19.03.2016 às 20h15
Fábio Poças tentou aliciar um português para o Estado Islâmico em 2015. O Expressoteve acesso a parte da conversa
Fábio Poças ou Abdurahman al Andalus é um dos soldados-propaganda do autodenominado Estado Islâmico (Daesh) que usa as redes sociais para aliciar rapazes e raparigas da Europa e Norte de África a juntarem ao grupo terrorista.
Existem já provas de que conseguiu recrutar uma jovem britânica e um marroquino. Mais há mais vítimas. O Expresso teve acesso a uma parte de uma conversa no Facebook entre o jiadista de 24 anos e um português ocorrida em 2015.
"Alá não ama os descrentes e não os aceita no paraíso. Apenas serão arrastados no chão pela cara até ao Inferno", escreve o radical criado na Linha de Sintra.
Fábio Poças quer saber se o homem que está a tentar converter e a recrutar já comprou o Corão. "Há condições: tens de acreditar em Alá e só apenas em Alá como teu Deus."
O tema da conversa é sobretudo sobre fé e as desvantagens de não fazer parte da ideologia defendida pelos soldados do Daesh. "Começará tudo do zero."
Fábio Poças dá também instruções sobre os melhores caminhos para se chegar clandestinamente à Síria. Mas o Expresso sabe que a tentativa de recrutamento não terá sido bem sucedida. "Se negares uma só palavra do Corão estará fora dos padrões islamitas e serás um kaffir (infiel)", ameaçou.
Em fevereiro, o português foi acusado num tribunal britânico de ser o recrutador de Tareena Shakil, de 26 anos, uma estudante aplicada que concluiu o curso de psicologia sem dificuldades.
Num dia de outubro de 2014 disse à família que ia passar umas férias às praias da Turquia com o filho de 14 meses. Só que quando aterrou em Istambul, ao invés de prosseguir a viagem até aos resorts mediterrânicos, decidiu atravessar clandestinamente a fronteira com a Síria, um pouco mais a Leste. E juntou-se ao autoproclamado Estado Islâmico (Daesh).
No início deste ano, foi a primeira jiadista a ser condenada pela justiça britânica. Um juiz do tribunal de Birmingham não perdoou que Tareena tivesse levado o filho consigo para um território dominado por terroristas, criticando duramente as imagens “detestáveis” que colocou nas redes sociais com a criança vestida com o uniforme do Daesh enquanto segurava uma AK47. E aplicou-lhe uma pena de seis anos de prisão: quatro anos por se ter alistado numa organização jiadista e dois por fazer a apologia do terrorismo através das redes sociais.
O julgamento teria um interesse apenas mediano para as autoridades de Lisboa se o nome de Fábio Poças, um dos dez jiadistas portugueses que se encontram no califado, não tivesse sido proferido pelo magistrado durante as sessões. A Justiça britânica não tem dúvidas de que foi o rapaz de 24 anos que se radicalizou na zona Leste de Londres a recrutar a rapariga de Birmingham.
O terrorista português, alvo de um mandado de captura internacional, e a inglesa conheceram-se através das redes sociais em 2014. No Facebook, a mulher usava outra identidade, Tameena al Amirah, “uma escrava de Alá”. Gostava de partilhar imagens de mujahedines e das bandeiras negras do Estado Islâmico e escrevia extensos posts a defender o extremismo religioso: “Se não gostas do que se está a passar na Sham (Grande Síria) pega em armas e não no teclado do computador.”
Algumas das conversas online entre Fábio, ou Abdurahman al-Andalus, e a mulher que se tinha divorciado meses antes, foram transcritas durante a sessão. O português, descrito no tribunal como “um membro proeminente do Estado Islâmico e um treinador de jiadistas”, falou-lhe nos perigos de “viver na terra dos não-crentes”, alertando-a de que estava proibida de permanecer num país que não era regido pela sharia (lei islâmica). “Olha irmã, em Inglaterra estás pendurada às portas da Jehannam (Inferno). Se morreres é para aí que vais”, avisou.
Na última quinta-feira, a revista "Sábado" revelou que o nome de Poças surge entre as milhares de fichas de combatentes do Daesh como recrutador de um radical marroquino chamado Hidraz Al-daini Muhamad.
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