Casa Branca quis usar a agência de segurança para desmentir notícias do New York Times e da CNN sobre contactos com a Rússia. Face a uma recusa, tornou-se um alvo da fúria do Presidente.
O FBI foi apanhado no meio da guerra contra os media da Administração Trump, depois de terem sido publicadas notícias dando conta de que a Casa Branca quis usar a agência de segurança federal para desmentir informações de jornais. No Twitter, o Presidente norte-americano acusou o FBI de ser “incapaz de travar as fugas de informação que permeiam o nosso Governo há muito tempo e põem em causa a segurança nacional”. E terminou com uma ordem: “ACHEM-NOS JÁ”, aos autores das fugas.
Horas depois, os jornalistas de vários órgãos de comunicação social foram barrados da conferência de imprensa diária do porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer. Foi claro que estas declarações de Donald Trump foram uma retaliação contra as notícias da CNN e do New York Times, que começaram a ser publicadas no dia 14, dizendo que Reince Preibus, o chefe de gabinete de Donald Trump, falou com o director e o vice-director do FBI, James Comey e Andrew McCabe. Pediu-lhes ajuda para desacreditar os relatos publicados na comunicação social americana sobre contactos entre membros da equipa de Trump e russos identificados como espiões durante a campanha para as presidenciais, porque o FBI teria informações que permitiriam provar que as notícias eram falsas.
Só que, diz o Washington Post, nem Comey nem McCabe se queriam meter nesta guerra, nem as informações que tinham desacreditavam propriamente as notícias sobre os contactos da Administração com espiões russos. Apenas não diriam de forma tão definitiva que os russos com que a equipa Trump falou eram de certeza espiões de Moscovo.
Sean Spicer confirmou os contactos da Casa Branca com o FBI. “Quando fomos informados pelo FBI de que eram falsos os relatos sobre a Rússia, queríamos dizer aos repórteres quem mais poderiam contactar para corroborar esta versão”. Reince Priebus, no entanto, continuou a dizer que “dirigentes de topo da comunidade de agências de informação” lhe disseram que as notícias estavam erradas, e classificou os artigos publicados como “lixo”.
Se este tipo de contactos entre a Casa Branca e o FBI não é ilegal – como defende Administração Trump –, pelo menos é raro. Há um regulamento que interdita as comunicações entre a Casa Branca e o Departamento de Justiça sobre investigações em curso, para limitar a possibilidade de interferência política na justiça. Um encontro num aeroporto entre Loretta Lynch, a attorney general de Barack Obama, e o ex-Presidente Bill Clinton, durante a campanha eleitoral, foi duramente criticado pelos republicanos, pela possibilidade de terem falado dos emails de Hillary Clinton, então em investigação.
A líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, aproveitou para considerar o comportamento do chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Preibus, como “uma escandalosa violação da independência do FBI”.
A relação de Donald Trump com as agências de informação é no mínimo tensa, para não dizer hostil, desde antes da tomada de posse. Este episódio marca um ponto alto nessa atribulada relação, e reflecte a crescente irritação com as fugas de informação. O Presidente já disse, de forma pouco convincente, que “as fugas são reais, mas as notícias [em que se baseiam] são falsas.”
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