O Governo moçambicano
e o maior partido da
oposição, a Renamo,
voltaram a desencontrar-se
e a lançar o país para a
incerteza.
Trata-se de dossiers que dividem
duas figuras, mormente o
Presidente da República (PR),
Filipe Nyusi, e o líder da Renamo,
Afonso Dhlakama, mas
que estão a deixar mais de 24
milhões de moçambicanos na
incerteza e no desespero.
Nas suas aparições públicas, o
PR tem manifestado o desejo de
se encontrar com o Presidente
da Renamo para concertar questões
ligadas à pacificação do país.
Porém, segundo Nyusi, não encontra
correspondência da outra
parte.
Por seu turno, a Renamo, através
do seu líder, diz que está pronta
para se encontrar com o estadista
moçambicano mas, para tal,
precisa de uma agenda concreta.
Dhlakama diz que já não é criança para aturar “brincadeiras” da
Frelimo e que só vai ao encontro
com garantias de um resultado
concreto, já que não quer que o
mesmo se limite a fotografias,
abraços e sorrisos.
Enquanto o ping-pong entre os
dois líderes continua a deixar
moçambicanos numa situação
de desconforto, os dois ex-beligerantes
não param de fazer
pressões flanqueadas.
Em digressão pela província da
Zambézia, Afonso Dhlakama
diz que está a preparar condições
para abertura de um quartel no
distrito de Morrumbala.
Na mesma senda anunciou a
criação da polícia e das forças
armadas para garantir segurança
nas chamadas províncias autó-
nomas, reivindicadas pela Renamo
desde as eleições gerais de
2014.
De outro lado, num passado não
distante, o PR escalou o Estado
Maior General das Forças
Armadas de Defesa de Mo-
çambique e disse que o exército
nacional deve estar à altura de
responder àqueles que pretendem
promover mudanças inconstitucionais
no país e, para
tal, deverá estar em prontidão
combativa.
Há dias, Afonso Dhlakama ordenou
a delegação do seu partido
para abandonar a mesa do
diálogo no Centro de Conferências
Joaquim Chissano, alegando
que os encontros eram improdutivos.
Em Maputo, o partido que suporta
o governo, a Frelimo, não
ficou a leste destes acontecimentos
e, nesta terça-feira, em
conferência de imprensa, lançou
duras acusações à liderança da
Renamo.
Damião José, porta-voz da Frelimo,
liderada por Filipe Nyusi,
disse que Afonso Dhlakama está
a assumir uma postura terrorista
e, para tal, conta com o financiamento
externo cujo objectivo
principal é desestabilizar o país.
“O senhor Dhlakama continua
a assumir a postura de um
homem terrorista que não tem
sentimento humano e é inimigo
da paz e do desenvolvimento. As
condições que a Renamo tem estado
a exibir, mormente, a frota
de carros novos, equipamento
novo, o material bélico, mostram
que realmente a Renamo tem os
seus patrões”, disse Damião José.
Enquanto isso, ataques esporá-
dicos têm-se assistido em alguns
distritos da província de Tete.
Perante esta realidade, Egídio
Vaz, historiador e analista polí-
tico, entende que não existe nenhuma
contradição. O que existe
é um jogo de palavras e ausência
de acções concretas para viabilizar
o projecto de paz.
Diz que nem o governo nem a
Renamo estão a mover-se no
sentido de garantir a materialização
do projecto de paz.
Para tal, Egídio Vaz aponta algumas
razões e refere que, tendo
em conta a situação financeira
actual e o manifesto da Renamo,
não parece que o governo esteja
em condições de satisfazê-las a
breve trecho.
Por outro lado, continua, mesmo
que o governo tivesse vontade,
há um entrave na medida em
que Nyusi ainda não conseguiu
fazer-se entender no seio da sua
cúpula, para além de que ainda
não existe algum pensamento
novo e coerente sobre os passos
que o país deve dar para garantir
a paz efectiva.
“Apesar de Filipe Nyusi estar a
comandar o partido e o governo,
ainda não tem em mãos um roteiro
de paz, justamente porque
no seu seio não existe um plano
novo e ele próprio ainda não tem
garantias vindas do partido para
seguir com aquilo que ele diz
que pretende. E na falta deste
novo roteiro, assistimos a emergências
reincidentes de “calhaus
políticos”, pessoas que se julgavam
reformadas, a emergir com
seu discurso de sempre. Portanto,
estamos perante a ausência
de um novo dicionário político.
Enquanto o novo dicionário
não chega, a Frelimo vai usando
o dicionário antigo, a antiga
gramática e antigos manuais de
relações públicas”, frisou.
Continua a sua explanação referindo
que as coisas estão muito
claras. A Renamo quer acomodação.
A Renamo quer que as
benesses resultantes da actividade
governativa sejam repartidas
entre as duas partes e a Frelimo
tende a resistir e querer desfrutar
sozinha.
Diz que a Renamo não quer
a partilha do poder. O que
Dhlakama quer, acrescenta, é
que se quebre a forte influência
da Frelimo sobre as instituições
do Estado e como o partido no
poder ainda não tem alternativas
fora do controlo das instituições,
surge daí a hesitação.
Para o analista, a saída passa pelo
parlamento, através de iniciativas
legislativas.
Egídio Vaz entende que o actual
sistema de governação eleitoral
não é viável e a solução passa
pela descentralização.
Sublinha que a forma como o
partido no poder está distribuí-
do torna todo o país dependente
dos recados de Maputo.Há problemas
de legitimidade, de representatividade
ao nível local e
de institucionalização das elites
locais.
Nessa óptica, os governadores
devem ser eleitos, a municipalização
deve ser mais acelerada
e que se pare com a criação de
novos distritos.
“Nos actuais moldes de governação,
o partido que perde as
eleições, mesmo que seja por
uma ínfima diferença, sai sempre
prejudicado porque perde tudo
e deve esperar por mais cinco
anos”, lamentou.
Na sua argumentação, frisa que
com os governadores provinciais
eleitos, com o sistema de
municipalização mais alarFrelimo
e Renamo extremam posições
Paz cada vez mais podre
— Enquanto a Renamo concentra a pressão no epicentro das armas e a Frelimo a pautar pelas acusações perante a indiferen-
ça do governo, os dois ex-beligerantes voltam a colocar o país numa encruzilhada
Por Raul Senda
Impasse político volta a colocar Moçambique perto dos tiros
Egidio Vaz
TEMA DA SEMANA Savana 11-09-2015 3
gado, a democracia conheceria
novos tempos, novos rumos e a
participação efectiva dos cidadãos
tomaria outra dinâmica.
Termina a sua explanação referindo
que a proposta das autarquias
provinciais, apresentada
pela Renamo, não deveria ter
sido levada de forma leviana
pela Frelimo, devia ser a base
para uma análise mais profunda
e ampla sobre a descentralização.
O académico Ismael Mussá entende
que se as partes ficaram
dois anos a negociar, é porque
estão cientes que a paz é um bem
precioso e que se alcança através
do diálogo.
A partir de um dado momento,
as partes também perceberam
que o diálogo já não estava a
produzir os resultados desejados
e a tendência era de decepcionar
as expectativas das pessoas.
Mussá corrobora com o padre
Couto referindo que a tendência
de mediatizar os encontros também
pressiona as partes e prejudica
o processo negocial.
Duma sublinha que o facto de
os moçambicanos terem vivido
20 anos em paz é sinal claro de
que estão em condições de resolver
seus diferendos, não se explicando
que nos três anos voltem
a viver numa situação de instabilidade.
Sublinha que o presidente Nyusi
acaba de assumir o poder e a este
cabe uma dedicação excepcional
com vista a resolver o diferendo.
Duma condena a postura da Renamo
e sublinha que as ameaças
chocam com o espírito de tolerância.
“Quando a Renamo recorre a
discursos violentos para fazer
reivindicações perde razão e,
consequentemente, a legitimidade.
Falar de criar quartéis, polícia
é um desafio ao Estado e é fugir
da essência do espírito de diálogo
e isso é condenável”, disse.
Criticou também os pronunciamentos
de Damião José, sublinhando
que a Frelimo, sendo um
partido que suporta o governo,
não se devia limitar a acusações
porque isso atiça cada vez mais
a confusão.
A Frelimo, como partido no poder,
tem mais responsabilidade
e devia pautar por uma via que
mais serve para encontrar solu-
ções do que pela agitação.
Diz que a Renamo tem seguidores
que querem ver os seus desejos
satisfeitos e cada encontro de
alto nível é mais uma esperança.
Sendo a Frelimo detentora do
poder, cabe a esta perceber a Renamo
e fazer certas cedências.
Entende que o chumbo do projecto
das autarquias provinciais
foi uma atitude precipitada da
parte da bancada da Frelimo
na medida em que ainda havia
espaço para a reformulação do
documento.
“As leis são feitas por pessoas e
da mesma forma que aprovam
podem rectificar. Pode-se fazer
emendas para albergar algumas
situações que podem contribuir
na pacificação do país”, disse.
Ismael Mussá sublinha que a
Renamo é um partido que representa
uma parte relevante do
eleitorado moçambicano e em
condições normais não devia ser
excluída totalmente do processo
de governação como acontece
actualmente.
Custódio Duma, presidente da
Comissão Nacional dos Direitos
Humanos, diz que basta de
o povo moçambicano viver no
meio de incertezas devido à insegurança
e instabilidade criadas
pelos dois principais protagonistas
políticos.
Ismael Mussá
Custódio Duma
TEMA DA SEMANA 4 Savana 11-09-2015
Um ano após cessar-fogo entre Governo e Renamo
Medo volta a ensombrar Gorongosa e Muxúnguè
OCentro de Integridade
Pública (CIP), em parceria
com o International
Budget Partnership
(IBP), uma instituição baseada
em Washington, Estados Unidos
da América, elaborou uma pesquisa
sobre a Transparência Or-
çamental em Moçambique.
Abrangendo 102 países, os resultados
da pesquisa apontam uma
realidade simplesmente aterradora
para o país, se tivermos em
conta o tipo de discursos e promessas
que têm estado a ser feitos
reiteradamente pelos governantes
em relação à matéria de transparência
na gestão da coisa pública.
Subdividido em três grandes
campos, o estudo denominado
“Orçamento Aberto” analisa, simultaneamente,
a transparência
como tal, a participação pública
na definição e elaboração orçamental
e, por fim, o controlo or-
çamental.
Nos três itens analisados, Mo-
çambique posicionou-se abaixo
da metade de uma classificação
máxima de 100 pontos, realidade
que coloca o país como dos piores
da região austral nesta matéria.
Pior mesmo está o país no ponto
que diz respeito à participação pública.
Segundo o estudo, tornado público na
manhã desta quarta-feira, Moçambique
está simplesmente no último lugar
de todos os países da região no item
que diz respeito à participação pública.
Em termos de pontuação, dos 100
pontos possíveis no que diz respeito à
participação pública em questões de
definição orçamental, Moçambique
conseguiu somar só e somente dois
pontos.
Em relação a esta realidade, o estudo
diz somente que “o governo de Mo-
çambique oferece ao público muito
poucas oportunidades de participar no
processo orçamental”.
Nesta realidade, apesar de o assunto
ter sido tocado ao de leve quando se
discutia o relatório, a verdade é que o
continuamente obscuro negócio Ematum
está por detrás desta realidade.
Depois de em 2012 Moçambique ter
alcançado uma classificação de 47
pontos dos 100 possíveis, no Índice de
Orçamento Aberto, um instrumento
que examina o nível de transparência
orçamental e as referidas mudanças ao
longo do tempo, este ano, caiu nove lugares
e amealhou 38 pontos.
De acordo com o Centro de Integridade
Pública (CIP), esta queda deve-se
à fraca disponibilidade de informação
orçamental, que permitirá perceber
onde é que o dinheiro é alocado.
Esta é a terceira vez que Moçambique
é avaliado pelo Índice de Transparência
orçamental (IOA), um instrumento
que contempla 120 países a nível
mundial e analisa 109 indicadores para
determinar a transparência orçamental.
O estudo foi produzido num período
de 18 meses (Março 2014 - Setembro
2015) pelo Centro de Integridade
Pública (CIP), em parceria com o International
Budget Partnership (IBP),
uma organização sediada nos Estados
Unidos de América.
O CIP aponta que a informação disponibilizada
não permite perceber
onde o dinheiro público é alocado com
a agravante de haver muito dinheiro
em circulação fora do sistema orçamental.
A questão das receitas próprias e consignadas
que não são captadas pelo
sistema constituem outro ponto que
contribui para esta classificação, principalmente
quando se trata de empresas
públicas.
Nos indicadores analisados destaque
vai ainda para a participação pública e
controlo orçamental. Na vertente participação
pública, o país obteve dois
pontos, alegando-se que oferece muito
poucas oportunidades de participação
do público no processo de elaboração
do orçamento.
Quanto ao controlo orçamental, recebeu
33 pontos no controlo realizado
pelo poder executivo, o CIP argumenta
que o poder legislativo exerce um
fraco controlo durante a fase de planeamento
do ciclo orçamental e nenhum
durante a fase de implementação do
mesmo, o que é agravado pela inexistência
de um gabinete especializado
de pesquisa orçamental. No controlo
exercido pelas instituições de auditoria
externa obteve 42 pontos.
O índice de orçamento aberto foi divulgado
pela primeira vez em 2010,
tendo o país obtido 28 pontos. De
seguida houve grandes reformas que
permitiram que em 2012 tivesse uma
pontuação de 47 e, por via disso, relaxou
um pouco e este ano perdeu nove
pontos (38), o que coloca o país abaixo
da média global que é de 45.
A nível da região da SADC, África
do Sul lidera a lista com 86 pontos e
Moçambique aparece na sexta posição
e no fundo da tabela está Angola.
O estudo do CIP diz que esta oscilação
deve-se à inconsistência do governo
quanto ao tipo de documentos
disponibilizados publicamente num
determinado ano.
Indica que actualmente, para além
desta redução de documentos, o governo
publica o relatório do fim de ano
com atraso e revisão semestral é
exclusivamente para o uso interno.
Avaliação não foi boa
A directora nacional adjunta de
Planificação e Orçamento, Chamila
Aly, apesar de reconhecer as
constatações apresentadas pelo
estudo, diz que a avaliação não foi
muito boa porque tomou como
base um ano totalmente atípico.
Refere a directora que em 2015
entrou um novo governo, tendo
por isso o Orçamento de Estado
sido aprovado somente em Abril, o
que fez com que não se cumprisse
os prazos de disponibilização de
certas informações.
Discordou da pontuação atribuída
à participação pública, alegando
que existem dois momentos: O
primeiro durante o fórum de observatório
de desenvolvimento no
qual abre-se espaço para sociedade
civil, membros do governo central
e provincial. O segundo é o fórum
de monitoria, cujas opiniões dos
últimos três anos trouxeram alterações
de vulto na proposta final.
Prosseguiu ainda afirmando que
logo que a proposta do orçamento
dar entrada na Assembleia da República
(AR), em simultâneo fica
disponível para o cidadão.
Um ano após o acordo de
Cessação das Hostilidades
Militares e o reaparecimento
de Afonso
Dhlakama na esfera pública,
a nova onda de divergências – o
rompimento do diálogo no Centro
Joaquim Chissano entre Governo
e Renamo e a recusa do líder do
maior partido da oposição para o
encontro com o PR Filipe Nyusi,
voltou a ensombrar as zonas largamente
afectadas pela guerra entre
2013 e 2014 na província de Sofala.
A população de Gorongosa e
Muxúnguè, na província de Sofala,
considera que os desencontros
entre o Governo e a Renamo são
“potenciais focos de instabilidade”
e que voltou a se instalar um clima
de medo e insegurança naquelas
zonas, ainda com memórias frescas
de confrontos entre a milícia estatal
e o braço armado da Renamo.
Feliciano Matchisso, deslocado de
guerra na Gorongosa, descreveu ao
SAVANA “um medo claro” entre
a população, alimentado pelas “incertezas”
provocadas por discursos
políticos, sustentando que as novas
clivagens entre o Governo e o
maior partido da oposição são uma
mensagem de que “a paz não está
para todos”.
“Esperava um 2015 apaziguado”,
precisou Feliciano Matchisso, que
sobreviveu de mangas após total
fracasso da época agrícola, forçada
pela fuga de populares nas zonas
de produção devido às agressões
armadas.
“Há muitas famílias que saíram do
campo de deslocados para o interior,
mas que mantêm casas em
bairros de reassentamento, porque
ainda não há garantias do cessar-
-fogo completo. Aqui (na Gorongosa)
são mantidos os militares de
ambas partes e com o aumento das
divergências o medo voltou”, disse.
Milhares de pessoas, dos cerca de
seis mil deslocados de guerra na
Gorongosa, ainda se “recusam” a
regressar às zonas de origem, por
considerarem instáveis as condi-
ções de segurança, quase um ano
após o cessar-fogo que encerrou o
conflito que durou 17 meses, que
opunha as forças governamentais e
o braço armado da Renamo.
O país continua a atravessar “incertezas
e nervosismo” pós-eleitoral,
com a recusa dos resultados por
parte do líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, que ameaça “governar à
força” as seis províncias autónomas,
que pretende criar no centro e norte
do país, onde reivindica vitória, e
cujo projecto foi chumbado no parlamento
pela bancada maioritária
da Frelimo.
“Nós continuamos capim dos dois
elefantes em luta. Infelizmente
continuam a acontecer divergências
político-militares sem se interessarem
com o nosso sofrimento. Dormimos
atentos todo o tempo, sem
sossego, pois não sabemos quando
vai eclodir de novo um conflito”,
disse Chico Tantofaz, deslocado,
com rádio pendurado no pescoço e
um volume de alerta.
Já em Muxúnguè, a rota mais sangrenta
do conflito, o trânsito flui
normalmente, mas entre os moradores
e transeuntes voltou à tona
a conversa sobre o receio de uma
nova instabilidade, com o rompimento
do diálogo entre o Governo
e a Renamo, e a recusa de Afonso
Dhlakama ao convite do PR mo-
çambicano Filipe Nyusi.
“As pessoas ainda vivem um clima
de medo com as frescas memórias
dos ataques aqui (em Muxúnguè).
Apesar da vida parecer normal, as
pessoas assustam-se muito com
certas posições dos líderes políticos.
Nunca sabemos do amanhã”, precisou
Abdul Ismael, um morador
do epicentro da guerra, lembrando
o desconforto causado pelos confrontos.
O pároco de Muxúnguè, José Luís,
descreveu que ao nível da vila de
Muxúnguè “não se sente muito a
insegurança”, adiantando, contudo,
que a penumbra do retorno dos
confrontos poderia deixar paralisado
o desenvolvimento da zona.
A Renamo faltou esta segunda-
-feira, pela segunda-vez consecutiva,
à sessão semanal do processo
de diálogo com o Governo, após
o anúncio do rompimento das
conversações por parte de Afonso
Dhlakama.
O Presidente da República, Filipe
Nyusi, enviou um convite ao líder
do maior partido de oposição para
um encontro, mas Afonso Dhlakama
declinou, argumentando que só
aceitará quando tiver garantias da
implementação do Acordo Geral
de Paz (AGP), assinado em Roma
em 1992, e do Acordo de Cessação
das Hostilidades, em vigor desde
05 de Setembro de 2014.
Desmandos militares
No interior da Gorongosa, a população
denunciou vários desmandos
protagonizados pelas forças estatais,
sobretudo o saque de animais
e abuso sexual às mulheres na zona
da Casa Banana.
A população disse que os homens
militares – a maioria usa farda da
Unidade de Intervenção Rápida
(UIR) – têm entrado nas comunidades
e provocado desmandos,
ameaçando de tortura ou morte a
quem reagir às suas acções e, muitas
vezes, violam sexualmente as
mulheres quando as encontram em
banho nos riachos.
“Nós queremos saber se a popula-
ção é que deve alimentar militares
que o Governo mandou para vir
trabalhar?” indagou Feliz Candeado,
acusando a força posicionada
no cruzamento entre Piro e Casa-
-Banana de estar a provocar desmandos.
Ainda segundo contou: “quando
vão aos rios, eles não pedem licença
e as mulheres geralmente tomam
banho nuas e eles se aproveitam da
situação. Às vezes violam as nossas
filhas, tirando o nosso peso de marido
e pais”.
Não raras vezes, prosseguiu, os militares
estatais bebem e não pagam
as contas, sob ameaça de prisão ou
morte para quem exigir, tirando os
parcos recursos de sustento de algumas
famílias na região.
“Vieram na minha casa beberam
doro (a versão de Pombe) e, depois
de tudo, se recusaram a pagar as
despesas. Não é só numa única casa,
fazem de forma constante isso. E
não temos onde queixar, porque
ameaçam todos, mesmo o chefe da
localidade tem medo”, contou Baltazar
Pita.
Por André Catueira
Transparência orçamental dos últimos dois anos
Ematum coloca Moçambique nos piores da região
Por Argunaldo Nhampossa
TEMA DA SEMANA Savana 11-09-2015 5
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6 Savana 11-09-2015 SOCIEDADE
A
diplomacia moçambicana
logrou em mais de
40 anos o feito “impensável”
de manter relações
com o Leste e o Ocidente, mesmo
durante o tempo em que os
dois blocos estavam envolvidos
na Guerra Fria, vangloriou-se o
ministro dos Negócios Estrangeiros,
Oldemiro Baloi.
Baloi regozijou-se com o que
considera o sucesso de mais de
40 anos de diplomacia moçambicana,
quando falava durante a
inauguração de uma exposição
fotográfica sobre o percurso das
relações internacionais de Mo-
çambique com o mundo.
“Moçambique fez as escolhas
certas em termos de amizade e
parcerias, mantivemos amizades
e parcerias que perduram há
mais de quatro décadas, mesmo
quando os imperativos de então
obrigavam-nos a defendermo-
-nos uns dos outros, tendo como
fio condutor e consistente com os
nosso princípios do não-alinhamento,
fomos nessa época simultaneamente
amigos do Leste e do
Ocidente, numa altura em que
era impensável”, afirmou Oldemiro
Baloi.
O ministro dos Negócios Estrangeiros
e Cooperação de Moçambique
enfatizou que a independência
conquistada a 25 de Junho
de 1975 tornou possível que os
moçambicanos ganhassem proOldemiro
Baloi e os 40 anos da diplomacia moçambicana
Conseguimos manter relações com o Leste e com o Ocidente
Ricardo Mudaukane
tagonismo na construção da sua
própria história.
Antes da vitória contra o colonialismo
português, assinalou Oldemiro
Baloi, o papel dos moçambicanos
foi subalternizado pela
brutalidade e pelos mecanismos
de censura do regime colonial
português.
Acolhida na Fortaleza de Maputo,
na baixada da capital, e composta
por 150 fotografias, a exposição
compreende algumas das
imagens mais significativas do
período da luta contra o colonialismo
português e a seguir à independência
até ao fim do mandato
do ex-Presidente moçambicano,
Joaquim Chissano, em 2005.
Além de Chissano, a amostra
apresenta momentos marcantes
da liderança do fundador da
Frente de Libertação de Mo-
çambique (Frelimo), partido no
poder, Eduardo Mondlane, e do
primeiro Presidente moçambicano,
Samora Machel.
Falando na inauguração do
evento, o ministro dos Negócios
Estrangeiros e Cooperação de
Moçambique, Oldemiro Baloi,
afirmou que a exposição dá o testemunho
do sucesso da diplomacia
moçambicana na aposta em
fazer mais amigos e parceiros.
“As imagens que veremos sobrepõem-se
às palavras, dir-nos-ão
que tanto no presente como no
passado, Moçambique fez as escolhas
certas em termos de amiMinistro
dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Oldemiro Baloi
HDVXDYLFHDSUHFLDQGRDH[SRVLomRIRWRJUiÀFD
zade e parcerias”, destacou o ministro
dos Negócios Estrangeiros
e Cooperação moçambicano.
De acordo com Oldemiro Baloi,
a realização da exposição traduz
a aposta na diplomacia pública e
cultural, como ferramentas para a
promoção do diálogo e compreensão
mútua entre povos e países
Savana 11-09-2015
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8 Savana 11-09-2015 SOCIEDADE
Oconsórcio que detém
a Área 1 da Bacia do
Rovuma, norte de
Moçambique, prevê
investir pelo menos 23 biliões de
dólares na exploração e produ-
ção de Gás Natural Liquefeito
(LNG em inglês), avançou esta
semana a agência Press Trust of
India (PTI), citando um gestor
sénior de uma das firmas concessionárias
daquele bloco de
gás.
A notícia da PTI refere que o
Governo moçambicano aprovou
um decreto que viabiliza o arranque
da construção da fábrica
de LNG na Bacia do Rovuma e
serão necessários entre 23 biliões
de dólares e 24 biliões de dólares
para a execução do empreendimento.
As empresas parceiras do consórcio,
liderado pela multinacional
norte-americana Anadarko,
já conseguiram mobilizar 16
biliões de dólares e esperam assegurar
o valor remanescente em
Dezembro ou Janeiro próximo,
adianta a agência indiana.
Gás só em 2020
O consórcio projecta o início da
produção de LNG no primeiro
trimestre de 2020, gerando 12
milhões de toneladas de gás por
ano, que serão depois aumentadas
para 20 milhões de toneladas
por ano.
Na semana passada, o director
da Anadarko em Moçambique,
John Peffer, disse à agência noticiosa
sobre economia Bloomberg
que o consórcio já tem
acordos para a venda de 90% de
LNG que vai produzir em Mo-
çambique.
Segundo Peffer, os entendimentos
foram alcançados com os potenciais
compradores do LNG,
consolidando as garantias de que
o projecto será bem sucedido.
Admitiu que os acordos de venda
de gás até agora alcançados
não têm carácter vinculativo,
mas são essenciais para conquistar
a confiança dos investidores
que vão financiar a exploração
de gás natural e construção da
fábrica de liquefacção.
“Trata-se de pré-acordos, ou
acordos não vinculativos, que
sinalizam a viabilidade do projecto
e que eram essenciais para
se conseguir o respectivo financiamento”,
declarou o director da
Anadarko em Moçambique.
John Peffer adiantou que falta
o acordo final com o Governo
moçambicano para o início da
construção da fábrica de LNG,
assinalando que ambas as partes
estão motivadas para o início do
projecto.
A Anadarko detém 26,5% do
consórcio da Área 1, a Mitsui,
do Japão, 20%, e as companhias
indianas ONGC Videsh, 16%,
BPRL, 10%, e Oil India, 4%.
A companhia pública Empresa
Hidrocarbonetos de Moçambique
(ENH) controla 15% e a
tailandesa PTT, 8,5%.
Além do consórcio liderado pela
Anadarko, a Bacia do Rovuma é
também operada, na Área 4, por
um consórcio dirigido pela italiana
ENI.
Ambos os consórcios descobriram
na Bacia do Rovuma
reservas de gás estimadas em
cerca de 200 Triliões de Pés Cú-
bicos (TCF, na sigla em inglês).
(R.M.)
Subsídio social básico do INAS
Consórcio da Anadarko prepara-se
para investir 23 biliões de dólares
Ricardo Mudaukane
OInstituto Nacional de Ac-
ção Social (INAS) procedeu
esta semana ao
pagamento da pensão do
subsídio social básico aos beneficiá-
rios do distrito da Manhiça, província
de Maputo.
Trata-se de um programa de assistência
social aos idosos, crianças, doentes
crónicos e incapacitados fisicamente
por forma a minimizar o seu nível de
vulnerabilidade. Apesar de agradecerem
o gesto, os beneficiários dizem
que o valor ainda está longe de satisfazer
o mínimo das suas necessidades.
Em cada dois meses, grupos de idosos
e indivíduos incapacitados fisicamente,
residentes no distrito da Manhiça,
descolocam-se aos postos de pagamento
do Instituto Nacional de Ac-
ção Social para receberem o subsídio
social básico.
Alice Muiambo recebeu 800 meticais,
valor referente ao pagamento de
dois meses (Agosto e Setembro o que
perfaz 620 meticais) e adicionado aos
retroactivos.
Actualmente Alice Muiambo, uma
idosa que tal como outros desconhece
a sua idade, vive com quatro netos
órfãos de mãe com o agravante de o
filho ter ficado cego num acidente de
trabalho.
Diz que recebe o subsídio há dois
anos e canaliza o valor para compra
de material escolar dos netos, produtos
alimentares para reforçar aos que
produz na machamba e em alguns
casos para compra de medicamentos.
“Apesar deste incremento, o valor
continua exíguo e não é suficiente
para garantir a alimentação durante
um mês. Acho que com mil meticais
ou dois mil meticais a vida seria razo-
ável”, precisou.
Alberto Balate recebeu 1,120 meticais
e também conta que canaliza o
valor para compra de produtos que
não produz na sua machamba e melhorar
a sua dieta alimentar.
“Vivo com a minha esposa e com o
avançar da idade já não conseguimos
produzir como antes na machamba.
Louvo o gesto do governo, mas o valor
que nos é atribuído continua longe
de satisfazer as necessidades de casa”.
Balate diz ter três filhos, que já constituíram
os seus lares na cidade de
Maputo e poucas vezes prestam assistência
aos pais, pelo que o dinheiro
atribuído pelo governo é de extrema
importância para sua sobrevivência.
Para Carolina de Jesus, dois mil meticais
seria o valor suficiente para
aguentar no mínimo um mês, porque
os 800 que recebeu servirão para pagar
algumas dívidas que foi fazendo
enquanto aguardava por este dia.
Segundo Carolina de Jesus, o outro
factor preocupante é falta de chuvas o
que faz com que não haja bom resultados
nas machambas, o que agrava os
níveis de pobreza das famílias que dependem
fortemente desta actividade.
Ernesto Chambele têm 31 anos de
idade, beneficia da pensão social bá-
sica por ser deficiente físico e recebeu
800 meticais.
Conta que é viúvo e tem dois filhos
menores, vive com os pais com os
quais trabalha na machamba apesar
das limitações físicas que tem, pois
não pode ficar de braços cruzados à
espera que seja alimentado.
O esforço de Chambale alastra-se ao
corte de cana-de-açúcar para açucareira
da Marragra, uma vez que a
empresa cria trabalho específicos para
ele.
É o que o Estado pode dar
Aulina Salomone, chefe da delega-
ção do INAS ao nível da província
de Maputo, diz que o governo está
ciente das reclamações dos beneficiá-
rios em torno do valor atribuído, mas
é preciso perceber que há limitações
orçamentais e de momento este valor
reflecte a realidade do que o governo
pode dar para minimizar a vulnerabilidade
daqueles compatriotas.
De acordo com Salome, o governo
gostaria de fazer mais, mas não tem
como, sendo que estão em curso estudos
e acções para encontrar parceiros
com vista a obter uma outra abordagem
a este assunto, pois como se sabe
o dinheiro nunca é suficiente.
Enquanto isso, a porta-voz do INAS,
Olívia Faite, diz que, apesar de reconhecer
as reclamações dos bene-
ficiários, o desafio para os próximos
tempos passa pela introdução de
campanhas de gestão de casos, uma
vez que surgem informações de que
alguns têm alocado os fundos no
consumo de bebidas alcoólicas, o que
contrasta com o objectivo central do
programa.
O programa de subsídio social básico
do INAS ao nível da província de
Maputo beneficia 13 mil pessoas e é
financiando em 87% dos fundos pelo
Estado moçambicano e os restantes
pelo Departamento britânico para
o Desenvolvimento Internacional
(DFID) e da Plataforma da Sociedade
Civil Moçambicana para Protec-
ção Social (PSCPS). (A. N)
Beneficiários lamentam
a exiguidade da pensão
Savana 11-09-2015
9
PUBLICIDADE
10 Savana 11-09-2015 PUBLICIDADE
Índice Globas das Pessoas Idosas 2015
Por Litos J. Raimundo, Country Director, HelpAge International
Mozambique,
litos.raimundo@helpage.org
Na Quarta-Feira, 9 de Setembro de 2015, a HelpAge International
lançou a Terceira Edição do Índice Global das Pessoas Idosas (Global
AgeWatch Index) 2015, onde se faz o “rank” do bem-estar social
e económico de pessoas idosas em 96 países do mundo, o que corresponde
à cobertura de 91% de pessoas idosas no mundo. O índice
compara o bem estar das pessoas idosas em 4 domínios chaves: (i) a
Segurança de Renda, (ii) a Saúde, (iii) Capacidades Pessoais, e (iv)
Ambiente Favorável.
Numa mensagem que acompanha o lançamento do índice este ano,
o Arcebispo Desmond Tudu disse: “Eu quero dizer ao mundo que
eu conto, que pessoas idosas em toda parte contam, e que pessoas de
todas as idades devem ser incluídas nos Objectivos de Desenvolvimento
Sustentável”.
A novidade do índice de 2015
Este ano (2015), a Suiça está no topo do Índice. Moçambique já subiu
uma posição. Passou da posição 95 em 2014 para a posição 94 em 2015.
Contudo, Moçambique continua a ser um dos países posicionados no
último quarto do índice, junto com Malawi (posição 95) e a Zambia
(posição 90).
O país passou da posição 88 para a posição 84 no domínio de Seurança
de Renda por ter aumentado a sua cobertura das transferências
monetárias para pessoas idosas, passando de 17.3% no Índice de 2014
para 22.8% no índice de 2015. Contudo, a percentagem de pobreza
das pessoas idosas está acima da média da percentagem dos países da
região austral (19.1%). No domínio de saúde, Moçambique está na posição
94, a última na posição dos países Africanos que fazem parte do
índice. Isto deve-se ao facto ter uma esperança de vida de 60 anos e
uma esperança de vida saudável também de 60 anos, o que é abaixo da
esperança de vida e de vida saudavel a nível da região Austral onde o
país se encontra. No domínio de capacidades dos idosos, o país tambem
encontra-se na posição 94, a última entre os países africanos abrangidos
pelo índice; isto deve-se ao facto do país (Moçambique) apresentar
o mais baixo índice de educação entre as pessoas idosas (1%) em
comparação com os outros países da região. No domínio de ambiente
favorável, o país encontra-se na posição 96, a última do índice por causa
da percentagem reduzida de idosos que se sentem satisfeitos com a sua
segurança física (31%). Somente 31% de idosos estão satisfeitos com a
provisão do transporte publico à altura da sua condição, e 60% de idosos
estão satisfeitos com a sua liberdade cívica.
Moçambique não tem um sistema consolidado de pensão social universal, o
que quer dizer que a maioria das pessoas idosas não têm uma pensão social.
O Programa de Subsísdio Social Básico administrado pelo governo, onde
está inserida a provisão de transferencias monetárias a agregados familiares
carenciados já abrangiu cerca de 439.144 agregados familiares em 2014 dos
quais mais de 80% são chefiados por pessoas idosas. Somente 1.5% das pessoas
idosas tem acesso à pensão de velhice . Apesar dos esforços anuais para
aumentar a cobertura das transferencias monetárias e valores monetários
por parte do governo, a maioria dos idosos pobres ainda encontra-se sem
uma fonte de renda segura apesar de terem trabalhado a maior parte da sua
vida. Esperamos que a nova Estratégia de Segurança Social Básica (2015-
Moçambique está na posição 94 no domínio de saúde. A prevalência de
doenças crónicas entre as pessoas idosas em Moçambique é grande, o
que é agravado pela indisponibilidade de medicamentos accessíveis aos
idosos e exiguidade de cuidados. Um estudo realizado pela HelpAge
International em 2009 mostrou que 40% de pessoas idosas sofrem de
doenças não comunicáveis enquanto 8% são infectados por HIV. Um
estudo longitudinal que esta a ser realizado pela HelpAge em Mo-
çambique, abrangendo 400 idosos, no âmbito do seu programa Melhor
Saúde para Pessoas Idosas em Moçambique, mostra que 99% dos respondentes
dizem que sofrem de mais que uma doença crónica e somente
23% dizem estar a receber tratamento e cuidados. Numa escala
de 1 a 100, os idosos abrangidos pontuam 54 a qualidade e o acesso dos
serviços de saúde adequados à sua idade. Neste domínio, Moçambique
não avançou de acordo com o índice, contudo é encorajante saber que
o Ministério da Saúde, atraves do seu departamento de promoção de
saúde, está olhar para a componente da saúde das pessoas idosas e a desenvolver
mecanismos para prestar melhor serviço a este grupo etário.
A percentagem de pessoas idosas na esfera laboral em Moçambique
é uma das maiores do mundo, o que quer dizer que pessoas em Mo-
çambique precisam de trabalhar até à sua velhice para conseguir o
seu sustento. Muitos os idosos em Moçambique estão engajados em
actividades de subsistencia, o que torna o índice de pessoas idosas a
trabalhar dos mais altos da região. O nível de educação dos idosos em
Moçambique é dos mais baixos da região austral, o que fez com que
o país continuasse na posição 94, a mesma em que esteve em 2014.
Moçambique ocupa a última posição do índice na questão do ambiente
favorável. Uma pesquisa realizada pela HelpAge International
em 2011 sobre a segurança das pessoas idosas constatou que 61% dos
respondentes não se sentiam seguras; 74% dos respondentes ja tinham
sofrido alguma forma de agressão física desde os 50 anos . Acusações
de feitiçaria, abusos derivados de disputas de parcelas de terra e abuso
sexual eram algumas formas de agressões sofridas pelos idosos entrevistados
e muitas vezes perpetradas por membros das suas famílias.
O estado de transportes publicos é, na generalidade, não muito bom
em Moçambique, o que se torna pior para um idoso ter acesso a este
bem de locomoção. Isto contribui para que Moçambique esteja na
última posição no conjunto dos 96 países que compoem estes índice.
A Lei 3-2014 de 5 de Fevereiro sobre a Promoção e Protecção das
Pessoas Idosas mostra que o governo está preocupado e interessado
em proteger as pessoas idosas em Moçambique. Contudo, para que o
país alcance posições destacáveis do índice global das pessoas idosas,
estas leis devem ser implementadas.
2019) melhore consideravelmente os processos de provisão de segurança
de renda aos idosos moçambicanos. Apesar do acima mencionado, foi
neste domínio onde se registam progressos assinaláveis e fizeram com
que o país subisse uma posição no ranking do índice.
1 United Nations in Mozambique (2015), Capitalizing on UN Experience – The development
of a Social Protection Floor in Mozambique, 16
2 INSS presentation (report) on coverage of the contributory pension to older people
at SASPEN Workshop, September 2014
3 HelpAge International, Survey on Violence against older people in Mozambique,
Peru and Kyrgyzstan,
Savana 11-09-2015 11 DIVULGAÇÃO
A Anadarko Moçambique Área 1, Limitada (Anadarko), co-proponente do Projecto de Desenvolvimento
de Gás em Moçambique (o Projecto), está empenhada em difundir, de forma
transparente, informações precisas sobre o processo de reassentamento, associado ao
desenvolvimento do parque de Gás Natural Liquefeito (GNL) na península de Afungi, no
Distrito de Palma.
Este é o ultimo artigo de uma série de nove artigos que facultam uma actualização e informação
sobre os progressos alcançados com as actividades de planeamento do reassentamento,
durante os últimos 24 meses. O objectivo deste artigo é a monitoria da implementa-
ção e o sucesso do Plano de Reassentamento (PR).
Objectivos da Monitoria
No Plano de Reassentamento (PR) o Projecto assume compromissos, perante a população
afectada pelo Projecto, no que diz respeito à compensação, ao restabelecimento dos meios
de subsistência e às reclamações resultantes das actividades de reassentamento do Projecto. são abordadas e que sempre que necessário, são implementadas medidas apropriadas e
correctivas; e
2SURJUHVVRVHMDUHSRUWDGRUHJXODUPHQWHSDUDPDQWHUDHTXLSDGHJHVWmRGR3URMHFWR R
Governo, a população afectada pelo Projecto e outras partes interessadas devidamente
informadas sobre o progresso e as questões relacionadas com o reassentamento.
ção do programa de reassentamento de forma a alcançar os seus objectivos.
Enquadramento da Monitoria do Reassentamento
O enquadramento de monitoria e avaliação do Banco Mundial tem guiado o desenvolvimento
das medidas de monitoria do reassentamento implementadas pelo Projecto. O enquadramento
da monitoria do Projecto está estruturado em torno da monitoria das contribuições,
monitoria do desempenho e avaliação dos resultados.
$Monitoria das Contribuições (ou progresso) avalia se as contribuições estão a ser confecasas de substituição. A equipa de reassentamento do Projecto efectua internamente a
monitoria das contribuições, como parte da apresentação do progresso da gestão do
Projecto.
$Monitoria do Desempenho avalia os resultados directos das contribuições. Exemplos Ppensação
e desocupam as suas terras; o número de agregados familiares que recebem
casas de substituição ou o número de pessoas que concluem um curso de formação
sobre os meios de subsistência. A monitoria do desempenho também é realizada pela
equipa de reassentamento do Projecto e reportada tanto interna como externamente.
PR no alcance dos objectivos do mesmo. Os resultados não são geralmente evidentes de imediato.
Deve haver um intervalo de tempo antes de ser possível avaliar se os agregados
familiares afectados ou as empresas afectadas foram capazes de fazer uso da compensação
para investir na produção de resultados sustentáveis. A avaliação dos resultados
é realizada pela equipa de implementação do reassentamento, o Consultor Ambiental e
Social Independente (IESC) e por último, o auditor da conclusão do PR.
Serão aplicadas técnicas quantitativas e qualitativas para monitorar a implementação e o
sucesso do programa de reassentamento. Os indicadores quantitativos serão utilizados para
monitorar as contribuições, desempenho e resultados em relação às condições de base. Os
indicadores qualitativos serão utilizados para avaliar o nível de satisfação da população
deslocada em relação ao programa de reassentamento e para monitorar as preocupações e
avaliar as percepções sobre a extensão a que os seus níveis de vida e meios de subsistência
foram restabelecidos.
Papéis e Responsabilidades
$VVHJXLQWHVSDUWHVVHUmRUHVSRQViYHLVSHODPRQLWRULDGRUHDVVHQWDPHQWR
8QLGDGHGH0RQLWRULDGR5HDVVHQWDPHQWRGR3URMHFWR LQWHUQD
&RPLVVmR7pFQLFDGH$FRPSDQKDPHQWRH6XSHUYLVmRGR5HDVVHQWDPHQWR *RYHUQR H
,(6& WHUFHLUDSDUWHH[WHUQD
A unidade de Monitoria do Reassentamento do Projecto recolherá os dados de monitoria
GDVFRQWULEXLo}HVHGHVHPSHQKR DWUDYpVGH
0DQXWHQomRGLiULDGHUHJLVWRVHUHODWyULRVGHSURJUHVVR
5HYLV}HVPHQVDLVGRVUHJLVWRVHUHODWyULRVGR3URMHFWR
/LJDomRFRPRSHVVRDO FRQWUDWDGRV FRQVXOWRUHVHRXWUDV DJrQFLDVGHLPSOHPHQWDomR
ligadas ao Projecto para revisão e apresentação do progresso;
5HXQL}HVPHQVDLVFRPRV*RYHUQRV'LVWULWDOH3URYLQFLDO H
0RQLWRULDUHJXODUGRVPHFDQLVPRVGHUHFODPDo}HVSDUDDFRPSDQKDUDVUHFODPDo}HVHD
sua resolução.
$WUDYpVGHXPDOLVWDGHYHULÀFDomR FKHFNOLVW GHWDOKDGD DXQLGDGHGH0RQLWRULDGR5HDVVHQWDPHQWRSRGHUiUDVWUHDURVLQGLFDGRUHV FKDYHGHPRQLWRULD 2XWUDVDFWLYLGDGHVHVSHFtÀ-
cas à monitoria, como sejam, as pesquisas em painel, levantamentos do rendimento-despesas
dos agregados familiares, estudos de casos dos agregados familiares, entrevistas chave a
informantes, discussões dos grupos de foco com grupos de interesse especiais ou discussões
com as ONGS que operam na área, serão utilizadas para recolher informação adicional, conforme
necessário. Além disso, os dados recolhidos por outras equipas do Projecto, sobre o
emprego local, aquisições locais, alteração do uso da terra e custo de vida, complementarão
os dados da monitoria do reassentamento.
De acordo com a legislação Moçambicana, a Comissão Técnica de Acompanhamento e Supervisão
do Reassentamento é uma agência governamental mandatada para monitorar o
reassentamento em Moçambique. O Decreto do Reassentamento N° 31/2012 declara que
a Comissão Técnica é responsável por (1) monitorar, supervisionar e apresentar recomenGDo}HVPHWRGROyJLFDVSDUDWRGRRSURFHVVRGHUHDVVHQWDPHQWR H
SUHSDUDUUHODWyULRGH
monitoria e de avaliação para o processo de reassentamento, tendo em conta os planos
previamente aprovados.
A monitoria do reassentamento por parte do Governo é descrita na Resolução Ministerial
Nº. 156/2014 Directiva Técnica para a Preparação dos Planos de Reassentamento e Processo de
ImplementaçãoFRPR
$VVHJXUDUHYHULÀFDURFXPSULPHQWRFRPRVREMHFWLYRVGRUHDVVHQWDPHQWRHSODQRVGH
acção;
$YDOLDURQtYHOGHVDWLVIDomRGDVQHFHVVLGDGHVGDVSHVVRDVUHDVVHQWDGDV H
$YDOLDU GHIRUPDWpFQLFD HYDOLGDUDLQIRUPDomRUHFHELGDGRSURFHVVRGHLPSOHPHQWD-
ção do plano.
$SyV D DSURYDomRGR35 R3URMHFWR UHXQLU VH i FRP D &RPLVVmR7pFQLFDSDUDGLVFXWLU H
facilitar as actividades de monitoria do reassentamento por parte do Governo
2,(6&pXPFRQVXOWRUQRPHDGRSHORVÀQDQFLDGRUHVGR3URMHFWR SDUDIDFXOWDUDJDUDQWLD
de terceiros que o Projecto está a cumprir com a legislação Moçambicana, com as Normas
Ambientais e Sociais da International Finance Corporation e o Plano de Gestão Ambiental e
Social do Projecto (que inclui o PR). Ao longo da fase de construção do Projecto, o IESC
realizará avaliações semestrais que incluem discussões com os agregados familiares desORFDGRV DOLGHUDQoDORFDOHR*RYHUQR $SyVFDGDDYDOLDomR R,(6&HODERUDUiXPUHODWyULR
resumindo as conclusões e as recomendações que será divulgado e disponibilizado no website
do Projecto.
Conclusão do Programa de Reassentamento
Um dos objectivos principais do PR é que as acções do reassentamento e as medidas de
mitigação devem originar o restabelecimento sustentável e sempre que possível, o melhoramento
dos padrões de vida das pessoas afectadas e dos seus níveis de rendimentos ao nível
a que se encontravam antes de sofrerem os impactos de deslocamento provocados pelo Projecto.
O processo de reassentamento considera-se “concluído” quando se demonstrar que a
qualidade de vida e os meios de subsistência das pessoas afectadas foram sustentavelmente
restabelecidos.
O restabelecimento dos meios de subsistência dos proprietários de terras afectados será
concluído quando (1) a terra agrícola de reposição for sustentavelmente produtiva; e (2)
os outros programas de restabelecimento dos meios de subsistência descritos no PR forem
FRQFOXtGRV 3UHYr VHTXHLVWRVHMDDOFDQoDGRFHUFDGH PHVHVDSyVDUHORFDomRItVLFDGRV
DJUHJDGRVIDPLOLDUHVHDSyVDIRUoDGHWUDEDOKRSDUDDFRQVWUXomRGDDOGHLDGHUHDVVHQWDmento
ter sido desmobilizada. Nesta altura o Projecto e o IESC avaliarão conjuntamente se o
programa de reassentamento está pronto para a auditoria de conclusão do reassentamento.
Será tomada a decisão para a introdução da auditoria de conclusão ou para reavaliação do
Projecto / programa 12 meses mais tarde.
Uma terceira parte altamente experiente e independente realizará a auditoria de conclusão
do reassentamento. Assim que esta auditoria for concluída e tiverem sido abordadas quaisquer
acções correctivas decorrentes, o programa de reassentamento será considerado completo.
Nesta altura o Projecto terminará o seu programa de monitoria do reassentamento.
________________________
Este é o último de uma série de nove artigos oferecidos pelo Projecto para actualizar as partes
interessadas e para partilhar informação sobre o processo de reassentamento. A colecção
GHDUWLJRVSRGHVHUDFHGLGDQRZHEVLWHGR3URMHFWR www.mzlng.com.
1
¶)LQDQFLDGRUHV·UHIHUH VHjVLQVWLWXLo}HVÀQDQFHLUDVLQWHUQDFLRQDLVTXHIDFXOWDUmRRVIXQGRVTXH
SHUPLWLUmRRGHVHQYROYLPHQWRGR3URMHFWR &RPRFRQGLomRSDUDHVWHÀQDQFLDPHQWR RVÀQDQFLDGRUHVLQWHUQDFLRQDLVHDVDJrQFLDVGHH[SRUWDomRGHFUpGLWRH[LJHPRFXPSULPHQWRGHQRUPDVHVSHFtÀFDVDPELHQWDLVH
VRFLDLVGXUDQWHRSHUtRGRGHÀQDQFLDPHQWR
12 Savana 11-09-2015 SOCIEDADE
Quando por medo do
pensamento se repudiam
as palavras, tantos
e não poucos se escondem
atrás de uma exclamação,
com os olhos bem abertos, à espera
de uma reacção.
Nesta audiência, deu-se claramente
como provado o ambiente
de enorme tensão política e social
que se vivia em Moçambique
naquele ano de 2013, mais
precisamente, no que se refere
aos ataques perpetuados em Muxúnguè,
e bem assim, ao aumento
perfeitamente anormal de raptos
registados, tendo inclusive, uma
semana antes da publicação do
post/texto do réu Castel-Branco
sido morto na Beira uma criança
de forma bárbara que chocou fortemente
a opinião pública.
A esse propósito foi escrito no
Jornal SAVANA, na edição do
dia 21.08.2015, pela mão de
Tomás Vieira Mário, numa reminiscência
sublime sobre o
momento vivido naquele ano de
2013, onde afirmou a dado passo
do seu artigo, “( ) Carlos Nuno
Castel-Branco publicou a referida
carta quando a recente crise
político-militar estava nos seus
piores dias, marcada por sucessivos
ataques militares da Renamo,
nomeadamente na região centro
do País.
Por essas alturas, Moçambique
vivia o seu período mais conturbado,
desde o fim da guerra,
em 1992; portanto há mais de
20 anos. Os ataques militares da
Renamo, em diferentes localidades
das regiões centro e norte de
Moçambique, com particular incidência
sobre um troço de cerca
de 100 km, da estrada nacional
número um (entre Muxúnguè e o
Rio Save), criavam receios de retorno
à guerra. Em paralelo, uma
onda de raptos, exigindo resgates
milionários, estava no seu auge, e
parecia imparável, criando medo
e um sentimento generalizado
de insegurança entre os cidadãos:
uma semana antes, na Cidade da
beira, um adolescente tinha sido
morto por um grupo de raptores
( )”.
Ora, no dia 30 de Outubro de
2013, milhares de pessoas marcharam
pela paz, pela segurança,
pela estabilidade, exigindo do Estado
medidas activas de combate
ao crime, à sublevação armada,
que estava a ocorrer no centro do
País, no fundo solicitavam medidas
máximas de protecção.
A crítica devida a quem faz
administração pública
Foi por causa daquele ambiente
militar, sócio-político que se vivia
em 2013 em Moçambique, com
toda a carga negativa de emoções
que provocou nas pessoas, a par
do pânico gerado, pelas reminiscências
vindas à memória de
um passado recente de guerra, e
acima de tudo, pelo ataque psicológico
devastador que os crimes
de rapto ou de cárcere privado,
se lhe quisermos chamar, estavam
a provocar nas famílias atingidas
por aquele flagelo que inúmeras
notícias, comentários, textos, declarações,
fervilhavam na comunicação
social e nas redes sociais.
A factualidade imputada aos réus
enquadrou-se num contexto muito
próprio, de um conflito especí-
fico de natureza militar, político e
social, de debate público e do dia-
-a-dia da democracia (DEBATE
DE IDEIAS).
Por outro, quando um alguém decide
participar na administração
da coisa pública, aceitando a sua
nomeação para um determinado
cargo de elevadíssima responsabilidade,
aceitando, por isso, submeter-se
às regras constitucionalmente
definidas, não poderá, de
certa forma, pensar que o resultado
da sua actividade política à
frente dos destinos desse órgão
não será sujeito à crítica.
Principalmente, quando o resultado
dessa actividade política, devido
ao cargo desempenhado, seja
pelas decisões tomadas, seja por
aquelas omitidas, tem de sobremaneira
impacto directo na vivência
do povo que reage sempre
a esse tipo de situações de forma
inflamada.
E essas reacções são tanto mais
violentas quanto mais grave for a
situação ou o conjunto de factores
que despoleta um conflito, seja ele
armado, económico ou social (aumento
da criminalidade), como
se verificou em Moçambique em
2013.
Quando o núcleo essencial da família,
das relações de família das
relações de vizinhança é afectado,
desestabilizado, por conflitos
armados que colocam em causa
o bem mais importante que é a
vida ou por crimes de rapto que
igualmente colocam em causa a
vida e a solvabilidade económica
da família, as pessoas revoltam-se,
indignam-se, reclamam, entram
em pânico, no fundo clamam por
justiça, por paz por segurança, por
estabilidade, fazem apelo a todos
os princípios constitucionais,
chamando à atenção para quem
governa de que deve tomar medidas
e questionam fortemente
sobre a sua actuação.
E naturalmente, nessas situa-
ções, quem governa, quem chefia,
quem dirige, fica naturalmente
mais exposto à crítica, dura e ressentida
dos cidadãos sobre a sua
actuação política, pela sua alegada
omissão ou falta de resposta aos
problemas que para os cidadãos é
de urgente resolução.
E nesse caso, a crítica é absolutamente
admissível e justificada, tal
como sucedeu, perante o precipitar
dos acontecimentos de desestabilização
que estavam a ocorrer
em 2013 e actuações incompreensíveis
de quem deveria ter actuado
com mais firmeza e não o
fez, dando origem a um ambiente
de emotividade e conflictualidade,
propenso à divulgação de
comentários, escritos, textos, declarações,
opiniões sobre o Estado
da Nação, no fundo, falatório
generalizado.
O conceito de honra
Não será demais lembrar que a
honra é o direito supremo que
cada cidadão tem de exigir do
outro o respeito, por forma a que
não se emitam juízos de valor degradantes.
Este valor (honra), protegido
constitucionalmente, desenvolvido
com detalhe na lei civil, tem
sofrido ao longo do tempo várias
alterações, principalmente, quando
o confrontamos no contexto
que ocorre na tensão que muitas
vezes se gera entre o direito à
Honra contraposta ao Direito à
liberdade de expressão.
O texto de Castel-Branco editado
na sua totalidade pela edição
do Mediafax em Novembro de
2013, e que deu azo à acusação
do Ministério Público (M.P.),
constitui unicamente um movimento
de acérrima crítica à actuação
política do então Presidente
da República, não visando aquela
crítica atingi-lo como pessoa, na
sua honra ou imagem, mas unicamente,
atingir a forma como
estava a exercer a governação, os
limites dos poderes da sua actuação.
E foi apenas por isso, pelo desejo
inato, independente de informar,
de gerar debate de ideias, confrontos
de pensamento, reflexões
que se trouxe às páginas do Mediafax
aquele texto já do domínio
público.
Poderão questionar-se os limites
da crítica expressa no conteúdo
do texto, mas não nos podemos
esquecer que relativamente a um
político agindo na qualidade de
figura pública, esses limites da
crítica são muito mais alargados
do que aqueles limites quando
está em causa, um particular anó-
nimo.
E porquê?
Inevitavelmente, e de forma
consciente, um político expõe-se
a um controlo atento e mais apertado
dos seus actos da sua actua-
ção, quer por parte dos jornalistas,
quer pelos cidadãos.
Por isso, todos aqueles que ocupam
lugares de destaque em polí-
tica estão sujeitos a serem alvos da
maior das críticas, pelo trabalho
que as suas actuações, decisões,
geram, do que as demais pessoas
que não ocupam esses cargos.
O interesse público
Para que se possa restringir o direito
à honra das chamadas figuras
públicas, é necessário que se
verifique a condição de se estar
perante factos de “INTERESSE
PÚBLICO”, o que, neste caso em
concreto, essa condição se manifestou
na plenitude, pelo conteúdo
da análise política e social
que foi divulgada pelo texto de
Castel-Branco (acontecimentos
de interesse público).
Por isso, o interesse público social
justifica um maior alargamento
do conceito da liberdade de expressão.
Neste contexto específico em que
se deram os acontecimentos, os
escritos de Castel-Branco e sobre
o qual, foi Fernando Mbanze
igualmente atingido, não tiveram,
de forma alguma o propósito de
rebaixar e humilhar o então Presidente
da República.
Pelo contrário, visaram o exercício
de um direito à crítica que neste
âmbito não tem necessariamente
que escolher o meio menos gravoso
para atingir o seu objectivo.
A par de tudo quanto já foi devidamente
alinhado nestas alegações
finais, já longas, cumpre
agora chamar à atenção, para duas
situações ainda, não abordadas,
mas com interesse nesta causa, a
saber:
a) A existência da aplicação da
amnistia, e
b) O facto do Presidente da República
não ter sido ouvido no
processo.
Quanto à amnistia, Fernando
Mbanze é acusado da prática de,
“( ) um crime de abuso de liberdade
de imprensa p. e p. pelo art.
42º n.º 1 da Lei n.º 18/91, de 10
de Agosto, por força do art. 46º
n.º 1 do mesmo diploma legal,
conjugados com o art. 22º n.º 1
da Lei nº 19/91, de 16 de Agosto
e 407º e 410, ambos do CP ( )”.
Estatui o art. 42º n.º 1 da Lei n.º
18/91, de 10 de Agosto que, “( )
São considerados crimes de abuso
da liberdade de imprensa os factos
ou actos voluntários lesivos de
interesses jurídicos penalmente
protegidos que se consumam pela
publicação de textos ou difusão
de programas radiofónicos ou televisivos
ou imagens da imprensa,
nos termos do art. 1 da presente
lei ( )”.
Publicação do escrito de Castel-Branco
Uma contribuição ao debate de ideias
Por Álvaro Pinto Basto*
Jornalista Fernando Mbanze e o economista Castel- Branco no banco dos réus
Naíta Ussene
Savana 11-09-2015 13 SOCIEDADE
A questão da Lei da Amnistia
Para dar corpo à fundamentação
da norma referida no ponto anterior,
que aqui apenas tem lugar
no que respeita à “( ) publicação
de textos (…)”, refere a Magistrada
do M.P. na sua acusação que
o crime decorre da publicação do
post da autoria de Carlos Castel-
-Branco, na qualidade de Editor,
no diário “Mediafax”.
Sobre o conteúdo do texto da
autoria, nunca negada por Castel
Branco, veio a Magistrada do
M.P. na sua acusação a imputar
a existência de, “( ) um crime de
difamação, calúnia e injúria contra
o Presidente da República p. e
p. pelo artigo art. 22 nº 1 da Lei
n.º 19/91, de 16 de Agosto, conjugado
com os artigos 407 e 410,
ambos do CP (…)”.
Sucede porém, que a Lei n.º
17/2014 de 14 de Agosto, Lei
de Amnistia, veio no seu art. 1. 1.
AMNISTIAR, “( ) os cidadãos
que tenham cometido crimes
contra a segurança do Estado
previstos e punidos pela Lei n.º
19/91, de 16 de Agosto, e os crimes
militares e conexos previstos
e punidos pela Lei n.º 17/87, de
21 de Outubro ( )”.
O que isto significa é que todos
os crimes praticados contra a segurança
do Estado, sem excep-
ção, estão abrangidos pela Lei de
Amnistia.
Ora, o alegado crime de difama-
ção do qual vem acusado Castel-
-Branco consumou-se em data
não especificada do mês de Novembro
de 2013.
Deste modo, por força do art.
2º da Lei n.º 17/2014 de 14 de
Agosto, aquele alegado crime de
difamação contra o Presidente da
República foi amnistiado, garantindo
o Estado, “( ) a protecção
contra qualquer procedimento
criminal sobre actos e factos cobertos
pela amnistia ( )”.
Assim, atendendo à natureza e
especificidade do crime em causa,
difamação contra o Presidente da
República, Carlos Castel-Branco
foi amnistiado, não podendo correr
contra ele nenhum procedimento
criminal.
Sendo amnistiado o crime de que
vem acusado Castel-Branco, fica
automaticamente amnistiado o
alegado crime de abuso de liberdade
de imprensa, dele dependente.
Já que não faz sentido falar-se em
abuso de liberdade de imprensa
sobre uma publicação alegadamente
de conteúdo “difamatória”,
quando essa alegada difamação
foi amnistiada por Lei, pelo que
não deve Fernando Mbanze ser
incriminado, pelo crime de abuso
de liberdade de imprensa, vendo-
-se a esse propósito que a publicação
foi efectuada em Novembro
de 2013 e portanto abrangida
pela mencionada lei de amnistia.
O PR que não é queixoso
Quanto à segunda e última situação,
a não audição do Presidente
da República, cumpre referir a
bem da reflexão que nos propusemos
efectuar que o denominado
crime de abuso de liberdade de
imprensa, conforme consignado
no art. 42º n.º 1 da Lei n.º 18/91
de 10 de Agosto, com as altera-
ções introduzidas pelo Decreto
n.º 60/2004 de 8 de Dezembro,
refere que são considerados crimes
os factos ou actos voluntá-
rios lesivos de interesses jurídicos
penalmente protegidos que se
consumam com a publicação de
textos.
Os interesses jurídicos penalmente
protegidos pelas normas
constantes do art. 46º da Lei de
Imprensa e 22º da Lei n.º 19/91
de 16 de Agosto sãos os denominados
direitos de personalidade,
Honra, Bom Nome, Reputação
e Imagem constantes no art. 41º
da Constituição da República e,
desenvolvido depois no art. 70º e
segs. Código Civil.
Ora, a HONRA é uma qualidade
inerente ao ser humano e pode
ser definida como um princípio
subjacente à dignidade humana,
estando ligado à imagem que
cada um forma de si próprio, tendo
que ver prevalentemente com
a “dignidade pessoal reflectida na
consideração dos outros e no sentimento
da própria pessoa”.
Isto é, a honra constitui o conjunto
de valores éticos que cada ser
humano possui e só ele poderá
determinar se uma alegada imputação,
ou juízo de valor foi ofensivo
da sua honra, bom nome ou
imagem.
Nos crimes contra a honra, difamação,
calúnia e injúria a regra
instituída é de que esses crimes
são particulares, isto é, dependem
de queixa e de constituição como
assistente.
No entanto, esse entendimento
sofre alterações na lei de imprensa,
em que o crime passa a semi-
-público, depende de queixa ou
denúncia (art. 57º), significando
que a acção penal só pode ser
exercida depois de devidamente
participada pelo Ofendido.
Os crimes contra a segurança
do Estado são crimes públicos,
não dependem de participação,
nem da constituição do ofendido
como assistente, para que se possa
instaurar o processo.
No entanto, neste especial caso, a
Magistrada do M.P. na sua acusação
veio referir que o texto do
Prof. Castel-Branco, publicado
por Fernando Mbanze na edição
do Mediafax, continha afirmações
que “( ) são objectivamente atentatórias
contra a honra e consideração
devidas a pessoa do Ofendido
Armando Emílio Guebuza,
tanto como pessoa, quanto na sua
qualidade de chefe do Estado e
do Governo de Moçambique ( )”.
Ora, ao efectuar esta subsunção/
indicação, a Magistrada do M.P.
alinhou o seu raciocínio no sentido
da imputação dos crimes à
pessoa do particular, o Sr. Armando
Emílio Guebuza e igualmente,
como pessoa pública investida no
órgão, portanto na qualidade de
Presidente da República, dupla
qualidade.
A ser assim, no caso dos autos,
apenas existe um Ofício emanado
da Procuradoria da Cidade, datado
de 27 de Novembro de 2013
a mandar instruir procedimento
criminal.
Não existe nenhum documento
da Presidência da República a
mando do então Presidente da
República a dar o seu assentimento
na queixa, nem o mesmo
foi ouvido (em face do teor da
acusação, a tal dupla qualidade
mencionada pela Digna Magistrada
do M.P.).
Assim, neste caso a Magistrada
do M.P. não tem a prerrogativa de
desligada do ofendido vir a considerar
se aqueles factos pela forma
como foram apresentados, são ou
não atentatórios ou difamatórios,
porque apenas o próprio, atingido
por aquelas declarações, poderá
saber se efectivamente as mesmas,
foram de molde a ofender.
Honra vs Liberdade de
Expressão
Terminada a análise das duas situações
que reservei para o final
destas alegações, decorre de tudo
quanto aqui se expôs, e do claro
e evidente depoimento de cada
uma das várias testemunhas arroladas
que aqui vieram enriquecer
o debate em torno da questão
HONRA VERSUS LIBERDADE
DE EXPRESSÃO, que as
condutas de ambos os réus são
atípicas pelo que ao contrário do
sustentado pela Magistrada do
M.P. não se configura nenhuma
violação do abuso liberdade de
imprensa e, bem assim, a ocorrência
do crime de difamação e
injúria ao então Presidente da
República.
Já que, perante um conflito entre
a liberdade de expressão dentro
da liberdade de imprensa (cfr. art.
48º da Constituição) e o direito à
honra patente nos autos (cfr. art.
41º da Constituição) e por estarem
em causa interesses públicos
relevantes (conteúdo do texto
divulgado), prevalece o direito à
livre expressão do pensamento
porque foi respeitada a esfera intocável
da vida privada, tendo-se
mantido a discussão, unicamente,
no âmbito da actuação governativa.
Assim, Castel-Branco agiu no
exercício de um direito de crítica
pública, dirigido à actuação
governativa do então Presidente
da República, e Fernando Mbanze
ao divulgar em publicação no
diário Mediafax o texto daquele
académico, fê-lo no mais salutar
desenvolvimento do princípio
constitucionalmente aceite e admitido
da liberdade de expressão,
contribuindo para o natural debate
de ideias.
Assim, ponderadas as expressões
do texto publicado e ponderado o
contexto em que se mostram vertidas,
não podemos afirmar que
são lesivas da honra e considera-
ção do ex-Presidente da República
(pois a mera susceptibilidade
pessoal não releva para efeitos
penais).
Desta feita, Fernando Mbanze na
qualidade de editor do Mediafax,
não excedeu o dever de informar,
fê-lo com objectividade, pelo que
a sua conduta não ultrapassou a
fronteira do penalmente censurável,
tendo-se mantido estritamente
dentro dos limites admissíveis
do direito de informação,
não preenchendo, por isso, o ilí-
cito da difamação, nem aliás de
qualquer outro.
*texto editado pelo SAVANA a
partir da intervenção do advogado
da CGA em defesa do editor do mediaFAX.
Edição, adaptação, título
e entretítulos da responsabilidade
exclusiva do jornal
João Trindade, um do advogados de defesa, esgrimindo seus argumentos para destruir a acusação do Ministério Público
Naíta Ussene
14 Savana 11-09-2015 Savana 11-09-2015 15
NO CENTRO DO FURACÃO
O criminalista Elísio de
Sousa defende que a ausência
de uma política
criminal no sistema de
administração da justiça em Mo-
çambique equivale à ausência de
um aparelho de GPS numa aeronave
ou mesmo de uma bússola
num navio. Falando do seu mais
recente livro sobre o novo Código
Penal, Elísio de Sousa diz, em
alusão à ausência de uma política
criminal, que por mais alto que se
voe nas aeronaves e por mais águas
profundas que se navegue, se não
se tem um aparelho que indica a
direcção que se deve seguir para se
chegar a um certo destino, pode-
-se crer que o fracasso é certo. Pelo
meio, o criminalista alerta-nos dos
linchamentos que muitas pessoas
beneficiárias das novas medidas alternativas
à prisão correm risco de
sofrer numa sociedade ainda habituada
a ver todos os tipos de criminosos
na prisão.
Elísio Frank Xavier de Sousa é
nome de registo deste autor que
acaba de publicar o seu mais recente
livro com o título Código Penal
Moçambicano: Anotado e Comentado,
sob a estampa da Escolar
Editora. Licenciado em Ciências
Jurídicas, advogado de profissão,
antigo magistrado do Ministério
Público, Docente Universitário
e Criminalista, Elísio de Sousa é
também autor de Direito Penal
Moçambicano e Direito Criminal
Moçambicano, publicados em
2012 e 2015, respectivamente. Para
além de ser docente das cadeiras
de Direito Criminal Geral, Direito
Criminal Especial e Direito Processual
Penal na Escola Superior
de Economia e Gestão (ESEG) e
na Universidade Católica, tem sido
um participante activo em debates
radiofónicos e televisivos, entre os
quais particular destaque vai para o
programa O Mundo do Crime da Televisão
Independente de Moçambique
(TIM). Nós perguntamos e ele
responde. Segue-se a entrevista.
Em palavras simples e acessíveis
para o mais comum dos cidadãos,
como descreveria a importância
da entrada em vigor de um Código
Penal genuinamente moçambicano?
Bom, em palavras mais simples pode-se
dizer que a entrada em vigor
de um novo Código Penal representa
mais uma janela de esperança
para o cidadão no que se refere ao
combate à criminalidade. Muitas
vezes o cidadão se queixa de falta
de justiça e dos elevados níveis de
recrudescimento da criminalidade,
principalmente a criminalidade patrimonial.
É num novo instrumento
regulador que muitas vezes os cidadãos
renovam a esperança de viver
num Moçambique mais tranquilo.
Este optimismo por parte dos cidadãos,
reflecte muitas vezes aquilo
que este mesmo cidadão vai acompanhando
diariamente, por via dos
órgãos de comunicação social, onde
muitos representantes de órgãos da
administração da justiça justificam
o seu fracasso no combate à criminalidade
alegando deficiências
da Lei. Logo, presume-se que um
novo Código resolve os problemas
das ditas deficiências, o que por sua
vez se presume que com este novo
instrumento legal já se pode combater
a criminalidade com maior
eficiência.
Considerando que a revisão deste
CP é que nem a aparição da flor de
Lótus, que só acontece uma vez
em cada cem anos, até que ponto
se pode considerar que os cidadãos
desta geração tiveram o privilégio
de participar no processo?
De facto, e como se tem frisado em
diversos fóruns, o Código anterior
(1886), até ao momento da sua revogação,
era o instrumento jurídico
com mais tempo de vigência em
todo o ordenamento moçambicano.
A crítica às diversas normas
contidas no Código já vem desde o
período da sua aprovação, pelo que
o processo de participação na elaboração
de um novo Código é um
processo bastante antigo. É verdade
que o Código de 1886 era nosso
por via de um processo de recepção
constitucional, uma vez que o mesmo,
na sua globalidade, não feria a
Constituição de 1975. Mas mesmo
se considerarmos que no período
colonial já havia, nessa altura, alguns
movimentos de reforma do
Código Penal, onde se podem assinalar
as grandes reformas de 1936,
1945, 1954 e 1972. Voltando ao
nosso tempo, pode-se dizer que as
instituições de administração da
justiça são as que têm mais contribuído
para os processos de reforma
legal, onde ex-oficio, o expoente
máximo se atinge na concepção
da jurisprudência. A elaboração de
doutrina é uma das importantes
formas de participação no processo
de reforma legal e no caso da área
do Direito Penal, pode-se dizer que
o nosso país é pobre em doutrina.
São muitos os profissionais de direito
que se dizem encantados com
a beleza da área criminal, mas infelizmente
são muito poucos os que a
ela se dedicam e que sobre ela escrevem.
Digo isto porque quando falamos
de participação devemos ver
no seu todo e não somente chamar
de “participação” às auscultações
públicas promovidas pela Assembleia
da República (AR) e outras
actividades análogas. Todavia, não
é de tirar mérito a essas iniciativas
uma vez que é através delas que se
colhem bastantes subsídios para um
melhoramento dos anteprojectos e
projectos de Lei. Um outro aspecto
a realçar é o facto de muitas vezes a
nossa AR parecer fazer vista grossa
a muitas das contribuições avan-
çadas no processo de auscultação,
pois que as mesmas contribuições
depois de colhidas, não se faz referência
a elas mesmo quando o
legislador tenha discordado delas,
nas actas das Comissões de Reforma
Legal, não vemos uma discussão
das mesmas (contribuições)
e uma posição final adoptada pelo
legislador. Por isso, entendo que o
processo de participação do cidadão
não é de todo mau, mas poderia ser
melhor aproveitado. Um último
aspecto que me vem à mente é o
pressuposto incorrecto de se pensar
que quem deve produzir as Leis
tem de ser necessariamente um jurista,
onde, para tal, são contratados
alguns escritórios de advogados ou
então são indicados alguns magistrados
para procederem ao processo
de revisão das Leis. Muitas vezes,
a tarefa de produzir leis criminais,
por comportar aspectos sociais bastante
acentuados, deve ser entregue
a uma vasta equipa de pessoas de
diversas especialidades tais como
médicos, sociólogos, psicólogos,
engenheiros civis, economistas, antropólogos
e outros, uma vez que
muitas normas que fazem parte das
leis criminais são imbuídas de situações
da vida corrente que podem
muito melhor ser respondidas por
pessoas de diversa especialidade e
não necessariamente e apenas por
juristas. De todo em todo, pode-se
dizer com alguma segurança que
os cidadãos desta geração tiveram
a oportunidade de participar neste
processo.
Dentre os vários princípios que
estiveram por detrás da revisão
do CP, pelo menos dois princípios
nos saltam à vista: o princípio da
humanização do direito penal
moçambicano e o da intervenção
mínima do Estado. Até que ponto
o novo CP conseguiu alcançar esses
princípios?
Uma das críticas que fiz mesmo nas
primeiras páginas do Código por
mim anotado e comentado, concretamente
na nota preambular, é
relativa à inexistência de uma política
criminal, a qual permitiria ao
nosso legislador seguir por linhas
seguras o processo de reforma do
Código Penal. O princípio da humanização
do direito penal pressupõe
que as penas devam respeitar
os ditames dos direitos humanos
universalmente consagrados, pelo
que podemos falar concretamente
do direito à vida, integridade física
e moral e ainda outros direitos
que se mostram de grosso modo
reflectidos na nossa Constituição.
Eu posso dizer que o novo Código,
já na esteira do anterior Código,
acabou sedimentando estes direitos,
pelo que, posso dizer que este Có-
digo na sua generalidade respeitou
o princípio da humanidade das
penas. Todavia, não se pode deixar
de realçar que se mostra haver um
agravamento do limite máximo das
penas de 30 para 40 anos de prisão
maior. Poder-se-ia por esse lado dizer
que este agravamento das penas
atenta de forma ténue ao princípio
da humanidade das penas, mas de
todo o modo penso que, apesar
deste agravamento, não podemos
precipitadamente concluir nesse
sentido, pois que por outro lado o
mesmo legislador deu azo a penas e
medidas alternativas à pena de prisão,
o que demonstra de forma inequívoca
que neste aspecto o nosso
legislador não seguiu uma linha coerente.
De todo o modo, penso que
a adopção de uma política criminal
é urgente para que o processo de
combate à criminalidade com base
na dogmática jurídica possa seguir
linhas de orientação claras e, acima
de tudo, coerentes.
Uma das novidades mais salientes
trazidas deste instrumento diz
respeito às medidas alternativas
às penas de prisão, cuja aplicação
poderá implicar uma redução da
população prisional em cerca de
30%. Até que ponto a sociedade
estará preparada para fazer face a
esta nova realidade? Se bem que
os cidadãos moçambicanos confiam
nas instituições de justiça…
Olha Nenane, as penas e medidas
alternativas são ainda a grande
novidade do novo Código Penal,
senão a maior novidade. Um dos
grandes problemas da aplicação e
implementação destas novidades é
a ausência de um Código de Processo
Penal que o acompanhe de
modo a facilitar a sua implementa-
ção prática, pois que muitos debates
são levantados em torno desta
questão, onde os mais radicais até
convidam os juízes a inventarem
soluções ad hoc. O certo é que, nas
realidades mais organizadas um
Código Penal nunca é aprovado
sem estar acompanhado pela sua lei
adjectiva (CPP) que garanta a sua
plena aplicação. Penso que este é o
primeiro ponto que se deve anotar
como uma falta de estratégia legislativa.
Ademais, eu, em diversos
fóruns, tenho manifestado o meu
receio no que concerne à aplicação
desse tipo de medidas arrojadas por
parte do legislador. Por vezes fico
com a ligeira impressão de que o
Estado pretende resolver um problema
criando outro problema. A
superlotação das cadeias é um facto
que tira muito sono aos agentes
do Estado, principalmente os que
se encontram ligados à administração
da justiça, e esse problema
tem muito que ver com o precário
sistema prisional, com o excesso de
condenações por presunção de culpa,
motivado por uma incapacidade
investigativa, onde os magistrados
do Ministério Público muitas vezes
são simples instrumentos de
elaborar acusações criminais pré-
-concebidas, onde muitas vezes estes
magistrados apenas fazem um
copy-past dos relatórios finais dos
agentes instrutores da PIC, onde
por sua vez os magistrados judiciais,
alguns deles, pelo menos na fase do
despacho de pronúncia, até chegam
a pedir as acusações do Ministério
Público em dados informáticos
para apenas alterar o logotipo da
Procuradoria para o logotipo de um
Tribunal e muitas outras fragilidades
da administração da justiça que
impedem com que nas cadeias estejam
encarceradas – e até mesmo a
cumprir penas – muitas pessoas que
sequer deveriam ser chamadas para
responder num processo criminal.
Não se pode deixar de focar a insuficiência
de magistrados e as condições
em que estes são colocados
a trabalhar, muitas vezes colocados
em distritos onde tudo falta, apenas
para que se diga que neste ou naquele
distrito já têm magistrados,
logo a nossa justiça está boa. Então,
de entre estes males da nossa
justiça surge um grande número
de pessoas detidas e reclusas que o
próprio sistema penitenciário tem
dificuldades em suportar, e qual é
que é a solução? SOLTAR TODO
MUNDO. Mas para isso, precisa-
-se de um instrumento legal que
legitime estas solturas maciças que
neste caso será o novo Código Penal
e o respectivo código de processo
por aprovar. Mas, olha Nenane,
não te quero dizer que sou contra
esta posição do nosso legislador, o
que te quero chamar a atenção é
apenas que estas solturas massivas
podem criar instabilidade social derivada
da frustração de expectativa
que o Estado cria quando detém
um “criminoso”. Muitas das pessoas
soltas por estas medidas podem sofrer
repercussões negativas nos seus
bairros, onde até há o risco de alguns
virem a ser sumariamente linchados
por se pensar que se está a
soltar bandidos arbitrariamente. E,
depois de tudo isso, quando dizes
que os cidadãos confiam na nossa
justiça, podes crer que essa confian-
ça dos cidadãos, em certos casos,
pode ficar seriamente beliscada.
É bastante crítico quanto ao facto
de não existir uma política criminal
em Moçambique e destaca
a ausência dessa percepção nos
anteprojectos de revisão do CP
de 2006, 2011 e 2014 como sinais
claros e inequívocos da falta de
uma definição clara das linhas de
orientação da reforma jurídico-
-penal. Quais os grandes riscos
da inexistência de uma política
criminal?
Apesar de ter adiantado um pouco
sobre este aspecto da ausência
de uma política criminal numa
das questões antes colocada, posso
aprofundar dizendo que a política
criminal é um “aparelho de GPS”
para uma aeronave ou uma bússola
para um navegador. Por mais alto
que se voe nas aeronaves e por mais
águas profundas se navegue, se não
se tem um aparelho que nos indica
a direcção que devemos seguir
para chegar a um certo destino,
podes crer que o fracasso é certo.
Assim, a política criminal deve ser
a bússola do legislador (Estado)
para que, por via das normas incriminatórias,
este possa de forma
eficaz combater o crime. É preciso
ter em mente que o Direito Penal é
uma ciência que estuda as normas
criminais para ajudar o legislador
a criar melhores dispositivos legais
que ajudem a diminuir, senão eliminar,
o índice criminógeno. É a
política criminal que nos vai responder
se o legislador deve impor
penas mais graves ou mais leves
para um certo crime. É a política
criminal que deve definir se os novos
Códigos devem ter mais crimes
ou menos crimes. A título de
exemplo, nós tínhamos um Código
Penal (1886) que tinha apenas 486
artigos dos quais um quinto das
normas ali estabelecidas na prática
não se aplicavam. Hoje temos
um Código Penal (2014) com 567
artigos e quase todos plenamente
aplicáveis. Significa isto que o legislador
criou muitos novos crimes,
sem embargo de alguma legislação
que se encontrava em legislação esparça
que acabou sendo enxertada
no Código, como por exemplo a
Lei dos Crimes Contra a Violência
Doméstica. A questão que se
coloca é se haveria necessidade de
aumentar o número de crimes? Eu
não concordo muito com esta op-
ção do nosso legislador. O exemplo
que me aparece agora é em relação
a um novo tipo legal de crime que
(passe a tautologia) criminaliza as
pessoas que urinam em árvores ou
locais públicos não apropriados
para o efeito. Até aí tudo bem, mas
onde eu me questiono é até onde
os nossos municípios e governo
garantem que os seus cidadãos, em
caso de aflição biológica, possam
sem grandes contrangimentos de
distância beneficiar de uma casa
de banho pública? Não seria mais
fácil garantir essas infra-estruturas
antes de se correr para criminalizar
aqueles que não têm acesso a essas
infra-estruturas? Este é um pequeno
de vários exemplos de criminalização
sem necessidade. E nota-se
ainda muitas vezes que o Estado se
socorre destes Códigos criminais
para resolver problemas por ele
mesmo causado.
Que implicações tem a entrada
em vigor de um novo CP sem que
esteja acompanhado de um novo
Código do Processo Penal tanto
para os agentes da administração
da justiça quanto para os cidadãos
em geral?
No meu ponto de vista, as normas
do Código Penal são aplicáveis sem
dependência necessária de um Có-
digo de Processo Penal. Todavia, há
uma zona do Código Penal difícil,
ou senão mesmo, impossível de
aplicar sem um instrumento que
a regulamente. Refiro-me concretamente
às famigeradas penas e
medidas alternativas. Um dos pressupostos
destas medidas nos termos
do Código Penal é que o agente do
crime cumpra com as injunções
plasmadas no Código de Processo
Penal, mas que esse Código de
Processo ainda não existe. Tenho
assistido na imprensa que existem
alguns juízes arrojados que fazem
aplicar as penas alternativas mesmo
sem o Código de Processo Penal.
Sob este aspecto eu diria que é um
acto de muita coragem por parte
destes magistrados uma vez que
não sei como eles poderão justificar
que se mostram cumpridas as tais
medidas e injunções previstas num
Código de Processo inexistente,
pois que nos termos da alínea d), do
n.º 1, do art.º 102 do novo Código
Penal, exige como pressuposto
de aplicação dessas novas medidas
previstas pelo novo Código de Processo
Penal. Assim, no meu ponto
de vista, por mais boa vontade que
reine nos juízes, não é possível aplicar
tais penas alternativas sem incorrer
em ilegalidade, pois que uma
sentença judicial não deve ser lavrada
com base na boa vontade, mas
sim com base na Lei. Mas estas medidas
tomadas por estes magistrados
têm efeitos positivos porquanto
acaba pressionando o legislador a
tomar uma posição urgente no que
se refere à aprovação de um novo
Código de processo. Mas Nenane,
fique tranquilo que essas penas e
medidas alternativas só representam
apenas uma pequeníssima percentagem
daquilo que não é aplicá-
vel, pois que o restante Código já se
mostra directamente aplicável e até
já há condenações nos nossos tribunais
com base no novo Código. E
é bom que as pessoas saibam disso
senão pensarão os criminosos que
a falta de um Código de Processo
Penal seja um autêntico passaporte
para a impunidade (risos).
É como navegar sem ter uma bússola
Elísio de Sousa critica a falta de uma política criminal em Moçambique: o Código Penal está encharcado de omissões e não resolve a problemática do crime
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)RWRJUDÀD
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Cartoon
Estado de segurança da
agência David Mahlobo
EDITORIAL
Guerra e o lucrativo
negócio de armas
7UiÀFR+XPDQR
A
experiência do casino Polana
demonstra que o mercado
dos jogos de fortuna e
azar é bastante limitado em
Moçambique sem evolução sensível
nos últimos 18 anos.
A prática mostra que o número de
jogadores praticamente não se alterou
em 18 anos tendo ficado evidente
que a maior parte dos jogadores
da “Sala de Máquinas” (“slots
room”) da Matola são também jogadores
do Casino em Maputo;
Por outro lado, a Lei do Jogo em
vigor e seu Regulamento contém
uma série de dispositivos inibidores
e desencorajadores do investimento
nacional em projectos de jogos de
fortuna e azar;
Para incentivar o investimento nesta
área do “entertainment”, tanto a Lei
como o Regulamento precisam ser
substancialmente flexibilizados sem
no entanto reduzir a disciplina, o
controlo, a fiscalização e a inspecção
rigorosa do Estado;
O maior inibidor do investimento
é o Artigo 30 da Lei nº 1/2010 de
10 de Fevereiro, pelo qual, no fim
da Concessão reverte para o Estado
o imóvel onde funciona o Casino,
mesmo se construído de raiz pelo
investidor;
Este artigo existia na Legislação
Portuguesa (na época cobria também
Macau) tinha por objectivo
compensar o Estado, com o edifício
do Casino no fim da Concessão,
porque na época, era convicção que
o investidor privado, no fim da concessão,
tinha arrecadado lucros fabulosos;
o nosso legislador inspirou-se
na Lei portuguesa tendo também
copiado a cláusula da reversão;
A prática dos últimos 18 anos mostra
que a realização de lucros fabulosos
não é o caso com o Casino Polana:
se a concessão terminasse hoje
o concessionário arrecadava 15,8
Milhões de USD de dividendos (em
18 anos); no entretanto, no mesmo
período o Estado já encaixou, só
em imposto especial de jogo: 34,6
Milhões de USD; valendo o edifí-
cio 12M. de USD, ao reverter para o
Estado, este fica com um ganho total
de 34,6+12=46,6 M. USD. Esta
é a realidade. Não há lucro fabuloso
para o investidor em Moçambique);
Ora, isto é profundamente INJUSTO
e DESPROPORCIONAL; é
um Estado explorador do sector privado
em vez de ser encorajador; em
conclusão o Estado ficaria com um
ganho total de 46,6 M. de USD enquanto
que o investidor privado fica
apenas com 0,8 M de USD, porque
foi obrigado por Lei a investir 15 M.
de USD no projecto que são a deduzir
dos dividendo de 15,8 M. USD
recebido em 18 anos;
Por outro lado, revertendo o edifício
para o Estado, o investidor privado
não pode dar o edifício em garantia
ao banco para alavancar novos
investimentos na área do Jogo e do
Turismo; o banco não aceita garantia
sobre um bem que, logo à partida,
pertence por Lei ao Estado; o
dispositivo prejudica sobremaneira
o investidor e em particular o nacional;
o lógico seria o investidor
iniciar o projecto pelo Casino e com
o lucro do casino desenvolver novas
infra-estruturas turísticas (e não
o contrário) utilizando o edifício
como colateral;
Só este exemplo real e concreto
mostra que a REVERSÃO desencoraja
o investimento em casinos;
Curiosamente Portugal, em cuja
Lei de Jogo o legislador moçambicano
se inspirou profundamente, já
eliminou o dispositivo da reversão
do edifício; e hoje não conhecemos
nenhum país onde a reversão exista.
Em nossa opinião é urgente eliminar
a Reversão do edifício para o
Estado, dando assim ao investidor
a liberdade e o encorajamento de
construir casinos amplos, com espaços
adequados para exposições
de arte, espectáculos de todo o tipo,
música, teatro, etc., etc.; a reversão
para o Estado dos equipamentos do
jogo poderia manter-se na Lei. Este
é principal obstáculo ao investimento
privado: a reversão para o Estado
do edifício do casino.
Alguns agentes do Estado argumentam
que, com a reversão, o Estado
quer ter a certeza que o edifício
vai continuar a ser utilizado como
Casino! Não nos parece que seja
um argumento válido num Estado
de Direito em que a Constituição
defende o “Direito de Propriedade”
(ART.82).
(Continua)
Sobre os jogos de fortuna e azar em Moçambique
Por Jacinto Veloso*
T
em-se multiplicado nos últimos dias o número de cidadãos
moçambicanos, desde líderes religiosos, pessoas singulares e
organizações da sociedade civil que juntam as suas vozes num
apelo colectivo para que se evite o pior nesta escalada do con-
flito político entre o governo e a Renamo.
Estas vozes devem ser ouvidas e os seus apelos respeitados. Para
muitos moçambicanos que viveram e sofreram as consequências do
conflito armado que dilacerou o país nos 16 anos que precederam à
assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, provoca um traumatismo
justificado qualquer discurso que sugere a repetição desse período
negro da nossa história.
O desejo de todos é que o governo e a Renamo se entendam na mesa
das conversações e nos poupem desse holocausto.
Dá algum conforto, porém, notar que quer do lado do governo quer
do lado da Renamo repetem-se declarações de ausência de interesse
em arrastar Moçambique para uma nova situação de conflito armado.
Contudo, declarações só têm validade quando complementadas por
acções que procurem lhes dar consistência. No caso em apreço, persistem
dúvidas sobre se os discursos a favor da paz são sinceros.
Ao nível da esfera pública, e no que diz respeito ao debate sobre a paz
em Moçambique, parece haver uma forte corrente de opinião que tende
a colocar o ónus sobre o governo, defendendo que a prevalência do
actual clima de paz relativa depende da sua capacidade de acomodar
todas as reivindicações da Renamo.
Nessa lógica, a Renamo torna-se isenta de qualquer responsabilidade,
sendo vista como uma mera vítima da intolerância do governo. Esta
posição é consentânea com uma tendência discursiva em Moçambique,
em que se torna politicamente incorrecto exigir responsabilidades
à oposição. Mas, como se diz na velha metáfora, leva dois para se
dançar o tango.
Neste caso, os dois dançarinos são o governo e a Renamo, e nenhum
deles, sozinho, pode dançar o tango. Ao romper com as negociações
com o governo e anunciar que estava a pôr em marcha o seu projecto
de governação nas regiões onde obteve maioria nas últimas eleições,
incluindo a instalação de um quartel em Morrumbala, na Zambézia, a
Renamo não deixa qualquer pretensão de que esteja ainda interessada
numa solução política.
A disponibilidade do Presidente da República para se encontrar com
o líder da Renamo tem como resposta a exigência de uma agenda.
Mas a agenda é do domínio público, sendo que a mesma não exclui a
possibilidade de qualquer outro assunto ser trazido à mesa.
Claro que o incentivo ao diálogo não encontra ressonância quando
políticos da estripe de Damião José aparecem a fazer declarações depreciativas
sobre a Renamo, tais como apelidar este partido de um
grupo terrorista. Este tipo de voluntários, quando não se lhes põem os
freios, não adicionam nenhum valor para que o caminho para a paz
continue aberto.
Para a Renamo, parecem estar esgotadas todas as possibilidades para
um engajamento construtivo com o governo. O cenário de guerra está
cada vez mais próximo, e a solução para este conflito só será encontrada
quando as duas partes entenderem que a guerra é insustentável,
e voltarem de novo a sentar-se na mesa das negociações. Este é, infelizmente
para os moçambicanos, o legado destes últimos 23 anos de
uma paz precária, marcada por episódios de hipocrisia.
Resta saber como é que a Renamo pretende conciliar a sua condição
de movimento armado, em confronto com o governo, e ao mesmo
tempo ser uma força política que, com 89 deputados na Assembleia
da República, ainda muito recentemente acaba de apresentar uma
proposta reformulada para a descentralização do poder político.
Enquanto para o consumo público se fala de paz, há uma clara indicação
de preparação para a guerra. A Renamo parece estar convencida
de que essa é a única estratégia que resta para alcançar o poder que lhe
tem sido ilusivo pela via eleitoral nesta curta história da nossa democracia.
Mas a guerra tem consequências desagradáveis para a maioria
que não se torna milionária com o lucrativo negócio de armas.
Crise de
refugiados na
Europa
A visão do Casino Polana (1)
GUERRA e
PODER
Savana 04-09-2015 19 OPINIÃO
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://www.oficinadesociologia.blogspot.com
441
N
a próxima terça-feira, 15
de Setembro, Filipe Nyusi
completa oito meses nas
funções de Presidente da
República (PR). Se é verdade que
Nyusi trouxe ar fresco às hostes governativas,
em particular, e à sociedade,
em geral, tendo ele sucedido
Armando Guebuza numa altura em
que este se achava no ápice da impopularidade,
não é menos verdade
que muito pouco de substancial já se
efectivou na esfera pública, na vida
de todos nós, como resultado da sua
acção governativa.
Particularmente, sou dos que - ainda
que com alguma dose de cepticismo,
tendo em conta o ‘colete-de-
-forças’ em que Nyusi se movimenta,
mormente no seio do seu partido, a
Frelimo - depositam confiança na
sua administração, embora aspectos
como a manutenção de uma ‘paz
armada’ lhe sejam um claro bico-de-
-obra. Naturalmente que uma solu-
ção sustentável ao diferendo entre o
Governo e a Renamo, ainda que por
demais urgente, tem o potencial de
levar algum tempo, que será sempre
irrazoável, tendo em conta que a paz
é um bem sem o qual muitos esfor-
ços desenvolvimentistas se podem
facilmente reduzir a cifras muito
próximas de zero.
Na Páscoa de 2014, por exemplo,
período durante o qual comummente
muitos turistas da vizinha África
do Sul se fazem ao país, pude captar
uma das consequências deste
clima de ‘paz armada’ que vivemos,
e ouvindo a Rádio Moçambique: reportava
Maria Beatriz Pinto, a partir
da fronteira de Ressano Garcia,
que todas as projecções que tinham
sido feitas pelas autoridades estavam
muito longe de ser atingidas: apenas
pouco mais de sete mil turistas sul-
-africanos se tinham feito ao país
a partir daquele posto, o maior do
país, contra os cerca de 100 mil do
ano anterior (2013), que era o que se
projectara como o mínimo.
Mas não é necessariamente sobre o
clima de instabilidade - que, antes
de consequências, tem causas, que
devem ser atendidas com urgência
e responsabilidade, para que se não
brotem soluções a aspirina - que se
vive no país há já pouco mais de
dois anos que me pretendo debruçar.
Pretendo, concordando com os que
dizem que Nyusi tem uma soberba
oportunidade, enquanto estadista,
ou de fazer história ou de ser mais
um, sugerir um ponto em concreto
no qual o nosso PR pode ser proactivo
e diferente. Refiro-me ao combate
à corrupção!
Discursivamente, é um facto que o
combate à corrupção figura das prioridades
do novo PR, conforme se extrai
de muitos dos seus discursos até
aqui por si feitos e/ou apresentados.
Os que fez em pelo menos três ocasiões
consubstanciam-no:
t 2VBOEP GPJ EP TFV EJTDVSTP JOBVgural,
Nyusi disse: “Tomaremos,
sem condescendência, medidas
de responsabilização contra a má
conduta e actos de corrupção, favoritismo,
nepotismo e clientelismo
praticados por dirigentes,
funcionários ou agentes do Estado
em todos os escalões”;
t 2VBOEP DPOGFSJB QPTTF BPT NFNbros
do seu Governo (ministros)
e vice-ministros, o PR afirmou:
“Ser honesto é mais do que apenas
não usar mal o bem comum,
não desviá-lo ou não deixar desviar.
É também empregar com
eficiência e transparência, e sem
esbanjamento de recursos. Neste
sentido, o combate à corrupção e
a defesa da ética na forma como
vão lidar com a coisa pública devem
ser formas permanentes de
ser e de estar neste Governo”;
t &TUB TFHVOEB GFJSB EF 4FUFNbro),
quando dirigia, em Tete, as
cerimónias centrais alusivas ao
Dia da Vitória, Nyusi voltou a
dizer que de tudo fará para combater
a corrupção, para que este
fenómeno não obstaculize as ac-
ções de combate à pobreza.
Na verdade, no que ao combate à
corrupção diz respeito tudo quanto
Nyusi fez até aqui, com repercussões
públicas, é mais do mesmo.
Nos discursos dos dois PR eleitos
que o antecederam ( Joaquim Chissano
e Armando Guebuza), abunda
palavreado do mesmo quilate. Mas
acções enérgicas de combate à corrupção,
actos inequívocos de transparência
governativa, eram-lhes
muito raras.
Aliás, até porque em nove dos 18
anos da governação de Joaquim
Chissano a corrupção chegou a ser
legal neste país, conforme diria o
economista Roberto Tibana. É que,
entre 1995 e 2004, vigorou um ‘diploma
ministerial’ do então Ministério
do Plano e Finanças, através do
qual se fixavam comissões de entre
25 e 15 por cento aos quadros que
participassem de grupos de adjudicação
de empreitadas públicas. Depois
de uma acérrima contestação
dos empresários de Sofala diante dos
parceiros de cooperação, esse cunho
tristemente legal da corrupção se esfumou.
Mas que acção concreta achamos
nós que Nyusi pode empreender
para dar exemplo clarividente do seu
compromisso na luta contra a corrupção?
Achamos nós que Nyusi ganharia se
tornasse pública a sua declaração de
bens, por estas alturas já depositada
no Conselho Constitucional (CC),
por imperativos legais. O mesmo
deveria se aplicar à sua esposa e fi-
lhos. A transparência, a redução da
assimetria informativa entre quem
governa e os cidadãos, como diria
Joseph Stiglitz, é um passo fundamental
no combate à corrupção. Só
com isso é que o povo, que Nyusi se
orgulha de tê-lo como patrão, é que
poderia escrutiná-lo de tempos em
tempos nessa crucial dimensão.
Não nos espantaríamos se o PR se
recusasse a fazê-lo, alegando que já
fez o que tem obrigação legal de fazer,
nomeadamente enviar declara-
ção de bens ao CC até 30 dias após
a sua investidura. Mas ir para além
da lei, dar exemplo concreto do que
apregoa, seria uma boa notícia para a
democracia moçambicana.
O PR da Namíbia, Hage Geingob, a
cuja cerimónia de investidura Nyusi
se fez presente, há cerca de quatro
meses, em Windhoek, declarou publicamente
os seus bens, sem que
tivesse obrigação legal de fazer pelo
menos o que em Moçambique se
impõe ao PR. Geingob não só declarou
o que tem (património, dinheiro
e acções em empresas), como explicou,
na presença de jornalistas, como
conseguira reunir e/ou ter cada bem,
cada coisa. A sua esposa, a empresá-
ria Monica Geingos, fez o mesmo!
Não estamos a dizer que agir dessa
forma é a ‘chave de pandora’, mas
seria um sinal inequívoco do que
apresenta discursivamente. E muitos
governantes iriam, certamente,
seguir-lhe as peugadas, mesmo não
sendo legalmente obrigados a fazê-
-lo (além da declaração à Procuradoria
Geral da República).
Ser mais do mesmo, reiteramos, não
será benéfico para Nyusi!
A
polícia sinalizou para que
parássemos o carro. Dois
amigos de nacionalidade
alemã tinham acabado de
chegar para uma estada de três dias
em Maputo. Tínhamos feito tudo
o necessário para que não houvesse
qualquer problema. Vistos tratados,
alojamento e um programa para
uma formação num domínio em
que os dois têm larga experiência.
Pediram-nos para apresentar os
nossos documentos de identifica-
ção, o que prontamente fizemos.
Pediram para revistar o carro e não
tardaram a perguntar o que é que
aqueles dois (os amigos alemães)
faziam no país, e imediatamente
expliquei quem eram, o que faziam
e que tinham vindo a Maputo a
meu convite. Outra pergunta: sabem
que entram ilegalmente muitos
estrangeiros no país? Dissemos
que sim e mostrámos os vistos e
toda a prova documental. Sabem
que não têm todos os documentos?
Disse-lhes que tínhamos tudo e
que queríamos colaborar com a polícia
no esclarecimento, havendo o
que esclarecer.
Um companheiro que estava connosco
falou pacientemente com
eles e já começava a achar tudo
aquilo excessivo quando um dos
agentes levou todos os nossos documentos,
afirmando que iríamos
para a cela e falaríamos.
Disse-lhes que não podíamos perder
mais tempo e que qualquer
atraso comprometeria a nossa actividade,
prevista para daí a hora
e meia. Num assomo de cólera, o
condutor do carro da polícia disse
que desconhecíamos as leis do país,
ao mesmo tempo que nos dirigia
um olhar tão furioso que fiquei a
pensar que nos odiava.
Passaram 15 minutos e vou explicar
aos meus amigos que estávamos a
ter problemas porque faltavam, dizia
a polícia, “ mais documentos”,
sem que nos dissessem quais.
Retomei a tentativa de diálogo (as
sequências lembram-me agora as
rondas no Centro de Conferências
Joaquim Chissano) mas os agentes
estavam irredutíveis, já só pensavam
em levar-nos à cela. Começo a ficar
ofegante e a pensar no que será se
não sairmos dali, no descrédito e no
esforço de meses para organizar um
evento que não vai acontecer. Pedi a
um companheiro que telefone a um
amigo para ajudar-nos a encontrar
uma solução. Um agente que durante
aqueles minutos se manteve
sempre silencioso aproximou-se e
disse que eu estava a agir “como se
não fosse um moçambicano”, pois
um moçambicano, prosseguiu, “saberia
o que fazer e não precisaria de
telefonar a ninguém”. Esse agente
leu o meu BI e perguntou: “tu és
mesmo moçambicano e não sabes
o que fazer?”. Senti nesse instante o
estupor da impotência e o peso da
humilhação.
Distanciei-me e estavam a entabular
conversa o nosso companheiro e
os dois agentes, que me chamaram,
ao fim de alguns minutos, e pediram
que confirmasse se os documentos
que me entregavam eram
todos os que tinham levado.
Tinham passado 40 minutos.
Confirmei-lhes que eram todos
os documentos e retornei ao nosso
carro, enquanto pensava no que
fazer. Partimos lentamente. Algum
tempo depois um dos companheiros
alemães afirmou ironicamente:
“que excelente primeira impressão”.
Talvez milhares de pessoas no país
passam todos os dias por situa-
ções idênticas às que narrei. Esta
normalização da desordem, estas
atitudes inaceitáveis, a arbitrariedade
e as ameaças, colocam a polícia
distante do seu dever, que eles
próprios reafirmam sempre que
podem, de garantir a “tranquilidade
pública”. Não podendo discutir
outras consequências, fico-me pela
degradação da imagem da polícia
entre nós e aqueles que nos visitam.
Espero que, o mais urgente que os
calendários da acção governamental
permitam, aconteça uma verdadeira
reforma.
Conta o Padre António Vieira
sobre Santo António, de quem se
diz ter pregado a uns hereges que
ameaçaram tirar-lhe a vida. Como
percebeu não obter deles entendimento,
Santo António tomou a
resolução de voltar-se para o mar e
pregar aos peixes.
Não podendo ouvir-nos, é aos peixes,
e não a vós, que pregaremos.
PS – Quase uma semana depois do
acontecimento que contei, dois colegas
sofreram as mesmas ameaças e tentativas
de extorsão pela polícia.
Pregar aos peixes ou o dia em que
“não parecíamos moçambicanos”
RELATIVIZANDO Por Ericino de Salema
Filipe Nyusi e a luta contra a corrupção
Por: Tavares Cebola
A
inda não temos ainda
no país um estudo do
poder político posto em
cena.
Falo do poder como conjunto
de técnicas destinadas a produzir
ilusões de óptica social, a
camuflar a realidade pelo prodí-
gio e pelo espectáculo, do poder
de transformar o real no imaginário,
de gerir a ambiguidade.
O poder não se conserva nem
pela dominação brutal nem pela
justificação racional - escreveu
um dia o antropólogo francês
Georges Balandier. Na verdade
- observou ele -, o poder não se
faz nem se conserva senão pela
transposição, pela produção de
imagens, pela manipulação de
símbolos e pela sua organização
num quadro cerimonial.
Na verdade, esse mundo cerimonial
é ignorado quando
analisamos e descrevemos o poder
político em Moçambique.
Ficamo-nos exclusivamente nos
pormenores clássicos: comícios,
afluência, oratória, manifestos,
programas, percepções de eleitores,
militância, legitimidade
histórica, etc.
Poder político em cena
20 Savana 04-09-2015 OPINIÃO
A TALHE DE FOICE
SACO AZUL Por Luís Guevane
Por Machado da Graça
O
líder do maior partido da oposi-
ção, A. Dhlakama, apareceu em
público afirmando que ele e o
seu partido (Renamo) já governavam
parte do País. Muito antes disso
clarificou não ser do seu interesse sorver
os sugeridos “chás” ou “cafés” com o Presidente
da República (P. R.), F. Nyusi.
Mais recentemente, repisou esta posi-
ção ao reagir ao convite feito pelo P. R.,
“jogando” com a necessidade de cumprimento
dos acordos já firmados.
Moçambique encontra-se numa situação
de tensão política já instalada cujo rastilho
(aceso) tem ganho crescentemente
maior visibilidade. Resta saber se tal
rastilho terá um longo percurso ou não,
ou se se extinguirá naturalmente pela incontornável
força do vento/externo. Mas,
muito mais do que isso, importa saber se
Tempo de (re)eleger a Paz
internamente há vontade e/ou coragem polí-
tica em apagá-lo ou deixá-lo evoluir em direcção
a uma previsível explosão que afectará
a todos nós.
O discurso de instalação de quartéis faz parte
do referido rastilho. Como está a reagir o
Governo: com medidas de prevenção evitando
a implementação desses quartéis anunciados
pela Renamo ou já tem uma estratégia
de mitigação dos prováveis efeitos percebidos
como perversos que daí poderão advir?
Uma possível implementação da decisão da
Renamo poderá vir a confirmar, cada vez
mais visivelmente, Moçambique como um
País com dois exércitos, dois governos e um
só povo. Nessa ordem viria, então, a adequa-
ção dos mesmos a um determinado território
para fazer valer o sentimento de pertença.
Estará em causa, então, a discussão sobre a
legalidade e a legitimidade desses supostos
HPWFSOPT 2VBOEP DIFHBSNPT B FTUF QSPWÈ-
vel ponto do rastilho é preciso pararmos para
repensar na caminhada ainda por percorrer.
Uma visão mais optimista permite-nos crer
que tanto o governo como a Renamo encontrar-se-ão
para criar condições para que o
rastilho se extinga. Assim sendo, não ocorrerá
explosão de tipo algum; evitaremos seguir
exemplos recentes da História-Mundo,
ou seja, países que se subdividiram (em dois)
produzindo por essa via um novo Estado para
cada um.
Aliás, façamos algum esforço para não pensarmos,
por exemplo, na história do surgimento
da Coreia do Norte e Coreia do Sul,
ou mesmo do Sudão do Sul, ainda que de lá
possamos tirar importantes ilações. É claro
que em algum momento essas rupturas podem
ser necessárias ou impactarem-se como
um produto histórico incontornável. No nosso
caso parece estar claro que as partes
defendem e continuam interessadas na
unicidade do Estado moçambicano não
havendo razões para a subdivisão do País
desde que se cumpram os acordos firmados
e se ultrapassem as diferenças entre
as partes.
Cá entre nós: há muito ódio que “arde sem
se ver”; muita reconciliação pendente. Volvidas
décadas percebemos que a assinatura
do Acordo Geral de Paz não significou reconciliação
entre os moçambicanos; signifi-
cou uma Paz em construção tal como uma
semente que se nega a brotar da terra. Apagar
o perigoso rastilho é do interesse de todos
nós. A reconciliação é uma necessidade urgente!
“Desestigmatizar” as nossas mentes é
um dos caminhos possíveis para a paz em
Moçambique.
A
imensa tragédia humana que
se desenrola neste momento
a toda a volta do mar Mediterrâneo
está a fazer o mundo
acordar para a situação de horror
há muito instalada no médio oriente
e norte de África. Situação que pouco,
ou nada, incomodava uma Europa comodamente
instalada no seu conservadorismo
burguês.
Foi preciso a crise transbordar das suas
fronteiras anteriores para se começarem
a ouvir os gritos de alerta e se estabelecer
o pânico.
Mas isto a que estamos a assistir não
surgiu agora, saído do nada. Tem as
suas raízes na definição, pelo antigo
presidente norte-americano George
W. Bush de um tal “eixo do mal” que
seria composto pelo Iraque, a Síria e
o Irão. Três países, por coincidência,
grandes produtores de petróleo.
E não devemos esquecer uma cimeira
realizada na base das Lages, no arquipélago
dos Açores, envolvendo, para
além do Bush, os primeiros ministros
Blair (de Grã Bretanha), Aznar (da
Espanha) e Barroso (de Portugal).
Nessa cimeira foi traçado o plano de
guerra do Ocidente contra o tal “eixo
do mal”. Guerra que se iniciou com a
invasão do Iraque, de Sadam Hussein,
a pretexto de que ele teria armas de
EFTUSVJÎÍP FN NBTTB 2VF OÍP UJOIB
Ora Sadam Hussein estava muito longe
de ser um democrata, mas tinha um
país em Paz, próspero, unitário, com
um bom nível de vida e a melhorá-lo
gradualmente. Após a invasão esse país
foi destruído, sendo hoje um enorme
campo de batalha e com grande parte
do seu território dominado pelo bando
assassino do Estado Islâmico. Se os
iraquianos queriam Sadam substituído
por um governo democrático, o resultado
foi a actual tragédia.
O alvo seguinte foi a Síria. Só que
o governo deste país, dirigido por
Bashar al-Assad, depois de ver o que
aconteceu no Iraque, preparou-se melhor
para se defender e até hoje resiste.
Um trabalho recente do jornal francês
Le Monde refere que, na Síria, decorrem
agora, simultaneamente, várias
guerras: Uma guerra civil dirigida por
rebeldes islamitas contra o governo,
uma guerra religiosa entre facções
islâmicas sunitas e xiitas, uma guerra
fria entre o Ocidente (do lado anti-
-Assad) e a Rússia e China (do lado
do governo de Damasco) e a ocupação
de grande parte do seu território pelo
Estado Islâmico.
Em relação ao Irão as coisas seguiram
caminhos diferentes e houve mesmo
um acordo recente que melhorou as
relações entre aquele país e as potências
ocidentais.
Pelo contrário, na Líbia repetiu-se um
processo semelhante ao do Iraque em
que foi derrubado o governo de Kaddafi,
outro ditador mas que estava a
conduzir o seu país a grande prosperidade
e alto nível de vida, que atraía
gente de toda aquela região, à procura
de melhor vida. Hoje a Líbia é mais
um estado falhado, devastado pela
guerra.
E é destes países, intencionalmente
destruídos, que está a fugir a multidão
que se atira ao Mediterrâneo procurando
chegar à Europa. Europa que
foi cúmplice dos Estados Unidos no
desencadear da desgraça e do terror
que os assola.
A política de desestabilização lançada
contra aqueles países teve um sucesso
que ultrapassou em muito a vontade
de quem a lançou. E foi preciso os
americanos e europeus verem os jihadistas
do Estado Islâmico a degolarem
americanos e europeus para perceberem
os monstros que tinham tirado da
sua caixa.
Só que os tais monstros, depois de
saírem da caixa, muito dificilmente se
consegue que voltem para lá. Se é que
se conseguirá alguma vez...
Tragédia provocada
T
al como na Síria o Califado Negro é o aríete jihadista
dos sunitas e representa o apogeu de mais de uma
década de mobilização guerreira no Iraque.
O Califado Negro, proclamado por al-Baghdadi no
Verão de 2014, impôs-se como a principal força nas ofensivas
jihadistas das guerras da Síria e do Iraque, forçando
norte-americanos, russos, europeus e potências regionais a
reverem estratégias.
A fuga de refugiados para a UE chamou a aten-
ção para as consequências da prolongada situação de
guerra no Médio Oriente e na Líbia, agravada pela
consolidação territorial em pouco mais de um ano
de um estado jihadista na Mesopotâmia e Levante.
A ilusão de porto seguro na UE começou, entretanto, a
animar a fuga de iraquianos e alastra até ao Afeganistão
onde o exército de Cabul, um ano após a retirada das forças
de combate estrangeiras, sofre baixas insustentáveis contra
os talibã.
O ogre e a besta
Londres e Paris passaram a assumir ataques aéreos directos,
tripulados e não-tripulados, na Síria a alvos do Califado
como autodefesa ante ameaças terroristas o que implica a
conivência de Bashar al-Assad para não activar meios de
defesa anti-aérea.
Moscovo admitiu, por sua vez, o reforço de fornecimentos
de equipamento militar ao regime de al-Assad que,
reconhecendo a exaustão de efectivos, tem cada vez maior
dificuldade em controlar a capital e as suas posições nas
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A faixa costeira de Latakia, onde os alauítas predominam, é
a derradeira linha de defesa de al-Assad que abandonou os
enclaves curdos do Norte e recua ante os ataques jihadistas
da Jahabat Al Nusra (“Frente para a Vitória do Povo Sírio”)
e, sobretudo, face às investidas do Califado Negro.
O Irão, constrangido pela diplomacia do acordo nuclear e
em guerra com as monarquias sunitas do Golfo no Iémen,
não tem como reforçar os contigentes militares na Síria e
apela a negociações envolvendo al-Assad.
Projectos de formação de uma “terceira força” são um fracasso
- uma primeira unidade de 54 homens treinada pelas
forças especiais norte-americanas foi desbaratada pela al-
-Nusra no final de Julho ao entrar em combate - e o retomar
das hostilidades entre Ancara e os curdos debilitou a
cooperação militar internacional anti-jihadista.
A maior parte das minorias, incluindo druzos e cristãos,
é arrastada pelo movimento de refugiados internos, cerca
de 8 milhões de pessoas, e a fuga para o estrangeiro, 4,5
milhões, fazendo perigar a aliança política fomentada e liderada
pelos alauítas (10% da população) desde os anos 60
e, agora, ameaçada pela avalanche sunita.
Um ódio imenso
No Iraque, um ano depois de Haider al-Abadi ter substitu-
ído Nouri al-Maliki na presidência, a tensão entre facções
xiitas agrava-se, os curdos recusam a tutela de Bagdade, estando
em vias de formar um estado autónomo, e a minoria
sunita continua afastada dos centros de poder, das forças
armadas, e temerosa das milícias apoiadas por Teerão.
Tal como na Síria o Califado Negro é o aríete jihadista dos
sunitas e representa o apogeu de mais de uma década de
mobilização guerreira no Iraque.
Desde as carnificinas encetadas após a invasão de 2003 em
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apolíptica anti-xiita e a posterior adesão à jihad de antigos
quadros do partido Baath de Saddam Hussein acabou por
criar uma entidade capaz de combinar guerra convencional,
guerrilha e tácticas terroristas.
Os veteranos de Saddam contribuiram, além da experiência
administrativa e repressiva, com estratégias de propaganda
mais eficazes centradas na atemorização de inimigos, culto
de martírio, celebração da chachina de infiéis e apóstatas,
submissão de cristãos e judeus, e escravização de pagãos.
Um poder terreno
O recrutamento de novos combatentes tem vindo a colmatar
as baixas em combate e as mortes provocadas por
ataques aéreos, contando o Califado com 20 a 30 mil homens
bem armados graças, essencialmente, à depradação
de arsenais das tropas de Damasco e Bagdade.
Al Baghdadi controla efectivamente um território abarcando
um terço do Iraque e outro terço da Síria, com cerca de
10 milhões de habitantes, sujeitos a uma peculiar interpretação
salafista da lei islâmica que define, ademais, procedimentos
administrativos, cobrança de taxas e impostos, que,
juntamente com tráficos diversos e contrabando de petró-
leo, essencialmente através da fronteira turca, financiam o
Califado.
A administração efectiva de um domínio territorial, o controlo
da população e fluxos de movimentos de pessoas e
bens, é uma peculiaridade do Califado Negro que entre
apaniguados estrangeiros tem tentado ser reproduzida em
Sirte e Derna, na Líbia.
A dimensão apocalíptica leva a que um eventual martírio
do Califa esteja fadado a a ser tido como sacríficio a galvanizar
os crentes e fluxos e refluxos territoriais apenas farão
vibrar a fé num combate derradeiro entre as forças do bem
e do mal.
Na realidade tangível os jihadistas cerram fileiras em dois
grandes núcleos de irradiação em Raqqa, na Síria, e Mosul,
no Iraque, e reinam pela espada.
Atrás do tempo vêm tempos
A submissão das populações sunitas, tementes aos xiitas,
poderá revelar-se bastante duradoura no Iraque, mas a dinâmica
da guerra civil na Síria é diferente.
A partição do estado sírio, quando a exaustão dos combates
marcar a hora, beneficiará por razões demográficas a maioria
sunita e, nesse caso, o jihadismo talvez perca boa parte
da capacidade de atracção.
De momento, a guerra campeia, demasiados interesses estão
em confronto e nem russos, europeus, turcos, iranianos
ou norte-americanos arriscam tropas em força no terreno
para impor uma solução militar.
É ainda o tempo do suplício do Califado.
Jornalista*
O suplício do Califado
Por João Carlos Barradas*
Savana 11-09-2015 21 PUBLICIDADE
22 Savana 11-09-2015 DESPORTO
BREVES
D
isputa-se este fim-de-semana
a vigésima-segunda
jornada do campeonato
nacional de futebol,
Moçambola, com a deslocação do
líder, Costa do Sol, a Quelimane
para defrontar o 1º de Maio e o
clássico entre “alvi-negros” e “locomotivas”
no centro das aten-
ções. A jornada que pode trazer
alterações no topo da tabela, caso
os três primeiros classificados não
vençam nas suas difíceis missões,
abre no sábado com o clássico
Ferroviário de Maputo-Desportivo
de Maputo, no Estádio da
Machava.
O Ferroviário de Maputo, que
ascendeu à segunda posição na
jornada anterior, após uma vitória
sobre o HCB de Songo por 3-1,
vai para o jogo com a missão de
assegurar essa posição ou mesmo
assaltar a primeira posição (caso o
Costa do Sol não vença).
Para tal, Carlos Manuel, treinador
da equipa “locomotiva”, prepara
um conjunto virado para o ataque.
“Vamos ao jogo com a mesma
ambição, que é de ganhar. Queremos
manter a nossa posição, para
alcançarmos o nosso objectivo”,
diz Caló.
Na primeira volta, os comandados
de Caló perderam por uma bola a
zero, no campo do Costa do Sol,
porém, na época passada, na Machava,
os donos da casa venceram
por 4-2.
Por sua vez, o Desportivo de Maputo,
que luta pela manutenção,
ocupa o décimo lugar com 27
pontos e está proibido de perder,
sob pena de se ver em “saia justa”,
pois está a três pontos do penúltimo
classificado, Clube de ChiMoçambola-2015
“Canário” ameaçado
Por Abílio Maolela
buto.
Os “alvi-negros” vem de uma derrota
frente ao Ferroviário de Nacala
e, segundo Dário Monteiro,
treinador da colectividade, vão à
Machava à busca dos três pontos.
“Queremos garantir a manuten-
ção quanto antes e isso passa por
vencermos esta partida”, defende.
Se no sábado, os “colossos” batem-se
no Vale do Infulene, no
domingo os olhos e ouvidos centram-se
em duas cidades e uma
vila: Quelimane, Maputo e Songo.
Em Quelimane, o líder, Costa do
Sol, visita o 1º de Maio daquela
cidade, num embate de “tudo ou
nada” para as duas colectividades.
O Costa do Sol lidera o campeonato
com 35 pontos, estando a
dois pontos do quarto classificado,
Liga Desportiva de Maputo.
Os “canarinhos” não cantam há
três jornadas e vêm o lugar ameaçado,
pelo que urge regressar às
vitórias, para não deixar fugir o
título.
Por sua vez, o 1º de Maio está acima
da linha de água, com 25 pontos
(mesmo número de pontos do
Desportivo de Nacala, abaixo da
linha de água) e está proibido de
perder, sob pena de complicar as
contas da manutenção.
Cenário diferente vive-se, em
Songo. Depois de uma fase complicada,
onde até se avançou o
despedimento de Artur Semedo,
a equipa parece ter encontrado
o caminho das vitórias e terá de
provâ-lo diante do Ferroviário da
Beira, que ocupa a terceira posi-
ção com 33 pontos.
Há quase duas semanas, os “hidroeléctricos”
venceram, na beira,
por 3-0, na marcação das grandes
(após empate sem golos), na
disputa da primeira eliminatória
da Taça da Liga BNI. Porém, na
primeira volta, tinha sido o Ferroviário
da Beira a ganhar por 1-0.
Se uns procuram assegurar os seus
lugares em terrenos complicados,
o mesmo não se pode dizer
da Liga Desportiva de Maputo,
que terá a tarefa pouco facilitada,
quando receber, no domingo, o
lanterna vermelha, Ferroviário de
Quelimane (13 pontos).
Esta partida pode marcar o “adeus
oficial” dos “locomotivas” de Quelimane,
caso percam a partida, mas
também pode marcar o regresso
do campeão nacional à liderança,
caso o Costa do Sol perca e os outros
não vençam.
Enquanto isso, em Chibuto, o
Maxaquene, quinto classificado
com 31 pontos, procura o caminho
das vitórias, que lhe fogem há
quatro jornadas.
A equipa de Chiquinho Conde,
que já desistiu do título, terá pela
frente um adversário proibido de
errar. Ocupando a penúltima posi-
ção, com 24 potos, Chibuto necessita
de uma vitória e esperar por
um deslize dos seus concorrentes
directos, Desportivo de Nacala e
1º de Maio de Quelimane.
A cidade portuária de Nacala vai
parar, literalmente, para acolher
o derby daquela cidade. O Desportivo
e o Ferroviário cruzam-
-se numa partida, onde a primeira
equipa tenta fugir da zona de desconforto
e a segunda tenta manter
o bom momento. Enquanto
isso, na chamada capital do norte,
Nampula, o Ferroviário local recebe
a ENH de Vilanculo, que vem
de uma vitória sobre o Costa do
Sol por 2-1.
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Enquanto isso, o ex-internacional inglês Ray Parlour não acredita
no sucesso do jovem francês, Anthony Martial, contratado pelo
Manchester United ao Mónaco por 80 milhoes de Euros.
“Quero muito vê-lo jogar, mas acho que vai ser um `flop´, porque o
dinheiro que pagaram por ele é inacreditável”, disse Parlour à Sky
Sports, citado pelo jornal português, ABOLA, afirmando ainda
que “para um rapaz de 19 anos, ainda não mostrou o suficiente”.
No entanto, o antigo médio do Arsenal, deixa alguma margem de
manobra ao jovem francês: “Se ele se provar tão bom como o Henry,
como andam a dizer, então será uma excelente contratação, mas
parece-me uma aposta demasiado arriscada”.
Martial poderá estrear-se pelos red devils este sábado, em Old Tra-
fford, frente ao Liverpool.
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o avançado do Chelsea, Eden Hazard, admitiu que é difícil subir
ao relvado como campeão inglês, visto que nesta época todas as
equipas inglesas querem derrotar o Chelsea para assim ganharem
mais visibilidade.
“É complicado jogar como campeão, porque todos querem derrotar-te,
todos querem matar-te, mas nós temos orgulhoso na medalha
que envergamos”, afirmou Hazard, em declarações à Hypebeast,
citado pelo ABOLA.
O médio belga espera atingir o nível alcançado na temporada transata.
“A época passada foi fantástica, pelo que esperamos que seja
possível fazer o mesmo esta temporada”, disse.
Hazard revelou que também trabalha para melhorar o seu nível.
“Todos os dias aprendo nos treinos e nos jogos. É bom defrontar
grandes equipas, porque aprendemos ainda mais. Todos os dias
tento melhorar o meu nível”.
Recorde-se que os “zuis e brancos” de Londres ocupam a décima
terceira posição, com quatro pontos, fruto de uma vitória, um empate
e duas derrotas, a oito pontos do líder Manchester City, que
soma 12 pontos.
(YD&DUQHLURSUHWHQGHSURFHVVDU
Mourinho
Ainda nos campões ingleses, a médica Eva Carneiro pretende seguir
a via judicial na sequência do desentendimento com o treinador
do Chelsea, José Mourinho, no jogo Swansea.
De acordo com o ABOLA, citando o The Evening Standard, Eva
Carneiro foi suspensa desde esse jogo, pelo que ainda não teve a
oportunidade de regressar aos relvado.
O treinador português disse na altura que todos têm de perceber
como o jogo funciona e que Hazard não precisava de receber tratamento,
isto numa altura em que a equipa já tinha menos um, após
a expulsão de Courtois.
Savana 11-09-2015 23 PUBLICIDADE
24 Savana 11-09-2015 CULTURA
Por Luís Carlos Patraquim
N
ão sei se foi em Setembro que a Cândida Erendira sentiu, pela primeira vez, o
vento da sua desgraça. Garcia Marquez não é explicito neste pormenor, aliás,
anódino para a narrativa do autor colombiano.
Mas foi num dia deste mês de transição, faz dois séculos e tanto, que o Congresso dos
Estados Unidos aprovou as primeiras dez emendas à sua Constituição, onde se incluiu
a Bill of Rigths. No histórico texto de Thomas Jefferson caiu a mosca da liberdade de
imprensa, entre outros zumbidos que às vezes apoquentam os poderes fácticos e as muitas
conjunturas e historicidades e o mais, dos numerosos países do vasto mundo a que se referia
o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade. “Mundo, mundo, vasto mundo/
se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima, não uma solução./ Mundo mundo, vasto
mundo, /mais vasto é meu coração”.
Pois é. Deixemos a ironia drummondiana, esse exercício que esconde impotência ou,
pelo menos, noção de alguns limites, e um soçobrar ansioso, deleitoso, no vago torpor
extáctico das mais desvairadas melancolias. Que o não são mas, antes e tantas vezes, um
estupor ou um pasmo que a alma vai deglutindo em ensimesmamentos que afectam os
humores e as mobilidades internas e externas do corpo. Cintilam, em murchando de luz e
cor, as sinapses e, diz-se de um afamado melancólico, que viu a pele, primeiro em crostas,
depois escamas em diversos e feiosos tons, como se a noite do cérebro, de que falava a
poetisa Emily Dickinson, lhe tomasse todas as vontades ou só a memórias delas. E que,
em se acercando, o pobre, das margens de um mar ignoto, lhe veio de dentro um apelo
irresistível das origens, metamorfoseando-se em peixe, o pescoço já guelras, embora ainda
mamífero como é o caso dos cetáceos, finando-se, mudo e quedo, enquanto mar se espantava
com o triste destino do filho pródigo. Isto não são delírios de se escrever mas eles há.
Foi num 30 de Setembro, em Viena, que Mozart estreou a Flauta Mágica. Foi noutro,
deste mês que surgiram os Bobbies nas ruas de Londres. Deixemos o século e o ano.
Está tudo na internet. E chamaram-se assim por causa do ministro, Robert Peel, Bob,
que era do Interior e achou por bem criar aquele corpo de polícia. É assim o povo, povo,
põe alcunhas em tudo e nada leva a sério. Os cizentinhos, por exemplo, para ficar por
aqui, literalmente. Quando tal desaforo acontece, quer dizer, o de levar a sério… deixem
ver, a dignidade… sim, pode ser a dignidade, as coisas dão quase irremediavelmente para
o torto e a isso alguns entusiastas dessas coisas chamam ou tumultos, ou revoltas, ou
revoluções.
As Setembrações podem ser muito incómodas, mesmo trágicas. Foi no mesmo 11 de
Setembro, mas em décadas diferentes do século passado, que aconteceram duas coisas: o
golpe de Estado fascistoide no Chile e o ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque. No
caso chileno estava em marcha o que foi depois a operação Condor. Em Nova Iorque, a
trágica espectacularidade cinematográfica, apesar dessa redundante visibilidade, escondia
o que vem acontecendo desde há quinze anos com o fundamentalismo islâmico. A
destruição do Templo de Bel, em Palmira, na Síria, os milhares de mortes e a planície
em chamas por todo o Oriente Médio, os naufrágios no Mediterrâneo e os milhares de
refugiados a forçarem as portas da fortaleza Europa, aí estão para nos desafiar.
Julgando que tinha tudo muito bem calculado, Hitler invade a Polónia no primeiro dia
de Setembro de 1939. Sabemos o que isso desencadeou.
Hoje estamos a onze. Abrenúncio, que nada se passará aqui! A 25, já não data redonda,
haverá cerimonial na Praça. A 16, na próxima semana, é que ainda não sabemos nada
do que se vai passar. Conjectura-se, claro. Se alguém se lembrar da nossa Bill of Rigths,
talvez o dia se passe com alívio. É fácil, basta aplica-la, respeitá-la. Se não, como diria Rui
Knopfli, isso pode ter uma importância danada.
Setembrações E
stá patente na Fundação Fernando
Leite Couto a exposição de escultura
do artista Gonçalo Mabunda, intitulada
“Saudades do Tempo da Carta”.
À boleia da apresentação feita pelo acadé-
mico Nataniel Ngomane, sublinhamos que
“o metal é o fascínio, a perdição de Gonçalo
Mabunda. Limpa-o, torce-o a seu gosto, lixa-
-o. Esculpindo-o conhece diversos cantos do
mundo. Hoje é uma referência das artes plásticas
moçambicanas, com obras inconfundíveis
como o “o homem tourada”, “Bull” e
aquelas velhas espingardas automáticas reformadas
no mundo das artes. As suas esculturas
percorrem o mundo, cruzam olhares e sentidos
dos mais diversos”.
Para Gonçalo Mabunda, a presente exposição
serve para mostrar que o artista está sempre
em actividade. “Os trabalhos que apresento
nesta mostra são obras que tenho produzido
durante este período. São obras recentes. Tenho
sempre trabalhado para produzir obras
que reflectem o que tenho visto na sociedade”,
explica Mabunda.
O artista lamenta o facto de as artes plásticas
não serem consideradas no país e serem consideradas
além-fronteiras. “Os artistas têm trabalhado
bastante. Apresentam as suas sensibilidades
sobre os acontecimentos do país, mas
a nossa sociedade ainda não tem sensibilidade
para com as artes plásticas. No estrangeiro, os
artistas nacionais são bastante aclamados pelos
seus trabalhos. É preciso que a nossa sociedade
consuma a nossa arte porque é bastante
valorizada além-fronteiras”, exorta.
A falta de espaços para apresentação dos tra-
“Saudades do tempo da carta”
balhos dos artistas plásticos é outra preocupação
dos artistas plásticos. “O artista produz
trabalhos, mas encontra outra dificuldade que
são os espaços. É doloroso produzir obras e
não ter espaços para apresentar. De alguma
forma frustra o artista na questão da criatividade,
por isso este procuram apresentar as suas
obras nos seus locais de trabalho. Precisamos
de mais espaços apropriados para mostrarmos
o que criamos”, lamenta o artista.
Gonçalo Mabunda louva a iniciativa da Fundação
Fernando Leite Couto pelo seu contributo
em prol das artes no geral. “É de louvar o
trabalho que esta instituição está a realizar em
prol das artes. Neste lugar sabemos que tem
vindo a acolher várias vertentes artísticas do
país. Espero que a mesma iniciativa incentive
a sociedade para a criação de mais espaços
para apresentação de trabalhos de artistas nacionais.
Muitos fazedores de artes sentem de
alguma forma marginalizados. É preciso mudar
este cenário para que a cultura nacional
desempenhe e ocupe o seu lugar na sociedade
moçambicana”, apela.
O trabalho de Gonçalo Mabunda está presente
em colecções privadas no país, onde trabalha
a tempo inteiro desde 1997, projectando-o
além-fronteiras.
Destacamos a estátua para o Clinton Global
CitizenAward que Mabunda desenhou e esculpiu,
em 2008. Recentemente Mabunda esteve
em destaque, participando na 56ª edição
da Exposição Internacional de Arte de Veneza,
Itália sob o lema “All The World`s Future”
em tradução livre significa “Todos os Futuros
do Mundo”. A.S
O
Centro Cultural Franco-Moçambicano
acolheu recentemente o concerto
do grupo sul-africano Kyle Shepherd
trio. Liderado por Kyle Shepherd no
piano, o Trio conta com Shane Cooper no contrabaixo
e Jonno Sweetman na bateria. ”Um
sul-africano orgulhoso, Shepherd é também
um músico com a audição sintonizada com a
vanguarda e a música feita com influências tais
como Vijay Iyer, Jason Moran e Craig Taborn.
Shepherd, juntamente com o baixista Shane
Cooper e o baterista Jonno Sweetman, explora
musical contemporânea, de grande sucesso”,
disse Peter Hum, The Citizen Ottawa.
Kyle Shepherd, de apenas 28 anos e com um
invejável recorde de concertos na África do Sul,
Europa, Ásia e Estados Unidos, já lançou cinco
álbuns aclamados pela crítica, nomeadamente,
fine ART (2009), A Portrait of Home (2010),
South African History (2012), ‘Dream State’
(2014), todos álbuns nomeados para os principais
prémios sul-africanos e por último Into
Darkness (2014).
Extremamente inspirado e inventivo, este Trio
Trio de Jazz no CCFM
tem vindo a cativar as mais variadas audiências,
da África do Sul ao Canadá, e da Suíça à
China, apresentando as composições do rico e
evocativo repertório de Shepherd, vencedor do
prestigioso prémio “Artista do Ano Standard
Bank” (2014), na categoria de Jazz, e do prémio
“UNISA National Piano Competition” (2015);
sem dúvida, um dos maiores pianistas da sua
geração, com um reconhecimento internacional
inigualável pelo estilo distintivo das suas composições.
Depois da digressão altamente aclamada no
Canadá, no passado mês de Junho, além de
Gaborone, no Botswana, e das principais cidades
da África do Sul, Maputo é um dos pontos
de passagem da digressão pela África Austral
neste mês de Setembro.
Esta digressão pela África Austral foi possí-
vel graças ao generoso apoio da Concerts SA
Mobility Fund- um projecto de parceria entre a
África do Sul e a Noruega e um mecanismo de
financiamento que oferece oportunidades a artistas
sul-africanos de divulgarem e difundirem
o seu trabalho através de digressões e concertos
ao vivo. A.S
C
ansados de actuar em “anonimato imposto”
pela sociedade, jovens poetas
moçambicanos pedem uma maior visibilidade
dos seus trabalhos, que desde
um tempo para cá vem sendo efémeros. O
clamor dos homens “da escrita e da palavra” foi
feito através de um livro intitulado “Antologia
Inédita, outras vozes de Moçambique”, de Lucílio
Manjate e Sangare Okapi, publicado esta
terça-feira, dia 09, no Centro Cultural Português,
em Maputo.
A antologia reúne 14 poemas, alguns deles iné-
ditos e outros já publicados pelos jovens poetas
que se atiraram à poesia nos anos 90, com destaque
para Hélder Faife, Rui Ligeiro, Samanguana
Adelino Timóteo, Tânia tome, Mbate
Pedro entre outros. O livro que é lançado na
onda do debate iniciado em 2003, sobre a morte
da escrita em Moçambique, os jovens escritores
reivindicam o mesmo espaço e reconhecimento
“Não nascemos para
sermos esquecidos”
que é dado aos já consagrados e sentem-se cansados
de viverem à sombra dos considerados
“gurus” da literatura moçambicana.
O lançamento que foi testemunhado pelos
amantes e professores de literatura, as críticas
não demoraram a aparecer. O professor de literatura
Nataniel Ngomane, disse que os escritores
da nova geração devem se empenhar cada
vez mais para conquistar o espaço na literatura,
sobretudo na qualidade das suas obras. Ngomane,
que deixou na ocasião vários pontos para
um debate, depois da publicação daquela antologia,
disse ainda que o que consagra os autores
não são as suas reivindicações, mas sim os seus
textos.
Por seu turno, Lucílio Manjate, um dos autores
do livro, disse que decidiram fazer a antologia
para dar a conhecer à sociedade o trabalho dos
poetas jovens e sobretudo levantar um debate
em torno dos “excluídos” na literatura nacional.
Jeque de Sousa
Gonçalo Mabunda intervindo durante a inauguração da exposição
Naíta Ussene
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1131 DE SETEMBRO DE 2015
SUPLEMENTO
2 Savana 11-09-2015 Savana 11-09-2015 3
Savana 11-09-2015 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) Q
uando chega a hora, mesmo que as circunstâncias da vida tenham
adiado por várias vezes, já não conseguimos esquivar.
Muitas vezes ouvimos as pessoas a dizer: vocês estão juntos há
bastante tempo, só falta casarem. Como se casar fosse algo fá-
cil. É preciso criar alicerces para o casamento. Conhecemos casais que
vivem há bastante tempo, mas que contraem o matrimónio passados
longos anos. Cada casal, acredito, conhece o seu tempo para contrair o
matrimónio. E quando chega o tempo, a cerimónia acontece.
Não que o que tenha dito seja taxativamente o que aconteceu com o
Editor Executivo do jornal SAVANA, Francisco Carmona. Para quem o
conhece até pode duvidar que tenha feito esta pose para a sua amada
esposa. Ele sempre conta piadas, mesmo em momentos de pressão que
o trabalho jornalístico cria. É realmente um momento único para o
nosso colega.
Por ter sido um momento especial para os casados, igualmente foi para
a família e amigos do casal. Para marcar o momento de uma forma
bastante diferente, os irmãos de Francisco Carmona criaram uma pose
fotográfica bastante descontraída. Está foto é daquelas que, passados
uns bons anos, vai despoletar risadas pela forma mais que descontraída
como foi tirada. Foi mesmo para marcar a diferença.
Os casamentos têm actualmente vindo a marcar a sua diferença pela
quebra de protocolos. Os casamentos dos jovens procuram de alguma
forma quebrar o ritual que acontecia antigamente. Parece que o PCA
da MediaCoop, Fernando Lima, está a dizer para o fotojornalista, Naíta
Ussene, também do SAVANA, que os casamentos actualmente são mais
descontraídos do que antigamente. Quem nos dera tivéssemos tido a
mesma oportunidade de fazermos os nossos casamentos à nossa maneira.
É mesmo para dizer: os tempos são outros.
É sempre bom ver um nosso colega de profissão a contrair matrimó-
nio. De alguma forma incentiva os que ainda não lograram este desejo.
Creio que seja desejo de todos alcançar este objectivo e parece que o
jornalista Frederico Jamisse está a dizer: estou bastante emocionado
com a entrada de Francisco Carmona para o clube dos casados. E isso
provocou um sorriso para os nossos colegas, Benvida Tamele e Aucêncio
Machavane.
Outros colegas de profissão também se fizeram presentes, acompanhados
pelas suas companheiras, para testemunhar a cerimónia matrimonial.
Trata-se de Gil Filipe, António Mondlane, do jornal Notícias,
José Paulo Machicane, da Agência LUSA, e Romeu da Silva,
da Deutsche Welle, Agência de notícias estatal alemã. O que resta é
desejar felicidades ao casal.
No clube dos casados
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF 4FUFNCSP EF t "/0 99* t /o
1131 Diz-se... Diz-se
Foto Fernando Lima
C
ontrariando o discurso
inaugural do presidente
da República (PR), Filipe
Nyusi, sobre o combate ao
despesismo, a maior e a mais antiga
estação da rádio nacional, Rá-
dio Moçambique (RM) vai gastar
cerca de 1.7 milhão de meticais,
dos contribuintes, em almoço de
confraternização. EVENTOS
O
Banco Comercial e de Investimentos
(BCI) procedeu
na semana passada,
no seu espaço do Pavilhão
Ricatla, na FACIM, a assinatura
de um Protocolo com a União
dos Exportadores da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) e com o Instituto
para a Promoção das Exportações
(IPEX).
Naquela ocasião o Presidente da
Comissão Executiva (PCE) do
BCI, Paulo Sousa, afirmou que
este protocolo “tem como objectivo
oferecer às PME Moçambicanas
melhores condições de acesso
ao mercado da CPLP, hoje com
mais de 250 milhões de cidadãos,
aproveitando os Núcleos da União
dos Exportadores em cada um dos
nove países, o seu potencial de estabelecer
pontes entre as empresas
e os empresários desta Comunidade,
de ligar oferta e procura, e de
prestar valiosos serviços de apoio à
internacionalização das empresas.”
Em seguida Sousa anunciou o
lançamento das ‘Soluções BCI Exportação’,
um conjunto de ofertas
de serviços financeiros dirigido às
empresas com actividade internacional
e, em particular, às empresas
BCI assina protocolo e lança
‘Soluções BCI Exportação’
exportadoras, “no sentido de garantir
serviços com cada vez maior
qualidade, fiabilidade, celeridade e
com preços ajustados, para que a
escolha do BCI como vosso Banco
preferencial seja também ela um
factor de acrescida competitividade.”
Para Mário Costa, Presidente da
Direcção da União dos Exportadores
da CPLP, a sua instituição
surgiu com o objectivo claro de
promover negócios entre os paí-
ses membros. “Temos como foco
a segurança nos negócios e o BCI
é fundamental nesse aspecto. Queremos
competir com novos mercados
que podem cobrir 86 países,
porque os nossos Estados estão
inseridos em organizações regionais
como o Mercosul (Brasil),
UE (Portugal), SADC (Angola e
Moçambique), ASEAN (Timor
Leste). Queremos dotar as empresas
moçambicanas de ferramentas
que as tornem mais robustas e mais
competitivas.”
O PCA do IPEX, João Macaringue,
sublinhou que “este acordo é
deveras importante para os exportadores
moçambicanos. Para nós
não constitui surpresa o arrojo do
BCI. Os nossos laços com este
banco são muito fortes. O BCI foi
a primeira instituição bancária que
nos apoiou quando nos transferidos
aqui para a Ricatla em 2011.
Este acordo que acabámos de assinar
é um exemplo concreto de que
as palavras vão dar lugar às acções.”
A terminar, o Ministro da Indústria
e Comércio, Max Tonela,
lembrou que as exportações de
Moçambique têm ainda muito espaço
para crescer, tanto em termos
de produtos como de número de
países que as acolhem. “As PME
têm grande dificuldade de acesso
a financiamentos. Este acordo vai
ajudar a atenuar esse problema, visando,
através do incentivo às exportações,
a inserção de Moçambique
na economia global”. (E.C)
Savana 04-09-2015 EVENTOS 2
F
oi com este intuito de promoção
de igualdade entre
homens e mulher que o
Instituto Fanelo Ya Mina e
o Ministério da Saúde (MISAU)
assinaram recentemente um Memorando
de Entendimento sobre
produção de materiais educativos
na área de género, com ênfase no
envolvimento do homem na saú-
de neonatal, materno-infantil e do
idoso.
O memorando rubricado por
Celma Menezes, Directora Executiva
do Fanelo Ya Mina e Célia
Gonçalves, Directora Nacional
do Departamento de Planificação
e Cooperação do MISAU, tem
como principal objectivo promover
a igualdade de género na família,
comunidade e sociedade que passa
pelo envolvimento do homem.
“Há necessidade de desafiar os
estereótipos de género que perpetuam
as desigualdades em relação
à partilha de responsabilidade nos
cuidados de saúde entre homens e
mulheres e os factores que limitam
a participação activa dos homens
como clientes/utilizadores e parceiros
em questões ligadas à promoção
da saúde”, referiu Menezes.
Os principais tópicos a serem contemplados
no âmbito desta parceria
referem-se à saúde do recém-nascido,
materna, infantil e do idoso,
olhando o homem como figura
central na promoção e promotor da
saúde no seio destes grupos marginalizados.
Outros assuntos de
enfoque referem-se à saúde do pró-
prio homem, paternidade responsável
e a prevenção de outros males
como o HIV e SIDA, violência de
género, casamentos prematuros e
malnutrição.
O acordo prevê que ambas partes
mobilizem fundos junto dos
parceiros multilaterais e bilaterais
locais, de modo à materialização
imediata deste acordo.
“Espera-se ainda que a disponibilidade
de materiais educativos, de
produção e contextualização local
possa trazer reflexões profundas
sobre a necessidade da utilização
da figura do homem, a nível individual,
comunitário e institucional,
como um catalisador dos processos
que visam a melhoria da qualidade
da saúde das mulheres, crianças,
idosos e dos próprios homens e,
principalmente, como uma estraté-
FANELO YA MINA firme na promoção da igualdade de género
gia de investimento de longo prazo”,
destacou a directora daquele
Instituto
O Fanelo Ya Mina é uma organiza-
ção da sociedade civil Moçambicana,
fundada oficialmente em 2011,
liderada por mulheres, que visa
envolver os homens e rapazes nos
processos de promoção da igualdade
de género e justiça social, em
várias esferas e sectores. “A organização
surgiu do reconhecimento da
necessidade de se olhar para o gé-
nero numa perspectiva “relacional”
e para o homem numa perspectiva
positiva - como um alicerce – dos
processos de equidade de género”.
Fanelo Ya Mina é igualmente a
organização parceira da activista
social Graça Machel no projecto
Educação da rapariga, que visa essencialmente
apoiar as raparigas carentes
nas escolas, com suprimento
mensal de pensos higiénicos, para
responder aos desafios biológicos,
sociais e financeiros associados à
menstruação. (Elisa Comé)
Directora Executiva do Fanelo Ya Mina Celma Menezes
O
grupo Grupo Snap fala de
notáveis ganhos na sua estreia
na Feira Internacional
de Maputo (FACIM),
uma importante feira de negócios
de Moçambique.
Sónia Gonçalves, administradora
do Grupo Snap em Moçambique,
que falava a este semanário em jeito
de balanço, mostrou-se satisfeita
com a participação da firma na
51ª edição do ponto de encontro
dos homens de negócios nacionais
e estrangeiros. “É preciso realçar
que conseguimos atingir os nossos
objectivos porque apresentamos os
nossos produtos e serviços a centenas
de visitantes que passaram pelo
nosso pavilhão durante a semana
da feira”, explicou.
Mais do que apresentar os seus produtos
e serviços, Sónia Gonçalves
disse que a maior satisfação advém
Grupo Snap bate recorde na FACIM
do facto de o grupo ter conseguido
estabelecer parcerias e até fechar
negócios, visto que os serviços desta
empresa têm registado uma maior
procura no país e no estrangeiro.
O Grupo Snap é representante ofi-
cial e exclusivo dos equipamentos
da HidroLinfa em Moçambique,
bem como responsável pela forma-
ção técnica para sua correcta utilização
por pessoas que efectuam a
respectiva aquisição.
O equipamento da HidroLinfa
permite tratamento e benefícios
imediatos da terapia através de um
sistema de excreção de impurezas
complementar, proporcionando
uma depuração rápida e segura
através dos pés.
Este tipo de tratamento permite
melhorar a qualidade de vida dos
seus cidadãos, através de terapias
que ajudam a corrigir alguns dos
problemas mais comuns na vida das
pessoas, como por exemplo as diabetes,
a elefantíase e a hipertensão.
De referir que o equipamento é
destinado aos profissionais de estética,
beleza, terapias alternativas,
fisioterapeutas, cuidadores e para
todos os que prezam o seu bem-
-estar, mediante um investimento
mínimo.
Na FACIM, centenas de pessoas
mostram-se interessadas em aderir
à terapia através do equipamento
HidroLinfa, facto que agradou aos
gestores da marca.
O equipamento é recomendável
para as pessoas que tenham idade
de 30 anos em diante. Mas existem
pessoas que não podem aderir
ao tratamento como as mulheres
grávidas, portadores de pacemaker,
pessoas com problemas de epilepsia,
pessoas que estejam em período
pós-operatório, com ferimentos in-
flamados nos pés. (Eduardo Conzo)
Um nome a não esquecer,
Djinix, como é apelidado
Horácio Niquice, é uma
figura exemplar do empreendedorismo
moçambicano. Da capital
da província de Gaza, Xai-xai,
à capital moçambicana, Djinix conta
ao SavanaEventos o percurso da
sua vida. Na sua tenra idade viveu e
cresceu em Xai-xai, numa família de
posses diminutas, onde aprendeu as
primeiras lições de batalha, sobrevivência
e empreendedorismo.
O mesmo ajudou várias vezes a mãe,
professora, a revender pão da padaria,
acção que ajudou nas economias
de casa. Apesar da sua paixão pelo
negócio, Djinix afirma que aprendeu
igualmente com os pais a dar prioridade
à educação. Foi seguindo esta
linha que se aventurou para capital,
assim como outros vários moçambicanos,
à procura de melhores oportunidades
e continuou os estudos no
Instituto Comercial. Hoje formado
em Contabilidade e Auditória, Djinix
é contabilista de profissão, mas
sempre entendeu que devia conciliar
com a sua queda pelas coisas mais
práticas.
“Nunca consegui me livrar desta
minha veia. Ao terminar a minha
formação, no ano 2000, comecei o
meu primeiro negócio, que foi gerir
um Take Away durante dois anos”,
conta o empresário. “O empreendedorismo
requer humildade e afirma-
ção, só assim alcançamos objectivos
planejados”.
Desde então e de forma gradual foi
abraçando várias outras áreas do
entretenimento. Foi promotor de
eventos na Cidade de Xai-xai, onde
conseguiu realizar vários concertos
com músicos moçambicanos de renome,
como Lizha James, MC Roger,
Neyma, Oliver Style, G2, entre
outros.
A sua grande conquista foi a inauguração
do Karamel Bar & Lounge
na capital moçambicana. Localizado
no coração da zona da Malhangalene,
num dos locais de referência
histórica e cultural da capital, este
bar foi inaugurado ano passado e é
hoje um dos maiores pontos de encontro
da capital.
Segundo o proprietário, foi com o
propósito de trazer mais-valia ao
entretenimento moçambicano que
decidiu investir no empreendimento.
“O mercado do entretenimento está
viciado, é preciso criar novas plataformas,
onde as pessoas possam
conversar, reunir-se, criar um networking
agradável, acompanhado
de boa música e ambiente”, disse.
Aberta diariamente, a casa emprega
15 funcionários e o cenário bastante
acolhedor com “propósito de deixar
o cliente confortável” faz com que
Djinix tenha boa resposta do pú-
blico. E o mesmo não se arrepende
do investimento. “Pretendo fazer
mais ainda, sou um sonhador e não
pretendo parar por aqui. Profissionalmente
tenho feito várias forma-
ções, para conseguir atingir o auge
da minha carreira com sucesso. E
no mundo dos negócios pretendo
continuar a pesquisar e engradecer
o meu nome no mundo do entretenimento”.
Apesar do sucesso, o empresário lamenta
ainda o fraco investimento
e parcerias por parte do Ministério
da Cultura e Turismo no entretenimento
e cultura moçambicana
em geral. “Acredito que se houvesse
apoio do Ministério, mais se podia
fazer pela área do entretenimento.
Muitos de nós aventuramo-nos por
esta linha pela sobrevivência, sem
saber que isto faz parte da cultura
do nossa país, temos responsabilidades
na sociedade onde estamos
inseridos, para além de que somos
os promotores dessa cultura”, terminou.
(Edson Bernardo)
De Xai-xai a Maputo
o percurso de sucesso
Savana 04-09-2015
EVENTOS
3
O Programa AGIR II (Acções para uma Governação Inclusiva e Responsável) é um Programa
da Sociedade Civil, apoiado pelas Embaixadas da Suécia, da Dinamarca e da Holanda, que está
sendo implementado por 4 organizações intermediárias, nomeadamente IBIS (subprograma de
acesso a informação e cidadania), DIAKONIA (subprograma de direitos à inclusão e equidade,
direitos à participação política e representação, direito ao acesso a serviços públicos de qualidade),
OXFAM (subprograma de monitoria de serviços sociais básicos, género e saúde e direitos
sexuais e reprodutivos, direitos humanos dos grupos marginalizados e indústria extractiva) e
SHOD:H(ͿHFW VXESURJUDPDGHUHFXUVRVQDWXUDLV DJULFXOWXUD DPELHQWHHPXGDQoDVFOLPiWLFDV
no período de 2015 a 2020.
O Objectivo geral do programa AGIR é o de contribuir para uma sociedade moçambicana na
qual os cidadãos, sobretudo os grupos marginalizados, gozam plenamente dos seus direitos de
inclusão, de equidade no acesso aos benefícios da riqueza gerada pelo património do País, do
direito aos serviços públicos acessíveis e de qualidade, do gozo das liberdades civis básicas e de
representação e participação política, num ambiente de paz e ecologicamente sustentável.
8PGRVPHFDQLVPRVGHÀQDQFLDPHQWRGLVSRQtYHLVSDUD DVRUJDQL]Do}HVGD VRFLHGDGHFLYLOp
o de Pequenos Financiamentos, que são destinados a movimentos, organizações ou grupos de
RUJDQL]Do}HVRXFLGDGmRVQDFLRQDLVTXHDFWXDOPHQWHQmREHQHÀFLDPGRVIXQGRVGRSURJUDPD
AGIR II. Podem ser organizações de carácter permanente ou temporário, que pretendem implementar
actividades relevantes para o País, Província, Distrito, Posto Administrativo, Localidade,
Aldeia, Bairro ou para a sua Organização.
(VWHVSHTXHQRVÀQDQFLDPHQWRVSRGHUmRWHUXPPi[LPRGHDWpFinquenta mil dólares americanos,
por um período máximo de 6 meses. Os montantes e períodos de implementação para
FDGDSURMHFWRVHUmRPHOKRUGHÀQLGRVHPDFRUGRVHPIXQomRGDGLVSRQLELOLGDGHHGDDYDOLDomR
HVSHFtÀFDSRUSDUWHGDUHVSHFWLYD,QWHUPHGLiULD
As áreas elegíveis para a submissão de propostas incluem: monitoria dos serviços públicos,
acesso a informação, prestação de contas públicas, género, saúde e direitos sexuais e reprodutivos,
promoção da paz, participação política dos cidadãos, indústria extractiva, promoção dos
GLUHLWRVKXPDQRVSDUDSHVVRDVHJUXSRVPDUJLQDOL]DGRV PXOKHUHV FULDQoDV SRUWDGRUHVGHGHÀ-
ciência, pessoas idosas, pessoas vivendo com HIV e SIDA e minorias sexuais), recursos naturais,
meio ambiente e redução de risco de desastres naturais, desenvolvimento de capacidades das
OSC e ou redes de OSC. Todas as propostas deverão envolver jovens e ter em conta as áreas
transversais (HIV/SIDA, género, meio ambiente e mudanças climáticas, abordagem baseada
em direitos humanos).
O prazo para submissão das propostas é 21 de Setembro de 2015. As propostas deverão ser
depositadas na caixa postal nº 1021. Outras formas de submissão de propostas não serão consideradas.
As organizações interessadas em concorrer poderão obter os formulários de aplicação
solicitando-os por correio electrónico: PR]DPELTXH#ZHH;HFW RUJ. Apenas as organizações ou
projectos seleccionados serão contactados para seguimento.
Maputo, 3 de Setembro de 2015
Convite para submissão de propostas para
ÀQDQFLDPHQWR
O
Banco Comercial de Investimentos
(BCI) inaugurou
esta semana mais
duas agências sediadas
nas cidades da Maxixe e distrito
de Morrumbene, na província de
Inhambane.
Este acto surge no âmbito da expansão
da sua rede comercial pelo
país, com vista a colocar os serviços
bancários cada vez mais próximos
das populações, incentivar a poupança
e mobilizar negócios.
Falando na ocasião, o presidente do
Conselho Executivo do BCI, Paulo
Sousa, afirmou que a decisão de
abrir mais unidades de negócio naquela
província resulta da crescente
procura pelos mesmos, tanto pelas
populações bem como pelo sector
BCI inaugura duas
agências em Inhambane
S
er operadora de referência
e moçambicana
são algumas das apostas
da mais recente
companhia de seguros portugueses
que já opera no mercado
moçambicano. Denominada
Fidelidade, a companhia
foi oficialmente lançada no
mercado moçambicano na
tarde de quarta-feira.
Tal como fez referência o presidente
da comissão executiva
da empresa, Jorge Magalhães,
Fidelidade é uma união de
quatro empresas e está estabelecida
na França, Espanha,
Macau, Angola, Cabo Verde e
agora em Moçambique.
“Nossa filosofia passa essencialmente
por ser uma empresa
moçambicana, não só de ponto
Fidelidade quer ser uma
empresa moçambicana
de vista legal, mas também culturalmente.
Estamos a explorar novo
mercado com um activo que se
chama confiança e isso depende da
cultura local”, explica Magalhães,
ao mesmo tempo que defende que
não se aplica modelos uniformes,
mas sim é preciso ter modelos específicos
segundo o mercado.
“Mais ainda, queremos diferenciadores
e inovadores de ponto de vista
de distribuição oferecendo servi-
ços e produtos e explorando ramos
que ainda não são exploradas em
Moçambique”.
Nas estatísticas apresentadas na
ocasião pela presidente do Conselho
de administração do Instituto
de Supervisão de Seguros
de Moçambique (ISSM), Maria
Otília Santos, a Fidelidade é a 16ª
operadora a estabelecer-se no país,
num conjunto actualmente constiempresarial.
“Este novo espaço denota a atenção
que dedicarmos aos nossos actuais
Clientes. Em número de agências,
o BCI é o banco que mais contribui
para a maior dinamização da
economia da província, facilitando
os pagamentos e evitando a movimentação
de numerário. Nenhuma
outra instituição financeira mo-
çambicana tem investido tanto nos
últimos anos como o BCI, nesta
província, contribuindo para o seu
crescimento e desenvolvimento
sustentado”, disse Sousa.
Actualmente, o banco passa a contar
com 11 unidades de negócios
na província de Inhambane e totalizando
176 em todo o território
nacional. (Elisa Comé)
A
pós os primeiros castings,
realizados em diversos
mercados da cidade de
Maputo, já foram encontradas
12 das potenciais 24 candidatas
ao título da Mamana do
Ano. Assim, nos próximos dias, o
programa vai escalar os mercados
Janet, Central, T3, Machava, Patrice
Lumumba e, por fim, o mercado
Santos, para selecionar o grupo remanescente.
O programa vai já na sua terceira
edição e é apadrinhado pelos Conselhos
Municipais de Maputo e da
Conhecidas candidatas
de Mamana do Ano
Matola, facto que contribuiu para
que fosse marcada a semifinal no
Mercado Municipal da Matola e a
grande final na Praça da Independência,
em Maputo.
Este projecto visa reconhecer a importância
das mamanas enquanto
elementos nucleares na sociedade
moçambicana, pretendendo por
isso homenageá-las, contribuindo
igualmente para perceber quais são
os seus problemas reais. A escolha
da Mamana do Ano tem por base
os talentos artísticos, profissionais
e o carisma revelados por todas as
candidatas.
tuído por 17 seguradoras, das
quais quatro exploram exclusivamente
o ramo vida, 10 os
ramos não vida e três exploram
cumulativamente ambos os ramos.
Maria Otília Santos foi uma
das pessoas que interveio na
abertura oficial da empresa e
ela desafiou o grupo a interagir
de forma activa no mercado
segurador moçambicano,
com acções de divulgação dos
seus serviços, primando por
uma atitude corporativa não
só centrada na maximização
dos seus lucros, como também
na expansão dos seus produtos
para um universo populacional
cada vez maior, ao longo do
território nacional, não se circunscrevendo
apenas à capital
Maputo. (Eduardo Conzo)
Savana 04-09-2015 EVENTOS PUBLICIDADE
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