CARTA A MUITOS AMIGOS
A 4 de Fevereiro a revolta dos militantes do MPLA em Luanda marca o começo do fim do regime obsoleto do colonialismo e do salazarismo.
Em Dezembro do mesmo ano o governo indiano pôs termo à dominação portuguesa. Contrariamente às ordens expressas de Salazar ao General Vassalo e Silva as tropas portuguesas em Goa não se suicidaram, renderam-se.
O exemplo dado pelo MPLA inspirou Moçambique e a Guiné- Bissau. Em 1963 o PAIGC desencadeou a luta armada de libertação, em 1964 a FRELIMO agiu de igual modo, após unir em 1962 todos os partidos numa única frente onde se integraram e se dissolveram.
A partir de 1968 e após uma queda, Salazar torna-se um fantoche manipulado pelo regime. Ignorava totalmente que já não governava e que o Primeiro-Ministro era Marcello Caetano que ele detestava.
Em Julho de 1970 o funeral de Salazar tornou-se um verdadeiro espectáculo de circo, até puseram a velar o cadáver e com destaque o chamado Gigante de Manjacaze, Gabriel Monjanecom 2,50m de altura e ao seu lado o Toninho de Arcozelo, com 75cm de altura! Como dignidade e respeito não se podia inventar melhor.
Caetano chefiava um governo em quem não mandava, pois este encontrava-se submisso aoAlmirante Thomas, Presidente da República, e a uma cáfila de generais, banqueiros e burocratas apegados ao pior do salazarismo. Regime de autistas, ignorantes do mundo real, da evolução da África e do mundo, tratando os seus soldados como mera carne para canhão, fechando os olhos ao facto que havia mais fugas ao serviço militar do que ingressos nas recrutas. Uma desagregação evidente, uma derrota bem anunciada, a tudo se fechava os olhos.
Costa Gomes na época Chefe-do-Estado-Maior-General das Forças armadas portuguesas, depois de uma visita a Moçambique em Janeiro de 1974, pessoalmente informou Caetano que em Moçambique as forças armadas estavam à beira do colapso, Spínola, seu Vice-Chefe, porque enfrentando uma situação similar na Guiné (B), informou Caetano e face à constatação da inutilidade das suas informações publica Portugal e o Futuro, que Costa Gomes aceita prefaciar para se demarcar da derrocada em vista.
Caetano, homem inteligente, culto e com conhecimento do mundo, porque totalmente manietado pela corja do poder, viu-se forçado a demitir os dois generais e designar uns ineptos para os substituir.
Querendo ou não, pôs em marcha o 25 de Abril.
Tudo começou nesse 4 de Fevereiro em Luanda.
Dele, nós moçambicanos aprendemos duas questões essenciais:
1. O colonialismo português só se poderia eliminar com uma luta armada de libertação, uma guerra prolongada com apoio do povo unido.
2. Haveria que evitar a todo o custo que moçambicanos se matassem entre si, em função de interesses partidários e manipulações externas, como acontecia em Angola em que a UPA de Holden Roberto, manipulada por Mobutu e sectores da CIA americana fazia doMPLA o alvo principal das suas armas.
Mondlane, Marcelino e nesse grupo inicial João Munguambe, Feliciano Gundana, Joaquim Chissano, Pascoal Mocumbi, Fernando Ganhão e eu mesmo e outros, batemo-nos pela causa da unidade partidária, base da batalha pela unidade nacional, única capaz de derrotar um inimigo poderoso e bem armado.
Verdade que formada a FRELIMO pouco depois os antigos caciques de partidos voltaram a criar e recriar partidos atrás de partidos, colaborando muitas vezes com a PIDE, apoiados pelos sectores reaccionários de Israel e outros interesses pró-coloniais.
O fenómeno repetiu-se depois do 25 de Abril, embora um partidozeco GUMO se haja manifestado com uma meia bênção de Caetano.
Alguns, por ambições e interesses mal disfarçados, juntaram-se à RENAMO e outros pura e simplesmente cessaram de se exprimir.
Rapidamente os que aderiram à RENAMO desagradaram ao chefe e esvaíram-se mais ou menos desde então da cena política.
Após a revisão da Constituição em 1990 e sobretudo na aproximação das eleições surgem como as formigas aladas depois da chuva, dezenas de partidos todos com o mesmo objectivo: beneficiar do chamado triste fundo e não prestar contas do seu uso, violando a lei.
Repete-se o que testemunhamos em Angola.
Nos Estados Unidos há dois partidos, no Reino Unido três, o resto não passam de trocos.Idem na Tanzânia.
Não se mede democracia pelo número de organizações partidárias que surgem a todo e qualquer momento, algumas na verdade, com uma audição relativa pequena, mas com longa tradição, caso dos partidos comunistas em vários países do ocidente. Alguns, em França e na Itália até se afirmaram durante muitos anos como os primeiros ou segundos partidos mais votados nos seus países. Mas o esfacelamento do PCUS graças a Gorbatchevdestruiu muito causa comunista.
Unidade nacional para além dos partidos, respeito pela lei e pela paz, recusa de violência, fim de ameaças descabidas dos tolos tornados órfãos pela morte do apartheid constituem elementos essenciais da democracia. Só terroristas recorrem às mortandades e tentativas de divisão do seu país. Basta!
Recordemos o que sofreu Angola graças às mortandades causadas pela UPA/FLNA e pela UNITA.
Os fins inglórios de Mobutu e Savimbi ajudaram o país a recuperar a paz tão necessária ao progresso e prosperidade, à alegria e tranquilidade das gentes.
Não digo que o nosso boçal local deva terminar como aqueles que martirizaram Angola, sugiro sim que ganhe algum tento na sua cabeça tonta e deixe-nos trabalhar, saiba agir para obter bons resultados eleitorais que não se adquirem através de ameaças e mortandades, discursos sem pés na cabeça de clube que perde todos os jogos e acusa sempre o árbitro. Ponha gente sensata a dirigir a organização e goze da sua reforma.
Desejo-lhe o melhor meu caro Senhor, se souber trabalhar e agir melhor, precisamos de paz e não de ameaças.
P.S. Que a nova direcção da OMM saiba mobilizar a mulher moçambicana, combater os casamentos prematuros, os crimes de violação, a agressão doméstica, a poligamia, males que ela canta no seu Hino.
A OMM deve comportar-se como uma verdadeira organização social ligada ao Partido FRELIMO sim, mas nunca como uma subordinada de secretariados. Há também que não fazer da Primeira-Dama a Presidente automática da organização, não faz sentido e que se queira ou não surge como uma lambebotismo que todos desejam eliminado para sempre.
Votos de sucesso e de bom trabalho pela verdadeira emancipação da mulher.
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