Juiz mais conhecido do país assume ser conhecido como 'o saloio do Mação', mas garante: "O tal soloio tem uns créditos hipotecários, não tem dinheiro ou contas bancárias em nome de amigos”.
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PAÍS CARLOS ALEXANDREHÁ 4 HORASPOR JOÃO OLIVEIRA
Já mandou prender Armando Vara, José Socrates, Oliveira e Costa, entre muitos outros ‘tubarões’ do universo português. Tem no seu currículo uma vasta experiência em casos ‘bicudos' como a Operação Furacão, Apito Dourado ou, mais recentemente, Operação Marquês, mas garante ser apenas “um humano de carne e osso” cuja infância já tinha começado com os valores pelos quais se rege hoje em dia.
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Teve uma infância feliz mas sem luxos: "O meu pai vivia para ver se os filhos tinham uma vida melhor que a dele. Os meus pais eram pessoas com um grande sentido de justiça, de não quererem mais do que fosse eu”, confessou o juiz Carlos Alexandre numa entrevista à SIC.
Trabalha tanto quanto pode, garante que o faz por gosto e não pela sede de chegar mais alto na hierarquia ou para se sentir financeiramente folgado. “Não tenho fortuna pessoal, e alguns encargos em que me meti só são sustentáveis se trabalhar mais. Cheguei a ter um ano em que fiz 48 sábados em 52, saiu-me do corpo”, confessou, lembrando que muita da remuneração a receber ficou retida na fonte.
Quando vai a Moção, de onde é oriundo, diz que lhe fazem queixas sobre a justiça portuguesa, mas acha que se faz "boa justiça em Portugal todos os dias". No entanto, há reformas a fazer, e é por isso que defende a utilização da delação premiada como se faz atualmente no Brasil, uma prática que concede benefícios legais a um réu que aceite colaborar na investigação ou entregar os seus companheiros.
“A delação premiada seria um incentivo a participar na administração da Justiça”, afirmou, admitindo também que a Justiça se devia relacionar melhor e de forma mais oficial com os jornalistas, até porque as fugas de informação já o obrigaram a mudar a marcha das investigações. “Tenho preocupações com que as pessoas nas mesas ao lado estejam a ouvir o que estou a dizer. Sinto-me escutado no meu dia-a-dia, sob várias formas”, confessou nesta entrevista à SIC, emitida na íntegra esta noite.
É por esta constante pressão que fala com naturalidade do episódio, ocorrido há nove anos, em que a sua casa foi assaltada e os intrusos remexeram em vários papéis no escritório, levaram alguns objetos de valor emocional e deixaram uma arma dobre a fotografia do seu filho, mas isso não o faz pensar sequer em abandonar a profissão.
“Se eu tivesse medo, não me levantava da cama, eu aceito o meu futuro e aceito o meu destino. Enquanto o assunto for comigo, não vejo problema porque estou em paz com as decisões que tomei”
O cargo que exerce, admite, deixa-o conhecer os bastidores de muitos negócios, decisões políticas ou operações bancárias. “Eu tenho uma memória prodigiosa, sei páginas, nomes, alcunhas e episódios, mas não ando a colecioná-los”, acrescenta, sublinhando que, apesar do poder que tem nas mãos, é apenas “o vértice menor de uma pirâmide”.
“Quando eu tomo uma decisão, a responsabilidade é minha e quero dizer que a assumo. Há certos dias em que sou chamado a tomar decisões em processos que me são bastante desconfortáveis. Aquilo que eu decidi não é nunca a última palavra sobre nada, é a última palavra naquele concreto momento. Não enjeito qualquer responsabilidade das decisões que tomei e estou disposto a responder por elas onde for”
Confessa-se uma pessoa “isolada” e “de poucos amigos”, mas aceita a normalidade das circunstâncias, e adianta que já ficou conhecido como “o saloio do Moção”. Se há alguma coisa que terá de se queixar, será da “alguma coragem” que sempre teve.
“Não tenho amigos na magistratura, sou uma pessoa meio isolada, feitio de bicho-do-mato. Este ‘saloio de Mação’ tem consciência que se praticar erros grosseiros, ninguém na magistratura o vai acolitar. O tal 'saloio de Mação' tem uns créditos hipotecários, não tem dinheiro ou contas bancárias em nome de amigos. Amigos são os que vão ao meu funeral e mesmo assim se não estiver a chover. Eu apenas me reclamo de alguma coragem. Tenho tido alguma coragem de tomar algumas decisões.
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