Sai as Quinta Feiras * Distribuição Gratuita * Maputo, 29.09.2016 * Edição nº 190 Ano 4
Continuam na ordem do
dia operações de raptos e
consequente assassinato
aos membros de oposição
em Moçambique, principalmente
da RENAMO.
Recentemente, a 26 de
Setembro, um cidadão,
membro do partido RENAMO
de nome André Eugé-
nio Machava, foi raptado
em frente da sua residência,
quando se dedicava a
sua actividade como carvoeiro.
A operação de sequestro
a este membro da
RENAMO, aconteceu no
distrito de Magude, localidade
de Mandjindji quando
eram 15:00 horas.
De acordo com informa-
ções de fontes fidedignas
e da própria família, o acto
foi protagonizado por 3 indivíduos
a paisana, que se
faziam transportar numa
viatura de cabine dupla, de
cor branca, o que levou à
suspeita de que se tratava
de uma viatura pertencente
ao governo. As suspeitas
foram confirmadas posteriormente
quando a famí-
lia se dirigiu a esquadra da
polícia local, de onde obteve
a informação de que
o desaparecido teria sido
encaminhado a Policia de
Investigação Criminal (PIC)
na cidade de Maputo.
Entretanto, quando a família
aproximou-se até a
PIC na cidade de Maputo,
o raptado não estava no
local, tendo a policia na cidade
de Maputo afirmado
que desconhecia do caso.
Este é dos raros casos
que se reportam neste
ponto do pais, mas é do
domínio público que a ní-
vel da região centro e norte
do país, falar em raptos
e execuções sumárias dos
membros da oposição,
principalmente é o prato
de cada dia.
Com o andar das coisas
ninguém pode duvidar que
a movimentação e actividade
dos sequestradores
no nosso país têm sido
simplesmente protegidas
pelas autoridades.
SEQUESTROS DE MEMBROS DA
RENAMO NA ORDEM DO DIA
2
Editorial
TUDO INDICA QUE A FRELIMO NÃO
ESTÁ PARA NEGOCIAR SERIAMENTE
Os Mediadores Internacionais cientes
da importância que o actual processo
negocial tem para o fim das hostilidades,
colocaram em cima da mesa na terçafeira,
27 de Setembro, uma proposta
sobre a nomeação dos governadores
provinciais para as partes em negociação
analisarem.
Entendem os mediadores, que a questão
da descentralização é muito crucial para
o fim do diferendo que opõe a Frelimo e
a RENAMO, originado pela mega fraude
nos resultados das eleições de 2014 e
que a conclusão deste ponto pode levar a
conclusão de todos os outros constantes
da agenda negocial.
Por aquilo que temos estado a
acompanhar sobre o desenrolar das
coisas em sede das negociações, nos leva
a concluir que o Governo de Filipe Nyusi
e da Frelimo não está interessado pelo
desfecho deste processo e, daí o facto de
estar inflexível, num exercício de queimar
o tempo.
Queremos lembrar que desde que
a delegação do presidente Nyusi foi
reprimida em sede da Comissão Política
depois de ter concordado com a contraparte
sobre a governação, já mais se
dignou a trazer nenhuma sugestão que
possa ajudar a flexibilizar o processo.
A delegação da Frelimo começou por
alegar que no concernente a discussão
do Pacote Legislativo não tinha nenhuma
ideia, senão discutir a proposta que fosse
trazida pela RENAMO.
A Frelimo até agora ainda não respondeu
a proposta da RENAMO sobre as Forças
de Defesa e Segurança, sobretudo acerca
da reestruturação e dos princípios
orientadores das Forças Armadas da
Defesa e Segurança.
Quando se esperava que na sessão
da quarta-feira, 28 de Setembro, a
Comissão Mista que prepara o encontro
entre os Presidentes Filipe Nyusi e
Afonso Dhlakama, se debruçasse sobre a
proposta dos mediadores internacionais,
eis que de novo a Frelimo evoca precisar
tempo para reflectir.
Esperava-se que as delegações
trouxessem as suas reflexões sobre a
proposta apresentada às partes pelos
Mediadores Internacionais acerca da
governação transitória da RENAMO
nas províncias onde saiu vitoriosa nas
eleições de 2014.
Paralelamente a este comportamento
da delegação do Governo continuamos a
assistir incursões militares contra alvos da
RENAMO, bem como a caça e assassinato
dos seus membros.
É importante apelar aos membros da
RENAMO, para se manterem ainda em
prontidão para qualquer acção que possa
vir a ser levada a cabo pelos agentes da
Frelimo que pelos vistos a manobra de
arrastar este processo negocial tem em
fim dar golpe baixo a própria RENAMO e
a Democracia.
Está claro que a Frelimo não está
interessada numa solução pacífica do
actual diferendo.
Estamos ansiosos em ver a decisão que a
reunião da Frelimo vai trazer para o bem
de todo o povo moçambicano.
Ficha técnica
Director:Jeronimo Malagueta;
Editor: Gilberto Chirindza;
Redacção:Natercia Lopez;
Colaboradores: Chefes regionais de informação;
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“A Semana em foco”
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3
Começo por agradecer o
amável convite que me fizeram
para participar neste
Fórum sobre Justiça Econó-
mica.
Permitam-me cumprimentar
com carinho a Casa de
Moçambique em Portugal
pela oportunidade de debater
um tema tão decisivo
para o presente e o futuro
dos nossos povos.
Os Chefes de Estado e de
Governo de Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Portugal e
São Tomé e Príncipe, reuniram-se
aqui nesta mesma
e bela cidade de Lisboa, no
dia 17 de Julho de 1996,
e assinaram a Declaração
Constitutiva da nossa CPLP.
Lê-se nesse documento
que decidiram reiterar em
«ocasião de tão alto significado
para o futuro colectivo
dos seus Países, o compromisso
de reforçar os
laços de solidariedade e de
cooperação que os unem,
conjugando iniciativas para
a promoção do desenvolvimento
económico e social
dos seus Povos.»
Quer me parecer que o alcance
do tema desafia-nos
a avaliar o impacto da justiça
económica no esforço
de desenvolvimento dos
nossos países.
Seguramente vivemos estágios
de desenvolvimento
muito diversos, e os crité-
rios para medir o peso da
justiça nas desigualdades
que desigualmente nos
atingem são distintos.
Mas antes de entrar na realidade
concreta do meu
país, deixem-me exprimir
a minha tristeza por tudo o
que não conseguimos realizar,
em matéria de convergência
social, nestes últimos
20 anos.
Não quer isto dizer que
desvalorize os passos que
foram dados, nomeadamente
no quadro da CPLP,
para uma cooperação reforçada.
Mas os resultados práticos
são claramente insuficientes.
Se me é permitido exprimir
um desígnio para os
próximos 20 anos, ele será
que os nossos esforços
colectivos sejam mais claramente
orientados para
uma convergência que nos
aproxime, não só nas belas
palavras, mas em actos
concretos e abrangentes.
Actos que mitiguem as
enormes disparidades que
facilmente identificamos
no plano pelos direitos sociais
nos nossos diferentes
países.
Isso só será conseguido se
os nossos esforços forem
mais focados nas pessoas
e na dimensão social dos
problemas e menos desperdiçados
em projectos
de diplomacia económica
que apenas agravam desigualdades
e favorecem
situações de autoritarismo
e cleptocracia, que infelizmente
ainda são dominantes
em muitos países.
Falarmos a mesma língua é
o que nos aproxima.
Se a língua é um factor de
proximidade cultural que
pode ajudar-nos a superar
a distância geográfica,
não devemos subestimar
as dificuldades levantadas
da globalização, cuja logística
sofisticada favorece os
mais fortes e deixa ainda
mais dependentes os mais
fracos.
No concerto das nações,
entre ameaças e oportunidades
dos processos de
globalização das economias
e dos mercados, os
benefícios foram repartidos
como no velho tempo
colonial: para uns ficaram
as oportunidades e para
os outros cumpriram-se as
ameaças...
Para este estado de coisas
concorrem múltiplos factores,
que inibem a consolidação
e o bom funcionamento
de verdadeiros
Estados de Direito em muitos
países descolonizados.
Entre esses factores, muito
pesam os mecanismos de
perpetuação do poder nas
mãos de elites dirigentes
que para além de serem
Governo, também distribuem
entre si e suas famílias
os lugares-chave da
Administração Pública, da
Justiça e das empresas, pú-
blicas, privadas, nacionais
ou multinacionais.
Mesmo quando se dão passos
aparentemente firmes
em direcção ao primado
da Democracia e da Lei no
funcionamento das nossas
sociedades, as grandes
oportunidades de progresso
prometidas aos países
pobres vêem-se submergidas
pela desigualdade de
meios de controlo do poder.
Entre esses meios estão as
áreas estratégicas da economia
e também o sistema
de justiça.
DISSERTAÇÃO DE IVONE SOARES NO FÓRUM INTERNACIONAL SOBRE JUSTIÇA
ECONÓMICA EM LISBOA
continua na pág 4
Distintas autoridades aqui presentes,
Caros compatriotas moçambicanos,
Distintos convidados
Amigas e amigos,
Minhas senhoras e meus senhores,
4
apre -
sentam ao empreendedorismo
nos nossos países.
Precisamos de muito mais
do que a espontaneidade
da língua para potenciar
uma aproximação efectiva
das economias, das empresas
e dos negócios que
lhes dão vida.
Precisamos de uniformidade
de critérios.
Não podemos aceitar que
sejam toleradas, no contexto
dos negócios nos
países pobres, práticas de
proteccionismo e até corrupção
intoleráveis e socialmente
censuradas nos
países ricos.
A pobreza é uma situação
a ser superada; não é uma
condenação perpétua ou
uma inevitabilidade.
E não sairemos de situa-
ções de pobreza extrema
sem a defesa de princípios
e valores que são universais.
Porque falamos de justiça
económica, deixem-me
que vos recorde que o objectivo
do desenvolvimento
económico não é apenas
criar mais riqueza, mas
sim promover uma mais
equilibrada distribuição da
riqueza.
Falando de Moçambique,
o resultado prático destes
20 anos de cooperação
económica no quadro da
CPLP pode ser visto como
positivo se olharmos apenas
para estatísticas de
investimento e trocas comerciais.
Mas ninguém pode dizer
que não nos envergonham
a todos, tanto cidadãos
moçambicanos como os
outros cidadãos da CPLP,
os indicadores que continuam
a colocar Moçambique
como um dos países
mais pobres do mundo.
Múltiplos factores contribuem
para esta situação
dramática e não estará na
ineficácia da cooperação
internacional toda a responsabilidade
deste desastre
social.
No entanto, também não
devemos ignorar o facto
de que, após décadas de
cooperação e de biliões de
euros entregues aos sucessivos
governos da Frelimo,
em Moçambique, o que
vemos é um desenvolvimento
cada vez mais assimétrico.
No meu país, apesar dos
esforços de construção de
uma democracia pluripartidária
no quadro de um
estado de Direito, a economia
está concentrada nas
mãos de uma elite, e não é
fácil aos que não são parte
dessa elite, ou nasceram
fora dela, aceder às oportunidades
de negócios.
Esta situação foi criada
por factores recorrentes
de natureza política, que
me permito destacar aqui,
para que ninguém os esqueça
ou subvalorize:
Primeiro, um factor histó-
rico, cujas consequências
ainda sofremos hoje: um
processo de descoloniza-
ção sem critério democrá-
tico, que entregou a uma
única força partidária todo
o poder político e militar,
abrindo caminho a décadas
de ditadura brutal de
um regime totalitário de
partido único.
Segundo, e com 20 anos de
vigência: o recorrente incumprimento
por parte da
Frelimo dos acordos com
a Renamo, quer do Acordo
de Roma de 1992, quer
do Acordo de Cessação de
Hostilidades Militares de
2014.
O terceiro factor é a gritante
desigualdade de meios
de projecção entre o partido
no poder e os partidos
da oposição.
Basta viajar uns dias por
Moçambique para constatar
como a Frelimo é omnipresente
e omnipotente.
Enquanto partido único,
apropriou-se de edifícios
e meios do estado para as
suas acções
continuação da pág 3
continua na pág 5
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de intimidação
e propaganda.
Já em contexto democrático,
manteve a posse indevida
desses meios e desses
bens para a sua projecção
política e a eles recorrendo,
sempre que necessá-
rio, para a luta desigual
com os restantes partidos
políticos.
Como claramente colocou
as coisas o presidente
Afonso Dhlakama na última
campanha eleitoral,
Moçambique não tem um
regime de partido único,
mas tem um Estado de
partido único.
Acrescento eu: Moçambique
tem uma economia
de partido único, porque
é impossível a quem não
seja da Frelimo ter acesso
às áreas de negócio mais
interessantes do país.
Tudo está partidarizado e
a Frelimo está infiltrada
em tudo, desde os bancos
até as instituições do Estado
onde mantém células
partidárias.
Os próprios bancos estrangeiros
vêem as suas actividades
condicionadas, têm
de dar lugar nos seus quadros
a membros do partido
no poder que decidem
que projectos financiar
sem condicionalismos de
apresentação de garantias
e a quem dificultar o financiamento.
Muitas empresas e Estados
que investem e cooperam
em Moçambique são
cúmplices neste processo.
Daí valer a pena perguntar:
Porque é que a alternância
dos partidos no Governo,
que é regra em todas as
democracias do mundo, é
uma impossibilidade em
Moçambique?
A grave crise político militar
que o meu país atravessa
é a consequência
inelutável deste estado de
coisas.
Em clara violação do direito
à vida consagrado
constitucionalmente, académicos
independentes
que ousaram pronunciar-
-se contra o actual governo
em Moçambique são
perseguidos, intimidados,
baleados e assassinados.
Vários atentados muito
cobardes contra a vida do
Presidente Afonso Dhlakama
foram frustrados, mas
com perda de vidas entre
os que o rodeavam.
Eu própria recebo ameaças
e ainda recentemente fui
alvo de um atentado em
Quelimane, meu círculo
eleitoral.
As violações dos princí-
pios mais elementares de
um Estado de Direito são
feitas com o objectivo evidente
de silenciar todos os
críticos quer sejam políticos,
jornalistas, líderes de
opinião e assim implantar
a cultura do medo e limitar
a acção política da oposi-
ção e dos intelectuais críticos
do regime.
Mas, graças a Deus, o Presidente
Afonso Dhlakama
tem enfrentado estes ataques
com a maior coragem
e não tem vacilado na sua
determinação de lutar por
uma verdadeira democracia
em Moçambique o que
encoraja a todos os mo-
çambicanos a acreditar em
dias melhores para Mo-
çambique.
Para falar do sentido de
justiça económica que os
sucessivos governos em
Moçambique têm chamo a
colação dois exemplos:
Primeiro: as dívidas ocultas,
ilegais e inconstitucionais
avaliadas em 2.3
bilhões de dólares americanos
contraídas sem a
aprovação do Parlamento
como manda a Constituição
de Moçambique.
Acham normal que um Governo,
na calada da noite,
endivide todo um povo e
ainda assim continuem os
seus membros impunes?
Por exemplo, 850 milhões
de dólares americanos foram
investidos na compra
de barcos supostamente
para a pesca do Atum, barcos
esses que desde a sua
chegada a Moçambique
continuam atracados e
nem um kg de atum pescaram,
e o Parlamento seja
usado para legalizar essas
dívidas ilegais é inconstitucionais?
Porquê não se faz luz sobre
este caso? Não há responsáveis?
Não há beneficiá-
rios? Para onde vão os milhões
e milhões desviados
do orçamento do Estado?
Segundo: o distrito como
base de desenvolvimento,
passa a receber financiamento
dos vulgos sete
milhões de meticais para
projectos económicos.
Este dinheiro foi distribu-
ído aos dirigentes locais
do partido no poder (Frelimo),
para potenciar as
suas estruturas de base.
Canalizando receitas dos
impostos dos moçambicanos
directamente para o
empoderamento económico
dos membros do partido
que controla o Estado
foram cometidas arbitrariedades
que evidenciam
grosseiras injustiças económicas.
Avaliando a iniciativa que
a Frelimo diga que distrito
deixou de ser ou ter
pobre(s)? Que distrito está
desenvolvido e tem água
canalizada, electrificação
que beneficia 100% da sua
população? Nenhum! O
projecto foi um fracasso
total. E a maioria dos mutuários
nem devolvem o
dinheiro ao Estado porque
sabem que o critério principal
observado para ser
potencial beneficiário era
a militância na Frelimo.
Julgo que temos que mudar
o cenário em que vivemos
e isso passa por:
i) Termos um Provedor dos
Cidadãos da CPLP
ii) Termos uma acção concertada
dentro da CPLP
contra as violações recorrentes
dos Direitos Humanos
ou um Observatório
dos Direitos Humanos no
espaço da lusofonia.
Estas poderiam ser instituições
muito úteis para a
afirmação dos princípios
da Democracia e do Estado
de Direito nas nossas
diversas realidades nacionais.
No plano dos crimes económicos,
todos sabemos
como as plataformas
transnacionais têm sido
usadas para mascarar ou
dar cobertura a negócios
ilegais, propiciados pela
corrupção, terreno ideal
para a lavagem de dinheiro
e a fuga ao fisco.
Por isso mesmo, precisamos,
de forma aberta e
transparente, também a
nível da CPLP de
iii) Sistemas transnacionais
de partilha de informação
e controlo da circulação de
capitais.
E é imperioso:
iv) Criar mecanismos que
permitam investigar e
acusar eficazmente todos
aqueles que cometem crimes
económicos no nosso
espaço de cooperação.
No que à justiça económica
diz respeito, Moçambique
enfrenta dois desafios
centrais:
Primeiro a Injustiça fiscal:
o sistema tributário
moçambicano favorece o
grande capital, os grandes
investidores, que estão
concentrados no complexo
mineral-energético
continuação da pág 4
continua na pág 6
(alumínio,
gás natural, areias
pesadas, carvão mineral,
electricidade) em prejuí-
zo das pequenas e médias
empresas, que são o principal
motor da economia
nacional e o maior empregador
a seguir ao Estado.
Assim, para termos justiça
económica em Moçambique,
devemos promover
a justiça fiscal, através de
alterações no quadro tributário.
O segundo desafio prende-
-se com a superação da
desigualdade de oportunidades
económicas, tema
que já abordei nesta intervenção
mas que nunca é
demais salientar.
Como se sabe, por razões
históricas e ideológicas, o
poder económico em Mo-
çambique confunde-se e
coincide com o poder polí-
tico: quase todos os empresários
são políticos, e quase
todos os políticos do sistema
têm interesses directos
ou indirectos em empresas.
Este facto é o reflexo da
concentração das oportunidades
económicas (negócios,
financiamento,
empregos mais bem pagos)
nas mãos de pessoas ligadas
ao partido no poder, a
Frelimo.
Isto significa que para termos
justiça económica
precisamos de garantir que
haja igualdade de acesso às
oportunidades que se vão
apresentando no plano dos
diversos sectores da economia.
Em conclusão, só podemos
ter justiça económica se tivermos
justiça fiscal acompanhada
por oportunidades
económicas iguais.
Para terminar, apelo a todos
para que ponderem
nas palavras que o Papa
Francisco dirigiu em Janeiro
aos poderosos reunidos
na cimeira de Davos, numa
mensagem com a qual totalmente
me identifico,
quando diz que é necessário
«um sentido de responsabilidade
renovado,
profundo e alargado por
parte de todos», para «servir
mais eficazmente o bem
comum e tornar os bens
deste mundo mais acessí-
veis para todos».
Estamos aqui para debater
a justiça económica e o
papa lembra-nos a urgência
de uma equidade baseada
na «distribuição mais
equitativa das riquezas, a
criação de oportunidades
de emprego e uma promo-
ção integral dos pobres que
ultrapasse a mera assistência.»
O Papa Francisco faz um
forte apelo às nossas consciências
e com ele vos deixo:
«Façam de modo que
a humanidade seja servida
pela riqueza e não governada
por ela.»
Muito obrigada.
Maria Ivone Soares
(Chefe da Bancada Parlamentar
da RENAMO)
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