Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
O mais importante é abandonar os subterfúgios negociais.
Há casos que demonstram incapacidade de aprender com a história recente do país. Quem insiste em fórmulas que não ultrapassam jogo encoberto e desonesto está jogando contra a paz digna e efectiva.
Quando se distribuem ordens para organizar “marchas pela paz” um pouco por todo o país, deve-se entender tal como uma manobra de diversão e encobrimento.
As células do partido Frelimo distribuídas por tudo o que são instituições estatais parecem ter sido accionadas pela sua liderança ou Comissão Política para organizar marchas pela paz numa continuação das mensagens espalhadas pelos membros deste órgão em visitas às províncias do país.
É uma forma de fazer política que revela uma intenção firme de continuar a não aceitar que a paz precisa de outro tipo de condimentos.
Mesmo os hossanas de confissões religiosas e as visitas de Estado que estas recebem são uma forma estudada de contrariar um opositor que não recua na sua pretensão de ver reconhecido o direito de governar onde ganhou as eleições.
As declarações de que as eleições foram nacionais e não provinciais não colhem, porque tais eleições foram caracterizadas por gritantes violações dos preceitos eleitorais. Foram eleições irregulares ou cheias de irregularidades, que poucos são os que acreditam que não foram fraudulentas.
Se quem se julga justo vencedor é obrigado a aceitar que tudo lhe seja retirado, significa que não há razoabilidade nem sentido de estratégia política, visando promover a existência de condições de governabilidade do país.
A palavra “crise” precisa de sair dos jornais do país e da mente das pessoas.
A pomba da paz só voa voará com actos concretos que a encham de forças nas asas.
Há um investimento desusado em diversas frentes, supostamente visando promover a mensagem e paz e pressionar uma das partes a ceder tudo e em tudo. E o erro começa exactamente aí. Quem assim o exige e pressiona é a parte que não fez tudo o que cabia para termos um AGP cumprido na íntegra.
Que não conseguiu separar os poderes democráticos para que o judicial funcionasse com independência suficiente de modo a conferir credibilidade às suas decisões.
As senhoras amantes da paz “habituais” e as suas contrapartes religiosas jamais se bateram pela transparência, justiça e liberdade eleitoral. As partes ofendidas jamais encontraram a sua solidariedade, de cada vez que viram os seus direitos de manifestação política violados.
E arrebanhar professores e outros funcionários do Estado pintando-os como organizações da sociedade civil equipara-se a arrebanhar crianças da escola para obrigatoriamente irem ao aeroporto receber um alto dignitário do Estado ou do partido no poder ou para ir a um comício.
Camisetes de cores diferentes é um negócio florescente, pois abundam datas comemorativas e efemérides internacionais. É um negócio
que vem mesmo a calhar para quem explora o “marketing” político como forma de fazer política.
“Camaradas” especialistas de “procurement” e bem situados rapidamente encomendam e enviam as camisetes solicitadas para as marchas nos diferentes lugares programados. A máquina partidária funciona a todo o vapor para cumprir as instruções superiores, e depois fica-se à espera dos relatórios de missão cumprida.
Esta forma de encarar a crise pós-eleitoral é irrealista e prenhe de consequências.
Atabalhoadamente organizam-se acções tendentes a desvirtuar o outro como culpado do quadro negro em que o país está mergulhando.
Empresários ligados ao regime queixam-se do descalabro da economia, mas esquecem-se de que são parte integrante do complô que pariu os resultados eleitorais “indigestos”.
Os moçambicanos merecem outra sorte e não uma apresentação unilateral de factos inconclusivos e surreais.
O tempo é de oferecer a todo um povo esperança, seriedade negocial e responsabilidade patriótica.
É tudo uma questão de as partes reconhecerem os limites das estratégias actualmente perseguidas.
O país está sofrendo e os alicerces da moçambicanidade em construção sofrem abanões que ameaçam fazer ruir o edifício nacional.
É possível recuar aos primórdios e atacar os problemas conhecidos com sentido prático e real. Se algo relacionado com o AGP e o Acordo de Cessação das Hostilidades tem de ser revisitado, haja seriedade para fazê-lo sem pretensões legalistas ou constitucionalistas.
É sabido que para problemas políticos as soluções são políticas, e tudo ao contrário disso é pura desonestidade política.
Os apelos à paz fazem sentido se forem enviados a todos os envolvidos sem exclusão.
E, por falar em exclusão, precisa ficar claro que, enquanto houver uma tendência de tê-la como estratégia de condução dos assuntos nacionais, a paz tardará e a concórdia não acontecerá.
Temos um destino comum como nação e importa que os nossos políticos se situem ao nível dos desafios existentes. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 01.10.2015
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