O académico e filósofo
moçambicano, Severino
Ngoenha, disse esta
segunda-feira, em Maputo,
que em Moçambique “não
existem partidos políticos, mas
aparatos políticos”, pelo facto de
os seus membros serem movidos
de interesses pessoais e não pelos
ideais do grupo e muito menos
pelas preocupações da sociedade.
Ngoenha, que falava na abertura
da VI Semana da Comunicação,
uma espécie de jornadas científicas, organizada pela Escola Superior
de Jornalismo, que decorreu
nesta segunda-feira, sob o lema
“Comunicação e Formação como
bases para a Paz, Democracia e
Desenvolvimento em Moçambique”,
afirmou que o país deve
apostar seriamente na democracia,
mas para tal deve repensar
no modelo eleitoral, embora não
tenha avançado o seu.
“Constatei nas últimas eleições
(gerais de 2014) que, em Moçambique, não temos partidos
políticos, mas aparatos políticos.
Os partidos políticos são um conjunto
de indivíduos que partilham
os mesmos princípios de ser e de
estar na sociedade, que comungam
dos mesmos ideais, assim
como opiniões. Mas, em Moçambique
verifica-se que os militantes
dos nossos partidos políticos
não partilham as mesmas ideias
ou preocupações da comunidade.
Eles entram nos partidos políticos
para benefícios pessoais. Ajudam
o partido a ganhar, por forma a
“A primeira constante sociológica
está relacionada aos candidatos à
presidência da República. Em todas
as eleições temos dois candidatos
à presidência da República
(Afonso Dhlakama e um candidato
da Frelimo). Segundo, é que
a cada pleito temos tido contestação
dos resultados, alegando-se
fraude eleitoral”, esclarece.
Urge comunicar o país
Estando numa escola de comunicação
(a ESJ ministra cursos
de Jornalismo; Relações Públicas;
Publicidade e Marketing; e Biblioteconomia
e Documentação),
o reitor da UDM falou aos presentes
da necessidade de se comunicar
o país, pois esta é a única
arma de termos um povo formado
e preparado para os desafios da
vida.
Ngoenha conta que é com preocupação
que, quando vê a televisão,
ouve telespectadores a
ligarem de diversos pontos do
país, pois este facto traz a ideia de
estarmos “num país coberto pela
comunicação, enquanto não”.
“Quando vejo a televisão é normal
ouvir telespectadores a dizer que
falo de Pemba ou Lichinga, mas
se olharmos as estatísticas dizem
que 20% da população é que tem
acesso à televisão, que 70% não
tem acesso à energia. Ou seja, a
comunicação cobre o Moçambique
geográfico e não humano,
pois não chega a toda a popula-
ção”, defende, acrescentado:
“A maior parte dos jornais estão
em português, língua que não
está entre as mais faladas do país
(Macua ou Changana). É preciso
fazer chegar a informação ao cidadão
na sua língua. Outro factor
é que os mesmos jornais são vendidos
da Julius Nyerere à Estátua
de Eduardo Mondlane. Ou seja,
é uma parcela da cidade que tem
acesso a estes meios de comunica-
ção”, sublinhou.
Outro aspecto que deixa Severino
Ngoenha preocupado é o facto de
observar uma comunicação social
movida por questões políticas e
não ético-profissionais.
Segundo este, as últimas eleições
provaram esse facto: “tivemos
dois pólos de debate. Os ‘macuacuinhas
(o famigerado G40)’ e
os ‘anti-macuacuinhas’, em que
cada um defende uma ala. Para os
‘macuacuinhas’ todas as acções do
governo estão correctas. Para os
‘anti-macuacuinhas’ é o contrário.
Estes nunca vêem nada de positivo
nas acções do Executivo”, disse.
Recorrendo ao pensamento do fi-
lósofo e sociólogo alemão, Jürgen
Habermas, Severino Ngoenha
afirma que “o grande perigo da
comunicação é a sua ideologiza-
ção”, pois “formata espíritos e não
as forma, tornando as opiniões em
verdades”.
Portanto, “é preciso que trabalhem
no sentido de buscar a letia
(verdade) e não viver da doxa
(opiniões)”, alertou aos aspirantes
à área de jornalismo.
Referir que, além de Severino
Ngoenha, passaram da VI Semana
da Comunicação, o historiador
Egídio Vaz, os jornalistas Armando
Nenane e Arsénio Manhice.
Severino Ngoenha volta à carga:
alcançar os seus objectivos. Isto é
Aparatocracia”, desparrou.
Dirigindo-se à uma plateia constituída
por docentes e estudantes
daquela instituição do ensino superior,
o reitor da Universidade
Técnica de Moçambique (UDM)
criticou a política orçamental de-
finida para os pleitos eleitorais e,
particularmente, para a campanha
eleitoral, a propósito dos 70 milhões
de meticais disponibilizados
pela Comissão Nacional de Elei-
ções (CNE), no ano passado, para
financiar a campanha eleitoral.
Segundo Ngoenha, o custo das
eleições é “maior que o custo de
vida dos cidadãos”.
“Durante as eleições, o país foi
pintado por cores partidárias.
Em 45 dias, gastamos o que é
consumido por cinco províncias
mais pobres do país, durante dois
anos”, constata.
Devido a este aspecto, Ngoenha
explica que urge repensarmos no
modelo eleitoral, pois o actual é
oneroso, porém não avança o seu.
Outra preocupação manifestada
pelo académico prende-se com o
facto de em cada pleito eleitoral
verificar-se os mesmos problemas,
ao que chama de “constantes sociológicas”.
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