O mundo acompanha preocupado a possibilidade de Donald Trump ser o candidato republicano nos Estados Unidos. As chances de Bernie Sanders diminuíram, será Hillary a candidata democrata.
Por José Inácio Werneck, de Bristol, Estados Unidos:
O inverno chega ao fim nos Estados Unidos e a campanha eleitoral se intensifica na primavera do lado Republicano com Primárias em que Donald Trump, Marco Rubio e Ted Cruz apresentam um panorama de lamentável indigência intelectual e completa ausência de boas maneiras.
O Partido Republicano tem dois outros candidatos em suas Primárias: John Kasich, governador de Ohio, o único capaz de manter um nível de discussão mais elevado, e Ben Carson, um cirurgião que explora evangélicos incautos e está na contenda apenas como instrumento de divulgação de seus livros de “autoajuda”.
Alguns leitores poderão perguntar o que vem a ser as Primárias. Elas são o meio pelo qual os dois principais partidos – o Republicano e o Democrático – escolhem seu candidato na eleição presidencial que vai ocorrer no próximo mês de novembro.
É um sistema confuso, pois os chefões republicanos e democratas guardam ainda no bolso o direito de conchavos e discussões nas duas convenções partidárias.
Há delegados, super-delegados e a possibilidade de que, num campo não muito definido, a Convenção acabe escolhendo um candidato que não tenha necessariamente reunido o maior número de vitórias nas Primárias.
É a esperança de muita gente no Partido Republicano para evitar a candidatura do magnata Donald Trump, que vem por enquanto ganhando as Primárias com uma mistura de racismo, xenofobia, insultos e ameaças, dirigidas não apenas a seus opositores mas a outras nações.
Donald Trump é o homem que promete deportar 11 milhões de imigrantes, construir um muro entre o México e os Estados Unicos, obrigando o governo mexicano a pagar, proibir a entrada de muçulmanos no país, usar contra eventuais inimigos métodos de tortura piores do que o “water-boarding” (afogamento simulado), invadir países do Oriente Médio, bombardeá-los e – por último mas de modo derradeiro – “colonizar” os postos de petróleo do Iraque, apoderando-se de sua produção.
Os coronéis do Partido Republicano prefeririam um candidato aparentemente mais moderado, como Marco Rubio, filho de imigrantes cubanos.
Mas Rubio é a Hillary Clinton dos republicanos, capaz de dizer tudo e qualquer coisa, se vislumbrar a possibilidade de angariar votos. Muda permanentemente de opinião, como na questão da imigração, e deve sua carreira a um bilionário investidor da Flórida.
Mas, fundamentalmente, de moderado ele não tem nada e sua política externa baseia-se muito mais em ameaçar outras nações com o poderio militar americano (à la Donald Trump) do que em negociações diplomáticas.
Ted Cruz, nascido no Canadá, filho de cubano com americana, é, como Ben Carson, um explorador da ingenuidade dos evangélicos, mas mais perigoso, pois realmente tem algum cacife político, coisa que o cirurgião – uma criatura que prova que um especialista bem sucedido em seu campo de atividades pode ser também um completo idiota em tudo o que ocorre fora de sua sala de operações – não possui.
Na disputa, os insultos voam, descendo até ao terreno escatológico, com Rubio insinuando que Trump mijou nas calças. Trump vinha ofendendo Rubio e Cruz equitativamente, mas nas últimas horas desfechou seu fogo mais em Rubio, tendo para tanto alinhado o apoio do governador de New Jersey, Chris Christie, inimigo declarado de Rubio.
Christie, cuja campanha nas Primárias fracassou, obrigando-o a retirar a candidatura, culpa o “estabelecimento” republicano por seu infortúnio e apoia Trump como vingança – além, claro, de promessas de cargos numa futura administração, se ela vier a se concretizar.
No lado dos democratas, Hillary Clinton vai liderando, apesar de todas as críticas quanto à sua confiabilidade e honestidade. Hillary se encontra sob fogo pesado, entre outras coisas, por vir se recusando a publicar as transcrições de palestras que fez para firmas de Wall Street – ao preço de 750 mil dólares para algumas delas e um pouco menos para outras.
Em um ano e pouco mais, Hillary Clinton arrecadou 11 milhões de dólares com tais palestras.
A pergunta geral: os banqueiros e donos de fundos de risco estariam lhe dando tanto dinheiro só pelo seus belos olhos e a eloquência de sua prosa?
Num pleito sério, os republicanos concorreriam com John Kasich e os democratas com o senador Bernie Sanders.
Mas de séria a atual campanha presidencial nada tem.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
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