A cidadã M. Mário, 21 anos de idade, passou cinco meses a fingir estar grávida alegadamente para “segurar o casamento”. Durante este período, a jovem amarrou capulanas e trapos na região abdominal.
Também fez tudo o que pode para evitar qualquer contacto físico com o marido, P. Nhamunda, de 29 anos, mesmo estando a dormir na mesma cama. A trapalhada deu-se no bairro Jonasse, Posto Administrativo da Matola-Rio, província de Maputo.
“A mentira tem pernas curtas”, diz um velho adágio popular que, infelizmente, muitos ignoram. M. Mário faz parte desse pobre elenco. Na semana passada, mais concretamente na terça-feira, as suas vizinhas “puseram o guizo ao gato” e a verdade caiu como um fruto maduro.
Conforme testemunhamos no local, as vizinhas andavam desconfiadas daquela “barriguinha” que tinha um formato de tudo menos de gravidez e também apresentava-se pequena num dia e visivelmente grande no dia seguinte, tudo isto associado aos estranhos movimentos que a detentora da mesma fazia.
Por incrível que pareça, o próprio marido, com quem a jovem “grávida” partilha cama e mesa, numa minúscula casa de tipo um, ou seja, quarto e sala, não se deu conta do embuste a que estava a ser sujeito, supostamente porque a rapariga lhe convencera de que, por causa da gravidez, o relacionamento entre os dois passaria a ser apenas verbal. “Nada de carícias e toques”. Convicto de que aquele podia ser o desejo do “bebé”, P. Nhamunda obedeceu à letra.
Enquanto o jovem Nhamunda caía como um patinho nesta burla conjugal, a esposa caprichava nos truques para falsear a barriga com mais trapinhos e capulanas que eram colocados na região abdominal com a ajuda de calças elásticas, vulgo ceroulas.
Para conferir um toque mais consistente de veracidade àquela infeliz trama, a rapariga apimentou o quadro com um pedido que, aos ouvidos do marido, soou como decisivo. “Peço para passares a acarretar água porque não posso fazer trabalhos pesados. É uma gravidez de risco”.
Nhamunda obedeceu como poucos. Tanto é que a esposa ensaiava sintomas “reais”. Era visto pela vizinhança de bidons em punho à cata de água para o casal. Também passou a ser visto a varrer, cozinhar, lavar a louça, a roupa, a passar a ferro, a fazer caril de amendoim, enfim. Pelo filho que ia nascer, tudo valia a pena.
A falsa gestante até ganhou um menu especial, típico de gestante de verdade, que incluía sorvetes, doces, fruta, iogurtes, entre outros, que eram degustados com um apetite e prazer invulgar, sempre no esforço de fazer valer a tese de que havia mais um ser vivo a caminho e que este merecia toda a atenção e cuidado.
…E O COPO TRANSBORDOU
O cantor angolano, Afro Man, gosta de dizer que “o esperto só almoça, não janta”. Foi o que aconteceu com aquela jovem. Se uns desconfiaram no primeiro instante, outros perceberam que algo de errado estava a acontecer durante a comemoração da passagem do ano.
Conforme nos foi revelado pela vizinhança, a rapariga terá mergulhado na emoção a ponto de perder o controlo da situação que ela mesma criou. Contra todas as expectativas, ela foi vista a consumir bebidas alcoólicas e a dançar de forma exuberante numa das barracas do bairro.
Dançou de tudo. “Quadradinho”, “Number One”, “Vuku vuku”, entre outras, como se fosse a autora das músicas ou como se tivesse sido contratada para entreter os presentes, que se surpreendiam com tamanho empenho e disposição. Era muita a emoção.
Conta-se que a jovem terá atingido os píncaros da bebedeira, a ponto de precisar de ajuda para regressar à casa. Foi nesse processo de “pega daqui”, “ajuda dali” que a vizinhança se apercebeu de que aquela barriga era invulgar. “Era movediça”, contam.
A partir daquela data, um grupo de mulheres do quarteirão passou a vigiar os movimentos da gestante. Dois dias depois, aquelas realizaram uma visita relâmpago, numa altura em que Nhamunda estava ausente. Tal como previam, a rapariga não trajava o seu “fardo” de capulanas e trapinhos.
No dia seguinte, quando a jovem ensaiou alguns movimentos para lá do quintal, as vizinhas saudaram-na e esta tentou empreender uma fuga e foi neutralizada e despida em plena via pública. Definitivamente, não havia gravidez nenhuma. Um sentimento de revolta tomou conta dos presentes, uma vez que todos viam o esforço redobrado que o vizinho Nhamunda empreendia para satisfazer a jovem esposa.
A decisão tomada foi a de encaminhar a falsa gestante ao posto policial que funciona no bairro há sensivelmente duas semanas. Aliás, trata-se de uma unidade que, apesar de ter sido estabelecida há poucos dias, já atendeu a casos de vária monta, alguns dos quais com contornos que roçam ao bizarro, como este.
PREPARADO PARA FAZER O ENXOVAL
Já no posto policial, as vizinhas decidiram chamar o marido da moça, alegando que a sua esposa acabava de dar luz. À primeira, Nhamunda quis passar por um estabelecimento comercial para fazer um enxoval para o recém-nascido, mas as senhoras lhe aconselharam a não comparar nada. “Deixe as compras para outra altura”, ordenaram.
Quando P. Nhamunda chegou no posto policial, só queria ver o filho. “Onde está o meu filho”, perguntou visivelmente emocionado com a hipótese de poder abraçar o seu descendente. As senhoras disseram que o seu filho está ali enquanto apontavam um monte de capulanas.
Entretanto, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique, em Maputo, Emídio Mabunda, disse que este não é caso criminal, apenas um episódio que não abona a sociedade. Por essa razão, a visada ficou retida para advertência, visto que as autoridades policiais, e até mesmo a vizinhança, suspeitam que, no final, a jovem poderia roubar um bebé numa das maternidades próximas para encerrar o ciclo de mentiras.
A nossa equipa de Reportagem contactou a vários psicológicos que entendem que este é um caso que pode ter origem numa perturbação psicológica ou comportamental, mas sublinharam que só se pode tirar conclusões mediante uma avaliação mais profunda.
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