domingo, 10 de janeiro de 2016

Ser oposição!...

A nossa escola política tem que definir muito rapidamente o que é ser oposição, antes que a preguiça nos conduza à conclusão de que é não aceitar, pura e simplesmente o que outro propõe ou seja sob a iniciativa de quem “não é nosso”, visto principalmente como bancada partidária.
Estamos, como povo, na quinta classe multipartidária, mas parece que o sistema de ensino que nos elevou a esta classe não teve fundações sólidas, logo na primeira classe, em 1994.
Há-de ser por isso que quando falamos politicamente nunca estamos juntos, simplesmente porque fomos sendo educados, desde à primária, de que o outro é sempre mau. As ideias do outro sempre são erradas, ainda que não tenhamos argumentos que sustentem a nossa posição.
Águas limpas, para não misturarmos as ideias de destruição e desconstrução da nossa aldeia colectiva, que é Moçambique, apenas porque em determinado mandato queremos saciar e avolumar os umbigos de grupos, fora das regras, que consensualmente escolhemos para nos guiarem, evitando que sejamos selvagens. Não é disso de que estamos a falar.
Estou a envelhecer à espera do dia em que, por exemplo, a Renamo dirá sim a um plano ou programa do governo sustentado pela Frelimo. Como todos os moçambicanos, também estou na quinta classe à espera desse dia. Para além das mordomias directamente ligadas aos legisladores e outras pequenas excepcoes como a aprovação do estatuto do enfermeiro, vejo poucas vezes em que a aposição se cruzou patrioticamente com a posição.
Apresenta-se um programa para continuarmos a desenvolver (sendo que ninguém nega que estejamos desenvolvidos) reprova-se porque se é oposição. Apresenta-se um plano de como conseguir dinheiro em determinado período para continuarmos a sobreviver, reprova-se, simplesmente para merecermos o papel de oposição. Ainda, na quinta classe, eis a definição de oposição que temos, por mais doloroso que se afigure.
Está a acabar o ano em que escolhemos um presidente que pelo menos diz publicamente que as ideias não têm cor político-partidária, na tentativa de corrigir a má formação que nos persegue desde 1994. Mas dá a ideia de que ninguém na prática dá ouvidos, ainda que o estadista o faça com exemplos vivos, na sua relação com todos. Sim, com todos, não com alguns!
Esta terça-feira, chega-nos a notícia de que a Frelimo em Quelimane, consubstanciada pela sua bancada na Assembleia municipal, absteve-se de aprovar o orçamento da edilidade para 2016. Não se encontram as razoes bastantes que não seja o facto de que é oposição.
O Orçamento é da ordem de 194.098.908.913,00 MT, para fazer funcionar/desenvolver Quelimane no ano corrente. Na tabela está que a Frelimo, que é a oposição (13 assentos) se absteve. Quer dizer, não disse sim nem não. Em Quelimane, como todos deviam saber, na Assembleia Municipal, não há Renamo. O orçamento acabou sendo viabilizado pelo voto maioritário, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), no caso, a maioria (26 assentos).
Lido doutro modo, o posicionamento da bancada minoritária, quer-nos passar a mensagem de que não lhe faz diferença, que a capital da Zambézia, tanto se desenvolva quanto não. É o mesmo que faz a Renamo em relação ao país. Isso é oposição, infelizmente do nosso país, quando já estamos na quinta classe multipartidária.
O Orçamento, que é mais gordo que o de 2015, contempla mais investimentos nas áreas de Infraestruturas e Habitação com cerca de 30.677.977,00 MT, correspondentes a 15.81 % do Orçamento Global. É sobre isso que a Frelimo não quis pronunciar-se, senão pela abstenção!
Quis conversar com o chefe da bancada minoritária. Disse-me que estava reunido. Pediu-me que lhe mandasse uma mensagem pelo meu número directo, bem identificado e depois conversaríamos. Fiz tal igual. Surpresa foi que, tal como nos habituamos da oposição, não mais quis saber da conversa, até que se fechou esta coluna!
A intenção era ouvir os argumentos da bancada ao se abster. Segundo queria saber se o seu grupo parlamentar tinha uma proposta alternativa para continuar o desenvolvimento de Quelimane. Depois queria que partilhasse comigo o conteúdo dum spot que passa quase hora-a-hora, na Rádio Moçambique, em que o chefe do Estado moçambicano diz que Quelimane é o exemplo de coexistência pacífica multipartidária.
Finalmente, queria ficar claro sobre o que esperamos do nosso futuro, tendo em conta as perguntas que o presidente da República fez no seu informe sobre o estado da Nação. Quer dizer, quando é que começaremos a responder ao discurso presidencial na prática política do dia-a-dia. Não consegui e digo aqui, apenas por dizer…
Pedro Nacuo

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