COMUNICADO DE IMPRENSA
Danish Abdul Satar, de nacionalidade moçambicana, casado e pai de dois filhos menores.
“Todo cidadão goza de presunção de inocência até que a sentença haja transitado em julgado”
(Constituição da República de Moçambique)
Torna-se-me imperioso que emita um comunicado de imprensa, pois o meu nome está a ser manchado por todos os órgãos de informação e de uma forma leviana. Acoplado a isso, estou a ser acusado por um crime que não cometi. Esta acusação é feita por pessoas de má-fé que, a todo custo, querem atingir o meu tio Nini Satar, usando a minha pessoa.
Quero deixar bem claro para todos que sou muito jovem ainda para entrar nestes debates. Fui aconselhado para me calar e deixar a justiça trabalhar, mas diante dos factos não me posso calar sob os risco de, calando, parecer que estou a admitir a culpa dando razão aos que me querem usar como bode expiatório.
Passo a me explicar:
1- Em Maio de 2012, fui detido, em Moçambique, por um polícia chamado Ernesto que agia a mando do então director da PIC, Dias Balate. A minha detenção ocorreu no recinto da Feira Popular e aquilo pareceu mais um rapto do que uma mera detenção. A meio do caminho, fui torturado psicologicamente e acusavam-me de raptar pessoas. Chegados à esquadra, perto do quartel da FIR, fui algemado nos braços e pernas e trouxeram-me um documento para assinar confessando que, efectivamente, ando a raptar pessoas.
2- Preferi continuar a receber tortura do que confessar um crime que não havia cometido. No dia seguinte à minha detenção, o mesmo polícia Ernesto veio ter comigo e estava na companhia de uma senhora mestiça. Disse que a única maneira de me ver livre era desembolsando 150 (cento e cinquenta) mil dólares norte-americanos . Cem mil seriam para Dias Balate e 50 (cinquenta) mil dólares para o polícia Ernesto. Disse, na devida altura, que não possuía esse valor, e que o meu casamento estava marcado para dentro de alguns dias.
3- No dia 17 de Maio de 2012 fui presente ao juiz do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo. Era um juiz de instrução. Denunciei a corrupção da Polícia e provei-o que o director da PIC, Dias Balate, estava a perseguir toda a família Satar e que já havia detido motoristas, seguranças, além de alguns membros da família e todos foram postos em liberdade por diferentes juízes de instrução. No mesmo dia caucionou-me em virtude de não ter encontrado nada no referido processo que me incriminasse. Nesse mesmo dia, perguntei ao juiz se podia viajar para o exterior. Em resposta, ele disse que nada me impedia de viajar e que na eventualidade de o tribunal precisar de mim haveria de notificar o meu advogado, uma vez que o havia constituído no processo.
4- O documento em anexo, exarado pelo tribunal, é sobre a minha soltura. Como se pode constatar, não há nenhuma cláusula que me impedia de viajar para o exterior. Havendo alguma imposição da justiça, confesso, teria cumprido escrupulosamente.
5- Semanas depois, casei-me e viajei para o exterior em lua de mel. Cinco dias depois, recebi uma chamada de Moçambique informando-me de que homens de Dias Balate haviam invadido a minha residência. Conversei com a minha esposa e achamos por bem prolongar a nossa estadia fora do país até que as coisas se aquietassem. Por outro lado, havia me apercebido que tudo o que a polícia estava a fazer era uma cabala no sentido de me incriminar a todo custo.
6- Mais tarde vim a saber que fui citado num processo sobre o rapto de uma senhora chamada Gignissa Mansukulal, esposa do senhor Manoj Barai. Repito: citado e não acusado como a imprensa pretende fazer crer. No mesmo processo dizia- se que eu, Danish Abdul Satar, havia acompanhado o marido da vítima para prestar uma queixa sobre o rapto da esposa. Não vejo mal nenhum nisso se não um dever estimável de um cidadão de ajudar o próximo. Se tivesse sido acusado, teria voltado há muito a Moçambique para os devidos procedimentos.
7- Todavia, porque não havia nada contra mim, comecei a fazer a minha vida fora do país e é por via disso que hoje sou pai de dois filhos menores. Na verdade, eu, de seis em seis meses vinha a Moçambique porque tenho cá família e nunca soube de que era procurado pela justiça moçambicana. Nem o meu advogado alguma vez foi notificado de que a justiça precisava de mim para ser ouvido. Sempre estive em contacto com o meu advogado, o que sempre me deixou tranquilo porque baseado na soltura que tive em 2012 não havia nenhuma imposição do tribunal relativo às minhas apresentações ou viagens.
8- No dia 27 de Outubro de 2015, fui à Itália e hospedei-me num hotel em Roma. Na manhã do dia seguinte, a recepcionista, com toda a educação possível, bateu na minha porta e pediu-me para que a acompanhasse até a recepção. Lá encontrei dois polícias duma esquadra próxima que me pediram a identificação. Entreguei-lhes o meu passaporte e anui quando me perguntaram se o meu nome era Danish Abdul Satar.
9- Seguidamente, pediram-me para que lhes acompanhasse até à esquadra. Obedeci. Chegados lá mostraram-me o meu nome no “google” e vinha acompanhado por uma notícia publicada pelo jornal “Savana” que dizia que a polícia moçambicana havia recorrido à Interpol para a minha prisão. Quando fui questionado, fui sincero ao afirmar que nada sabia sobre o assunto.
10- A polícia daquela esquadra de Roma entrou em contacto com a Interpol e esta informou que não sabia de nenhum mandado de captura contra Danish Satar e que iria contactar os serviços da Interpol em Moçambique. Assim aconteceu e mais uma vez disseram que não havia nenhum mandado contra mim. Só que quando a Interpol, em Moçambique, contactou a direcção da PIC Cidade, esta informou que havia, sim, um mandado contra Danish Satar pelo crime de desobediência.
11- Face aos factos, solicitei que me extraditassem para Moçambique para, duma vez por todas, resolver essa questão. Quando fui levado a um tribunal em Roma, fui explicado que não havia acordos de extradição entre Itália e Moçambique e que julgando necessário permanecer na Europa poderia o fazer. Fui eu, Danish Satar, quem solicitou o regresso a Moçambique. Em virtude disso foi enviado um ofício para Moçambique informando sobre o meu desejo de regressar.
12- Não constitui verdade de que eu, Danish Satar, fui detido pela Interpol. Eu até é que solicitei para que a Interpol intermediasse o meu processo de extradição por temer eventuais vicissitudes. Chegado a Moçambique no dia 31 de Dezembro de 2015, quando fui levado ao Comando da Polícia, lá estava um jornalista do “notícias”. Foi ele quem me tirou as fotos e no dia seguinte já publicava que eu tenho vários processos, além do de desobediência. Fiquei estupefacto.
13- Quatro dias depois, fui presente a uma juíza de instrução e questionou-me sobre um processo de raptos que disse ser um processo autónomo. Do que tenho conhecimento sobre esse mesmo processo autónomo, as pessoas envolvidas foram julgadas e condenadas em 2013. Nesse mesmo julgamento, nenhum dos envolvidos citou o meu nome. Foi por essa razão que até quis saber da própria juíza o porquê de ser questionado nesse processo. Mas como sabem, nessas situações o juiz é quem decide porque tem o martelo em mãos.
14- No mesmo dia, acompanhei pela imprensa as intervenções do comandante-geral da PRM, Jorge Khálau, tentando envolver o meu nome no processo de raptos. Como se não bastasse, o porta-voz da PRM da cidade de Maputo já vinha fazendo um briefing semanal à imprensa dizendo que Danish Satar foi extraditado por um crime de desobediência e está a sendo ouvido num processo autónomo. A partir dai, cheguei à conclusão que são pretensões da Polícia usar-me como bode expiatório.
15- No dia sete de Janeiro fui interrogado na Procuradoria sobre o mesmo processo da Gignissa Mansukulal. Respondi-lhes que o referido processo, que eu saiba, foi julgado e não se produziu nada que me incriminasse. O próprio tribunal que julgou esse processo já respondeu à PIC dando conta de que durante a instrução contraditória e nas sessões do julgamento nenhum dos envolvidos citou o nome do cidadão Danish Abdul Satar.
16- Em virtude do que vai acontecendo, não me resta mais nada do que concluir que a Procuradoria e a Polícia têm pretensões de arranjar, a qualquer custo, um bode expiatório e, eventualmente, desconheço eu as razões, arranjaram no cidadão Danish Satar a pessoa ideal. Em nenhum momento raptei ou mandei raptar quem quer que seja. Eu sou um cidadão honesto, jovem de 29 anos e que está ainda a constituir a sua família. Sou pai de dois filhos menores e julgo eu que eles merecem ter um bom exemplo de um pai.
17- A finalizar, gostava de deixar claro que preferi elaborar este comunicado de imprensa para clarificar duma vez por todas que eu, Danish Abdul Satar, sou um cidadão honesto. Quero também deixar claro que nenhuma Interpol deteve-me. Nenhum dos envolvidos no processo aludido citou o meu nome em todas as fases processuais. Em todos os julgamentos de raptos havidos em Moçambique, nenhum réu citou o meu nome. Contudo, espero que seja a justiça a decidir melhor, mas peço para que faça um trabalho merecido sob o risco de condenar um cidadão inocente, como há muito a nossa justiça nos habituou.
Maputo, 11 de Janeiro de 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário