domingo, 10 de janeiro de 2016

NÓS E OS NOSSOS CONTROVERSOS ANIVERSÁRIOS

“Cantai-lhe um cântico novo: tocai bem e com júbilo; porque a Sua palavra é recta e todas as suas obras são fiéis” Salmos 33:3-4
Congratulemo-nos todos nós que conseguimos “entrar” no novo ano de 2016! Diz-se, por exemplo, que, na Itália, quando à meia-noite soarem os sinos, todo mundo atira pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados. Por isso, nós também devíamos imitar os italianos lançando no “caixote de esquecimento” tudo o que nos infernizou no ano que acaba de se despedir de nós. Eu, infelizmente, não vou a tempo de emendar seja o que for sobre as minhas origens, visto que a idade impele-me a correr célere de encontro à desconhecida e temível eternidade. É que cobiço os que comemoram os seus aniversários com convicção por terem a certeza absoluta da data em que viram a luz do Astro-Rei pela primeira vez. O facto é que muitos de nós que nascemos “ontem” por diversas razões temos mais do que uma data de nascimento: uns pela conveniência de poderem estudar nas escolas oficiais viram as suas idades coarctadas. Outros simplesmente porque os pais não eram alfabetizados, infelizmente só sabem que nasceram no ano em que terminou a II Guerra Mundial ou no ano do início da Luta Armada de Libertação Nacional, ignoram a data verdadeira do seu nascimento. O meu caso é atípico. Quando cá cheguei, o marido da minha mãe estava nas Terras do Rand pela 1.ª vez. Ele era alfabetizado, pois estudara para ser evangelista na então “Mission of the Free Methodist Church”, mais tarde “Igreja Metodista Livre de Inhamachafo” dos missionários americanos. A minha mãe, pese continuar até hoje iletrada (94 anos), todavia, nunca se esquece das datas em que trouxe ao mundo cada um dos seus 14 rebentos (eu incluído, o mais velho de todos), porque cada um teve a sua estória que a marcou. No meu caso, na noite anterior ao dia do meu nascimento, comemorava-se um grande acontecimento universal: o “Réveillon”, que tem origem no verbo em francês “Réveiller”, que significa “acordar” ou “reanimar” (em sentido figurado). Assim, o “Réveillon” é o despertar do novo ano ou, em língua txitxopi, “miridjane”. E eu cheguei logo na aurora do primeiro dia de um ano novo, ou seja na manhã do dia um de Janeiro. Portanto, se eu fosse tibetano devia chamar-me miridjane, ou seja ano novo. Mas, como quem dava nomes aos filhos eram os pais daqueles, esperou-se pelo regresso dele (ou vinda). Ele chamava-se Vathunyane, filho de Vathuni, em português seria Vathuni Júnior. Mandava a tradição txopi dizer que um homem devia receber um nome por cada importante etapa da sua vida: ao nascer, na circuncisão e em cada vez que regressasse
(ou viesse) das minas do Jhoni, nessa época principal empregador de muitos moçambicanos. Ele já tinha dois nomes: Vathunyane, de nascimento, e Nyamalohe, da
Circuncisão. Agora que vinha das minas do Rand, devia ostentar um nome que assinalasse aquela sua etapa da vida nas minas. Foi assim que, de candeeiro na axila, se chamou Kandiye. Tendo eu nascido no dia um de Janeiro, continuava sem nome à espera dele para me nomear. Ditou ele e concordaram os búzios (ti hlolo) que eu fosse o seu Júnior. Tinha de ser Kandiyane diminutivo de Kandiye, ostentando nos meus documentos o dia
em que ele foi registar-me (um de Março), não o dia em que nasci (um de Janeiro). Assim prouve aos deuses!
Kandiyane Wa Matuva Kandiya

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