quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A liderança necessária está faltando, ou está tudo combinado?

Nervos à flor da pele e indecisão dominando

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Cada dia que passa, tudo se conjuga para se concluir que as coisas acontecendo nestes últimos dias na frente militar resultam de concertação, coordenação e consensos estratégicos.
Existe um comando nacional das Forças de Defesa e Segurança no activo que trabalha sob ordens específicas, pelo que se deve deixar de pensar que há vazios àquele nível.
Face ao descalabro negocial onde nunca se chegou a encontrar uma solução consensual para a reformulação ou criação de Forças Armadas e policiais republicanas apartidárias, os temores de uma nova guerra têm aumentado a cada dia que passa.
Apreensão generalizada que só não atinge os círculos dos poderosos que têm saídas à mão está tomando conta do país.
Quem viaja de automóvel já não sabe se chegará ao destino, e os ministros bem como os seus porta-vozes multiplicam-se em esclarecimentos que não esclarecem.
A triste ofensiva de desmentir que não existem refugiados de guerra no Malawi fracassou.
Os ataques repetem-se quase todos os dias em várias localidades do país.
O armamento é transportado, e os soldados agentes da Polícia são desdobrados para o que os estrategas pensam ser os próximos focos de tensão.
Os analistas visitam a RM e as estações televisivas oferecendo os seus pontos de vista. Os adeptos da escrita não param de tecer vaticínios.
O Conselho de Estado e o Conselho Nacional de Defesa e Segurança, porque estão em sintonia com o Executivo e o seu chefe, não se reúnem.
Vai-se fazendo de conta que se governa e que o país está nos carris - mas sente-se que alguma coisa está escorregando para o abismo, mesmo que não se tenha conhecimento do que este seja.
Tudo isto acontece só porque os nossos políticos escusam-se a encontrar consensos nas suas longas e infrutíferas discussões. É como se tivessem ordens de não concordar no que seja que traga a paz tão desejada pela maioria dos moçambicanos.
O poder está turvando a vista a muito boa gente. Não há inimigos em si em Moçambique. Há os que não aprovam alterações ao ordenamento jurídico estabelecido pela CRM só porque isso os beneficia.
Outros que procuram conseguir um entendimento os salve politicamente face a um eleitorado saturado e ávido de mudanças na sua miserável vida. Desemprego generalizado, fome, falta de perspectivas e confiança no futuro juntam-se para aquecer o ambiente e proporcionar um campo amplo de recrutamento de futuros combatentes.
Pelo que a imprensa afecta ao regime vem dizendo, menosprezando os perigos reais que rondam a vida dos moçambicanos, importa ler nisso algum desespero nas hostes governamentais.
Muitos tiros estão saindo pela culatra. Quando se esperava que, logo à partida, se estaria acumulando riqueza, por via das convenientes assinaturas para megaprojectos, eis que o ambiente financeiro internacional está frio e instável, com os preços daquilo que poderia alavancar a economia moçambicana mais baixos. Há um arrefecimento geral nas expectativas dos “lobistas” e dos ministros-empresários.
A China parece que se atrasa em soltar “alguns dinheiros” que se julgavam garantidos. Já a ENI faz jogadas inteligentes de multinacional experiente e segura de que possui margem para manobrar e ganhar. Afinal tem gás noutros lugares do mundo e uma possibilidade de explorá-lo menos burocratizada. Se alguém pensava que iria sair a ganhar rapidamente, a verdade é bem diferente.
Quanto à Anadarko, pode-se dizer que está envolta em mistérios quanto a conseguir os fundos que viabilizem o seu projecto de gás em Cabo Delgado. Com a abundância de gás e os preços tão baixos, já não existe Eldorado em Moçambique.
Aquela “lufa-lufa” toda em assinar tudo o que era contrato de exploração apetecível em fim de mandato não está dando os frutos desejados.
Os que agora fazem parte do Executivo e a sua “entourage” encontram-se numa situação de gerir “dossiers” “acabados” e tremidos.
Alguém se antecipou e “levou o bolo todo”. Então porquê tanta bulha?
Se está tudo combinado, expliquem aos moçambicanos e deixem de lado a mentira e as inconsistências discursivas.
“Quem tudo quer corre o risco de tudo perder”.
As armas, por mais poderosas e demolidoras que sejam, não resolvem os problemas, e isso tem sido sobejamente provado.
Agora o que importa fazer é assumir que as escolhas efectuadas eram e são erradas. Foram feitas tendo em vista garantir o crescimento das fortunas de um grupo reduzido de pessoas que assumiu compromissos internacionais sem anuência do Assembleia da República, que se tem recusado a realizar o seu trabalho de fiscalização rigorosa dos actos governamentais.
A “batata está ficando quente” e não se vislumbram entendimentos que rapidamente produzam a reversão da escalada de violência.
Tenhamos a sensatez de parar e pensar sem subterfúgios, sobre o presente com olhos no futuro de todos como nação, não uma equipa ou grupo de pessoas com interesses empresariais ou financeiros alinhados.
Frieza e coragem para negociar um conjunto de assuntos, sem os tabus entorpecentes e contraproducentes que caracterizam posições limitantes e redutoras. Não se pode ter como como partida a imposição. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 17.02.2016

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