A população de Nhampoca, distrito de Nhamatanda, no centro de Moçambique, está em fuga da região após a execução de dois líderes locais atribuída pelas autoridades à Renamo, disseram hoje habitantes à agência Lusa.
"A zona está ficar pesada para alguém continuar a viver. As pessoas estão a abandonar, por isso, eu também estou a sair", disse Mónica Mauese, uma camponesa de Nhampoca, província de Sofala, uma das mais atingidas pela crise militar entre o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e as forças do Governo.
"A zona está ficar pesada para alguém continuar a viver. As pessoas estão a abandonar, por isso, eu também estou a sair", disse Mónica Mauese, uma camponesa de Nhampoca, província de Sofala, uma das mais atingidas pela crise militar entre o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e as forças do Governo.
As autoridades locais e a polícia responsabilizaram a Renamo pela execução, no dia 2 de setembro, do chefe do posto administrativo de Tica e de um régulo da região.
Carregando os seus poucos pertences na cabeça e deixando a zona a pé, Mónica Mauese descreveu um quadro de medo generalizado e que a população receia ações militares na região de retaliação contra os homens da Renamo.
"Estamos com medo, talvez a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder], entre de novo para lutar com a Renamo, porque os homens armados estão lá [Nhampoca]", declarou.
Outro habitante, Jota Estevão, deu os mesmos argumentos para a sua fuga, referindo-se a um "abandono em cheio [em grande escala]" dos habitantes da região.
Os relatos dos habitantes dão conta de ações armadas naquela região nos últimos dias, deixando casas e mercados queimados, e cuja autoria é incerta.
Vários habitantes atribuem as ações às forças governamentais, que, por sua vez, responsabilizam os homens armados da Renamo.
O régulo de Nhampoca e o chefe do posto administrativo de Tica, Abílio Jorge, foram executados, depois de terem sido retirados de um comício que orientavam naquela zona.
Os dois líderes tinham sido enviados pelo administrador distrital de Nhamatanda para pedirem calma à população, quando esta já testemunhava ações armadas e iniciava a retirada da região.
Segundo o relato de habitantes, um dos suspeitos de participar na execução estava no meio dos populares no comício dos dois líderes e trazia uma arma automática AKM escondida num saco.
Foi ele, de acordo com a reconstituição dos populares, que paralisou a reunião quando surgiram outros quatro homens armados vestidos à civil, vindos de uma mata, e levaram os dois líderes, que foram posteriormente encontrados mortos.
A Renamo não se pronunciou sobre o caso.
A região centro de Moçambique tem sido palco de relatos de confrontos entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança e denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.
As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques nas últimas semanas, em localidades do centro e norte, atingindo postos policiais e também assaltos a instalações civis, como centros de saúde.
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, já reconheceu a autoria de vários ataques, justificando com a estratégia de dispersar as Forças de Defesa e Segurança da serra Gorongosa, onde supostamente permanece.
O maior partido de oposição não aceita os resultados das eleições de 2014, que deram vitória a Frelimo, e exige governar as seis províncias onde revindica vitória no escrutínio.
As negociações de paz entre as delegações do Governo moçambicano e da Renamo em Maputo, que decorrem na presença de mediadores internacionais, foram suspensas até 12 de setembro.
SAPO – 07.09.2016
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