De uns tempos para cá, com o crescimento notório do êxodo urbano e suburbano, fenómeno que está estreitamente ligado ao crescimento da população, variável decorrente das altíssimas taxas de natalidade entre a juventude, novos terminais de transporte público e semi-colectivo de passageiros apareceram.
Não obstante, apesar da coexistência ainda mais significante da rede de transporte público e privada de passageiros, notamos que a problemática da escassez do transporte inter-urbano continua evidente, se calhar, conforme anteriormente apontámos, devido aos elevados níveis da taxa de natalidade no país.
Caríssimos, no presente artigo de opinião não é da problemática do transporte público ou semi-colectivo de passageiros, mas dos fenómenos que ocorrem entre os nossos terminais de transporte de passageiros, algo protagonizado pelos famosos “modjeiros” que costumam semear desordem e terror naqueles locais.
1. QUEM É O MODJEIRO?
Pouco sabemos dos contornos linguísticos ligados a palavra “modjeiro”. Não obstante, diz-se aquela surge de uma outra, “modjar”, que significa «persuadir, estimular ou convencer, com ou sem microfones, a clientela que passa pelas ruas a aderir a um dado serviço ou bem que um agente económico oferece».
Sobre o exposto acima, a título ilustrativo, peguemos no exemplo dum proprietário de uma loja de roupas que, para atrair os clientes a visitarem o seu estabelecimento, contrata alguém para fazer propaganda àqueles que passam pela rua adjacente, muitas vezes gritando: “promoção, promoção…entrem, entrem”.
Neste âmbito, enquanto “modjar” é acto persuasivo através do qual alguém atrai as pessoas a aderirem de um determinado serviço de um estabelecimento, “modjeiro” é aquele que exerce tais funções ou tarefas, e é pago por isso findo o trabalho. Hipoteticamente, eis a visão tradicional do termo “modjeiro”.
Ultimamente, com elevada notoriedade, a actividade de “modjar” – aquela exercida pelos “modjeiros”, evadiu-se para junto dos terminais de transporte público e semi-colectivo de passageiros. Com a presença do “modjeiro” nestes lugares reduziu-se a dupla tarefa do cobrador: de chamar e cobrar aos passageiros.
A troco de 10, 20, 50 meticais ou mais, e dependendo da lotaria da viatura, da rota e da categoria do terminal (interurbano, provincial ou internacional), os transportadores que rapidamente desejam ver a sua viatura com passageiros à fartura, contratam os serviços do incansável e sempre animado “modjeiro”.
2. QUANDO O “MODJEIRO” TORNA-SE PROBLEMA:
É facto, que a presença dos “modjeiros” junto das paragens, e principalmente, dos terminais de transporte público e semi-colectivo de passageiros, trouxe certos e visíveis benefícios juntos daqueles lugares, desde aos transportadores e até aos passageiros, em termos de organização no acto da tomada do transporte.
Nas horas de ponta, especialmente no período matinal, é soberbo o trabalho realizado pelos “modjeiros” na organização das bichas dos “chapas” e de seus utentes, evitando a desorganização que muito concorre para que certos aproveitadores furtem bens alheios, isso durante a disputa por um lugar nos transportes.
Infelizmente, a nobre actividade de “modjar”, face ao desemprego e ao analfabetismo que muito abundam nesta pátria amada, tem vindo a atrair muito mais jovens, alguns portadores de condutas duvidosas, instigadores da desordem, da imoralidade, manchando o restante da classe destes homens.
À semelhança de alguns catadores de lixo da Lixeira de Hulene, já descritos no texto “Zona da Lixeira de Hulene: uma região autónoma” de Ivan Maússe, os “modjeiros” criam uma espécie de administrações autónomas em nossos terminais de transporte, imprimindo suas próprias normas, muitas delas, injustas.
Para intimidar os transportadores e utentes que procuram insurgir-se contra o seu poder, os modjeiros aproveitam-se da sua compostura física robusta e da voz algo maiúscula, umas vezes, decorrente do consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de outras drogas, e com a proferição de insultos à mistura.
Nas manhãs, junto dos terminais de transporte costumam desorganizar as bichas dos utentes de transporte que há horas tenham-se feito ao local facilitando a entrada de outros que se predisponham a pagar um certo valor monetário pelo serviço, acelerando o atrasado daqueles outros primeiros. Injusto.
Os transportadores semi-colectivos de passageiros, ainda que queiram dispensar do trabalho dos “modjeiros para encher às suas viaturas, estes se recusam, e a rebeldia dos transportadores pode concorre para a vandalização da viatura, ou no mínimo, impedimento de carregar qualquer passageiro.
Alguns “modjeiros” viraram hoje larápios de telemóveis, carteiras e outros objectos de fácil furto junto das paragens. E porque temos um número cada vez crescente de crianças que acorrem sozinhas às paragens e terminais de transporte semi-colectivo, situações de roubos tem ganhado mais terreno, infelizmente.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Não temos nada contra os “modjeiros”, até porque o seu trabalho tem-se revelado numa honesta e sábia saída para o problema do desemprego e da pobreza que abunda entre a juventude deste país, seiva da nação. Todavia, é preciso que as autoridades administrativas municipais ou não, disciplinem essa classe.
O “modjeiro” não pode aparecer como problema, mas como solução ao problema da desordem em nossas paragens e terminais, pautando uma conduta aceitável e conforme aos comandos da lei e das demais normais do país e da autarquia, distrito ou localidade em que se achem inseridos. Devem reinventar-se!
É para nós doloroso quando assistimos, junto das nossas paragens, um jovem “modjeiro” a arremessar insultos contra pessoas muito mais velhas e indefesas. Os transportadores também ressentem-se das ameaças dos “modjeiros” conferindo-lhes dinheiro ainda que dispensável o serviço em horas de ponta.
Contratar os serviços de um “modjeiro”, – como o nome já diz, «contrato», é um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas, – não devia constituir uma obrigação só porque os visados se olham como os “donos-do-pedaço”, quase jurisdicionando os terminais em desconformidade com as leis civis existentes.
É preciso disciplinar os "modjeiros", definitivamente.
Bem-haja Moçambique, nossa pátria de heróis!
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