terça-feira, 3 de novembro de 2015

Há segredos por baixo da farda da PRM - 20 • Maio • 2011

“O polícia tem de viver” Há segredos por baixo da farda, na escuridão eterna das profundezas de um agente da lei e ordem? Um lar, uma mulher e filhos tornam um polícia um cidadão comum? Perguntas como estas alimentam o imaginário dos moçambicanos. @Verdade conversou com três agentes e desvendou que não é só uma farda que separa o polícia de um moçambicano anónimo. A palavra “difícil” fez sempre parte do vocabulário dos agentes da Polícia da República de Moçambique que, a 10 dias da entrada em vigor da cesta bá- sica, levam as mãos à cabeça, apontando para a “insensibilidade do Governo” como o principal entrave à melhoria das condições da polícia. “Ganhamos muito pouco”, diz Alberto Cossa. “Não ganhamos nada”, corrige Tembe. Mas, “não vamos passar fome por causa desse salário miserável. O nosso negócio é outro”, confessa João. Desde a falta de documentos, transgressões ao código de estrada, electrodomésticos sem documentação, passando por telefones celulares à aparência, tudo serve para interpelar um cidadão e amealhar algum dinheiro. Porém, o vida não corre de feição, uma constatação unânime entre os agentes. “Aquilo que o Governo aumentou no salário da polícia é uma vergonha”, diz João. Com o aumento de 233 meticais – um saco de arroz de 10 quilos custa 280 meticais –, os agentes passaram a auferir 3175, 20. Porém, fi caram automaticamente excluídos da candidatura à cesta básica. Os cidadãos elegíveis têm de ter 2.500 meticais como salário ou rendimento máximo. No entanto, os agentes da PRM, apesar de acharam que a medida é “ridícula” acreditam que poderia ajudar a minimizar as difi culdades de quem precisa. Logo ao início da manhã, pouco depois da habitual formatura, já muitos agentes da PRM estão nas ruas à procura de algo para comer. Até porque saco vazio não fi ca em pé “os bolsos dos cidadãos desatentos” garantem a cesta básica, algum valor para deixar em casa e dinheiro de transporte. Retrato da corrupção Cossa fi cou viúvo um dia depois de ter entrado para a PRM, em 2002. A sua mulher, Clara Luzenda, morreu no parto da sua primeira e única fi lha. No primeiro ano, Cossa sofreu muito. Ganhava muito pouco e não tinha com quem deixar a fi - lha. “Não sei o que teria sido de mim sem o apoio das minhas vizinhas”, conta. De quando é que começou a extorquir dinheiro aos cidadãos não tem memória, mas lembra- -se vagamente da forma. Tem ashes apenas. Uma das imagens mais fortes que lhe vem à memória é a da fi lha com dias de vida, ao seu colo, à procura do peito materno. “Tinha de acordá-la a meio da noite para lhe dar o biberão com água de arroz e via a cabeça dela de um lado para o outro à procura da mama... Nessas alturas, sei que não conseguia segurar as lágrimas.” Como se aquela dor não bastasse e a responsabilidade de ser pai sozinho não fosse sufi ciente, o destino pregou-lhe nova partida. Três meses depois de perder Clara, Luís viu a fi lha a perder peso repentinamente. Também assim, de repente, sem mais. “No dia 1 de Janeiro, a minha fi lha sentiu-se mal, levei-a para o hospital, e a 7 tivemos alta. Estava desidratada e disseram- -me claramente que tinha de lhe dar leite. Uma lata de leite custava 230 meticais e a minha fi lha precisava de quatro num mês. Eu não tinha onde ir buscar esse dinheiro. Foi por isso que comecei a extorquir os cidadãos. Tive de escolher entre a vida da minha fi lha e a minha honestidade.” Cossa tem 35 anos, Clarinha 9. Vivem ambos para os lados de Kongolote, onde já têm uma rotina instalada. De manhã, Cossa leva a fi lha à escola, a poucos quilómetros de casa, e segue para o trabalho de agente da lei e ordem numa esquadra da cidade de Maputo. Trabalha 24 horas e na sua ausência a fi - lha fi ca em casa de uma vizinha. Com o dinheiro que faz na rua, cerca de 300 meticais por dia consegue deixar 600 na casa da vizinha para que cuide da fi lha. Nas folgas ele é que vai buscá-la às 17h30, dá-lhe banho, prepara o jantar e depois vem o período preferido de ambos, o da brincadeira. Quem o ouve pode pensar que conseguiu ser corrupto com a maior facilidade do mundo, mas na realidade não lhe é fácil falar do que aconteceu, embora nunca saia da pose de um biscateiro bem-disposto. Confessa que quando extorquiu os primeiros 200 meticais, se sentiu “vazio”. “Parece que não estamos nem neste mundo nem no outro. Mas o cabrito come onde está amarrado”, descreve. Seguiu-se “uma revolta muito grande e uma sensação de injustiça”. Afi nal, um agente da polícia tem de ter meios para ganhar a vida. O juramento é meramente cosmético. A necessidade é sempre maior do que a moral. Nos treinos, tudo correu “normalmente”. Cossa queria ser um agente exemplar, mas até ser corrupto “para viver” levou pouco tempo. Nada fazia prever que a necessidade levasse a este desfecho. Eu fui sempre corrupto Após vestir a farda, Tembe passou a olhar para “todos os cidadãos” como se fossem “potenciais carteiras”, confessa numa gargalhada. Com o total apoio dos agentes com mais anos na corporação, transformou-se num “mestre” na extorsão. “É sempre fácil tirar o dinheiro porque os moçambicanos não conhecem os seus direitos, assim como têm medo de uma farda. “Felizmente, há muitos sinais de trânsito pouco visíveis na cidade de Maputo.” Há um ano, comecei a trabalhar com a Polícia de Trânsito, com quem jamais quero deixar de colaborar. E, apesar de saber que o que faz é errado, acha-se no direito de ganhar ‘o seu dinheiro.’ “Se há pessoas que têm mobílias de 1.2 milhão de meticiais porque é que o Tembe não pode pelo menos comer carne em casa?”, questiona. Tembe diz que sente que, apesar do salário magro, jamais deixaria de ser polícia e explica que deste que está na PRM passou a encarar o trabalho de outra forma, como algo para “gerar dinheiro e melhorar a vida do polícia”. Mas, se “a vontade de enriquecer é agora maior”, o medo de morrer também o é. “Acho que ainda hoje não acredito que consigo dar boa alimentação à minha família. Tenho um medo constante de tudo desmoronar. A culpa é da negligência do Governo “Há polícias que passam fome quando entram na corporação, mas também há aqueles que são corruptos porque é a sua forma de vida. Isto funciona como alerta. Por isso, os serviços sociais deviam acompanhar de perto os horários e providenciar alimentação aos agentes”, explica João. “Não teríamos necessidade de comer na rua se a messe da polícia funcionasse. “Acham normal que uma esquadra tenha um centro social que cobra 50 meticais por refeição?”, pergunta. 3175 meticais dá para 63 pratos. “Se considerarmos que um polícia trabalha 15 dias por mês e toma duas refeições por dia, no fim do mês ele terá gasto 1500 meticais. Vocês acham que um agregado familiar de 5 pessoas pode viver com 1675 meticais num mês?”, questiona. Na PRM, a pobreza é igual ou maior do que a média do país. Ainda assim, João sabe que a corrupção não se explica assim de forma tão linear. A sociedade e a imprensa sempre alertaram para a existência de agentes mal formados e corruptos. Porém, “não foi por ignorar esses valores que comecei a extorquir dinheiro aos cidadãos e aceitar subornos. Como qualquer pessoa tenho ambições. Se não me tivesse virado não teria construído nem um quarto no meu terreno. Hoje tenho uma casa de dois pisos e não posso negar que isso é dinheiro da corrupção”, confessa e acrescenta: “isso é como tudo na vida. Há quem vive de amealhar 10, 20 ou 30 meticais, como também agentes que vivem de negócios de 50 ou 100 mil meticais.” Efectivamente, um polícia tem as mesmas preocupações de pai e de homem de família por cumprir. João tem noção de que “há coisas” que não vai conseguir exigir dos filhos “como um pai exemplar”. Como, por exemplo, sobre honestidade, integridade e valores fundamentais, diz, a rir, concluindo, que “por força das circunstâncias, nem eu voltei a ser honesto por ser polícia nem os meus filhos serão educados em circunstâncias normais, entre aspas.” No entanto, diz que tem sorte, porque os filhos não querem ser polícias.

Polícia festeja sem placas de identificação 
A Polícia da República de Moçambique (PRM) é bem mais nova do que o país. Nasceu no fi nal de ´92 com a extinção da Polícia Popular de Moçambique. Actualmente, debate-se com a falta de meios e a proliferação de agentes corruptos. Efectivamente, a PRM foi criada pela Lei nº 19/92, de 31 de Dezembro (publicada no Boletim da República I Série - número 53, de 31/12/92). Trata-se de uma força paramilitar integrada no Ministério do Interior de Moçambique. Com a sua cria- ção, foi extinta a PPM - Polícia Popular de Moçambique. A PRM é chefi ada por um Comandante-geral, subordinado ao ministro do Interior. A PRM tem três departamentos principais: Direcção da Ordem e Segurança Pública, também chamada “Polícia de Protec- ção”; Polícia de Investigação Criminal (PIC); e Forças Especiais e de Reserva (que incluem a Força de Intervenção Rápida – FIR). Desenvolve os serviços de segurança pública no território nacional através de comandos, esquadras e postos policiais, estendendo as suas atribuições à proteção lacustre e fluvial, à polícia de trânsito e à polícia aeroportuária, dentre outras. A Força de Intervenção Rápida conta com agentes treinados em modernas técnicas de resgate de reféns e de combate ao terrorismo, todos formados em cursos de operações especiais. Alguns cursos ministrados à polícia moçambicana, que tem na sua estrutura a Academia de Ciências Policiais (ACIPOL), receberam o suporte técnico da polícia portuguesa. Polícia sem identifi cação Nos últimos meses é comum encontrar agentes da lei e ordem sem placa de identifi cação, uma situação que acaba por colocar os cidadãos numa situa- ção embaraçosa. Porém, poucas pessoas sabem que um agente tem de ostentar a sua respectiva identifi cação ao abordar um cidadão. No entanto, as pessoas continuam a ser interpeladas e os polícias apresentam-se sem identifi cação. @Verdade abordou, na última terça-feira, o vice-ministro da Justiça e porta-voz do Governo, Alberto Nkutumula, depois da reunião do Conselho de Ministros, para compreender o que motivou a interrupção na produção de placas de identifi cação. Porém, Nkutumula remeteu-nos ao Ministério do Interior alegando tratar-se de um assunto de carácter interno daquela instituição. Entretanto, Jorge Kalau, Comandante-geral da PRM, em contacto telefónico com @Verdade, reconheceu que muitos agentes não têm identifi cação. Mas, afi rmou que, nesta altura, se encontra a decorrer um processo de produção de placas. Quando este terminar as placas serão distribuídas pelos agentes. Porém, Kalau afi rmou que ainda não há previsão para que todos os agentes da lei e ordem tenham a sua respectiva placa de identifi cação. No que diz respeito à messe da polícia, Kalau afi rmou que a mesma funciona ao contrário do que as pessoas pensam. No entanto, as refeições não são gratuitas. O preço não é igual ao de um restaurante, mas os agentes têm de pagar. Aliás, há pessoas de fora que compram comida na messe. Páginas negras Contudo, a história da PRM conta com algumas páginas negras. @Verdade fez o resumo de alguns episódios marcantes nos últimos anos. Por exemplo, no dia 5 de Fevereiro de 2008, a polícia moçambicana atirou contra pessoas que se manifestavam contra aumentos nos preços dos transportes na cidade de Maputo, matando pelo menos três pessoas e ferindo 30. Ao longo do ano registaram-se mais três vítimas mortais. No dia 29 de Abril de 2009, na sequência da greve dos trabalhadores afectos à construção do Estádio Nacional, um agente da Polícia da República de Moçambique alvejou a tiro dois grevistas. Um foi atingido na perna e o outro nos órgão genitais. Na ocasião, de acordo com os grevistas, o agente recuou, traçou uma linha no chão e disse que se alguém a atravessasse ele atiraria a matar. Algo que aconteceu porque a polícia pretendia levar um dos grevistas e o resto do grupo protestou e ultrapassou a linha de fogo. A Amnistia Internacional denunciou, em Fevereiro de 2009, o alvejamento de Nelson José Ronda no mercado Nsango, na província de Tete. A vítima estava a conversar com um grupo de amigos quando um agente da PRM o chamou para privar com ele. Nelson foi ter com o agente e foi alvejado com três disparos na perna. O agente afi rmou que Nelson era um criminoso perigoso e que tinha sido preso por diversos crimes. Porém, testemunhas oculares declararam que a reacção da Polícia foi excessiva, pois Nelson não tinha tentado fugir e tinha-se dirigido ao agente quando este o chamou. No fi nal, Nelson foi detido por suspeita de roubo. No dia 31 de Dezembro de 2009, por volta das 20 horas, um cidadão de nome Archel Ernesto Benhane foi baleado na perna por um grupo de agentes da PRM, no distrito de Inhassoro, província de Inhambane, tendo inclusivamente sofrido golpes na cabe- ça, fruto de coronhadas. O balanço ofi cial das manifestações de 1 e 2 de Setembro é de 13 mortos, mais de 500 feridos e cerca de 300 deten- ções em todo o país. No primeiro dia das manifestações, assim que foram anunciadas as primeiras mortes, o porta- -voz da Polícia de Moçambique afi rmou que os agentes não utilizaram balas reais.

Os maiores violadores de Direitos Humanos 
Por mais incrível que pareça, no nosso país, a polícia é a entidade que mais viola os Direitos Humanos, segundo a Amnistia Internacional (AI). De acordo com o “Relatório Anual 2011”, a tendência é continuamente notória no uso excessivo que faz da força para conter as acções dos criminosos, como também em manifestações populares, quando o povo exige melhorias das condições de vida. Nas manifestções ocorridas nos dias 1 e 2 de Setembro passado, a polícia disparou balas reais contra civis indefesos. Segundo reportaram os meios de comunicação social, seis pessoas, das quais duas crianças, foram assassinadas durante os confrontos. A polícia, lê-se no documento, justifi cou o uso de balas reais pela falta de alternativa, pois as balas de borracha se tinham esgotado. Em conexão com o caso, até hoje nenhum agente foi responsabilizado pelos crimes durante as manifestações. Na maior parte dos casos, as acusações contra estas pessoas foram retiradas pelos tribunais por falta de provas. Ao todo foram detidos 140 civis na sua sua maioria arbitrariamente. “Reconhecemos que a polícia está a tentar conter um protesto violento, mas fogo real – munições com força letal – não pode ser utilizado excepto se for estritamente inevitável para proteger a vida” disse Muluka-Anne Miti, investigadora da Amnistia Internacional para Moçambique. Aquele organismo apela às autoridades moçambicanas para que garantam que, nesses casos, os agentes usem meios não letais para controlar a situação e dispersar os manifestantes. Mas, as acusações não param por aí. De acordo com um relatório recente da mesma entidade, pelo menos 46 pessoas foram ilegalmente mortas pela Polícia em Moçambique entre Janeiro de 2006 e o fi nal de 2009. Todavia, apesar dos apelos, a AI queixa-se de que as autoridades locais têm fornecido muito pouca informação sobre as investigações aos assassinatos cometidos pelas forças policiais. Nalguns casos, a AI foi informada de que as investigações sobre as mortes provocadas pela polícia não tinham lugar porque se presumiam dentro da legalidade. Segundo os padões internacionais aplicáveis, todos os casos de morte ou ferimentos graves que resultem da utilização da força ou de armas de fogo pela polícia, exigem uma investiga- ção efi caz. Hermínio dos Santos Outro assunto que mereceu apreciação da Amnistia Internacional foi a detenção de Hermínio dos Santos em Agosto passado. “Antes de ser detido, elementos da Força de Intervenção Rápida (FIR) cercaram a sua casa, supostamente porque dos Santos se recusou a responder a uma intimação judicial e logo foi acusado de desobediência, julgado e absolvido pelo tribunal”, lê-se. Alguns membros da polícia foram condenados por crimes como agressão, roubo, extorsão e homicídio. Avança-se ainda no documento o registo de vá- rios casos de polícias mortos ou gravemente feridos por supostos criminosos, por vezes aparentemente relacionados com as ligações entre agentes da polícia e grupos criminosos. As torturas e outras formas de maus tratos também não escaparam à menção no documento. Aqui, destacam-se relatos de tratamento cruel, desumano e degradante nas prisões mo- çambicanas. Em Abril de 2010, pelo menos sete reclusos da BO, em Maputo, queixaram-se de receberem espacamentos à ministra da Justiça, Benvinda Levi, durante a sua visita àquele estabelecimento prisional. Os presos disseram que eram pontapeados, chicoteados e amarrados por guardas prisionais. Em consequência desses actos, o director da prisão e vários guardas prisionais foram suspensos. Divulgando os Direitos Humanos A Amnistia Internacional foi fundada em 1961 pelo advogado britânico Peter Benenson, na sequência de uma notícia publicada no ano anterior pelo jornal “Daily Telegraph” sobre a condenação de dois jovens estudantes portugueses a sete anos de prisão por gritarem “viva a liberdade” numa esplanada no centro de Lisboa durante regime de Salazar. O causídico apelou aos países que libertassem pessoas detidas por motivos de consciência, incluindo convicções políticas e religiosas, preconceitos raciais ou linguísticos. O movimento foi formalmente lançado com a publicação, em 28 de Maio desse ano, no jornal The Observer, do artigo The Forgotten Prisioners, denunciando vários casos mundiais. A A.I. averigua denúncias de prisões políticas, torturas ou execuções. Para isso, o Secretariado Internacional, através do seu Departamento de Investigação, recolhe toda a informação possível relacionada com os casos suspeitos, e, se necessário, envia missões de investigação ou para a observação de julgamentos. Mas o movimento obriga-se à imparcialidade das suas tomadas de decisão e, para isso, impõe às suas estruturas operacionais, as suas células de base, que não recebam nem tratem casos relacionados com o pró- prio país. As únicas excepções são o trabalho de divulgação activa dos direitos humanos, a luta contra a pena de morte ou a protecção dos refugiados objecto de perseguição política nos seus países de origem.

Entre corrupção e falta de meios 
A PRM, ex-Polícia Popular de Moçambique, comemorou, nesta semana, o seu trigésimo sexto aniversário. @Verdade publica, como é da praxe neste tipo de efemérides, a opinião dos moçambicanos sobre o trabalho da corporação. Todos criticam, mas reconhecem que a falta de meios técnicos e os salários “magros” condicionam o trabalho dos agentes da lei. Por outro lado, os cidadãos acreditam que a polícia é o refl exo do país. A nossa polícia é diferente da dos outros países da região. Consoante a nossa conjuntura socioeconómica, sobretudo a económica, a polícia não é diferente dos outros sectores, caracterizados pela falta de meios, que fazem com que não esteja sufi cientemente apta para combater a onda do crime, que é o seu papel principal. Por exemplo, se formos às esquadras vamos perceber que existem viaturas, mas muitas delas com problemas mecânicos, não de rápida solução e várias outras avarias. Portanto, mesmo que haja muita vontade para garantir a segurança pública no país, a polícia tem essa limitação que é a falta de meios.Porém, tudo indica que a cada dia que passa os criminosos aperfeiçoam as suas técnicas de acção, estando geralmente melhor equipados do que a própria polícia. Um aspecto que, provavelmente, pode ser muito importante avaliar é a forma como os países da região lidam com os agentes da lei. Entretanto, é preciso reconhecer o Estado tem empreendido algum esforço para minimizar as carências. Elídio Jossai, Jornalista Uma polícia precisa de meios, mas a nossa não os tem. Primeiro porque o salário é magro. Segundo porque se deixa corromper facilmente em função do primeiro ponto. Há tempos uma senhora foi à casa do primo da minha esposa dizer que um mi- údo, por sinal meu sobrinho, de treze anos, violou sexualmente a fi lha, quando na verdade o rapaz nem estava no lugar do crime. No dia seguinte, a senhora voltou, pediu licença e ninguém lhe respondeu, mas mesmo assim abriu a porta, encontrou o rapaz e começou a espancá- -lo. Quando eu voltei, fui à esquadra fazer queixa e os agentes disseram que não tinham meios. Mas, como é que uma polícia não tem meios num caso desses em que um menor foi agredido por uma mulher de 44 anos? Face à situação, decidi abrir um processo, mas até hoje ainda estou às voltas com o caso. Portanto, para mim, a polícia trabalha muito mal. O Estado deve apetrechá-la porque a este ní- vel não nos ajuda. Se for para atribuir uma nota de zero a dez, dou cinco. Às vezes não faz sentido o que temos visto. É normal alguém ir meter queixa numa esquadra, mas não ser atendido, alegadamente porque a viatura que existe só serve para policiar uma certa zona não pode actuar noutra, mesmo que o caso seja grave. Eu acho que a polícia devia estar mais à disposição do cidadão. Ermesto Mondlane, trabalhador De acordo com a minha experiência, a polícia trabalha bem. Sempre que me dirijo a eles sou atendida com cordialidade. Mas, é preciso frisar que nem tudo é perfeito. A nossa polícia, como todos os outros sectores da actividade deste país, carece de meios, sem os quais não podem melhorar o seu desempenho. Aliás, no meu ponto de vista, a polícia é razoável em relação a vários outros sectores, como o da saúde, da educação e agricultura, o problema é que os erros da corporação são mais visí- veis, sobretudo porque o papel deles está intrinsecamente ligado ao ser humano, no caso vertente da sua protecção. De zero a 10 eu daria sete valores. Anónima Eles são importantes para a manutenção da lei e ordem na nossa sociedade, mas a maior parte deles não é honesta, que o digam todos os que sobrevivem à base de pequenos negó- cios. Sempre que eu venho de onde compro a minha mercadoria encontro-me com eles e sou extorquido, alegadamente porque não tenho apresentado facturas, mas eles sabem muito bem que no local onde compro não há facturas. Inventam uma discussão qualquer e lá vamos perdendo tempo. Tudo para ‘sacar’algum dinheiro das pessoas que acabam por ceder por medo. Outro problema é a falta de meios. Por exemplo, eu acho não fazer sentido que os polícias passem refeições nas barracas dos mercados informais, como geralmente acontece. Como é que o cidadão vai respeitá-los quando meia volta se encontram numa barraca qualquer e trocam copos? O Estado devia garantir a existência de centros sociais destinados a servir os agentes. De zero a dez eu daria nota sete, porque tenho notado algumas melhorias. E.M. vendedor informal Por mim a nossa polícia vai de mal a pior. Primeiro, porque não tem meios, segundo, porque não tem uma postura que paute pelos bons princí- pios éticos, terceiro, porque há uma desorganização crónica na corporação, caracterizada por polícias corruptos, bandidos e meliantes à mistura. Sou da opinião de que um pente fi no devia passar nas suas fi leiras. Por exemplo, hoje em dia, quando estamos na via pública custa-nos perceber quem é de facto um polícia de protecção e de trânsito. Todos querem mandar parar carros, passar multas, verifi car o estado da viatura, tudo para roubar o dinheiro do cidadão comum. Quem põe freios nisto? É comum umpolí- cia vender a sua alma ao diabo ou manchar o seu nome por causa de uns míseros meticais. Sou da opinião de que o Estado devia intervir seriamente no sector, não só em equipamentos à altura, diferentes nos bonés que temos visto nos últimos dias, mas também na disciplina e promoção de valores deontológicos. De zero a dez eu daria seis valores. A.N. funcionário público Com certeza que apolícia não anda nos seus melhores momentos. Mas, sublinhe-se, há um trabalho que está a ser feito para melhorar a situação. Noto que nos últimos anos tem sido apetrechada com viaturas e outros meios, razão pela qual a criminaldade baixou. Praticamente já não se ouve falar dos assaltos aos bancos, roubos de viaturas e assassinatos. Isso, penso eu, é um avanço, resultado dos esforços da corporação. Se estamos lembrados, até há bem pouco tempo, Maputo e outras cidade do país viveram momentos sangrentos e de tensão em resultado da criminaldade. Portanto, dou nota positiva ao Ministério pelo trabalho. Acredito eu que a falta de meios é o principal factor pelas péssimas actuações da polícia, daí que à medida que a polícia sevai apetrechando, a sua actuação também melhora. Quero apelar à sociedade para colaborar com os homens. Anónimo Honestamente falando, a polícia pouco nos ajuda. É claro que existem algumas honrosas excepções, mas no geral está dífi cil. Não sei se é por falta de condições, motivação ou patriotismo. Às vezes tenho a impressão de que aquilo está infestado de bandidos infi ltrados. Não é lógico que no juramento prometam trabalhar com zelo e patriotismo, mas na prática passem a vida a roubar e a extorquir o cidadão. Em suma, penso que temos a polícia que merecemos que é o resultado das debilidades que o país tem. Aliás que polícia se pode esperar num país roto, sem meios e sem capacidades para resolver os seus próprios problemas? Doendo ou não esta é a nossa dura realidade. O que um polícia ganha para conseguir alimentar-se devidamente? Olhe só para a postura física deles. Será que estão em altura de competir com os sindicatos do crime, hoje bem equipados e treinados para materializar as suas acções? Tenho sérias dúvidas que com este andar da carruagem a nossa consiga corresponder às expectativas do cidadão. Mas, sublinhe-se que a culpa não é deles. Não há moral que resiste quando a fome aperta, ou seja, o Estado deve mudar de postura em relação a estes profi ssionais, se quiser cumprir com um dos seus pápeis fundamentais: a segurança dos seus cidadãos. C.L. docente universitário Reacções nas redes sociais São sim! As razões são tantas. Um exemplo: quando interpelam um automobilista que cometeu uma infracção logo dizem: “podemos conversar? Uma mão lava a outra.” Alguns agentes da PRM são corruptos devido à actual situação de vida, salários baixos, má condições de trabalho, baixa escolaridade. Não sei se terei espaço para enumerar os males que a nossa polícia comporta. São sim, mas é preciso perceber que a acção é involuntária digo porque eles são mal pagos por isso tomam essas atitudes. Assim como os professores e os demais. Coloquemo-nos no lugar deles por um segundo para percebê-los. Desejo um feliz dia a todos os agentes da lei e ordem, muita saúde e, sobretudo, muita MOLA. Para os polícias deixarem de pensar na corrupção é necessário que o salário deles seja sufi ciente para suprir as necessidades elementares, como transporte, alimentação básica, água e luz. São sim. Pelo simples facto de me terem passado uma multa de 1000meticais porque me caiu a matrícula da frente e quando eu lhe disse que conhecia o nº 1 do artigo 34. Que a multa correspondente era de 200meticais, o agente fi cou baralhado e anulou a multa à minha frente. Não se deve generalizar o problema, claro que há sempre um agente da polícia que seja corrupto. Por vezes a corrupção é derivada do vício e ganância enraizada nas pessoas mas, por outro lado, é circunstancial. É importante que também saibamos valorizar o trabalho da polícia. Abraço São sim. Falta de incentivo, não existe motivação para defender os cidadãos. Ao invés de trabalharem procuram situações para tirar proveito próprio. Acredito que não existe nenhum sistema perfeito e para que haja esta corrupção são necessários dois intervenientes: o corrupto e o corrompido, não vamos aqui chamar nomes feios aos nossos protectores. Uma coisa é verdade, pelo pobre salário que auferem eles têm mais probabilidade de cair na corrupção quando tentados.

O Centro de Integridade Pública (CPI), uma ONG que fiscaliza a acção do Governo moçambicano, acusou a polícia de usar “balas letais” nos tumultos de Setembro de 2010 e exigiu um inquérito à conduta das autoridades. Num documento intitulado “Polícia sem Preparação, mal equipada e corrupta”, o CIP acusa ainda os agentes da lei e ordem de recorrer a balas de borracha e gases sem obedecer a regras elementares. “Foram vistos agentes da polícia de proteção a usar armas letais do tipo AKM. A polícia foi vista a lançar quantidades enormes de gás lacrimogéneo para quintais em zonas residenciais, atingindo mulheres e crianças que nem sequer se tinham feito à rua. Há relatos de pelo menos uma morte originada por esse comportamento”, refere a organização, que tem como coordenador o jornalista Marcelo Mosse. Por outro lado, balas de borracha foram disparadas directamente para as multidões, sem se observar as precauções obrigatórias, alega ainda o CIP. “As balas de borracha são instrumentos usados em todo o mundo para dispersar revoltas violentas, mas elas tornam-se armas letais quando não são disparadas a mais de 25 metros de distância e em direc- ção ao chão; por regra, essas balas só podem ser atiradas de modo a fazerem ricochete, antes de atingir o alvo”, lê-se na nota de imprensa. Estes descuidos, avança o CPI, causaram algumas das mortes ocorridas, pois as balas de borracha são letais quando disparadas directamente para um alvo. Para o CIP, “a polícia moçambicana não tem meios nem estrutura para enfrentar uma revolta de massas. Na revolta de 01 e 02 de setembro, estiveram envolvidas 5 viaturas de assalto da FIR, 18 viaturas das esquadras de Maputo, 8 viaturas das esquadras do Município da Matola e ainda 6 viaturas da patrulha-auto do Comando da Cidade de Maputo e do Comando Provincial de Maputo”. Mas, segundo a organização, a maior parte destes meios serviu para escoltar jornalistas, turistas, técnicos de saúde, bem como camiões de diversa mercadoria com destino às províncias do país. Os acontecimentos dos dias 01 e 02 de Setembro mostram que a lição de 05 de fevereiro de 2008, quando as cidades moçambicanas também foram sacudidas por ondas de violência contra o aumento dos preços do transporte público, “foi esquecida”, refere ainda o CIP.

Agentes da FIR agiram por conta e risco próprios no caso G4S, segundo o ministro do Interior O ministro do Interior, Alberto Mondlane, afi rmou que das averiguações feitas no terreno fi cou claro que os agentes que protagonizaram actos de violência para reprimir uma manifestação dos trabalhadores da empresa de segurança privada G4S, a 6 de Abril último, em Maputo, capital moçambicana, agiram por conta e risco próprios. Mondlane teceu estas considerações na Assembleia da República, respondendo às perguntas dos deputados. Segundo Mondlane, os agentes da FIR não receberam nenhumas instruções do seu comandante imediato, nem de qualquer superior hierárquico para agirem daquela forma. Por isso, disse Mondlane, estão a ser tomadas medidas disciplinares contra os agentes que infringiram os princípios que regem a actua- ção policial naquelas circunstâncias. Dados da polícia apontam para a abertura de processos disciplinares contra cinco agentes da Força de Intervenção Rápida (FIR) que usaram força excessiva para reprimir os manifestantes. “Esta operação, nos seus aspectos positivos e negativos, deixa lições importantes para o aprimoramento da formação inicial e contínua dos agentes e comandantes aos vários níveis da polícia, particularmente nas forças especiais e de reserva com o intuito de garantir uma actuação que preserve o princí- pio da legalidade e de respeito pela dignidade humana”, reconheceu o ministro. Da mesma forma, segundo Mondlane, foram tiradas lições no sentido de se desencorajar a violência, privilegiando o diálogo no processo de resolução de confl itos laborais em benefício da preservação da paz, ordem pública e do desenvolvimento harmonioso do país. Alberto Mondlane explicou que estas manifestações foram antecedidas de um ambiente de desentendimentos laborais entre o patronato e os trabalhadores e que, na busca de soluções, a polícia desempenhou um papel preponderante na garantia do diálogo entre as partes. “Neste quadro os agentes da polícia em serviço na empresa procuraram persuadir as partes a encontrarem uma solução negociada o que contribuiu para que a solução do dia 30 de Março evitasse a eclosão de distúrbios nessa data”, disse Mondlane. No dia 6 de Abril, a empresa, que já tinha fortifi cado a sua vedação, apresentava-se com as portas de acesso fechadas, não se oferecendo como interlocutor válido para dialogar com os mais 100 agentes daquela empresa de segurança privada que aguardavam impacientes do lado de fora da empresa e, mais uma vez, a polícia apelou à calma. “Não cedendo aos apelos da polícia, os trabalhadores tomaram de assalto as instalações da empresa, destruindo a vedação e os escritó- rios e incendiaram uma viatura e, na sequência destes actos, os agentes destacados na empresa solicitaram um reforço que foi garantido pela polícia normal”, explicou. Esta força, não tendo logrado conter os ânimos dos manifestantes, viu-se na contingência de solicitar a presença da FIR, unidade preparada para combater situações de violência declarada, cuja resolução ultrapassa os meios normais de actuação e, graças a isso, foi restabelecida a ordem e tranquilidade públicas no local. /

Uma equipa de patrulha da Polícia da República de Moçambique (PRM) baleou, no sábado último, uma mulher de 18 anos de idade que alegadamente estava num carro de marca BMW que a polícia diz ter sido roubado. A jovem foi baleada na região do tórax, e era acompanhante de um jovem que conduzia o carro em que ela estava. Não foi revelada a identidade da vítima. Segundo o Canalmoz, a Polícia disse apenas que a mesma é funcionária de uma instituição bancária da praça. O incidente deu-se no bairro de Mahlazine. A vítima encontra-se a receber tratamentos no Hospital Central de Maputo, segundo a Polí- cia. A identidade, do jovem que conduzia o referido carro que a Polícia diz ter sido roubado, também não foi revelada. Apenas foram detalhadas as características da viatura. É um carro de marca BMW, com chapa de inscrição “B 202 A MW”, matrícula que a Polícia diz ser do Botswana. O porta-voz da PRM da cidade de Maputo, Orlando Modumane, disse ontem a jornalistas que os jovens são meliantes que fazem parte de um grupo de quatro que na mesma zona e quase em momento simultâ- neo, roubaram duas viaturas: a já referida, BWM, e uma outra da marca Toyota Mark – II, “que viriam a abandonar devido aos sistemas de segurança de que a mesma dispunha”. “Estes carros foram roubados no bairro Central e as características dos roubos mostra que é o mesmo grupo que se dividiu”, revelou a fonte da Polícia. “É frequente aparecerem senhoras envolvidas no roubo de viaturas e este pode ser o caso”, disse ainda Orlando Modumane. A reportagem do Canalmoz viu o carro recuperado das mãos dos tais larápios. O assento do lado do motorista está perfurado por uma bala e apresenta vestígios de sangue. Segundo Modumane, o baleamento sucedeu por volta das 4 horas do último sábado. / Escrito por Canalmoz 
Agente da polícia viola cidadã na “Zona Verde” de Maputo Um agente da Polícia, agora em parte incerta, é acusado de ter violado sexualmente uma mulher de 24 anos identifi cada por A. Castigo, acto ocorrido na madrugada do passado domingo, na Zona Verde, escreve o jornal Notícias. Os factos deram-se quando a vítima, na companhia de uma amiga, trabalhava na sua horta junto ao rio Mulauze. A. Castigo contou que ela e a amiga terão sido interpeladas por dois agentes da Polícia, um dos quais fardados e o outro à paisana, que lhes exigiram identifi cação. Exibidos os BI`s, os polícias acusaram-nas de terem roubado o produto, ignorando a explicação dada de que não havia nada de irregular e que faziam aquilo quase que todos os dias para o sustento das respectivas famílias. Os agentes da Polícia terão então forçado as suas vítimas a acompanhá-los até chegarem a uma zona com construções abandonadas, onde lhes obrigariam a manter relações sexuais desprotegidas. A. Castigo disse ao jornal Notí- cias que ela terá cedido à vontade do agente fardado depois de um tiro ao ar para lhe assustar, uma vez que tentava resistir. A sua amiga, A. Bila, escapou por um triz porque ludibriou o violador ao convencê-lo para irem a um outro lugar, supostamente mais seguro, onde poderiam realizar o acto à vontade. Nesse instante, terá conseguido escapulir-se e reportar o crime na zona. /r jornal Notícias

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