Eusébio A. P. Gwembe adicionou 2 fotos novas.
De acordo com CID/BSA Police, de Salisbury, (RC. 00278/58, David Joseph Maurice Mabunda era nome falso de Rabson Beara, natural de Inhangoma-Mutarara, na povoação Siwuenti do chefe Chikembwe, que chegou àquele país com o passaporte português 102598. Teria passado por Lourenço Marques em tenra idade, tendo trabalhado, antes de ir para África do Sul, de onde chegou a Salisbury. Segundo o documento, em 1958 residia em Salisbury (Harare), tinha cicatrizes no joelho esquerdo e estava casado com Aggi, de quem tinha dois filhos.
No ofício 1954, de 15 de Junho de 1963, o então directo interino dos Serviços de Segurança, Ivens-Ferraz de Freitas, escreveu que «David Mabunda fala ronga, é natural de Lourenço Marques e filho de um Pastor Evangélico, (Abel Mabunda?) já falecido, que trabalhou ou era natural de Bilene-Macia, teria residido em Witbank até 1952 e ali casado com uma sul-africana». Entretanto, as características (foto, número do passaporte e cicatrizes) coincidiam. Destacou-se por denunciar as atrocidades coloniais, num trabalho intitulado Portuguese colonisation of Monomotapa (Mozambique), 1962.
Entre Janeiro e Maio de 1962, participou dos primeiros esforços que deram origem a Frelimo, ajudando Gwambe nos contactos que teve com Oscar Kambona, Peter Mbiyu Koinangue e Dr.Kwame Nkrumah (falarei disso na próxima ocasião), os quais, em vésperas da reunião dos combatentes da liberdade, impuseram aos dirigentes da MANU (Mmole) e da UDENAMO (Gwambe) a unificação dos seus partidos porque «na reunião de amanhã (25-05-1962) Khrumah vai insistir pela existência de um só partido em cada uma das colónias portuguesas». Foi um dos proponentes da ideia para a escolha de uma pessoa neutra, informada e conhecida, para ser convidada a dirigir o novo partido. Quando Mondlane alegava que não seria possível realizar-se o primeiro congresso por falta do dinheiro, Mabunda opôs-se e mobilizou apoio para o evento. Mesmo ausente no dia 25 de Junho de 1962, foi escolhido para ocupar o cargo de Secretário Geral, cargo que formalmente ocupará até 26 de Março de 1963.
Não concordava que Mondlane estivesse a dirigir o Partido a partir de intermediários. Questionou os métodos de entrada de certas pessoas ao Comité Central ao mesmo tempo que tantas outras eram expulsas sem se observarem os Estatutos do Partido tendo denunciado, inclusive, ao Simango (na altura Mondlane estava nos EUA) que parte desses novos elementos tirava fotografias que depois eram enviadas para a PIDE, «pondo em risco a nossa vida». Disse que «a Unidade Nacional deve reflectir uma reunião das mentes e um desejo comum de trabalhar para a liquidação total do colonialismo, imperialismo e neo-colonialismo em todas as suas formas e manifestações, e para a construção de uma nação moçambicana soberana e próspera que está intimamente unido com o seu património cultural e nacional». A 3 de Outubro de 1962, em Dar-es-Salaam, David José Mabunda, José Paulo Gumane e Fanuel Guidion Mahluza, organizaram uma revolta contra Mondlane, revolta rechaçada pela pronta intervenção de Changonga, António Disse Zengazenga, Uria Timóteo Simango e Rafael Silvério Nungu. Em tom de agradecimento, Mondlane escreverá a um amigo que «they are trying their best to develop the program that I have, together with them, set up for our party». Mas, parece que Mondlane terá caído em erro, ao expulsar Mabunda sem o ter escutado.
Uma circular da Frelimo, em Swahili, datada de 26 de Março de 1963, por ele assinada afirmava que:
«Os senhores David Mabunda e Paulo Gumane foram expulsos por: i) incúria política; ii) acção anti-unitária nas fileiras da Frelimo; iii) acção destruidora da coesão e da solidariedade entre os membros do Comité Central; iv) desonestidade moral e política e v) calúnias contra diversos membros do Comité Central. Pelas mesmas razões, exceptuando a primeira, fora também expulso João Munguambe, entretanto, readmitido mais tarde.
Numa de suas revoltas, acusou Simango de estar a proibir pessoas para fazerem parte do Partido e de afastar outras, sem discutir nem informar os restantes membros directivos. Mondlane minimizou até que, num certo dia, uma esposa de um ex-camarada foi a sede do partido reclamar que há muito o Partido não lhe apoiava. Mondlane disse que assim fazia porque o marido já estava apoiar o grupo de Gwambe ao que a mulher retorquiu: «ele não tinha escolha». Quando a mulher saiu, Mondlane tratou de chamar o homem, tendo perguntado porque havia tomado a decisão de apoiar ao grupo de Gwambe. O homem disse que Simango o proibira mas como queria lutar pela independência do país, decidiu aderiu a qualquer movimento que para tal se propusesse. Mondlane chamou Simango, e homem, na sua presença, disse tudo o que havia dito. Simango baixou a cabeça. Espantado, Mondlane escreve para a esposa:
«Now, Janet is the kind that often happens. Somebody has the idea in his mind that so and so is dangerous and they immediately decide to whisper around and then they blackball somebody that they thought was dangerous without any formal meeting in which they charge him of this and they make quickly a decision to out him out of the party. This happened with lots of others. Now, I do not deny that people like Mabunda and Gumane, that those people were really engrossed in subversive activities in this party before they were thrown out of the party, but what I am complaining about in relation to this is that these actions are taken outside of the formal structure of our party.
Após a expulsão de Mabunda, o cargo de Secretário Geral foi suprimido na nova estrutura. Na segunda foto, a lista do primeiro staff da Frelimo, anunciada a 26 de Junho de 1962 e renovada depois do Primeiro Congresso, em Setembro:
1. Eduardo C. Mondlane -- -------------Presidente
2. Uria T. Simango -- ------------------- Vice-Presidente
3. David J. M. Mabunda -- ------------ Secretário-Geral
4. Paulo José Gumane -- ------------- Vice-Secretário Geral
5. Mathew Michinji Mmole -- ----------Secretário Administrativo
6. Johannes M. McMchambelesi ----- Vice-Secretário-Administrativo
7. Leo Aldridge Milas - -- ------------- Secretário da Cultura, Informação e Propaganda
8. Ali Mohamed -- -- ----------------- --- Vice Secretário da Cultura, Informação e Propaganda
9. Lawrence Mallinga Millinga----------Secretário para Educação e Bolsas de Estudo
Fontes:
FRELIMO?, News from Dar-es-Salaam, Box 15274, 1962 (é uma compilação de manuscritos em forma de diário de Mondlane. O destinatário é quem, de facto, os compila. Ao longo dos trechos, há certos nomes e locais apagados. Na verdade, uma compilação feita em Washington, por um autor oculto)
Mabunda, David. Portuguese colonisation of Monomotapa (Mozambique), Voice of Africa, July 1962, p. 23-24/26.
Mabunda, David J.M. (Vice President of UDENAMO); The National Democratic Union of Mozambique (UDENAMO), Press communique, Cairo, 1963 Aug. 22
Combate, no. 1 (1963 June)
FUNIPAMO - Memoranda supporting declaration of dissolution of FRELIMO, 1963 May 27
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