Era um dos "três de Angola" e o último dos três presos pela morte de um guarda prisional no Luisiana, EUA. Foi libertado no dia do 69.º aniversário e mantém que é inocente.
Nem toda a gente deve conseguir visualizar o que é um espaço de 1,8 por 2,74 metros. Fica-se com a ideia de que deve ser pequeno e inabitável. Mas foi numa cela com essa largura e esse comprimento que Albert Woodfox passou os últimos 43 anos, numa prisão estatal de Luisiana, EUA, conhecida como “Angola”. Na sexta-feira, Albert, 69 anos, foi libertado. Uma decisão “atrasada e inegavelmente justa”, declarou a Amnistia Internacional (AI).
Preso desde Abril de1972 por ter participado no assassinato de um guarda prisional que na altura tinha 27 anos, Albert sempre manteve a afirmação de que não era culpado por esse crime. À saída da prisão, por volta das 14h de sexta-feira, declarou que queria visitar a campa da mãe e de uma irmã.
Albert era o último de um grupo de três prisioneiros que ainda continuava em solitária. Eram conhecidos como os “três de Angola”: ele, Robert King e Herman Wallace.
King, antigo membro dos Pantera Negra, passou 32 naquela prisão, 29 dos quais em solitária. Em 2001, viu a sentença anulada e foi libertado.
Dois anos depois, foi a vez de Herman Wallace deixar a prisão. Foram alegadas “razões humanitárias” para o deixarem sair – Herman estava com 72 anos e padecia de cancro no fígado. Morreu a 4 de Outubro de 2013, três dias depois de ter sido libertado.
Faltava Woodfox – e a notícia da sua saída da prisão foi como que uma prenda de aniversário. Para a Amnistia Internacional, foi mais do que isso, foi o início de “um novo e marcante capítulo para a reforma do recurso prolongado ao encarceramento em celas solitárias nas prisões americanas”.
“Nada poderá verdadeiramente reparar a cruel, desumana e degradante prisão solitária que o estado do Luisiana lhe infligiu”, declarou o “braço” americano daquela organização internacional, a propósito da libertação de Albert. Recordando as duras condições de vida em que este passou quatro décadas – 23 horas de encarceramento diário num espaço exíguo – A AI considera que há razões para “celebrar” uma “medida justa e humana”.
Porém, para deixar o cárcere, Albert teve de aceitar sem contestação algumas acusações criminais de menor gravidade, em troca da liberdade. “Apesar de nunca ter deixado de acreditar que poderia provar a minha inocência num novo julgamento, as preocupações com a minha idade e saúde levaram-me a decidir aceitar fechar este caso e obter a minha libertação aceitando sem contestação algumas acusações menores”, afirmou numa declaração, citada pela BBC, e divulgada pela equipa de advogados que o apoiou. Ainda assim, sublinhou, não estava a admitir culpa, no caso da morte do guarda prisional Brent Miller.
Na altura em que Miller morreu, Albert já era prisioneiro em “Angola”, por roubo e assalto armado. Por três vezes viu a sua sentença neste caso anulada, mas os procuradores estatais recorreram sempre da decisão e conseguiram mantê-lo na prisão.
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