dita as suas dinâmicas e tendências. A cultura de massas é difundida pelos meios de comunicação social que têm donos. Esses donos têm os seus agentes (publicitários, apresentadores, actores, músicos e derivados, no contexto moçambicano). Esses agentes são pessoas compradas e orientadas por interesses elitistas que os contratam para disseminar apenas o que lhes convêm, beneficia ou rentabiliza. É precisamente assim como o que tais meios de comunicação social de massas veiculam é rigorosamente controlado por quem os domina.
Estás a dizer isso tudo porquê afinal, oh Edgar? É simples. A mais recente música do cantor Ziqo, intitulada "Tseke" (podem ver a imagem promocional na imagem que acompanha o presente texto) e onde ele diz, dentre outras coisas, "vamos comer tseke/se você não quer futseke", não é mais do que a mensagem oficial dos poderosos que controlam Moçambique para o seu sofrido povo. Os mesmos que faliram as contas públicas do país, os que são responsáveis pela bancarrota financeira e económica do Estado moçambicano e os que menos ou nada se ressentem do incomportável custo de vida actual mandaram o Ziqo, seu inconfundível agente de estupidificação popular, dizer ao povo para, diante da fome e da ausência crescente de soluções alimentares básicas, ir comer tseke ou então que se dane.
Sei que virão aqui os bombeiros de plantão do sistema a dizer que tentei forçar uma interpretação restritiva da expressão "vamos comer tseke/se você não quer futseke"... Ora, não se precisa de ser especialista na língua ronga/changana para se saber que "futseke" quer dizer, em português corrente e sem papas na língua, "que se foda(m)". Do mesmo modo que todos os moçambicanos com apenas dois pares de neurónios sabem que o Ziqo (artista comercialmente bem sucedido, com chorudos endorsements publicitários do sistema e que provavelmente ainda coma tseke por mero capricho) é um cantor de campanha política e social do sistema, na vertente de entretenimento. É o advento da sociedade do espectáculo em Moçambique, onde de forma "soft" e através da música, o poder constituído manda o seu próprio povo se foder. E a música vai ser um sucesso exactamente por isso. Vai "bater" nos meios de comunicação social exactamente por isso. É, aparentemente (?) bom comer tseke, hoje em dia... até o milionário Ziqo come!
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