A firmeza mantém-se na não devolução do dinheiro do povo
Nem a sensibilização, nem o incentivo e pressão e muito menos a cobrança coerciva estão a ser suficientemente fortes para “obrigar” os devedores que, entre 1999 e 2002, fizeram filas para abocanhar os dinheiros que estavam disponíveis no Fundo do Tesouro, no âmbito do relançamento da economia e do empresariado nacionais.
Exceptuando um e outro caso, o facto é que as 30 empresas que foram ao tesouro buscar os cerca de 700 milhões de Meticais não estão a devolver o dinheiro que, ao povo, pertence. Esta realidade está patente, de novo, no relatório 2015 do Tribunal Administrativo. Já em 2015, o TA indicava o mesmo cenário e quando questionado, o governo sempre promete recorrer à chamada sensibilização e cobrança coerciva.
Mas, no concreto, nada. O que se comenta é que os camaradas estão com dificuldades de cobrar os seus pares camaradas, tendo em conta que o cordão umbilical de quase “todos eles” está ligado ao partido no poder, a Frelimo.
Os números dizem que dos cerca de 700 milhões de Meticais disponibilizados à burguesia nacional pelo tesouro, entre 1999 e 2002, até 31 de Dezembro de 2015, apenas 90.542 mil Meticais tinham sido reembolsados. Estes números correspondem a apenas 13.2 por cento, do total dos empréstimos concedidos.
Segundo se sabe, quase a totalidade das 30 empresas que se beneficiaram dos empréstimos tinham (têm) como proprietários figuras de proa da nomenklatura política e governativa, a exemplo de Armando Guebuza, do general João Fumo, o General Alberto Chipande e a família Pachinuapa. De lá para cá, alguns accionistas se retiraram da estrutura acionista das empresas devedoras, a exemplo de Armando Guebuza que se retirou da pesqueira Mavimbe. Esta empresa é o único exemplo de pagamento na totalidade dos valores de que se beneficiou, apesar de o reembolso ter sido feito num ambiente à cesariana.
Dez nunca devolveram nada
A questão de cobrança dos valores do tesouro parece ser uma missão quase impossível por parte de quem tem a missão missão de assegurar que aquilo que é do povo seja efectivamente devolvido ao povo. É que há empresas que, desde que receberam os valores, nunca devolveram uma quinhenta sequer. Absolutamente nada. No global, as dez empresas receberam do tesouro, um total de 231 milhões de Meticais e até 31 de Dezembro continuavam a dever os exactos 231 milhões de Meticais.
A lista deste grupo é encabeçada pela falida TSL (67.3 milhões de Meticais), seguida da Técnica Industrial (36.2 milhões de Meticais) e em terceiro lugar a Água Vumba (9.5 milhões de Meticais). A Trans Austral, do general João Américo Fumo (38.4 milhões de Meticais) aparece, igualmente na lista daqueles que nem um tostão devolveram ao Tesouro.
Enquanto isso, o Grupo Mopac pagou, até aqui, apenas 9 por cento dos 79 milhões recebidos do tesouro; o Grupo Mecula, do general Chipande, apenas 10 por cento dos 47 milhões; a Nhama Comercial, da família Pachinuapa, apenas 32 por cento dos 5 milhões e a Sotur, 1 por cento dos 34 milhões de Meticais.
Em 2015, apenas a Comunidade Mahometana fez pagamentos, o que, para o Tribunal Administrativo, demonstra o alto nível de incumprimento dos devedores.
“Apesar dos esforços que o governo alega estar a desenvolver, o nível de reembolso continua baixo e como se pode constatar, em 2015, só a Comunidade Mahometana é que efectuou o reembolso, no montante de 2.310 mil Meticais e, no exercício anterior, apenas o Colégio Alvor e a Comunidade Mahometana é que fizeram reembolsos” – denuncia o relatório do TA.
MEDIA FAX – 24.01.2017
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