José Ribeiro|
22 de Novembro, 2015
São as botijas de gás que faltam nas lojas, os preços dos produtos que disparam, os taxistas que aumentam a tarifa, o tapete rolante das bagagens do aeroporto que avaria, sendo preciso pagar a “gasosa” para a transportar, e os bancos que deixam de ter “sistema”.
Nos anos de grande conflitualidade militar, esta época do ano era um momento de tormenta. Para além da oferta de produtos não ser com a fartura actual, era a ocasião aproveitada pela rebelião para derrubar as torres de energia de alta tensão para a cidade de Luanda. Quando é só o gás que falta, temos lenha e carvão, mas quando a luz falta, tudo fica mais caro e difícil, nem pensar sequer em encontrar o gás para comprar. Nos dias em que as torres caíam em Calomboloca, as famílias passavam o Natal e o Ano Novo à luz de vela ou a candeeiro a petróleo, porque não havia geradores à venda, só tinha esse privilégio quem o conseguisse trazer de fora do país.
Em poucos anos de reconciliação, o país conseguiu construir muita coisa nova e uma delas foi aumentar, e muito, a produção de energia eléctrica. O regresso à regularidade da água e da luz é dos maiores benefícios que o alcance da paz trouxe para Angola. Nenhuma das zonas habitadas da cidade de Luanda, nova ou antiga, desordenada ou melhor urbanizada, habitacional ou industrial, que surgiu com o crescimento rápido da capital nas décadas da Independência, deixa hoje de ter luz eléctrica ou de estar coberta por um projecto de electrificação.
A rede de distribuição de água potável da cidade está neste preciso momento a ser reparada, mas sobre isso há um manto de silêncio, embora se eleve a chuva de críticas quando a cidade fica alguns dias sem abastecimento. Os problemas não se resolvem de um dia para o outro. É preciso dar tempo ao tempo. As perdas originadas na rede de distribuição de energia e água, por razões técnicas ou por maus hábitos de consumo, obrigam, ainda hoje, a restrições no fornecimento e o recurso a fontes alternativas de abastecimento.
O Natal e o Ano Novo são tempos de paz, de recolhimento e de introspecção. A quadra festiva é particularmente importante para as crianças, que terminaram agora o ano lectivo e gozam o período de férias grandes, antes do regresso às aulas em Fevereiro de 2016.
Seria, pois, importante que se evitasse acrescentar mais dificuldades àquelas com que as famílias já vivem e que todos trabalhassem para que, no final do ano, fosse feito um esforço acrescido para os serviços funcionarem com normalidade. Que a “gasosa” seja apenas e somente atribuída pelo cidadão, como recompensa, quando achar que beneficiou de um serviço de qualidade. Que não seja uma imposição de quem tem o dever de ser um bom prestador do serviço para o qual foi contratado. É assim que funciona em todo o mundo. Essa regra de civismo também se aplica à oferta do “Cabaz de Natal” que as empresas oferecem aos trabalhadores e se tornou numa prática generalizada, que recorre, por vezes de forma exagerada, a meios financeiros do Estado.
Trata-se de uma mistura deformada do hábito transportado do período colonial que premiava os melhores empregados com a preocupação louvável que, em determinada altura após a Independência, se colocou de suprir a falta de bens alimentares durante os momentos de celebração do Dia da Família. A adulteração do significado do “Cabaz” como prémio para os trabalhadores mais destacados e a vulgarização do seu valor, passando a representar um subsídio salarial, apela a uma reflexão dos gestores e das empresas, particularmente das que integram o domínio público, porque, no final, premeia-se pela mesma bitola o bom e o mau trabalhador, o bom e o mau chefe.
Essa prática tem a agravante de levar à importação, todos os anos, de milhares de cestas de cabazes, com bebidas e produtos que podiam ser substituídos por artigos nacionais, cuja produção já é assinalável e em nada fica a dever àquilo que vem de fora. Nesta fase de contenção financeira, é preciso poupar.
Confesso que estive a fazer as contas, de sabor aguçado e calculadora em punho, compondo uma cesta com a variedade de bens produzidos na nossa terra, e um “Cabaz à Angolana” fica melhor servido do que um outro vindo de Portugal. Mesmo que fazendo alguma cedência em algum produto importado – porque este é o primeiro ano à sério da diversificação, o “Cabaz” angolano supera qualquer outro.
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