Mateus Sansão Muthemba
40 anos
após a sua morte : “Pátria Amada” recorda Mateus Sansão Muthemba
EM Moçambique há uma geração heróica nascida da luta de
libertação nacional com uma história particular. Dentro desta geração está, sem
dúvida, a figura de Mateus Sansão Muthemba, nascido a 25 de Junho de 1906, em
Chicumbane, Xai-Xai, província de Gaza. Muthemba veio a falecer a 6 de Junho de
1968, vítima de agressão física protagonizada por reaccionários dentro dos
escritórios da Frelimo, em Dar-Es-Salaam. São reaccionários do grupo do padre
Mateus Pinho Gwenjere que, pretensamente, lutavam contra o Império de Gaza, a
favor de uma representatividade regional nos escritórios da então Frente de
Libertação de Moçambique, na Tanzania.
Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008Notícias
A 6 de Maio o grupo dirigiu-se aos escritórios/sede da Frelimo,
em Dar-Es-Salaam, e trancou as portas. Mas sob a pressão de Eduardo Mondlane e
do Comité de Libertação da então Organização da Unidade Africana (OUA), hoje
União Africana, as autoridades tanzanianas reabriram os escritórios.
A 9 de Maio, não satisfeitos, os contestatários regressaram e
apostados em eliminar a Direcção da FRELIMO. Eduardo Mondlane e Urias Simango
não se encontravam nos escritórios. Mateus Sansão Muthemba caiu nas mãos dos
revoltosos e foi selvaticamente agredido tendo, em consequência dos ferimentos
contraídos, morrido no mês seguinte, no Hospital de Muhimbili, em
Dar-Es-Salaam. Os seus restos mortais foram sepultados em Dar-Es-Salaam e a 3
de Fevereiro de 1979 depositados na cripta dos heróis moçambicanos, na cidade
de Maputo.
A casa de onde Muthemba partiu rumo a Tanzania
INFÂNCIA E
JUVENTUDE
Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008Notícias
Mateus Sansão Muthemba é filho de Sansão Muthemba e de Jael
(N`Yaieie) Mucave, ambos naturais de Nhatsembene, posto administrativo de
Chongoene, província de Gaza. Mateus Muthemba era irmão de Abiatar Muthemba,
pai de Josina Machel, ícone da emancipação da mulher moçambicana.
Mateus Muthemba casou-se na década trinta com Rabeca Muthombene com
quem teve dez filhos, nomeadamente, Laura, Rofina, Judite, José, Mário,
Patrício, Frederico, Helena, Aniceto e Evaristo.
Começou a sua carreira estudantil na Missão Suíça de Chicumbane,
onde fez a 1ª classe. Na mesma instituição frequentaram o ensino primário dois
primos, nomeadamente Milagre Mabote e Sebastião Marcos Mabote que se tornaram
destacados combatentes da luta de libertação nacional.
Após a conclusão da 1ª classe seguiu para a cidade de Lourenço
Marques onde fez os níveis subsequentes, na companhia de outros jovens. Estes
jovens foram enviados à capital do país por André – Daniel Clerc, então
director da Missão Suíça. Muthemba concluiu a 4ª classe na Casa de Educação da
Munhuana, actual Escola Primária Completa da Munhuana.
De volta a Xai-Xai, Muthemba trabalhou na Companhia Manuel
Mendes, como escriturário. Mais tarde foi solicitado pela Missão Suíça para
leccionar. No início leccionou a 1ª classe, actividade que durou sensivelmente
dois anos.
Depois ingressou num curso de formação de professores em
Ricatla, em Marracuene, tendo seguido posteriormente para a Escola de Formação
de Professores do Alvor, na Manhiça. Finda a formação leccionou em vários
pontos, a saber: Guijá, Chókwè, Maputo, Mahel, em Magude Muzui , em
Macia.
Nestes
locais leccionou vários níveis da 1ª à 3ª classe elementar, tarefa que exerceu
até por volta de 1955.
Aquando da sua transferência de Mahel para Lourenço Marques,
Mateus Muthemba abandonou o professorado e integrou-se nos Serviços
Meteorológicos de Moçambique, onde trabalhou como meteorologista.
De Lourenço Marques foi transferido para a cidade de João Belo,
hoje Xai-Xai, onde desempenhou as mesmas funções. Como forma de complemento dos
seus rendimentos, dedicou-se igualmente à prática da agricultura na região de
Chicumbane, no vale do rio Limpopo. Mais tarde, Mateus Muthemba foi transferido
de volta para Lourenço Marques de onde seguiu para Vila Pery, actual cidade de
Chimoio. Nesta cidade continuou a exercer as funções de meteorologista. Foi
alvo de sucessivas transferências por parte das autoridades administrativas
coloniais. Com este procedimento, as autoridades visavam isolar-lhe dos seus
irmãos, todos conotados com o espírito revolucionário. De realçar que desde os
primeiros momentos do surgimento do nacionalismo em Moçambique Muthemba
demonstrou uma atitude considerada subversiva pela autoridade colonial.
Durante um jantar oferecido a E. Mondlane em Xai-Xai
PARTICIPAÇÃO
NA CLANDESTINIDADE
Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008Notícias
Mateus Muthemba faz parte dos primeiros grupos de moçambicanos a
se envolverem em acções de luta clandestina. Quando o Dr. Eduardo Mondlane,
então funcionário das Nações Unidas visitou Moçambique em 1961, tendo também
passado por João Belo, Muthemba fez parte do grupo que, revelando a sua elevada
consciência patriótica, encarregou-se pela organização da recepção em sua
homenagem.
Na comissão organizadora deste evento, que teve lugar na praia
de Sepúlveda, fizeram parte, de entre outros nacionalistas, Abiatar Sansão
Muthemba, Afonso Casalino Mazuze, Gil Mazuze, Afonso André, Nicolau Abílio
Fernandes, Marcos Novele, António Ribeiro, Eusébio Tamele, entre outros. Depois
desta visita de Eduardo Chivambo Mondlane, a vida política teria outro rumo
naquela região do país. Os moçambicanos tinham percebido a mensagem da
libertação daquele que em breve seria o arquitecto da unidade nacional, com a
formação da FRELIMO.
Em 1964, Maduna Xinana, que usava também os nomes de Joel Romeu
dos Santos Monteiro e Joel Guduane Chibambo, chegou a Chilembene, província de
Gaza, mandatado da Frente de Libertação de Moçambique. Tinha como principal
missão a abertura da IV Região Militar, destinada a desencadear a luta armada
de libertação nacional, no sul do rio Save.
Maduna Xinana, em Chilembene, hospedou-se em casa de Samora
Machel. Desta casa seguiu depois para a de Mbazima, colaborador da Frente de
Libertação de Moçambique, onde haveria um encontro. Mateus Sansão Muthemba e
outros convidados foram mobilizados a aderir à FRELIMO. Como consequência,
Muthemba tornou-se a partir de então mobilizador e um dos responsáveis da
organização clandestina na região sul do país. Posteriormente, Maduna Xinana
deslocou-se à cidade de Lourenço Marques, tendo se hospedado em casa de Mateus
Muthemba. O objectivo da sua deslocação era o de contactar o grupo preparado no
âmbito da abertura da frente sul.
A PIDE/DGS foi alertada sobre as actividades clandestinas de Maduna
Xinana e do grupo. Este, apercebendo-se, fugiu da casa de Muthemba, tentando
uma saída via Suazilândia, circunstâncias que o levaram à prisão pela PIDE.
Face a
este acontecimento um informante foi à cidade de João belo para revelar o
sucedido. Reagindo a esta informação, Mateus Muthemba exclamou nos seguintes
termos: a ti fijão de woxekile o que na língua portuguesa equivale
a dizer que “o feijão está torrado”. Esta expressão idiomática significa “fomos
apanhados”; “fomos descobertos” ou “estamos em maus lençóis”.
As filhas de Mateus Muthemba
INGRESSO E
FEITOS NA FRELIMO
Maputo, Sexta-Feira, 6 de Junho de 2008Notícias
Foi certamente a prisão de Maduna Xinana que precipitou a fuga
de Mateus Muthemba. Com efeito, passados alguns dias soube-se que estava em
Dar-Es-Salaam, tendo partido via Suazilândia, isto em 1964.
Na Tanzania, Muthemba não foi submetido a treinos militares
profundos, provavelmente devido à sua idade, cerca de 58 anos à chegada. Porém,
recebeu preparação político-militar em Kongwa, tendo sido formado como
instrutor, na companhia de 40 concidadãos.
Em Dar-Es-Salaam, trabalhou como chefe do Departamento de
Comunicações nos escritórios centrais da Frelimo. A sua indicação como chefe
resultou do reconhecimento das suas competências técnicas e o carácter de
liderança. Sem este combatente teria sido difícil organizar o programa de
transmissões da Frente de Libertação de Moçambique.
O velho Muthemba, como era carinhosamente chamado, trabalhou
bastante para o estabelecimento das bases, através das quais a rede da Frelimo
operou no sul de Moçambique. É também a ele a quem se deve a organização da
escola de formação na especialidade de rádio-comunicações neste período.
NB: Estes dados vêm contidos numa brochura do
Ministério da Educação dedicada à vida e obra dos heróis moçambicanos na
cripta.
Destacado
Combatente da Luta de Libertação Nacional que nasceu nesta data em 1907
Centenário de Mateus Sansão Muthemba que se assinala
hoje pode passar despercebido
Dizem os mais velhos, recordar é viver. E, hoje, vamos
relembrar uma figura incontornável na história da libertação de Moçambique, que
até há bem pouco tempo fizemos referência o seu heroísmo nacional, quando da
celebração do trigésimo nono aniversário da sua morte, a 6 de Junho de 2007
(rever edição do Jornal O Autarca n° 1341, de 06.06.2007, quarta-feira).
Trata-se de Mateus Sansão Muthemba, destacado
Combatente da Luta de Libertação Nacional, que nasceu a 25 de Julho de 1907 e
que se fosse em vida completaria hoje, 25 de Julho de 2007, quarta-feira, 100
anos de idade.
O Autarca não tem confirmação de realização de
qualquer evento ou manifestação política nem pública pela celebração do
centenário de Mateus Sansão Muthemba – a semelhança da cerimónia que aconteceu
recentemente em Nwadhahane, distrito de Manjacaze, província de Gaza, sul de
Moçambique, quando da celebração do 87° aniversário natalício de Eduardo
Chivambo Mondlane, evento qual o Presidente da
República, Armando Guebuza, tomou parte pessoalmente, tendo sido acompanhado
por numerosos ministros do seu Governo, nomeadamente dos Negócios Estrangeiros
e Cooperação, Alcinda Abreu; do Interior, José Pacheco; da Planificação e
Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia; da Mulher e para a Coordenação da Acção
Social, Virgínia Matabele; da Ciência e Tecnologia, Venâncio Massinga; da
Energia, Salvador Namburete; da Juventude e Desportos, David Simango; da Saúde,
Paulo Ivo Garrido; do Trabalho, Helena Taipo; e das Pescas, Cadmiel Muthemba;
além dos Vice-Ministros das Obras Públicas e Habitação, Gabriel Muthisse; da
Energia, Jaime Himede; do Turismo, Rosário Mualeia e o da Planificação e
Desenvolvimento,
Victor Bernardo.
Tanto Muthemba como Mondlane, ambos figuram como
destacados heróis nacionais. Os dois queridos filhos da pátria perderam a vida
em circunstâncias mais ou menos iguais.
Em relação à Mondlane muito tem se dito, pelo que o
mais importante neste momento talvez seja recordar que o destacado Combatente
da Luta de Libertação Nacional Mateus
Sansão Muthemba, perdeu a vida em Dar-Es-Salaam, vítima
de agressão física levada a cabo por agentes hóstis a FRELIMO. Era operador de
rádio de comunicações.
Conta-se que os que lhe assassinaram eram
reaccionários supostos do grupo de Gwenjere e, segundo eles lutavam contra o
império de Gaza a favor da representatividade regional nos Escritórios da
FRELIMO em Dar-Es-Salam.
Nos dias que correm, entretanto, vozes críticas tem se
levantado contra o que apelidam de singularização de heróis neste país, visto
que fala-se mais ou dá-se tratamento especial apenas alguns e não de outros.
“Todos os heróis são deveras importantes e devemos
conhecer a sua história ou melhor trajectória” – opinião de Samuel Bernabe,
filho do destacado combatente Bernabe Kajika,
publicada neste jornal, edição n° 1295, de 14 de Maio
de 2007, que reagindo a um artigo publicado na edição deste diário n° 1293, de
10.05.2007, sobre o Herói Kajika, lamentava
o facto de sendo filho, nunca ninguém das hierarquias
quer Partidárias quer Militares das FPLM da altura quiseram divulgar verdadeira
data da morte do seu pai, apesar dos seus restos mortais encontrarem-se
depositados na cripta dos Heróis Moçambicanos, em Maputo.
Este pode não ser o único caso do género.
O AUTARCA – 25.07.2007
1 comment:
Devem fazer um acréscimo/correcção em relação aos filhos de Mateus Sansão Muthemba, não consta aqui o nome do primogénito, o mais velho de Mateus Sansão Muthemba, Milagre Mateus Muthemba, já falecido.
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