segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A guerra cada vez mais próxima em Moçambique (AC)

A pesar de sermos o país que desgraçadamente se situa entre os 10 mais pobres do planeta, não faltam entre nós lustrosos 4x4 e prémios de todas as formas e feitios, para todos os gostos e apetites. Todos os anos, um sem número de empresas, incluindo a empresa proprietária deste jornal, recebe propostas de prémios, com o devido orçamento para presença na gala, estatueta, diploma e o vídeo de ocasião. Há empresas públicas, monopolistas no seu sector de actividade, que anualmente enchem páginas de publicidade com os “prémios” alcan- çados, porque importante para a auto-estima, uma das palavras de ordem da anterior administração, a tal que o presidente Nyusi diz ter deixado o cofre arrombado. Só para o registo, as visitas cirúrgicas do PM mostraram as mazelas do tal grandioso sector público. No mesmo diapasão, o aumento exponencial dos apagões mostram o lado escuro da política da electrificação do distrito sem infra-estrutura à altura. Aqui chegados, deparamo-nos com as hossanas transversais da acrítica comunicação social moçambicana, ao prémio atribuído pela respeitada revista “The Banker” a Adriano Maleiane, como ministro das Finanças africano do ano, por estimular o crescimento e a estabilização da economia moçambicana. A revista explica com algum detalhe as razões das distinções a Maleiane, razões a que se opõem uma grande parte dos nossos economistas e reputados comentadores. À altura em que o júri tomava a sua douta decisão, o dólar atingia temerariamente os 60 meticais por unidade, semeando o pânico entre todos os sectores de actividade, acomodados durante vários anos aos 30 meticais, ou seja, menos 100% do valor a que chegou a ser transaccionado em Novembro. A inflacção acumulada, sabemos agora, disparou para os 10,55%, cinco vezes mais o patamar a que estávamos habituados. O crescimento deve baixar 1% - apesar de 2 pontos percentuais acima do crescimento da África Sub-Sahariana - e a dívida externa, nas visões mais optimistas, está no limiar do sustentável, as receitas fiscais (não se sabe porque foi cancelada à última hora a conferência de imprensa da czar do fisco), aparentemente ficaram aquém das expectativas. A cooperação internacional, cansada de não ser ouvida, bateu com a porta ao apoio directo ao Orçamento de Estado(OE) e voltou à velha fórmula dos programas bilaterais. É este o cenário económico do país que tem o seu ministro das Finan- ças entronizado pela “The Banker”. Porém, seria simplesmente oportunista colar Maleiane ao mau desempenho da economia e da moeda moçambicana ao longo de 2015. Todos sabemos que os problemas vêm de trás e só um homem corajoso e com o sentido de missão, como o demonstrou ser Maleiane, poderia assumir a direcção de uma casa que à partida, melhor do que ninguém, sabia que tinha as portas arrombadas. Apesar de ser visto como pouco flexível mesmo entre os seus pares, Maleiane foi o primeiro a dar a cara pelo mau negócio que foi a Ematum, avançou com algumas propostas alternativas de pagamento da dívida, correctivos de procedimento para evitar “novas ematuns”, mas, o que é certo, não há ainda luz indicando que tenha alcançado o reescalonamento da dívida, isto quando para Março está prevista nova factura. Foram libertados os dinheiros do reembolso do IVA – a “The Banker” em USD160 milhões – mas os economistas locais associam o facto ao excesso de liquidez que em certo momento fez derrapar a estabilidade do mercado monetário local. Houve de facto um orçamento rectificado para 2016 – sonegado pela maioria dos media – mas a sua autoria tem sobretudo a mão do FMI (Fundo Monetário Internacional), condicionante para a “esmola” de USD286 milhões, que darão sobretudo para honrar os compromissos internacionais. Houve redução do deficit orçamental, mas perante as pressões internacionais e as condicionalidades não precisa o ministro de ser um às para saber que era a única opção de que dispunha. Aliás, cortejar a cooperação e os parceiros internacionais é uma das tarefas de Maleiane, depois da soberba e muita arrogância exibida por anteriores interlocutores, de barriga cheia pelas extemporâneas receitas das mais-valias sobre os futuros do gás da bacia do Rovuma. Logo, o problema do prémio não é Maleiane. Mas convenhamos que anda por aí à solta muita distração. E, sobretudo aquela dose de paternalismo de que deve prescindir o governo de Moçambique. Maleiane, esse, continuará a distribuir o seu sorriso Mona Lisa para todos os que têm o privilégio de com ele lidar. O

GOVERNO ATENTO ÀS INFORMAÇÕES SOBRE ALEGADO RECRUTAMENTO DE JOVENS POR PARTE DA RENAMO EM SOFALA

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Governo atento às informações sobre alegado recrutamento de jovens por parte da Renamo em Sofala
O Governo está atento às informações postas a circular dando conta que a Renano está, alegadamente, a recrutar jovens para treinos militares na província de Sofala.
A informação foi avançada em Tete pelo Ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro que afirmou que o Governo está a examinar a veracidade das informações para se tomarem medidas, de acordo coma a situação concreta.
 Segundo Basílio Monteiro, o governo está a fazer de tudo para que não volte a instabilidade político-militar, pois, não há espaço para a violência, mas advertiu que quaisquer ameaças à soberania do país, terão resposta por parte das forças de Defesa e Segurança.
“Nós valorizamos as informações que recebemos e é nossa obrigação fazer o seguimento e tomarmos as medidas que ajudem a evitar que ocorra perturbação. Queremos assegurar que qualquer ameaça, por mais mesquinha que pareça, vai ter a melhor resposta da nossa parte. Nós não queremos violência, mas queremos manter o ambiente de estabilidade e de sossego. ” -advertiu o Ministro do Interior.
Entretanto, o governante congratulou-se com a atitude dos homens armados da Renamo que deixaram as matas nos últimos dias e se entregaram ao governo para a sua integração; sendo o último grupo de cem, na semana passada em Sofala.
Basílio Monteiro afirmou que os homens armados da Renamo que estão a deixar as matas, estão a assumir a consciência de cidadania moçambicana.  “Representa um assumir de consciência construtiva; um assumir de cidadania e é bom que mais entregas aconteçam, porque aquelas pessoas ganharam consciência que é razoável, agora, passar para uma vida mais tranquila para construir o país”,-referiu o Ministro do Interior no término da sua vista de três dias à província de Tete. (RM Tete)
O Professor Elísio Macamo, reputado intelectual moçambicano com reconhecidos préstimos académicos a nível mundial, pronunciou-se, recentemente, através de alguma imprensa local, relativamente às reivindicações da Renamo; mormente a contestação desta quanto aos resultados das últimas eleições gerais, algo que se traduz, actualmente, numa assustadora instabilidade política. Resumida e objectivamente, Macamo dá legitimidade às posições da Renamo, neste imbróglio polí- tico. Pessoalmente, entendo que um académico, um cientista não deve fazer parte do problema; mas sim da solução do mesmo. – Ora, qual é a mais-valia deste posicionamento público (ainda por cima) de Macamo, neste contexto de perturbação da paz no país? Por que razão o Professor Elísio Macamo deve entrar na confusão e ficar de um dos lados da corda que está sendo, perigosamente, puxada? O que o país ganha com este seu ponto de vista, num momento de desgaste quão este? - Dado o ônus intelectual de Macamo, este posicionamento poderá, eventualmente, excitar a Prof. Elísio Macamo furta-se dos Princípios Académicos Por: Hermínio Paulino Chissico Renamo a radicalizar-se cada vez mais, o que é desnecessário tendo em vista a urgente paz e harmonia social que se almeja. De intelectuais do gabarito de Macamo, esperamos fórmulas; esperamos ideias para a solução dos problemas. E essas fórmulas, essas ideias devem ser apresentadas, sabia e criteriosamente, nos fóruns políticos; nas estruturas políticas, nos fóruns académicos, nos fóruns religiosos. Aliás, este académico tem espaço suficiente para expor as suas matrizes; recordo-me que, há alguns anos, na Universidade onde eu estudava, a convite da mesma, participamos em duas frutuosas palestras dadas pelo mesmo. Recordo-me ainda, que num dos seus discursos, o antigo PR, Armando Guebuza, citou palavras de Elísio Macamo, como auxílio do que pretendia dizer, algo raro pois muitos de nós quando apresentamos os nossos trabalhos, citamos os Sarte, Pitágoras, Piaget, Pavlov, Freud…, para reforçar o nosso argumento. Alguns jornais e revistas pedem a este académico para que ocupe colunas onde possa apresentar as suas ideias. Portanto, apresente desapaixonadamente, senhor Professor, a sua fórmula para que se resolva este problema entre o Governo e a Renamo, de modo que o ódio conducente à guerra dissipe-se. Ademais, devido ao seu “peso”, devia, particularmente neste assunto, “interromper” o gozo do exercício de liberdade de expressão, dizendo quem está certo ou errado nesta contenda que se instalou após as últimas eleições gerais – o senhor tem muitos admiradores e seguidores, principalmente no mundo académico, e, dada a fragilidade humana, a consequência pode ser destes também se juntarem a um dos lados da frágil corda da paz e aumentar-se o ódio sanguinário. Antes mesmo de terminar, abro um breve parenteses para recordar que Mia Couto (peso pesado como Macamo), aquando do problema da xenofobia em Abril último na RAS, consciente da sua responsabilidade social, interpelou, por escrito, o Presidente Zuma para pedir a intervenção do mesmo com vista a pôr termo aos ataques contra estrangeiros naquele país e foi respondido – portanto, fez parte da (tentativa) resolução do problema – é aqui onde reside a valência do Ônus da Intelectualidade. Tenho dito.

A actual febre de análise crítica aos doze meses de Nyusi como Presidente da República de Moçambique orienta-se, por tendência, basicamente em dois sentidos que tanto podem parecer que convergem como podem divergir nas suas intenções. Há um sentido de desilusão que é comungado por praticamente todos aqueles que acreditaram no discurso inicial de Nyusi. A marca fundamental foi o desfasamento entre esse discurso político e a prática política quotidiana, ainda que tenha pela frente mais uns tantos anos. A conhecida expressão “para grandes males grandes remédios” não gerou o brilho necessário para que se afirmasse como luz no fundo do túnel político, económico e social. A derrapagem do metical e a forte percepção de que a economia Nyusi: ano um como PR endoideceu foram doentiamente debatidas do topo à base, aliás, às ditas “bases” onde temos as “massas frias”. A desilusão produzida pela inoperância come- çou a ser justificada em surdina. Já como Presidente do seu partido as “massas frias” continuaram a acreditar que o PR ainda não tinha poder, que não era ele o culpado dos ataques e dos desentendimentos, que ele queria cumprir com o seu discurso inicial mas que os outros do seu partido não queriam, que ele não tinha hipótese alguma para brilhar a não ser que renegociasse com os que o apadrinharam na Matola tornando-o candidato do seu partido e mais tarde PR. Isto, a ser verdade, diz-nos que Nyusi com inteligência e mestria terá de arquitectar uma forma de colocar os seus padrinhos a se comportarem como padrinhos e nada mais que isso para que ele possa comportar-se como PR. Chegados a este ponto vale a pena recordar a posição do ex- -primeiro ministro português António Guterres perante a intenção do seu partido em colocá-lo como candidato presidencial. Ele simplesmente afastou essa pretensão dizendo não ter vocação para tal. E quantos não conhecem a fibra ou o alto potencial de Guterres? Diferentemente, para o nosso caso, a regra é não negar uma missão partidária mesmo conhecendo as nossas limitações ou nosso tipo de vocação. O desafio agora é como voltar a criar nas “massas frias” alguma nova ilusão, alguma esperança de resolução segura do problema da paz ou da problemática político-militar que parece prometer ganhar novos contornos a partir de Mar- ço ou Abril. Como ter poder para com punho antecipar-se a estes problemas que ninguém sabe como vão acontecer mas que todos prevê- em que, de acordo com os discursos, certamente ocorram com as conhecidas consequências nefastas para o País. Será que o encontro com o seu partido, onde é Presidente, poderá mesmo virar o País para soluções negociadas? O sentido da desilusão parece ter o poder de ofuscar o discurso politicamente correcto produzido em defesa do PR. Isto é, quanto mais se procurar defender a figura do PR, porque obviamente (no nosso caso) tem de ser defendida, mais claramente se fortalecerá o sentido da desilusão, mais desconfianças e alto potencial de desonestidade produzidos ingénua e “inocentemente” poderão tamborilar na mente dos moçambicanos. Cá entre nós: a “democracia é difícil”, custa produzir, usufruí-la e mantê-la, mas ser PR também não é nada fácil num dos países mais pobres do mundo. Neste sentido, a cleptocracia é boa gestora da humildade de quem julga governar.

A notícia que o Magazine Independente dá e o Canal de Moçambique amplia para tema de capa é profundamente preocupante. Estou a falar da morte do Capitão Rodrigues Mandlate, das FADM, e dos seus dois enterros. Estou a falar de tudo o que foi feito para evitar que a família do capitão soubesse da sua morte. Rodrigues Mandlate deixou a sua casa, em Maputo, a 12 de Setembro último. Ao despedir- -se da família informou que ia acabar com a vida de Afonso Dhlakama. A 25 de Setembro, data do seu 47º. Aniversário, foi um dos que, vestido à paisana, emboscou a comitiva de Afonso Dhlakama. E pagou isso com a sua própria vida. Quem para lá o mandou não se preocupou, sequer, em recolher o corpo e entregá-lo à família. Ou, pelo menos, em lhe fazer um funeral condigno. Foram as populações locais do local onde caiu que o enterraram, como terão feito com outros combatentes cujos corpos se espalhavam pelo mato. Pelo contrário tentou negar a sua morte. Quando a família estranhou que ele não telefonasse para casa disseram-lhe que ele estava num local sem acesso telefónico... Só depois de vários meses nestes jogos das escondidas é que as FADM admitiram o falecimento, foram buscar o corpo à sua anónima cova em Manica e o entregaram à família, fazendo um funeral oficial. A pergunta é: quantos Mandlates estarão nas mesmas circunstâncias, enterrados de qualquer maneira ou abandonados às feras no meio do mato para esconder uma guerra suja, uma guerra que não é admitida? Uma guerra em que militares de carreira fazem emboscadas sem fardamento para fingir que são civis revoltados. E quem toma as decisões sobre esta guerra? A resposta que parece óbvia diz que é o Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança. Só que se levantam bastantes dúvidas sobre se isso é verdade. Ou será que temos um Comandante em Chefe para inaugurações e cerimónias protocolares e outro Comandante em Chefe para dirigir a guerra suja? O nosso país já assistiu a muitas guerras. Temos, no norte, cemité- rios militares de vários países que participaram na I Guerra Mundial, relativamente bem cuidados. Os portugueses, durante a luta armada de libertação nacional, anunciavam, nos jornais, as suas baixas, identificando os mortos. Só agora os mortos são tratados, realmente, como carne para canhão, sem direitos nem compaixão. Será este partido/governo o mesmo do falecido Marechal Samora Machel? Agiria ele deste modo? Não creio. 

O risco de Moçambique resvalar para uma nova guerra civil é alto e a proibição pela polícia de uma manifestação da Renamo em Dezembro em Maputo é parte de uma estratégia que visa empurrar o movimento para a confrontação, considera a Africa Confidential (AC), uma publicação sobre assuntos africanos editada em Londres. “A probabilidade de vir a eclodir no país um conflito interno com características de uma guerra civil é considerada cada vez pertinente em meios internacionais atentos à escalada, porque estão a passar os desentendimentos políticos e tensões militares que opõem o Governo/ Frelimo à Renamo”. diz a AC, na sua última edição. De acordo com a análise, os meios ostentados pela polícia em 29 de Dezembro para impedir uma marcha da Renamo são mais uma manifestação da aposta de alas radicais do partido no poder em levar o principal partido da oposição a uma acção militar, visando desencadear uma reacção que seja usada como oportunidade para liquidar Afonso Dhlakama. “O aparato exibido pelo contingente da polícia na operação de 29 de Dezembro (viaturas blindadas, emprego de cães-polícia), bem como o cerco montado à sede da Renamo, ponto de partida da passeata, foi considerado manifestamente desproporcional tendo em conta o ´motivo` aparentemente inofensivo do seu accionamento”, lê-se na publicação. O episódio, prossegue a AC, é interpretado em meios político-diplomáticos e outros que acompanham a situação em Moçambique, como nova demonstração de falta de vontade política do regime da Frelimo de resolver pacificamente os seus diferendos com a Renamo. “A natureza ostensiva do procedimento da polícia em Maputo é vista no seguimento de uma mudan- ça de atitude das autoridades em relação à Renamo. A boa vontade referenciada no passado tem vindo a dar lugar a actos descritos como inamistosos ou mesmo hostis, geradores de desconfiança”, realça a Risco de guerra civil em Moçambique é elevado – considera Africa Confidential análise. A AC alude a conjecturas segundo as quais é do interesse oculto de sectores radicais do regime um empolamento extremo da descon- fiança de Afonso Dhlakama, como forma de inviabilizar uma solução política das actuais tensões e a criar condições para uma chamada “saí- da militar” destinada a submeter a Renamo. “A propalada hipótese de Afonso Dhlakama vir a Maputo para se encontrar com o Presidente da Repú- blica, Filipe Nyusi, numa iniciativa que poderia representar um novo esforço tendo em vista alcançar um entendimento, terá ficado comprometida com o episódio de 29 de Dezembro, devido à insegurança acrescida”, diz a AC. A avaliação da publicação britânica assinala que Afonso Dhlakama passou por apuros, em geral, atribuídos a planos dissimulados do regime, que já tinham afectado a sua confiança, referindo às duas emboscadas que sofreu em Setembro e ao cerco da sua residência pela polícia, em Outubro. “O cálculo com base no qual os sectores radicais supostamente agem é o de que Afonso Dhlakama, a partir das suas bases, tenderá a lançar- -se numa campanha armada contra as Forças de Defesa e Segurança, quando perder toda a confiança na Frelimo e deixar de acreditar numa solução negociada destinada a fazer valer interesses que considera legí- timos”, diz a publicação. Tal cenário, continua a AC, é visto pelos referidos sectores como uma “oportunidade” para responder militarmente de forma que se acredita poder vir a ser bem-sucedida, nomeadamente no que toca à neutralização de Afonso Dhlakama. Esse quadro levaria à criminalização e ilegalização da Renamo, forçando dissidências internas e justificaria a angariação de poios regionais e internacionais. “Nas correntes radicais da Frelimo é popular a ideia do recurso a uma “solução angolana” tendo em vista aquilo que no seu entendimento é a necessidade de resolver o problema da Renamo, isto é, inspirada em conceitos e técnicas que conduziram à eliminação física do líder da UNITA”, destaca a publicação. Além de rejeitarem liminarmente qualquer cenário de partilha do poder com a Renamo, que poderia, como alegam, fragilizar gravemente a Frelimo e ameaçar a sua sobrevivência política, também não enjeitam uma exclusão da Renamo por via militar, incluindo a eliminação física do seu líder histórico, lê-se na análise.

A Presidente brasileira, Dilma Roussef, cedeu a uma chantagem do ex-chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, desbloqueando uma verba de 320 milhões de dólares a favor da construtora Andrade Gutierrez, que está a edificar a barragem de Moamba Major, na província de Maputo, refere uma correspondência da embaixada do Brasil em Maputo, divulgada pela imprensa daquele país. De acordo com informações constantes da correspondência da embaixada brasileira em Moçambique, caso o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social), banco estatal brasileiro, não recuasse na exigência de que o Governo de Armando Guebuza devia abrir uma conta no estrangeiro para domiciliar o financiamento, a construção da barragem de Moamba-Major seria adjudicada a outra empresa. Para Guebuza, seria lesivo para os interesses de Moçambique e cairia mal perante os doadores que o país abrisse uma conta no estrangeiro para saldar uma dívida ao Brasil, relata a imprensa brasileira, citando telegramas da embaixada em Maputo, quando Financiamento da barragem de Moamba Major Armando Guebuza chantageou Dilma Roussef era dirigida por Lígia Maria Sherer. “Haveria indícios de que o Brasil perderia o projecto para empresas de outros países se a questão do financiamento pelo BNDES não pudesse ser solucionada”, afirma a mensagem da embaixada brasileira em Maputo. O antigo chefe de Estado moçambicano fez chegar à sua homóloga brasileira a posição do país em relação ao empréstimo do BNDES, durante um encontro em Durban, à margem de uma cimeira dos países em vias de desenvolvimento, realizada em Mar- ço de 2013. “Resolvo o assunto” – Dilma Roussef Vou “resolver o assunto”, terá dito Dilma a Guebuza, confrontada com o risco de a Andrade Gutierrez ficar sem o apetitoso negócio da barragem de Moamba Major. Apesar dessa garantia, o processo não terá avançado com a celeridade esperada. O ministro das Finanças da altura, Manuel Chang, escreveu uma carta ao Governo brasileiro explicando as dificuldades que estavam a travar a canalização da verba, enfatizando a questão sensível da abertura de uma conta no estrangeiro para sedear o financiamento. Na sequência do telegrama expedido pela sua embaixada em Maputo, Brasília agendou o ponto sobre o fi- nanciamento do BNDES para a 97ª Reunião do Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão ligado ao Conselho de Governo da Presidência da Repú- blica, na altura presidido por Fernando Pimentel, então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e fiel escudeiro de Dilma. Segundo a imprensa, a matéria foi alvo de votação e ganhou a posição de Pimentel, que defendia a flexibiliza- ção das garantias, abrindo uma clara excepção para Moçambique. “O representante do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira, reforçou que a abertura de uma conta era muito importante e ainda ressaltou que caso essa premissa fosse descartada surgiriam outros dois problemas. Primeiro, seria difícil controlar a conta dentro de Moçambique. Segundo, o país africano não possuía limite de crédito no Fundo de Garantia à Exportação (FGE), responsável por cobrir um eventual calote”, diz a comunicação social brasileira. Em 16 de Julho de 2014, dez meses depois da reunião da Camex e já durante a campanha para a eleição presidencial no Brasil, foi assinado um contrato entre Manuel Chang, o BNDES e a Andrade Gutierrez, prevendo uma linha de crédito de 320 milhões de dólares. A verba foi encaminhada para um consórcio formado pelas empreiteiras Zagope Construções e Engenharia, controlada pela Andrade Gutierrez, e Fidens Engenharia, responsáveis pelo projeto de construção da barragem no país africano. A Zagope, adianta a imprensa brasileira, é uma empresa que tem sido visada pelos procuradores que investigam casos de corrupção no Brasil, incluindo o sonante “Lava Jacto”, que já levou a várias detenções de figuras ligadas ao Partidos dos Trabalhadores, de Dilma Roussef.

S ão no total 234 estudantes, na sua maioria a frequentar cursos de licenciatura e cerca de 15 no nível de mestrado que, durante o último trimestre de 2015, não tiveram seus subsídios de bolsas. Numa missiva ao SAVANA, aqueles bolseiros moçambicanos em diferentes anos, na Argélia, referem que o atraso na canalização do dinheiro por parte do governo mo- çambicano chega a obrigar algumas raparigas a se prostituírem para conseguir sobreviver num País cujo custo de vida tende a se agravar. Na sua maioria a cursar engenharias e geologia, esta última área que é aposta das autoridades moçambicanas visando fazer face à indústria extractiva, os estudantes têm direito, individualmente, a USD 525 por trimestre. Mas foi a 16 de Julho do ano passado que receberam aquele que acabou por ser o último subsídio do ano. Era referente ao terceiro trimestre. O quarto devia ter sido pago em Outubro, mas até 05 de Janeiro de 2016 os estudantes continuavam à espera. Enquanto o dinheiro não chegava, dizem, “não tivemos uma justifica- ção coerente por parte da embaixada de Moçambique na Argélia, que é o órgão responsável pela transacção do valor para as contas dos estudantes”. Afirmam que vezes sem conta a embaixada remeteu-se ao silêncio, mas diante das insistências dos lesados, respondeu que Moçambique estava sem fundos devido à subida do dólar, que chegou a romper a barreira dos 60 meticais. Porém, “em Julho e Setembro, a em- 2VHVWXGDQWHVGL]HPTXHDYLGDÀFRXGLItFLOQDTXHOH3DtVDIULFDQR Bolseiros na Argélia sem subsídios ,QVWLWXWRGH%ROVDVGH0RoDPELTXHMXVWLÀFDRDWUDVRDOHJDQGRGpÀFHRUoDPHQWDO 3RU$UPDQGR1KDQWXPER baixada organizou dois mega eventos, tendo alguns estudantes como convidados, em locais hyper, com carros e banquetes luxuosos, equivalentes a fortunas” relacionam, questionando “como alegam que Moçambique está sem fundos para pagar os estudantes?”. Sublinham os queixosos que passaram a quadra festiva numa situação caótica, dada a subida do custo de vida na terra de Ahmed Ben Bella, mas também porque o natal e o fim de ano coincidiram com o período de férias, durante o qual o restaurante universitário estava encerrado. Repisam que o subsídio já não é sufi- ciente para cobrir necessidades básicas como material escolar, alimenta- ção, produtos de higiene e transporte e outros porque o custo de vida disparou. “Ao menos se cobrissem um prato de comida durante a quadra festiva, o que não aconteceu”, lamentam, reportando que dependem, inteiramente, desse subsídio, pois o Instituto moçambicano de Bolsas garantiu- -lhes que era suficiente e que os pais poderiam ficar tranquilos, o que não é o caso. Passamos as férias de duas semanas (entre 17 de Dezembro e três de Janeiro), sem algo para comer, festas sem nenhuma garantia de pelo menos um prato de comida na mesa, algo triste mesmo”, afirmam. Sublinham que temem que a situação condicione o seu aproveitamento pedagógico, que para uma boa colheita no ensino “é necessário que a pessoa esteja bem consigo mesma, poucas preocupações, mas se estamos na aula e a pensar em como vamos fazer para comer ou chegar a casa; em onde vamos arranjar sabonete para tomar banho; onde vamos escrever, isso perturba o aproveitamento pedagógico”. Até falam de prostituição como consequência do atraso. Neste tipo de situação, as nossas miú- das, sendo as mais sensíveis, para poderem ter o que comer são obrigadas a se prostituírem”, denunciam. Agastados, dizem que até pensaram em desistir, mas a única coisa que os motiva a continuar é a formação que o governo Argelino lhes proporcionou. Manifestar-se é o que está totalmente fora das suas equações, devido à experiência amarga no passado. “Já pensamos em manifestação, mas na primeira manifestação que fizemos em Fevereiro de 2012, devido ao mesmo problema, a embaixada amea- çou deportar as pessoas que pensarem em fazer algum tipo de manifestação, por isso que desta vez ficamos inatos, confessam ao SAVANA. “Estão a exagerar” - Director-geral adjunto do Instituto de Bolsas A este semanário, o director-geral adjunto do Instituto de Bolsas de Estudo (IBE) de Moçambique confirmou o atraso, mas classificou a versão dos estudantes como exagerada. Miguel Inácio começou por explicar que aqueles estudantes beneficiam de uma bolsa de estudo, completamente, suportada pelo Governo argelino, sendo que Moçambique comparticipa com algum subsídio apenas para reforçar. Admitiu, entretanto, que em 2015, o IBE pagou apenas três trimestres. Tivemos dificuldades no quarto trimestre. Não tínhamos capacidade de pagar os últimos três meses porque tivemos défice orçamental”, assumiu Miguel Inácio. Contudo, avançou, o dinheiro viria a ser transferido em Dezembro para a embaixada, mas como o processamento leva seu tempo, o subsídio, por sinal referente apenas a dois e não aos três devidos, só chegou aos destinatários nos princípios de Janeiro corrente. Negou que os visados estejam a passar por situações extremas, informando que, além do pagamento das propinas e alojamento, o Governo argelino canaliza a todos os estudantes bolseiros naquele País, incluindo os moçambicanos, outro subsídio cuja quantia não precisou. Por isso é que o director-geral adjunto do IBE não acredita que haja estudantes moçambicanas metidas em prostituição na Argélia, entendendo que essa é uma afirmação excessiva dos estudantes por estarem zangados devido ao atraso do dinheiro. Entretanto, ao fecho desta edição, o SAVANA voltou a contactar os queixosos que confirmaram terem sido informados, no passado dia 07, da disponibilidade do subsídio referente aos meses de Outubro, Novembro e Dezembro, mas à metade, não tendo informação ainda sobre quando irão receber o remanescente, o que classificaram de algo muito triste.

Um grupo de cinco professores, em representação de um total de 44 profissionais da educação, denunciou, esta semana, ao SAVANA, o “encerramento ilegal” do curso nocturno, na Escola Secundária Estrela Vermelha, um estabelecimento de ensino no centro da cidade de Maputo, paredes-meias com o populoso mercado que leva o mesmo nome e conhecido por se dedicar à venda de peças de viaturas, muitas delas provenientes de contrabando. Os professores denunciaram também aquilo que consideram “rescisão ilegal dos contratos de trabalho”, mas tanto a direcção da Escola, como a de Educação e Cultura do Distrito Municipal de Kapfumo, refutam todas as acusações. Segundo estes, que afirmam ter recebido a informação via sms, aquela escola ainda está em condições de leccionar no curso nocturno, visto que para este ano ia contar com pelo menos 724 alunos. “Tínhamos 733 alunos que frequentavam o curso nocturno no ano passado e na décima classe só passaram nove, o que significa que neste ano teríamos 724”, afiançaram as fontes, mostrando-nos a pauta de frequência que, entretanto, não estava assinada. Segundo estes, a direcção da Cidade de Maputo mandou encerrar aquele período lectivo, alegando existência de um fraco efectivo, constatação que, segundo estes, foi feita a partir de dados viciados pela direcção da escola. “A Escola Secundária Estrela Vermelha tinha o maior efectivo do curso nocturno, ao nível do Distrito Municipal de Kapfumo”, advogam. Segundo aquele grupo de docentes, esta decisão foi tornada pública através de uma sms, a duas semanas do término do ano de 2015. “Não tivemos nenhuma comunica- ção oficial. Apenas recebemos sms a dizer que a partir deste ano não haveria curso nocturno na Escola”, revelam as fontes, visivelmente agastadas. A decisão, segundo eles, afecta 724 alunos que também não foram informados, atempadamente. “Em Outubro, a direcção da escola apresentou o cronograma das actividades para este ano e informou os alunos que de 04 a 20 de Janeiro deste ano decorreriam as matrículas. Mas, quando chegaram este ano, apenas viram que os seus nomes constavam de listas que estavam sendo distribuídas pelas escolas circunvizinhas”, sublinham. “A Escola Secundária Estrela Vermelha está numa localização estratégica, porque está no ponto de encontro de todas as saídas e entradas da cidade, seja para quem vem da Matola, assim como de Magoanine ou Zimpeto”, repisam. Segundo estes, a encerrar-se o curso nocturno, não devia ser este ano, Curso nocturno na Escola Secundária Estrela Vermelha Professores denunciam “irregularidades” no processo Por Abílio Maolela pois, o processo é faseado, partindo-se da menor classe até a maior (da 8ª à 10ª classe) e o processo tem a duração de, no mínimo, um ano. “Quando se fecha uma escola, o processo é faseado. Primeiro, encerra-se a 8ª classe, depois a 9ª e, por último, a 10ª classe”, garantem. As irregularidades cometidas naquela escola, segundo aquele grupo de docentes, não param por aqui. Estes dizem que antes de circular a sms dando conta do encerramento do curso nocturno, houve uma comunicação (esta já oficial), de que os 44 professores contratados para darem aulas naquele período iam rescindir os seus contratos a 31 de Dezembro de 2015, facto que contraria os procedimentos contratuais na função pública. O Estatuto dos Funcionários e Agentes do Estado refere que, para a rescisão do contrato, o pré-aviso deve ser de 120 dias e, para término do mesmo, este deve ser feito com uma antecedência de 60 dias. “Fomos avisados no dia 05 de Novembro que iam rescindir os contratos connosco no dia 31 de Dezembro. Os contratos de maior parte de nós terminam em Setembro deste ano, porque os mesmos eram bienais”, disse um dos lesados. Director da Escola MXVWLÀFD VH Entretanto, a direcção da escola refuta todas as acusações. Com recurso ao relatório da inspecção da Direcção da Educação da Cidade de Maputo, o Director da Escola Secundária Estrela Vermelha, Gilberto Reis, contou que o curso nocturno foi encerrado devido ao fraco efectivo verificado naquela institui- ção, conjugado com o absentismo dos professores naquele período. Dados apresentados à nossa reportagem, pelo Director da escola, Gilberto Reis, indicam que de 2015 para 2016 transitaram 590 alunos, sendo 101 na 8ª classe, 106 na 9ª classe e 383 na 10ª classe. Dispondo de 38 salas de aulas, para o curso nocturno, aquela escola utilizava 18 salas e para este ano baixaria para 15, número considerado inferior. “Constatamos que o investimento era maior que a recompensa. Temos 38 salas a funcionar, mas apenas 18 é que estavam ocupadas e mesmo essas não tinham mais de 20 alunos nas salas, dos 40 que deviam ocupar cada sala”, revela Reis. “Os professores também faltavam muito. A maior parte deles eram contratados”, disse Reis, mostrando um documento da assiduidade dos docentes. O documento exibido por Reis à nossa reportagem mostra que um professor chegava a ter 66 faltas por mês. Reis explica também que esta decisão não foi tomada ao acaso e que o problema é antigo e não é exclusivo daquela escola e nem daquele perí- odo lectivo. “Este problema não é novo e nem nosso. É um problema de Kapfumo. Não temos alunos, porque a maior parte deles vem dos distritos suburbanos. Estrela Vermelha avançou com o encerramento, mas podia ter sido a Francisco Manyanga ou Josina Machel, que reclamaram em primeiro”, sublinha. “Este problema verifica-se também no curso diurno, onde temos salas a serem ocupadas por poucos alunos (entre 35 a 40), mas agrava-se no curso nocturno porque as pessoas não vem à Escola”, acrescenta. “Não posso dizer a inspecção fechar a escola, porque não tenho capacidade e nem interesse nisso. Sentiremos falta dos alunos do curso nocturno, porque o pouco valor que cobrávamos dava para pagar os nossos funcionários. Sendo assim, teremos de diminuir a mão-de- -obra, porque não teremos capacidade para pagá-la”, salienta. “A escola é muito grande e mantemos a iluminação durante a noite por toda a escola para garantir a segurança de todos. Isso é muito oneroso. Por isso, preferimos juntar os alunos na mesma escola, do que dispersá-los, enquanto há espaço para agrupá-los”, finaliza aquele gestor escolar. Gilberto Reis esclarece ainda que os professores não foram informados acerca do encerramento do curso nocturno, porque já não tinham contrato com a Direcção da Educa- ção da capital do país. “Como íamos informar a alguém que já não tinha nenhum vínculo contratual connosco?”, questiona Reis. Rescisão dos contratos Por seu turno, a Directora da Educação e Cultura do Distrito Municipal de Kapfumo, Hortência Cossa, salientou que o seu distrito é que apresenta menor efectivo ao nível da cidade de Maputo. “Em 2014 constatámos que o efectivo da Estrela Vermelha era menor e, no início do ano lectivo de 2015, reunimo-nos com a direcção da escola e orientamos a mesma a organizar as turmas conforme o regulamento (40 a 45 alunos). Mas, durante a inspecção feita no ano passado, voltamos a constatar que o efectivo era menor (23 a 30) e a proposta foi de encerrarmos o curso nocturno”, conta Cossa. Porque o problema é generalizado ao nível da zona cimento, a direc- ção da educação decidiu afectar os alunos da Estrela Vermelha às escolas circunvizinhas (Eduardo Mondlane-Xitlango e Francisco Manyanga). Questionada sobre os procedimentos, Hortência Cossa disse que para a eliminação do curso nocturno foram observados todos os cenários e constatou-se que nenhum aluno seria afectado pela decisão. “Por uma questão de racionalização dos recursos, não podíamos continuar com os gastos, em todas as escolas, enquanto podemos reduzi- -los para uma e única escola”, sublinha. Porém, aquela dirigente garantiu que a rescisão dos contratos com os professores não tem nada a ver com o encerramento do curso nocturno. Cossa revela que esta medida abrange todos os professores contratados ao nível da cidade capital. “Os professores já sabiam que iam rescindir os contratos. Tivemos uma reunião com todos os professores contratados, na Josina Machel, onde foi discutido este ponto e, em Novembro, apenas houve a formalização do processo”, esclarece.

O pedido vem do jornal “Diário 24 horas” da Bulgária, mais precisamente da jornalista Alexenia Dimitrova que nos 15 anos registou 250 casos de sucesso em matéria de reuni- ões familiares e de amigos. Trata-se de descobrir o paradeiro de António Liguaca, nascido a 15 de Junho de 1964 em Cabo Delgado, estudante de Agronomia na Bulgária entre 1990 e 1995 e que depois regressou a Moçambique, traAntónio Biche Liguaca Colegas na Bulgária procuram-no balhando aparentemente no sector agrícola na sua província natal. Os seus amigos em Sófia lembram-se de ele mencionar um primo, diplomata moçambicano em Moscovo, com o nome de António Taiali. Os amigos que o conhecem, ou o próprio, podem contactar do jornal SAVANA, que como aconteceu várias vezes no passado, gostaria de se associar a esta estória e co-patrocinar mais uma reunião com final feliz. (admc@mediacoop.co.mz ou via telephone 21301737).

V estem marcas como Billabong e Reebok ou “shortinho”, no caso das meninas, cortam “crista” à Balotelli, e usam o último Ipad, nunca foram a Mueda nem a Muidumbe, mas entregaram-se para viver em reclu- ídos por 30 dias e 30 noites, a partir do dia 05 de Dezembro do ano passado. Saíram do isolamento no último domingo, dia 10, os rapazes envergando terno e as meninas com finos recortes de cetim, tudo muito contemporâneo. São a última gera- ção da etnia maconde em Maputo a passar pelos ritos de iniciação, a mais de dois mil quilómetros do berço da principal marca de água identitária do grupo populacional que mais guerrilheiros forneceu à Frelimo na luta contra a dominação colonial portuguesa. “Se estivéssemos lá na terra, em Mueda, estaríamos à espera dos meninos e das meninas a beber upombe e likamba ou o que vocês cá no sul chamam por thothonto, mas aqui é na capital, bebemos isto”, diz ao SAVANA, Felisberto Ululu, içando uma Heineken, por entre a multidão que espera com cânticos e danças pelas meninas e meninos que terminaram cerca de 30 dias de lições da terra dos seus pais, que os vão acompanhar pelo resto das suas vidas. De resto, para animar a recta final da cerimónia, a Cervejas de Mo- çambique colocou lá uma caravana com tambores de cerveja, vendida a preços de oferta. O local que vai acolher o acto final dos ritos de iniciação dos macondes de Maputo também é “contra- -natura”. Não tem nada a ver com um baldio qualquer de uma aldeia de Nangade ou Chai, em Cabo Delgado. A cerca feita de corda de “nylon” está “paredes-meias” com uma antiga capela da Igreja Cató- lica no coração do “mítico” Bairro Militar, um despojo da guerra colonial para onde foi viver o grosso da etnia maconde, após a independência de Moçambique, em 1975. “A capela é agora usada pela igreEm Maputo Macondes de Ipad e “shortinhos” foram aos ritos de iniciação Por Ricardo Mudaukane (Texto) e Mauro Vombe (Fotos) ja dos 12 Apóstolos e pela Igreja Universal do Reino de Deus”, narra Ululu, um maconde de 52 anos, “ritualizado” em Mueda, aos 13 anos, sobre o destino dado à infra-estrutura da Igreja Católica, que veria como uma heresia a solenidade ali realizada no Domingo. Depois das 14:00, a entrada de rapazes com idades entre 15 e 25 anos, trajando camisetes vermelhas com nomes que soam a alcunha e diminutivos e com batuques e apitos a tiracolo, não engana. Algo sé- rio está para acontecer. E acontece. Duas colunas de meninas dirigem- -se à entrada da vedação ao lado da capela. Sob ordens de um mestre mais velho, visivelmente inebriado e com o peito repleto de colares de missangas, entram na cerca e posicionam- -se para a dança, levando a multidão, parte dela empoleirada no tecto da antiga Igreja Católica, ao êxtase, exacerbado pelo calor inclemente do verão de Maputo. Ao ritmo das batucadas dos rapazes, as adolescentes, com idades entre os 10 e os 15 anos, coreografam com força os números que ensaiaram durante o tempo de reclusão. “Tudo ali tem sentido, a mão esquerda que faz um “yó-yó” para o ar e para a parte íntima das meninas significa que foram preparadas para cuidar com responsabilidade e amor do futuro marido”, explica Sousa Zamana, um jovem “maconde” ritualizado em 2008 e que interrompeu o curso de Direito na faculdade, da UEM, ali ao lado, onde se ensina o rito processual do direito da Família Romano-Germânica. Nascidas e a fazerem-se mulheres no Bairro Militar, Sommerschield ou Coop, elas não têm as escarifica- ções que são a marca registada das suas mães e avós. Se calhar, daqui a alguns meses, terão partes do corpo tatuadas com o nome de uma artista de uma “girls band” ocidental, talvez de uma Beyoncé ou de uma Nicki Minaj. Além de terem aprendido a importância de satisfazer o homem na cama, também lhes foi ensinado que o marido se conquista pela comida. O gesto em que elas mexem a panela numa das coreografias mostra que estão prontas para “pilotar o fogão”. “Nasci e cresci em Maputo, mas sem os ritos de iniciação não me sinto completa, sou uma estrangeira na minha própria etnia, é algo que eu sempre quis, para sentir parte da minha identidade étnica”, relata Ágata Faustino, que teve o seu “baptismo” tradicional em 2001 e está agora com 26 anos. Ao passar pelos ritos de iniciação, prossegue, sentiu-se uma verdadeira mulher maconde e diz que aprendeu lições que se estão a mostrar importantes na vida académica, profissional e conjugal. “Os ritos de iniciação são uma grande escola, aprende-se o respeito, caridade, amor e determinação”, sintetiza Ágata, que diz que sempre que pode não perde a festa dos ritos de iniciação no Bairro Militar. Após cerca de 30 minutos de dan- ça, as meninas, já ritualizadas e exaustas, retiram-se do palco de areia e são logo recebidas por familiares do sexo feminino que as cobrem completamente a cabeça e as encaminham aos carros, alguns topo de gama, que esperam a poucos metros, de onde seguirão para casa, para uma festa já mais mundana em honra aos novos membros da comunidade. pessoal e da família, sobre a caça para a sobrevivência, a ser um genro obediente e marido determinado, mas também o respeito pelos mais velhos, explica Felisberto Ululu, já a arrastar algumas palavras encravadas entre doses de Heineken. Os rapazes dirigem-se para um mangal ao lado da capela, onde vão receber de duas matriarcas uma un- ção de cor prateada que nenhum dos familiares sabe explicar de que é feita. “Pergunte às vóvós”, responde um jovem que espera pelo seu irmão mais novo, ante a pergunta sobre o conteúdo daquele líquido que as duas mulheres põem com o dedo na testa dos miúdos. “Dá lá 100 (meticais)”, grita o mestre mais velho para o irmão de um miúdo que acaba de ser benzido e teve a “grande sorte” de a unção não se desviar de trajectória entre a testa até à divisão das ventas. “Vai ser um miúdo direito”, explica o mestre, justificando o preço do “milagre” Logo que o untado, de cabeça coberta com o véu de capulana, aparta-se dos que ainda não receberam a bênção, é cumprimentado pelos parentes. O familiar toca a sua testa com a do ritualizado e levanta- -o duas vezes com força, em sinal de “já estás crescido, rapaz”, como manda o protocolo. Como fizeram as meninas, os rapaPara trás, ficaram as roupas do cárcere voluntário, literalmente queimadas para dar lugar a uma nova maconde. As miúdas já podem ver o pai e outros homens, porque estavam privadas disso durante a reclusão e entregues aos cuidados das madrinhas e matronas. Os futuros patriarcas macondes Após um interlúdio de cerca de 30 minutos, um grupo de rapazes sai de um armazém decrépito que foi a sua casa nas últimas quatro semanas, bem perto da capela. “Se fosse em Mueda, sairiam de um mato isolado da aldeia”, contextualiza Felisberto Ululu, “corroborado”, por um aceno de cabeça, por um familiar que acompanha a conversa. Ali aprenderam lições de defesa zes, incluindo alguns matulões que não foram baptizados a tempo, hão- -de ir dançar na vedação ao lado da capela, mas com maior energia, para mostrar a força maconde, a mesma de que a Frelimo tanto precisou para que no domingo fosse possível ver ritos de iniciação num local cercado pelo glamour de Maputo. E depois já podem ver as mulheres, porque, contam os presentes, durante os 30 dias não podiam passar por perto, mesmo que o armazém seja ladeado por um caminho muito movimentado da “Colômbia”, o outro nome do Bairro Militar, em “honra” à fama de ali ser um alegado ponto de venda de drogas. “Se as mulheres passam perto dos rapazes que estão a ser ritualizados… podem ser violadas”, diz, com hesitação, Felisberto Ululu.

C om um discurso promissor de quebra de ciclo, principalmente no que toca à abertura para auscultação das opiniões provenientes dos diversos segmentos da sociedade civil e um manifesto desejo de liderar um novo ciclo de coesão nacional, onde o povo é patrão, Filipe Nyusi tomou posse como o quarto presidente da República saído das eleições de 15 de Outubro de 2014, ainda contestadas pela Renamo e o seu líder Afonso Dhlakama. Passa nesta sexta-feira um ano após a tomada de posse de Filipe Nyusi e o SAVANA saiu à rua para ouvir as percepções sobre o desempenho do Presidente. Parte considerável dos analistas faz uma avaliação negativa da estreia de Nyusi, alegando que prometeu muito e fez pouco. Para estes, o PR não conseguiu resolver dossiers quentes como a manuten- ção da paz e estabilidade nacional que são condições necessárias para o desenvolvimento do país. Diferentemente do anterior Chefe de Estado, apontam que este ainda não apresentou o fio condutor da sua governação e limita-se somente a discursos e exposição de ideias que dificilmente se materializam. Ainda na ressaca da contestação dos resultados eleitorais pelo maior partido da oposição, a Renamo, cheias na Zambézia e tragédia de Chitima, Filipe Nyusi era investido ao cargo de presidente da República. Na ocasião, o seu discurso foi bem acolhido pela generalidade da opinião pública, pois dava indicações que seria um Chefe de Estado mais aberto quando comparado com o seu antecessor. Falou da aposta na inclusão, o que pressupunha olhar para a meritocracia dos indivíduos e\ou das ideias, o que passava por não dar atenção às cores partidárias. Hoje fecha o primeiro dos cinco anos que estará a dirigir o Governo e a manutenção da paz e estabilidade nacional continua sendo o grande desafio, numa altura em que o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, vai mostrando sinais de esticar a corda. A situação económica do país não “O Patrão” tem a palavra Nyusi foi fraco no ano de estreia Por Argunaldo Nhampossa é das melhores. A dívida externa começa a emitir sinais de preocupação, o metical deprecia, a infla- ção rompeu a barreira de um dígito (10.55%), o último inquérito sobre o orçamento familiar (IOF) mostrou uma vez mais que a maioria dos mo- çambicanos continuam pobres, com agravante da seca que afecta as províncias do sul do país. Falta identidade governativa O académico Celestino Vaz Joanguete, docente da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane, avalia de forma negativa o primeiro ano de governação de Filipe Nyusi. Argumenta este posicionamento afirmando que o PR não fez nada de vulto para a melhoria das condições de acesso à educação, saúde e transportes públicos, sectores que faziam parte das prioridades no seu manifesto eleitoral. O docente universitário defende que o Chefe de Estado limitou-se ao discurso de apaziguamento dos diferentes momentos quentes que o país viveu e a um puro lançamento de ideias, cuja materialização está longe do alcance. Mesmo assim, refere que os discursos não foram abrangentes porque a tónica dominante nas conversas é crise económica que assola o país, mas em contrapartida ninguém se dá tempo de explicar ao povo com recurso a uma linguagem simples o que isso significa, sendo que este sente apenas o impacto disso no crescente custo de vida. Segundo Joanguete, é preciso esclarecer o povo a real dimensão da dívida do país, quanto estamos a dever e quais os sacrifícios que o povo deve consentir para o respectivo pagamento. Diz que, diferentemente do anterior presidente Armando Guebuza, que apesar das contestações populares mostrou através de actos que as infra-estruturas eram a sua prioridade, a governação de Nyusi ainda padece de identidade, ou seja, ainda se desconhece a respectiva marca. O docente universitário é da opinião que é chegado o momento de Nyusi tomar as rédeas da governação e agir, levando a cabo acções para a materialização do seu manifesto eleitoral. Mas antes de mais, acrescenta o docente, é preciso que encontre uma solução urgente para resolver a questão da paz e da estabilidade nacional que são a base para tudo. 'LVFXUVRÀFRXYD]LR Quem também ainda não viu nenhuma acção marcante de Nyusi no seu ano de estreia, fora do seu discurso inaugural que o classifica como tendo sido ambicioso, é a activista social das causas da mulher, Graça Samo. Graça Samo é da opinião que o discurso inaugural de Nyusi foi pertinente na altura para amainar os ânimos da sociedade que vinha desavinda com o anterior presidente devido a sua política de exclusão, a violência vivida na campanha eleitoral e a tensão que se verificou após o anúncio dos resultados. No entanto, diz que hoje se verifica uma grande disparidade entre o discurso e a prática e lamenta o facto de não se ter usado o mesmo para servir de guia governamental. Avança que todas as promessas fi- caram no tempo e no espaço, as dificuldades do povo para sobrevivência e acesso a serviços básicos avolumam-se cada vez mais. Graça Samo lembrou que Filipe Nyusi assegurou que a transparência nortearia as instituições públicas, mas o seu governo nada esclareceu sobre a EMATUM. “Investiu muito nas Forças de Defesa e Segurança sem que isso representasse mais segurança para o cidadão, porque os raptos continuam e o balanço da quadra festiva do MISAU fala do agravamento de violações de mulheres e crianças”, lamenta. A actvista do Fórum Mulher aponta que o discurso presidencial caiu no vazio, os impasses do diálogo político goraram as expectativas do povo que tanto anseia pela paz. Para resgatar a sua imagem, sugere ao PR para interiorizar o seu discurso de tomada de posse e a resolução do diferendo com a Renamo para que se alcance a paz. Faltou liderança Outro cidadão ouvido pelo SAVANA que entende que faltou lideran- ça no primeiro ano do Presidente Nyusi é Egídio Vaz, historiador e analista político. Vaz afirma que 2015 foi difícil para PR e, consequentemente, para o seu governo e o resto dos moçambicanos, devido à falta de solução para a tensão polí- tica e a delicadeza da situação económica. Por causa deste último ponto, Vaz diálogo. No entender de Egídio Vaz, estas contradições devem-se à forma como está estruturado o partido, pois, da forma como está, representa interesses no governo anterior, pelo que depois da II Sessão Extraordinária do Comité Central de Fevereiro espera que Nyusi consiga ter ferramentas para se afirmar como dirigente. Para o presente ano, Egídio Vaz coloca três desafios ao PR. O primeiro prende-se com a descentralização, onde o parlamento deve assumir a dianteira para a revisão da constituição que permita a acomodação de alguns pontos inquietantes. Trata-se da eleição dos governadores, a nomeação do PGR e as competências do Governo. O segundo desafio é a aposta na boa governação, porque de acordo com o historiador, há casos de relações incestuosas entre dirigentes políticos e o sector empresarial. “Há que combater a corrupção e não deixar que ela seja entrave à governação como está a acontecer até ao preciso memento, uma vez que há dirigentes que tinham de estar presos”, sublinha. Tal como os outros, Vaz colocou a paz e a reconciliação nacional como o seu último e o mais pertinente desafio. 7URX[HPXLWDVLQFHUWH]DV O presidente do Parlamento Juvenil, Salomão Muchanga, diz que falta uma agenda clara ao PR e, como consequência disso, o país andou todo o ano passado à deriva e no meio de incertezas políticas e económicas. No entender de Muchanga, faltou capacidade de liderança nas acções promovidas pelo governo, principalmente no que toca ao diálogo polí- tico com a Renamo. Precisou ainda que continuam visíveis os sinais de exclusão política, falta de uma agenda clara de desenvolvimento que possa trazer mais emprego para jovens, educação e saúde qualidade. Líder de uma as organizações juvenis mais vibrantes que o país já teve, Muchanga exorta os jovens a apostarem com acções de advocacia para resgatar os seus direitos. refere que Nyusi não teve dinheiro que necessitava para investir no seu projecto de governação. Deixando estas adversidades, aponta que faltou o sentido de lideran- ça ao Chefe de Estado, porque não conseguiu impor as suas linhas de pensamento, não teve instrumentos para colocar o seu governo e partido a falar em uníssono sobre a tensão política e cada um apresentava um discurso dissonante. O pesquisador diz que sentiu a ausência de mecanismos para impor disciplina, porque não se percebe como é que um governo/partido pode agir fora do comando do seu presidente, ou seja, havia práticas que iam contra o seu discurso oficial e cada ala dizia o que queria. Isto porque, de acordo com Vaz, havia três alas que defendiam princípios diferentes: Havia uma radical que entendia que a via militar era a melhor solução para a busca da paz. A segunda ala apostava nos discursos belicistas para responder à Renamo, sendo que Nyusi estava no meio falando da necessidade da aposta no Presidente do Conselho Constitucional, Hermenegildo Gamito, conferiu posse a Filipe Nyusi precisamente há um ano Celestino Joanguete Graça Samo Egídio Vaz Salomão Muchanga.

O uvido esta terça-feira pelo SAVANA sobre o rumo que a Frelimo e o país irão seguir a partir de 05 de Fevereiro, depois da II Sessão Extraordinária do Comité Central (CC) do partido, Adriano Nuvunga, docente de Ciência Política e director-executivo do Centro de Integridade Pública (CIP), considera que a reunião será de consagração de Filipe Nyusi e do fim do “guebuzismo”. “Vamos ficar a falar de Guebuza, porque do mesmo jeito que temos pessoas que até hoje são samorianas, vamos ter algumas que são guebuzistas até morrer. Mas nesse dia se consagrará o fim do guebuzismo”, afirmou Nuvunga. Para o académico, a ruptura é inevitável, devido à diferença de estilo de governação entre o anterior e o actual chefe de Estado. Contrariamente ao seu antecessor, prosseguiu Adriano Nuvunga, o actual presidente do partido e chefe de Estado tende a centrar a sua acção desenvolvimentista em torno do Estado e não na Frelimo e essa orientação levará a que haja cada vez menos lutas renhidas dentro do partido, porquanto este passará a não dar grandes benesses. Mesmo sem descurar a sobreposição da Frelimo sobre o Estado, o director-executivo do Centro de Integridade Pública (CIP) defende que essa lógica, apesar de estar na sua fase inicial ainda, já se está a alterar, o que torna cada vez menos apetecível a luta dentro do partido, dado que já não oferece o mesmo tipo de benefícios que dava nos 10 anos de governação de Armando Guebuza. “Foi Guebuza que fez com que fosse o partido o centro da distribuição dos recursos e ele como a figura máxima e todos os secretários, cada um a seu nível, chamavam o ministro, o governador, o administrador e mandavam trazer galinhas e outras coisas que se não trouxesse seria tirado do cargo”, referiu. Para Adriano Nuvunga, na sessão de Fevereiro, Filipe Nyusi vai substituir quadros do tempo de Armando Guebuza, porque ele quer afirmar-se como líder do Estado que, obviamente, tem o partido como a sua arma de traPróximo Comité Central marca fim do “guebuzismo” - Adriano Nuvunga -Docente de Ciência Política contraria colegas seus como João Pereira e Domingos do Rosário, que defendem que não será na sessão de Fevereiro que Filipe Nyusi passará a mandar no partido Por Armando Nhantumbo balho político. No entendimento de Nuvunga, no próximo conclave, poderão safar-se os quadros dirigentes que se adaptaram à forma estatista de Nyusi. “Foi Guebuza que colocou o Estado ao serviço do partido, mas Nyusi está no movimento contrário em relação a isso. Assim sendo, as pessoas do partido também já compreendem que a questão mais importante já não é só ser primeiro secretário de um nível qualquer para começar a mandar nos dirigentes do Estado”, observou. Recorrendo aos seus conhecimentos de Ciência Política, Adriano Nuvunga explicou: “Política é lutar, conquistar, manter e exercer o poder. Exercer o poder é distribuir prendas para os amigos e não dar aos inimigos e adversários. Guebuza é que fez isso. Agora acabou. Quem tem o Orçamento do Estado à sua frente, como quer distribuir, a quem quer dar, etc, é Nyusi. Podem dizer o que quiserem sobre o partido, mas ninguém do partido distribui nada, quem distribui é Nyusi”, insistiu, defendendo que a 05 de Fevereiro de 2015 “consagra-se o fim do guebuzismo”. ´1mRVHUiGHVWDYH]TXH1\XVL YDLGHVWURQDURJXHEX]LVPRµ - João Pereira Quem discorda de Adriano Nuvunga é o também docente de Ciência Política, João Pereira, que manifesta dú- vidas quanto a mudanças na Frelimo. Para Pereira, seria interessante se Filipe Nyusi conseguisse apagar tão rapidamente os vestígios do “guebuzismo”, mas considera que tal missão é espinhosa e não será na próxima sessão do CC nem no próximo Congresso da Frelimo (em 2017, caso não seja antecipado) que o actual chefe de Estado conseguirá acabar de vez com a influência de Guebuza no partido e no Governo. O politólogo argumentou que, desde os seus tempos de ministro, que Armando Guebuza vinha criando alian- ças na Frelimo, por isso, não será em dois nem em cinco anos que um filho de combatentes pode destronar aquele que esteve de armas em punho na luta para a libertação do País. “O que estou a dizer é que não será em cinco anos que se vai apagar o que vem de há mais de 10 anos. O presidente Guebuza não é de hoje. Não caiu de paraquedas. Desde os tempos de ministro foi se preparando, criando alianças, para um dia chegar ao poder”, disse o professor universitá- rio, para quem, diferentemente dos dirigentes mais novos na Frelimo, Guebuza tem a vantagem de ter sido um combatente da luta de libertação nacional. “Apesar de ser filho de antigos combatentes, o presidente Nyusi não é veterano da luta, por isso, precisará de fazer alianças com os históricos da Frelimo”, destacou. E mais, contrariamente a Armando Guebuza, prosseguiu o politólogo, que teve dois anos como Secretário- -geral antes da sua eleição para candidato presidencial, a organizar o partido ao seu gosto, Filipe Nyusi não passou do cargo de Secretário-geral da Frelimo. O docente de Ciência Política entende que Armando Guebuza deixou de ser uma figura e tornou-se numa cultura cuja presença era tão forte de tal modo que, mesmo depois de sair do poder, ministros há que dormiam e acordavam pensando nele, pelo que Filipe Nyusi precisaria de dez ou mais anos para lograr tal decapitação. Por isso, anteviu, na Matola, Filipe Nyusi terá de encontrar um ponto de equilíbrio entre os vários interesses que gravitam em torno do seu partido. Lembrou que na Frelimo houve sempre vários grupos de interesse, mas sempre reinou a noção de coesão para a salvaguarda do partido. “Terá de se encontrar formas de acomodação e eles (os camaradas) são especialistas em fazer alianças para manter a coesão que é fundamental para a estabilidade do próprio partido, para manter o poder e até para a estabilidade do País”, observou, alertando que a eclosão de uma contradição na Frelimo pode resultar num caos para o partido e até para o País. $VPXGDQoDVQmRVHID]HP por decreto - Domingos do Rosário Por seu turno, o professor de Ciência Política, Domingos do Rosário, também está céptico quanto ao fim do “guebuzismo” na sessão de Fevereiro. Argumenta que as mudanças não se fazem por decreto, pelo que a reestruturação que Nyusi pode vir a fazer em si não pode eliminar o legado do seu antecessor. “Estou a dizer que pode sair, do Comité Central uma decisão de que Nyusi nomeou pessoas de sua confiança, isso ele pode fazer, não há dúvidas”, admitiu o professor, questionando se “será isso que vai fazer com que, de hoje para amanhã, Nyusi passe a governar”, plenamente. Para Domingos do Rosário, “há poderes que bloqueiam o presidente”. Rosário reiterou que o presidente do partido tem todo o poder para fazer alterações na Comissão Política (CP) e no CC, mas são mudanças que, na sua óptica, não farão a máquina Frelimo funcionar ao sabor de Nyusi, porque há pessoas que continuarão a bloqueá-lo por muito mais tempo. “Nyusi não vai governar este País”, sentenciou. Adriano Nuvunga.

O julgamento dos 17 jovens angolanos activistas de direitos humanos, acusados de actos preparatórios de rebelião, foi retomado nesta segunda-feira, em Luanda, com a audição do primeiro de mais de 50 declarantes. Segundo noticia a agência Lusa, na audição desta segunda-feira, em que estiveram presentes todos os réus, 15 dos quais em prisão domiciliária, foi ouvido o padre Pio Wacussanga, da Arquidiocese do Lubango, membro integrante do suposto governo de salvação nacional, indicado para assumir a pasta de presidente da Comissão Nacional Eleitoral. Este suposto executivo governativo, apresentado como prova no processo contra os réus e que terá resultado de uma escolha nas redes sociais, é composto por um conjunto de pessoas que supostamente iriam substituir o governo legitimamente eleito, tendo Tribunal interroga membros do Governo virtual no processo 15+2 como proposta para Presidente da República José Julino Kalupeteka, o líder da seita religiosa “A Luz do Mundo”, que se encontra detido por confrontos entre membros daquela igreja e polícias, que resultou na morte de várias de pessoas. Questionado pelo juiz da causa sobre quando é que soube da existência do referido governo, o padre Pio Wacussanga respondeu que oficialmente foi a primeira vez que ouvia falar do referido documento e que tinha tomado conhecimento que o seu nome fazia parte da lista através das redes sociais, o que supôs tratar-se de uma brincadeira. “É a primeira vez que oiço oficialmente falar desta lista, não é uma coisa que me vincula porque o meu governo é eclesiástico”, reforçou ainda o padre. Ainda na sessão desta segunda- -feira foi ouvido o chefe da equipa do Serviço de Investigação Criminal (SIC), Pedro João António, que procedeu à detenção dos primeiros 13 réus no dia 20 de Junho de 2015, na Vila Alice, em Luanda, quando estes se encontravam numa das sessões de acção formativa para os alegados actos de rebelião. Ao declarante foram colocadas vá- rias questões pelo juiz, pela procuradora do Ministério Público (MP) e pela defesa, tendo o advogado Luís Nascimento concluído que com os seus esclarecimentos fica provado que “a prisão em flagrante delito foi excessiva”. Confrontado pela defesa com o facto de o mandado do MP ordenar apenas a busca e apreensão de objectos, as causas da detenção, Pedro João António afirmou que os réus foram “detidos em flagrante delito”. Em declarações à agência Lusa, Luís Nascimento reafirmou que a prisão “não tinha razão de ser”. “Porque com os réus não foi encontrado nenhum material criminoso e porque, mesmo o que posteriormente veio a ser conseguido mediante perícia, no momento sem os resultados não se podia dizer que claramente havia algum crime”, frisou. Para Luís Nascimento, essa segunda fase do julgamento deverá levar mais tempo do que o previsto - estão agendadas sessões até quinta-feira -, face ao número de declarantes e ao ritmo em que está a decorrer a sessão. “Por esse ritmo somos capazes de demorar mais do que a audição dos 15”, referiu.

À entrada do seu terceiro ano como jornalista, em Outubro de 1984, Bartolomeu Dias de Gusmão foi enviado à Zambézia para a recolha de material que permitisse a posterior elaboração de reportagens sobre a situação na província. Tinha, então, 24 anos de idade. Fez equipa com Camilo Darsan, que era ligeiramente mais velho que ele, tanto de idade como na profissão, e isso lhe valeria como espaldar de experiência para o trabalho a realizar, dado que era a primeira vez que ia para uma missão daquela envergadura no terreno. Na verdade, a tarefa que eles tinham a desempenhar na Zambézia ultrapassava o simples âmbito jornalístico. Zambézia era, na altura, uma das províncias mais dilaceradas pela guerra civil. De tal forma que levavam como suporte uma guia de marcha conjunta dos ministérios da Informação e da Defesa, que não só lhes abriria as portas para os contactos jornalísticos, como também facilitaria a sua deslocação, uma vez que da capital, Quelimane, para qualquer sede distrital, as deslocações por terra teriam de ter escolta militar. E muitas vezes, até, nem isso bastava, porque só por via aérea, com recurso a avionetas, é que se poAs sereias de Pebane deria fazê-lo. As deslocações a distritos como Morrumbala, que sangravam tanto no seu tecido social como no económico e estavam isolados há anos da capital, Quelimane, projectos económicos como a Têxtil de Mocuba e empresas de tradição como a Companhia Agrícola de Madal já só existiam na memória de alguns. Tudo estava parado. Tratava-se, na verdade, de colher a informação que transmitisse uma imagem positivadora da província, numa situação de guerra em que, por falta daquela, não se sabia exactamente para que lado estava a pender a balança, resultando porém pacífico que as “gloriosas Forças Armadas” no terreno estavam a perder a iniciativa a cada dia que passava. Foi um mês de deslocações intensas por um ou dois distritos, porque não era possível fazer mais, mas com muito amor à camisola à mistura conseguiu- -se uma recolha substancial. O que resultaria mais difícil, ulteriormente, principalmente para Bartolomeu de Gusmão, seria equilibrar a realidade no terreno e os dados recolhidos com a necessidade imposta de transmitir uma ideia positiva e encorajadora da situação da província. O que se vivia era um drama. Aconteceu, no entanto, que mesmo no meio disso, Bartolomeu de Gusmão e Camilo Darsan fizeram amizade circunstancial com o encarregado dos armazéns provinciais que tinham a missão de facilitar as campanhas de comercialização agrícola. Uma vez que não havia campanha de comercialização nenhuma a fazer, porque as zonas de produção estavam sob os efeitos da guerra, o responsável do armazém ia alegremente aos fins-de- -semana trocar os produtos que deveriam ser utilizados nessas campanhas com os produtores de sura no Madal, onde passava tardes agradáveis a beber do sumo de palma e a promover matanças de galinhas para assar na brasa à boa moda zambeziana. Bartolomeu de Gusmão e o seu colega não se fizeram rogados e, sempre que puderam, lá passaram uma tarde de sábado ou de domingo. Foi por lá que souberam, por entre conversas, porque os convivas eram mais que eles os três, que a fama de que gozavam as mulheres do litoral da província não era das mais indicadas para os homens, principalmente para os visitantes. E entre estas, principalmente as do distrito de Pebane, que eram comparadas às sereias, cujo canto atraía os marinheiros para abismos de que não mais regressariam. E diziam, meio a brincar, meio a sério: “Você Bartolomeu, que tem a mania de que é craque nas saias, se tiver como destino Pebane, cuidado com as mulheres de lá, senão de lá nunca mais voltará”. Ao que Bartolomeu respondia, com o seu espírito eternamente jovial e enérgico: “A mim é que não me apanham com essas superstições; isso são histórias para bobos”. A última etapa de trabalho na Zambézia assinalava, de facto, uma ida a Pebane. Lá chegaram numa tarde de sexta-feira ensolarada e quente. Por impossibilidade de dar início à recolha logo naquele fim-de-semana, uma vez que as autoridades distritais, tanto políticas como administrativas e militares, se encontravam em folgança, a equipa de jornalistas deslocou-se ao mercado local, onde o único produto disponível como álcool era sura. Em contrapartida, havia abundância de mariscos frescos. Bartolomeu de Gusmão caiu de graças à primeira vista com a macua Amina Sultuane, sentada à sombra de uma espécie de barraco de cartolinas. De formas anafadas, pele muito clara e dentes muito brancos, com o lenço artisticamente enrolado na cabeça em forma de turbante e capulanas garridas, ela tinha o garrafão de sura entre as pernas afastadas e gritava muito alegremente: “Sura da boa! O petisco é a dona!” Ali ancoraram os dois jornalistas em alegre conversa. A meio da noite, Camilo Darsan, cansado e um pouco enevoado com os vapores da sura, despediu-se do colega, a quem Amina insistia em convidar para ir conhecer a casa. Bartolomeu de Gusmão não foi à pensão ter com o colega não só nessa noite, como também no sábado e no domingo seguintes. Na segunda de manhã, Darsan partiu à procura do colega para começarem o trabalho. Foi em vão. Ninguém na vila sabia dizer onde é que estava, ou por não saberem mesmo, ou por estarem a encobrir um segredo qualquer. Camilo, um pouco em desespero e um pouco desconfiado, decidiu voltar ao bazar e perguntou pelo colega. Ninguém sabia dizer nada. Até que uma matrona o chamou de lado e disse: “O teu amigo está em casa da Amina”. Camilo Darsan fez o percurso até lá abandonando o centro da vila e penetrando no universo fresco do subúrbio de casas de colmo ou adobe, sob o manto das copas do palmar fresco. Quem o recebeu em casa da Amina foi ela própria. Disse: “O teu amigo está lá dentro a descansar. Mas não me parece com vontade de sair de lá. Vai vê-lo”. Bartolomeu de Gusmão estava deitado de costas numa cama larga coberta de lençóis feitos de capulana, de corpo inteiramente nu. Tinha os braços cruzados na nuca. A sua roupa, incluindo a interior, estava pendurada numa das traves que suportavam o tecto da casa. - Vamos embora. Está na hora de meter mãos à obra. Bartolomeu olhou para ele com ar de quem está a falar no meio de uma hipnose e disse: - Receio que terás de continuar sozinho, camarada. Eu sinto-me bem aqui e daqui não saio mais. Voltarei a Maputo quando puder, mas se calhar nunca mais porei lá os pés. Passados anos e pelas notícias esparsas que iam chegando, soube-se que Bartolomeu Dias de Gusmão continuava em Pebane, andava de calções e descalço, estava saudável e levava uma vida de marinheiro, porque Amina tinha arranjado emprego para ele como pescador num dos barcos do tio, o Sheik Abdul Remane. Soube- -se também que Amina era poliandra e Bartolomeu um dos seus sete maridos. Destituído de vontade própria e no limbo de não ter consciência da situação em que se encontrava, Bartolomeu de Gusmão podia-se considerar um homem feliz.

O Gabinete Central de Combate à Corrupção de Mo- çambique (GCCC) pediu uma revisão urgente do Sistema (Electrónico) de Administração Financeira do Estado (e-SISTAFE), já que parece que o sistema não impede o uso ilícito dos fundos públicos. Parte da crise que o País actualmente atravessa remonta da fraca administração financeira. Os problemas com o e-SISTAFE contribuem directamente para o desvio de fundos atribuídos ao investimento e às despesas necessários para o desenvolvimento do País. Em termos práticos, a retirada ilícita de fundos públicos tem um impacto negativo nas vidas de todas as pessoas no País. O Estado tem fundos limitados. Estes fundos devem ser geridos da melhor forma possível. Por isso, é preciso uma reforma urgente da gestão das finanças públicas através do e-SISTAFE. Qualquer pessoa com quaisquer relações com o Governo sabe que a gestão das finanças públicas é fraca. Exigem-se pagamentos em dinheiro. Raramente são dados recibos. Importâncias devidas para os contratos públicos são atrasadas ou pagas por entidades que não foram os adjudicatários originais. São atrasados os desO e-SISTAFE vaza como uma peneira – quem é responsável? Por Carrie Davies* contos do IVA. A maioria dos departamentos tem as suas próprias contas bancárias, muitas vezes várias contas. Não são seguidos os princípios básicos da contabilidade transparente e responsável – os dados não entram no sistema em tempo real, os funcioná- rios públicos partilham passwords, as auditorias e inspecções são realizadas vários anos após a ocorrência das operações em causa. Poderia continuar – os exemplos parecem intermináveis. A declaração do GCCC é muito bem-vinda. Parece que se aperceberam da existência dum problema com a gestão das finanças públicas. Agora resta ver o que se vai fazer. Grande parte do orçamento de Estado vem de doadores internacionais. O dinheiro é dado directamente ao Estado, para ser gasto de acordo com o seu orçamento. Será possível que estes doadores não sabem que há um problema com o e-SISTAFE? O principal argumento usado pelos doadores é que o e-SISTAFE é melhor que o sistema anterior, manual. Pode ser que o e-SISTAFE é melhor, mas claramente não é suficiente como salvaguarda contra a corrupção e os roubos. Os doadores internacionais dão apoio orçamental directo, usando fundos dos contribuintes nos seus próprios países. Estes contribuintes ficariam muito decepcionados ao saber que uma parte dos fundos que doam, e que esperam que venham a ser usados para ajudar os cidadãos moçambicanos mais pobres, estão de facto a desaparecer. Os contribuintes directos ao orçamento de Estado não apenas têm o direito, mas também a obrigação de exigir que a gestão das finanças pú- blicas de Moçambique satisfaça os padrões internacionais. A razão de ser possível que o GCCC critica o e-SISTAFE hoje é que não se tem feito esta exigência. O argumento que “o e-SISTAFE é melhor que o sistema anterior” não basta. Um sistema “melhor” que ainda permita desvios, perdas, afectação incorrecta, ou outras formas de “extravio” de fundos não é um “bom” sistema. Estamos a viver agora uma crise que em parte resulta disso. A proposta do GCCC para se fazer uma revisão, seguida duma reforma do e-SISTAFE, é um passo muito importante, que devia ser apoiado por todos os doadores de apoio orçamental directo, em nome dos contribuintes que representam, e por todos os contribuintes em Moçambique. Deste modo, todos nós seremos capazes de assegurar que o dinheiro que entra nos cofres do Estado vai para onde é mais necessário e que o País se desenvolve de forma sustentável. *Programa da USAID Moçambique de Apoio ao Desenvolvimento. Económico e Empresarial (SPEED).


Portal: http://www.oficinadesociologia.blogspot.com 459 A “Rádio Moçambique” permite-nos ouvir e estudar os discursos de dirigentes governamentais. Elaborados em português, esses discursos são feitos em comícios. Neles, os dirigentes governamentais procuram analisar fenómenos e transmitir orientações. Mas pode haver um problema: a possível transformação da comunicação em incomunicação, com resultados desagradáveis que podem ser múltiplos. “Doenças hídricas”, “latrinas melhoradas”, “diarreia aguda”, “ingerir alimentos saudáveis”, “água salobre”, é fundamental que”, “o problema passa necessariamente por”, “deveis estar atentos aos avisos da”, “deveis estar precavidos”, etc. Imaginem este vocabulário a ser usado por dirigentes governamentais em comícios populares, lá - especialmente nas zonas rurais - onde as dificuldades da vida mandam diariamente, lá onde a escolaridade não é a de uma universidade. Mais: de que maneira os discursos governamentais são transmitidos pelos intérpretes? Este é, entre outros, um estudo em profundidade que falta fazer. Comunicação e incomunicação.

J acob Zuma, presidente da África do Sul, é um animal social e político talvez diferente dos seus mais de 50 pares pela nossa rica África, por um conjunto de situações, de entre as quais iremos, aqui, destacar apenas algumas: reivindicou certa vez que deveria merecer respeito por assumir as suas mulheres/esposas (quatro formais neste momento), diferentemente de muitos homólogos seus, que gerem inúmeros concubinatos sem os assumirem; apesar de possuir habilitações literárias quase que sumárias, para usar a expressão do jornalista e escritor Alexandre Chaúque, dirige o país que tem a mais forte economia do continente africano, controlando 80 por cento dos quatro por cento do comércio internacional dominados por África; apesar de ser ‘O Senhor Escândalo’, há muito, não deixa de ser oferecido, aqui e ali, oportunidades para empreender o branqueamento da sua imagem. Conforme tornado público em Dezembro último, a Renamo o propôs, no diferendo – chamemos-lhe assim! – que possui com o Governo da República de Moçambique, como um dos mediadores. Foi também proposta, sem surpresa, a Igreja Católica. Esta semana, em mais uma teleconferência, escutada na Beira por sequazes seus e jornalistas, Afonso Dhlakama referiu que tanto Zuma como a Igreja Católica aceitaram o convite nesse sentido por parte do segundo maior partido do nosso país. No momento em que redigimos estas linhas, apenas a Renamo o disse, mas, quanto a Zuma, em particular, o inverso não seria expectável, pelo que atrás avançámos (lavagem, em grande escala, da sua imagem, cada vez mais negra no seu país). Na administração Thabo Mbeki, quando foi indicado mediador para o Burundi, Zuma, que teve sucesso na operação, obteve abundante evidência da relevância política de empreitadas tais. Mas uma pergunta não se cala em muitos de nós: o que terá concorrido para que Dhlakama (e a Renamo) escolhesse(m) Zuma como um dos dois mediadores? Mais do que ninguém, só eles, e talvez mais uns muito pouco privilegiados, o sabem, mas, a nós os outros, a Constituição da República de Moçambique [nos] permite conjecturar. Há quatro tipo de factores que, a nosso ver, terão contribuído para o efeito. Vamos por partes. Em primeiro lugar, o facto de a África do Sul fazer o que a Renamo está insistentemente a exigir nos últimos pouco mais de 12 meses (NB: temos noção da diferença dos dois sistemas, em termos, sobretudo, procedimentais), nomeadamente a indicação, pelo partido vencedor em cada província, do governador da mesma, sem que isso fira a natureza unitária do Estado, apesar de a Renamo fazê-lo, ou pretender fazê-lo, com fundamento em duas situações quanto a nós problemáticas: (i) onde (províncias) Dhlakama terá sido o candidato presidencial mais votado, o que não pode ser pacífico por, em sede das ‘presidenciais’, nos parecer óbvio que o país como um todo é o único círculo eleitoral; (ii) por outro lado, pretende a Renamo que tal tenha efeitos retroactivos, com base nas eleições de 2014, o que se está a denotar não pacífico. O que, em boa verdade, até pode ser admitido, se for efectivamente fundamental para que tenhamos paz efectiva). Em segundo lugar, Zuma e Dhlakama têm algo nato que poucos têm por este mundo: são líderes, que arrastam multidões, mesmo nos momentos em que, no seio dos muitíssimo poucos que consomem os produtos noticiosos, a popularidade de cada um deles se encontre em ní- veis muito baixos; a esta característica de ambos, associa- -se o facto de o comportamento social e protocolar tanto de Zuma como de Dhlakama, de muito informalismo, ser muito similar. Em terceiro lugar, a Renamo há-de ter estudado minimamente algo que alguns analistas que conhecem profundamente o actual presidente da África do Sul sempre avançam: Zuma nunca, ou quase nunca, trai os ‘seus irmãos africanos’ (que o diga al-Bashir!!!), diferentemente do que parece ser tradição da Frelimo. O próprio Zuma, enquanto membro sénior [e agora presidente] do Congresso Nacional Africano (ANC), é dos que, em círculos fechados, admite que jamais entenderá porquê a Frelimo, supostamente, “traiu o ANC”, com a assinatura, em 1984, do Acordo de Nkomati. Em quarto lugar, mas nem por isso menos importante, há-de ter concorrido para que Zuma fosse proposto pela Renamo o facto de o país de que ele é presidente, e que continuará a ser dirigido pelo ANC “até que Jesus Cristo regresse” (segundo o próprio Zuma, há alguns anos), possuir interesses económicos estratégicos em Moçambique, sobretudo nas regiões sul e centro. Mais recentemente, apesar das reticências de Zuma, segundo pessoas que lhe são profissionalmente próximas, há a ter em conta as negociatas, na ordem de pouco mais de 450 milhões de dólares norte-americanos, visando viabilizar um investimento na cultura de algas em Cabo Delgado, projecto no qual, a avançar, poderão estar envolvidos herdeiros de Filipe Nyusi, Presidente da República de Moçambique, e do próprio Zuma. Sem nunca se menosprezar, é bom que se diga, o facto de a África do Sul fazer parte do grupo dos BRICS, juntamente com o Brasil, Rússia, Índia e China, todos eles com interesses ultra estratégicos no nosso país. Em síntese, Dhlakama e a Renamo perceberam que as questões de economia política são por demais importantes em sede de processos negociais. A Frelimo, o partido no poder em Moçambique, não nos parece ter espaço para recusar Zuma, muito menos a Igreja Católica. O que, muito provavelmente, poderá fazer é propor, adicionalmente, um país como Zimbabwe (historicamente próximo da Frelimo), ou Quénia (historicamente próximo da Renamo), para os relevantes (des)equilíbrios!...

O s artistas nacionais reclamam que nos últimos tempos não tem havido concertos públicos no país. Os eventos que se têm realizado têm sido na sua maioria em playback, o que piora ainda mais o cenário cultural do país. A maior parte dos concertos públicos realizados no país, principalmente em feriados nacionais, eram realizados por artistas acompanhados de uma banda. “Em tempos nos concertos públicos raramente um artista apresentava-se em playback. Os artistas eram acompanhados com banda. Actualmente o que assistimos são esses tipos de eventos, por isso é difícil ver os artistas que trabalham com banda nesses concertos”, lamenta Alexandre Gulele, músico do grupo Timbila Muzimba. É difícil ver os artistas de proa a participarem em grandes concertos devido à forma como são organizados actualmente. “Os concertos públicos realizados em tempos serviam para os artistas se apresentarem para aqueles que não têm oportunidade de assisti-los em eventos privados. Actualmente somos inundados com eventos protagonizados apenas por artistas que cantam em playback. Por isso mesmo que esses mesmos eventos têm pouca adesão por parte do público. As pessoas cansaram de música playback”, afirma Honório enfraime. A procura de ganhos monetários fáceis por parte dos organizadores de concertos tem denegrido o trabalho dos verdadeiros artistas. “A negligência no cumprimento dos critérios de realização de concertos ao vivo prejudica os amantes deste gênero e os organizadores encontraram uma oportunidade de ganhar Já não existem concertos ao vivo vivo. É preciso perceber o termo “ao vivo”. Em países onde há regras sabem diferenciar concertos, aqui isso não acontece”, aponta guitarrista Celó Jazz. É preciso delinear as regras para a realiza- ção de concertos públicos para que a cultura musical desenvolva no país. “Ouvimos que existem regras para a realização de concertos públicos no país e que há inspectores do Ministério da Cultura e Turismo, mas nunca ouvimos que esses mesmos inspectores da cultura desempenharam o seu papel quando situações dessas acontecem. Isso para dizer que mesmo esses inspectores têm dificuldades de diferenciar sobre as categorias de eventos, requisitos básicos, etc”, exclarece Gil Gabriel. As empresas de telefonia móvel são as que têm fomentado esses concertos que não dignificam a cultura nacional. “Os falsos promotores aproveitam as empresas de telefonia móvel para realizar esses eventos que não têm algo a ver com música ao vivo no verdadeiro sentido. O que essas empresas estão preocupadas em fazer é promover o seu produto e as suas empresas com desculpa de estar a promover a cultura nacional. Esses eventos que se têm realizado podiam fazer parte da cultura musical. É difícil perceber como é que na comemoração de uma data oficial do país somos convidados a participar num concerto, em plena Praça da Independência, onde os artistas que vão actuar só tocam música em playback. Isso é um sinal de que os dirigentes perderam a sensibilidade sobre as questões culturais do país”, finaliza o produtor de som Filipe Eduardo. dinheiro facilmente. É fácil para eles convidarem jovens que se consideram artistas porque têm algumas músicas e põem-nos a participar nesses eventos com justifi- cação de serem conhecidos. Os verdadeiros concertos públicos são constituídos de música ao vivo e isso acarreta valores monetários e outro tipo de organização mais complexa comparada com a que é feita nesses eventos realizados agora e são chamados concertos ao O s escritores Luís Carlos Patraquim e Paulina Chiziane vão participar na sexta edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que decorre de 1 a 3 de Fevereiro na capital cabo-verdiana, Praia. Na sexta edição participam escritores de todos os países de língua portuguesa e da região administrativa especial de Macau. No encontro serão analisados os temas “A Literatura e a Diáspora”, “A Literatura e a Insularidade” e a “Poesia e a Música”. O “encontro”, promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) em parceria com a Câmara Municipal da Praia, visa “contribuir para o diálogo e enriquecimento recí- proco entre escritores dos diferentes continentes”, adianta a organização em comunicado. Farão ainda parte do evento os escritores Ana Paula Tavares, José Luís Mendonça e Luandino Vieira (Angola), João Paulo Cuenca (Brasil), Abraão Vicente, Germano Almeida e Vera Duarte (Cabo Verde), Odete Semedo (Guiné-Bissau), Ricardo Pinto e Yao Jing É preciso regularizar a questão da música ao vivo no país.

Gosto de raparigas azuis com brincos de âmbar e pulseiras de marfim. O seu riso nas tardes incendiadas faz a lua parecer uma cabaça entrelaçada de ervas húmidas e verdes onde dormem os peixes. Gosto dos olhos cintilantes porque elas são pirilampos com sandálias e os bra- ços asas adejando no lago da noite. E o seu último alarido, antes dos murmú- rios secretos e das sombras reveladas, é o suspiro da cidade a elanguescer. Gosto das barracas com piri piri verde curvo nas toalhas de plástico e do fricassé de crocodilo de Tombuctu. E do rodízio que se anuncia com o arrastar de muitas cadeiras. Gosto dos salmos que há nas vozes das vendedeiras do bazar onde nenhum deus se aborrece. E do nó das capulanas. Ledas são as mãos quando erguem o sal e os rubis do mar caem em cascata sobre as bancas. Este não é o clamor do deserto. Gosto de me espantar com os poetas que caminham por dentro dos livros e que se distraem ouvindo os búzios adormecidos nos passeios. São deles as guelras por onde a água escorre enquanto procuram a cabeça. Gosto das estórias despojadas e das estátuas, se inclinadas, desafiando as leis a prumo e a gravidade do chão no tempo. Gosto dos anarquistas que desembarcaram ontem do cais do sonho e ainda não foram notícia. Também eles procuram os animais evangélicos. Gosto dos beijos de mulata e de todos os ósculos em flor, das pétalas da rosa ressumando nos bivalves, sobretudo as Extravagâncias O s artistas nacionais reclamam que nos últimos tempos não tem havido concertos públicos no país. Os eventos que se têm realizado têm sido na sua maioria em playback, o que piora ainda mais o cenário cultural do país. A maior parte dos concertos públicos realizados no país, principalmente em feriados nacionais, eram realizados por artistas acompanhados de uma banda. “Em tempos nos concertos públicos raramente um artista apresentava-se em playback. Os artistas eram acompanhados com banda. Actualmente o que assistimos são esses tipos de eventos, por isso é difícil ver os artistas que trabalham com banda nesses concertos”, lamenta Alexandre Gulele, músico do grupo Timbila Muzimba. É difícil ver os artistas de proa a participarem em grandes concertos devido à forma como são organizados actualmente. “Os concertos públicos realizados em tempos serviam para os artistas se apresentarem para aqueles que não têm oportunidade de assisti-los em eventos privados. Actualmente somos inundados com eventos protagonizados apenas por artistas que cantam em playback. Por isso mesmo que esses mesmos eventos têm pouca adesão por parte do público. As pessoas cansaram de música playback”, afirma Honório enfraime. A procura de ganhos monetários fáceis por parte dos organizadores de concertos tem denegrido o trabalho dos verdadeiros artistas. “A negligência no cumprimento dos critérios de realização de concertos ao vivo prejudica os amantes deste gênero e os organizadores encontraram uma oportunidade de ganhar Já não existem concertos ao vivo vivo. É preciso perceber o termo “ao vivo”. Em países onde há regras sabem diferenciar concertos, aqui isso não acontece”, aponta guitarrista Celó Jazz. É preciso delinear as regras para a realiza- ção de concertos públicos para que a cultura musical desenvolva no país. “Ouvimos que existem regras para a realização de concertos públicos no país e que há inspectores do Ministério da Cultura e Turismo, mas nunca ouvimos que esses mesmos inspectores da cultura desempenharam o seu papel quando situações dessas acontecem. Isso para dizer que mesmo esses inspectores têm dificuldades de diferenciar sobre as categorias de eventos, requisitos básicos, etc”, exclarece Gil Gabriel. As empresas de telefonia móvel são as que têm fomentado esses concertos que não dignificam a cultura nacional. “Os falsos promotores aproveitam as empresas de telefonia móvel para realizar esses eventos que não têm algo a ver com música ao vivo no verdadeiro sentido. O que essas empresas estão preocupadas em fazer é promover o seu produto e as suas empresas com desculpa de estar a promover a cultura nacional. Esses eventos que se têm realizado podiam fazer parte da cultura musical. É difícil perceber como é que na comemoração de uma data oficial do país somos convidados a participar num concerto, em plena Praça da Independência, onde os artistas que vão actuar só tocam música em playback. Isso é um sinal de que os dirigentes perderam a sensibilidade sobre as questões culturais do país”, finaliza o produtor de som Filipe Eduardo. dinheiro facilmente. É fácil para eles convidarem jovens que se consideram artistas porque têm algumas músicas e põem-nos a participar nesses eventos com justifi- cação de serem conhecidos. Os verdadeiros concertos públicos são constituídos de música ao vivo e isso acarreta valores monetários e outro tipo de organização mais complexa comparada com a que é feita nesses eventos realizados agora e são chamados concertos ao O s escritores Luís Carlos Patraquim e Paulina Chiziane vão participar na sexta edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que decorre de 1 a 3 de Fevereiro na capital cabo-verdiana, Praia. Na sexta edição participam escritores de todos os países de língua portuguesa e da região administrativa especial de Macau. No encontro serão analisados os temas “A Literatura e a Diáspora”, “A Literatura e a Insularidade” e a “Poesia e a Música”. O “encontro”, promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) em parceria com a Câmara Municipal da Praia, visa “contribuir para o diálogo e enriquecimento recí- proco entre escritores dos diferentes continentes”, adianta a organização em comunicado. Farão ainda parte do evento os escritores Ana Paula Tavares, José Luís Mendonça e Luandino Vieira (Angola), João Paulo Cuenca (Brasil), Abraão Vicente, Germano Almeida e Vera Duarte (Cabo Verde), Odete Semedo (Guiné-Bissau), Ricardo Pinto e Yao Jing É preciso regularizar a questão da música ao vivo no país Chiziane e Patraquim no “Encontro de escritores” Ming (Macau), João de Melo, José Carlos Vasconcelos, José Fanha, José Luís Peixoto, Miguel Real e Zeca Medeiros (Portugal), Goretti Pina (São Tomé e Príncipe) e Luís Cardoso (Timor-Leste). O programa do “encontro” vai homenagear o poeta cabo-verdiano Corsino Fortes, falecido no Verão, pelo também escritor cabo-verdiano Germano de Almeida. Será ainda apresentado o Prémio Cabo-Verdiano de Literatura do BCA, em parceria com a Academia Cabo-Verdiana de Letras e o Prémio Literário UCCLA “Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa”. No âmbito do “encontro” estão ainda previstas várias iniciativas paralelas, nomeadamente visitas à cidade Velha e Tarrafal de Santiago, a inauguração da exposição “Casa dos Estudantes do Império, 1944-1965 – Farol da Liberdade” e a realização de uma feira do livro. O Encontro de Escritores de Língua Portuguesa realiza-se este ano na Praia, depois de as quatro primeiras edições terem decorrido em Natal, Brasil e a quinta em Luanda, Angola. A.S Paulina Chiziane é uma das representantes nacionais no evento ostras com as suas unhas pintadas e a testa nacarada e firme. Gosto do emaranhado das trepadeiras, dos tamarindos nos quintais, do esbracejar imóvel dos embondeiros com a sua cabeleira eriçada subindo sempre e sempre até à pele glabra dos deuses. E das escamas que ondulam, caindo das alturas. Gosto do que lembro e se perdeu porque eram vermelhos: as cabinas telefónicas e os marcos do correio. A um velho que passava com uma carta para o mundo desiludi-o porque era uma demanda inútil e os selos estavam a ser abertos. Uma torrente de sura espalhou as palavras pela rua que as crianças apanharam com redes fosforescentes. E as raparigas iluminadas embeberam os lábios recolhendo o sentido em colheres de prata coroadas de abelhas. Gosto dos nomes que ainda não há e das coisas que se precipitam para a substância que procuram a sua forma e já pressentem o eco. Gosto da ferocidade dos dentes entre os prédios, ferindo as árvores e das fauces invisíveis que rondam as manhãs enquanto alguém recolhe os últimos despojos. Deles não será o nosso reino. Gosto da chuva e das nuvens pousadas nos meus ombros e celebro as lagartixas descalças e solertes entre os canteiros da erva. Delas serão as pedrinhas entontecidas pela canícula. Ergo em cada taça um rio e uma orografia de mistérios e a minha cadeira é de vidro enquanto elas passam, raparigas azuis com brincos de âmbar e pulseiras de marfim.

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