O líder da Renamo, Afonso
Dhlakama, saiu ileso
numa segunda emboscada
a 25 de Setembro na Estrada
Nacional 6 (EN6) em Zimpinga,
no posto administrativo de
Amatongas, (Manica)- uma zona
com características semelhantes às
de Chibata (subida acentuada e colina
na encosta), onde no dia 12 de
Setembro, tinha sido metralhada a
sua comitiva – numa acção idêntica
protagonizada por homens armados
trajados à civil. As circunstâncias do
novo incidente, que matou 25 pessoas
(entre civis e militares), têm gerado
descrições contraditórias entre
a Renamo, a polícia e os relatos
recolhidos junto da população e de
testemunhas oculares.
Na versão da polícia, agora secundada
pelo governo, a culpa é imputada
à guarda da Renamo que, numa
versão pouco consistente e diversas
vezes alterada, atribui o início do
massacre aos disparos sobre um
“chapeiro” que circulava em sentido
oposto, Inchope-Chimoio. O maior
partido da oposição rebate a versão e
diz que sofreu uma nova emboscada
das Forças de Defesa e Segurança
visando assassinar o seu líder, Afonso
Dhlakama.
Segundo apurou o SAVANA no local,
setenta e cinco minutos após ter
começado a emboscada e junto de
testemunhas oculares, às 11:50 horas
o “chapa” de 15 lugares que fazia
o sentido Inchope-Chimoio cruza
com a comitiva da Renamo que
descia circulando na faixa contrária
(Chimoio-Inchope), quando três
roquetes(RPG7) foram lançados de
uma colina à esquerda (do chapa) seguidos
de disparos de armas ligeiras,
com tiros à rajada.
O motorista do chapa, Carlos Quipiço
Guihole, é atingido e o transporte
lotado fica desgovernado e
embate na traseira de um camião-
-tanque, que estava avariado na
mesma faixa de rodagem desde
09:00horas daquele dia. Segundo o
jornal desportivo Abola, o motorista
é pai da atleta moçambicana Argentina
da Glória, radicada na Itália e
que brilhou em competições nacionais
juntamente com Lurdes Mutola
nas provas de 800 metros.
Nesta altura, a comitiva da Renamo
Novo ataque à comitiva de Dhlakama massacra 25 pessoas
Cai a máscara
Por André Catueira, em Chimoio
pára as viaturas e a guarda responde
aos tiros, ao mesmo tempo que os
passageiros do semi-colectivo em
pânico saem das janelas – fugindo
para ambos os lados da estrada debaixo
de uma chuva de balas que vinha
da mata de eucaliptos existente
na zona.
Às 12:09 horas recebia a primeira
chamada telefónica me alertando
sobre o confronto na zona de Zimpinga,
pouco antes da Amatonga-
-Socer. Às 12:58 horas, já na saída
da vila de Gondola a caminho para
a zona do ataque, uma viatura da
Polícia com oito agentes armados –
circulando na faixa contrária – tenta
parar a minha viatura e aconselha o
regresso à origem, mas conseguimos
“furar” o cordão de segurança e continuamos
a viagem até ao local.
A via já estava deserta, no mercado
de frutas na Maforga, a quase sete
quilómetros do palco dos confrontos.
Camiões, “chapas e viaturas ligeiras
inundavam as duas margens
da estrada, um camião “Leyland”
bloqueava a via, atravessando as duas
faixas com a carroçaria, mas um pequeno
espaço dava lugar à passagem
de uma Land Cruiser de uns fazendeiros
que evacuavam as crianças
que albergam num projecto humanitário.
“Nós vínhamos num chapa do Inchope
e cruzámos com a comitiva
de (Afonso) Dhlakama e os ataques
começaram aí. Os tiros vinham da
montanha e o motorista (do chapa)
morreu aí, foi atingido, (depois) o
chapa foi contra um camião, o camião
começou a drenar combustível
e começamos a sair da janela já a fugirmos”,
disse J que viajava no semi-
-colectivo, sem conseguir identificar
os atacantes (já com o texto finalizado,
esta testemunha, devidamente
identificada, pediu-me para não o
mencionar pelo nome, temendo represálias).
A mesma versão foi dada
pelo cobrador do carro.
Contou ainda que os passageiros que
conseguiram escapar aos tiros, ao
acidente e ainda ao perigo de fogo
do camião-cisterna, depararam-se
depois com um grupo de homens
armados, mas vestidos à civil, que
lhes indicaram um caminho seguro
para saírem do local em segurança,
tendo caminhado a pé oito quilómetros
mata adentro até uma fazenda,
cujos proprietários os evacuaram
para o mercado da Maforga, onde o
entrevistámos ainda em pânico.
Ainda se ouviam os tiros junto à
mata, quando contornámos o camião
que fazia barreira na estrada e numa
marcha lenta seguimos para a zona
do ataque. Pelo caminho, homens,
mulheres e crianças com trouxas às
pelas costas e na cabeça, corriam desesperados,
acenando para que não
fôssemos naquela direcção.
Às 13:24 horas, já no local onde estavam
imobilizadas todas as viaturas,
viam-se os carros da Renamo perfi-
lados, com uma distância de separação
(de 30 a 60 metros calculados
a olho nu) aconselhável após uma
brusca travagem. Um dos carros de
transporte de militares da Renamo
estava encostado frontalmente
ao camião-cisterna abandonado na
berma da estrada e vários corpos
estavam estendidos no asfalto e nas
margens da estrada e bagagem espalhada.
Faço as fotos que circularam
por todo o mundo, testemunhando
o massacre dos homens da Renamo.
Fizemos toda a descida através do
cenário de horror, até o local onde
Afonso Dhlakama estava posicionado
com parte da sua guarda – num
posto de venda de carvão com uma
palhota ao lado e mangueiras – onde
estavam a ser assistidos três homens
seus feridos por balas.
A versão policial
“O mais presumível é que a troca
de tiros tenha sido entre os próprios
militares da Renamo, na sequência
do primeiro tiro dado pelo homem
que estava atrás da caravana”, afirmou
Armando Canhenze, comandante
da polícia de Manica.
Esta versão contrasta com o que
constatámos no local, pelo tiro que
tinha quebrado a janela esquerda do
chapa e se alojado na parte da cabe-
ça e pescoço do motorista, de torso
tombado para a frente e os braços
segurando o volante, sugerindo que
o tiro terá sido disparado da esquerda,
ou seja da colina, como tinham
antes informado as testemunhas.
Outrossim, ao que ainda constatamos,
a ser disparado o tiro do último
carro da comitiva da Renamo, o
atirador tinha de ser incomum, pois
na posição em que esta viatura estava
(onde a encontrámos imobilizada),
não tinha a visibilidade do “chapa”,
nem do camião à sua frente, devido a
uma curva, seguido de uma acentuada
descida.
O responsável da Polícia em Manica,
num discurso cheio de contradi-
ções, disse que o primeiro tiro “assustou
os outros, criando pânico no
seio do grupo”, o que descreve como
uma situação “normal em equipas
grandes e desordenadas”, tendo depois
ocorrido um acidente entre uma
viatura da Renamo e um camião,
com a caravana já desorientada e a
correr em debandada”. A evidência
porém mostra apenas que a viatura
da Renamo “descaiu” em direcção ao
camião-cisterna, depois dos homens
no carro terem também sido atingidos
por fogo vindo das bermas da
estrada.
Armando Canhenze referiu que
“ninguém sabia de onde vinha o tiro
e cada um começou a dar tiros para
todo o lado”, o que sugere uma incompetência
militar da guarda da
Renamo.
Canhenze refutou também a tese
de homens armados trajando à civil.
“Isso não corresponde à verdade” e
que os seus efectivos estão sempre
fardados.
“Os nossos homens não fazem isso,
se é polícia está trajado com o devido
uniforme, se é militar a mesma
situação, até mesmo os guardas privados
são obrigados a trajar os devidos
uniformes. É até ridícula a ideia
de nós metermos homens armados
à civil num local”, disse Armando
Canhenze.
Armando Canhenze concorda que
a Renamo não teria a coragem de
atingir civis, “mas disparou porque
pensou que existissem militares no
local”, referindo como exemplo a sua
própria experiência na tropa em que
“grupos disparavam contra eles pró-
prios devido ao pânico”.
Ainda na versão policial, os agentes
foram encaminhados para o local
com vista a restabelecer a ordem
e envolveram-se em troca de tiros
com os homens da Renamo, em
confrontos que se prolongaram até à
noite. A Polícia não esclarece, contudo,
quanto tempo precisou para
chegar ao local, depois que foi avisada
sobre o “abate” do chapeiro. Na
emboscada do dia 12 também foram
vistos homens armados trajando aà-
civil e a população na zona disse que
dois dias antes do ataque, militares
tinham estabelecido um acampamento
próximo da encosta de onde
foram disparados os tiros contra a
coluna da Renamo.
Uma peritagem simples pode estabelecer
de onde partiu o tiro que
vitimou o chapeiro, assim como os
inúmeros corpos recuperados de
mortos da Renamo pode determinar
o tipo de balas e armas usadas no
ataque, assim como a direcção dos
tiros. A tese do “choque” com o camião-cisterna
é inteiramente falsa já
que a viatura estava imobilizada no
local desde as 09:00 horas da manhã
daquele dia. Os processos-crimes
que a polícia diz que vai instruir
contra a Renamo, nas circunstâncias
testemunhadas, só podem ser “uma
fuga para a frente”.
Emboscada
Uns guardas de uma fazenda pró-
xima do local do incidente, que
também acenaram com sinais de
proibição para não irmos ao local no
cerne do confrontos, descreveram ao
SAVANA a ocorrência, ao fim da
manhã de sexta-feira, de um intenso
tiroteio durante cerca de 15 minutos
numa elevação junto à estrada, onde
se encontrava imobilizada a comitiva
da Renamo.
Contaram que 20 minutos antes de
passar a comitiva de Afonso Dhlakama,
uma viatura Toyota Vigo, de cor
branca, que saiu do lado de Amatongas,
foi até a colina e deixou um
grupo de homens à civil e armas e
regressou de imediato na mesma direcção,
salientando que inicialmente
foram disparados lança-roquetes.
A versão dos tiros de RPG7 é con-
firmada por Lázaro Guente, único
morador que tinha a casa a
menos de 15 metros do local da emboscada, que disse, ter confundido o estrondo do rebentamento
do RPG7 com algum incidente
com o camião ali parado, e que
se apercebeu dos confrontos, durante
o banho, depois dos disparos de armas
ligeiras.
No raio do ataque existem apenas
nove casas, cada uma bem distante
das outras. Quase um quilómetro e
meio de cada lado do epicentro dos
confrontos existem duas aldeias,
Amatonga-Socer e Mutsinzua (no
cruzamento de Pindanganga), e
quase todas as famílias não se aperceberam
antes de algum movimento
que chamasse atenção.
Tempo depois, disse, os militares
da Renamo chegaram na sua casa
para evacuar a família para uma aldeia
próxima, para evitar vítimas civis,
tendo, na companhia de outros
passageiros do chapa – que tinham
fugido para a direita da estrada –
sido escoltados por dois guardas do
movimento, pela linha-férrea, até à
aldeia próxima, junto às instalações
da Associação Tariro (do lado de
Mutsinzua).
Ana Tenesse, uma anciã surpreendida
na sua casa pelos confrontos, con-
firma a evacuação da população pelos
homens da Renamo, garantindo
ter sido levada às costas de um deles
até próximo à aldeia onde depois foi
largada para caminhar, assegurando
que quase todos os moradores já se
tinham refugiado lá e a área estava
limpa de civis (com excepção de alguns
passageiros do chapa que encontramos
ainda deitados na encosta
da colina à espera de socorro).
Na versão do comandante da polícia
de Manica, ao aperceber-se da troca
de tiros, as populações que vivem nas
proximidades abandonaram as suas
casas e refugiaram-se nas matas.
“Foi instalado um clima de medo na
zona e as pessoas só saíram muitas
horas depois, por volta das dez da
noite”, afirmou Armando Canhenze,
acrescentando que, indignadas com
a situação, incendiaram oito carros
abandonados pela Renamo, que, por
sua vez, segundo a polícia, terá destruído
duas viaturas civis.
Mas um líder religioso, que tinha
a versão de vários populares por
nós ouvidos, insistiu que as chamas
foram vistas pouco depois das
18:00horas, assim que os militares
governamentais - que vinham das
matas e se concentravam defronte
da associação Tariro - entraram em
três carros – dois carros da Polícia e
um militar - e desceram na direcção
onde estavam imobilizados os carros.
O mesmo guarda de uma fazenda
próxima disse ainda que, até ao fim
da noite de sexta-feira, ainda se ouviam
tiros e o clarão de fogo junto
à estrada, possivelmente de carros a
arder, foi visto minutos depois das
18:00 horas, quando a caravana militar
desceu para cruzar o local.
A Polícia não deteve nenhum popular,
envolvido no incendiamento das
viaturas, mas, segundo o Armando
Canhenze, saiu em defesa das viaturas
da Renamo, tendo salvo quatro,
incluindo a de Afonso Dhlakama,
que foram rebocadas escoltadas pela
polícia para Chimoio.
Na reacção ao incidente, a Frelimo,
partido no poder, descreveu Dhlakama
como um fora de lei e terrorista,
instando-o a abandonar as armas,
enquanto a Renamo acusou o Governo
de tentar assassinar o seu presidente.
Mortes
A Polícia de Manica actualizou na
quarta-feira o balanço de mortes
para 25 pessoas (quando cheguei no
local do ataque sexta-feira contabilizei
9 mortos estatelados pela estrada)
entres civis e homens da Renamo,
mas o maior partido da oposição
confirmou sete mortos dentro da sua
comitiva (que inclui militares e staff
do líder) e dezenas entre as Forças
de Defesa e Segurança.
Os corpos das vítimas civis e de homens
com a farda verde do braço armado
da Renamo foram transportados,
ao princípio da tarde de sábado,
para a morgue do Hospital Distrital
de Gondola, mas devido a sua incapacidade
foram encaminhados para
o Hospital Provincial de Chimoio
(HPC).
Na morgue da HPC só deram entrada
12 corpos oficialmente, não se
sabendo onde estão os restantes 12,
uma vez que apenas um dos corpos,
o do motorista do chapa, foi enterrado
no domingo último.
Armando Canhenze, que não forneceu
detalhes sobre as circunstâncias
de tantas baixas da Renamo, disse
que a polícia está preocupada com
a segurança de Afonso Dhlakama,
que, segundo afirmou, se encontra
em parte incerta.
“A operação continua, nós estamos
preocupados com o líder da Renamo,
que ainda está em parte incerta,
talvez sem abrigo e a passar fome”,
afirmou o comandante da polícia em
Manica.
“Queremos dizer ao povo moçambicano
que o presidente Dhlakama
saiu são e salvo, está em bom estado
de saúde, moralmente preocupado com o caminho que nossos detractores
escolheram para que fosse seguido
no país”, declarou António Muchanga
em conferência de imprensa
em Maputo.
Dados na posse do SAVANA indicam
que outros dois militares da
Renamo feridos acabaram morrendo
sábado, tendo sido enterrados
no mesmo dia, num cemitério onde
jazem corpos de militares zimbabueanos,
mortos durante a guerra civil,
na zona de Chicaca (Pindanganga),
quase 20 quilómetros a norte do local
do acidente.
Presume-se que a guarda da Renamo
abandonou as viaturas e seguiu
a pé para o norte do local do ataque
e atravessou o rio Púnguè em direcção
à Gorongosa, para a base de
Satunjira depois de concluir que não
conseguia romper o cerco de que foi
alvo pela força atacante na tarde de
sexta-feira.
Corpos por reclamar
Entretanto, a direcção do Hospital
Provincial de Chimoio (HPC) assegura
que 11 dos 12 corpos, vítimas do incidente do dia 25, que deram
entrada na morgue ainda não foram
reclamados, quer pelo partido Renamo,
quer por familiares.
“Apenas um corpo foi reclamado e
o funeral foi realizado domingo. Os
restantes 11 corpos mantêm-se na
morgue e aguardam procedimentos”,
disse Albino Alface, responsável da
morgue, sem esclarecer se são militares
ou civis, adiantando que passados
21 dias (até 15 de Outubro) as autoridades
municipais se encarregarão
de depositar os corpos numa vala
comum.
Contudo, o porta-voz da Renamo
havia adiantado que a prioridade do
partido era retirar os corpos das vítimas
e dar-lhes um funeral condigno
e que Dhlakama vai continuar a lutar
pela democracia em Moçambique.
Fugas
Na segunda-feira o SAVANA voltou
ao local dos ataques e constatou
que várias famílias estão a fugir da
zona por recear retaliação da guarda
da Renamo após a Polícia acusar
a população de ter incendiado oito
viaturas do partido.
Na noite do ataque, a polícia disse
que a “fúria popular” terá incendiado
as viaturas, tendo as autoridades sa-
ído em socorro e conseguido salvar
quatro, mas a população rebate esta
versão assegurando que as chamas
foram vistas depois que uma caravana
militar governamental passou do
local, após serem recolhidas as quatro
viaturas.
“Isso é um perigo, o Governo está a vender-nos. Porque a Renamo pode
voltar aqui dizer que vocês queimaram
nossos carros, os militares (governamentais)
estavam aqui e vocês
não nos informaram, estavam em
conluio”, disse Lázaro Guente, reagindo
à informação da Polícia, bicicleta
na mão, com a qual evacuava os
seus bens.
A maioria da população que se encontrava
no raio do ataque, disseram
os residentes, foi evacuada pela
guarda da Renamo durante os confrontos,
para evitar baixas de civis,
avisando para se retirar e que seus
pertences estariam em segurança,
tendo um grupo militar escoltado as
famílias até uma comunidade próxima.
“Quem teria a coragem de entrar
no meio da tropa (governamental)
e queimar carros ?” questionou Mateus
Francisco com a mesma indaga-
ção de Nora Tenesse, uma anciã que
foi levada às costas por um militar da
Renamo para ser deixada na aldeia.
Contudo, a polícia de Gondola,
através da comandante distrital Esperança
Calisto, citado pela Rádio
Moçambique, tem estado a apelar, sem sucesso, à população para regressar
às suas casas, e que a corporação
tem estado a trabalhar para
garantir a sua segurança.
Escoltas
Sugerindo um largo saudosismo das
escoltas de Muxúnguè-Save, a polí-
cia de Manica conduziu em coluna
algumas dezenas de viaturas na noite
da sexta-feira entre Gondola e o
Inchope, num percurso de quase 40
quilómetros, só para se passar na
zona do ataque.
O trânsito na Estrada Nacional 6
(EN6), que tinha ficado interrompido
desde as 12:00 horas de sexta-
-feira, só voltou a ter uma circulação
normal às 17 horas, mas as viaturas
circulavam condicionadas, enquanto
a Polícia recuperava os corpos e
tomava conta das viaturas abandonadas.
A situação ficou normalizada na manhã
de sábado.
Antes de se refugiar em parte incerta
Dhlakama insiste no diálogo
Na única entrevista concedida
após o ataque,
o líder da Renamo,
Afonso Dhlakama considerou
“lamentável a aposta da
Frelimo num ataque” à sua comitiva,
mas assegurou que não se
vai vingar.
“Como já disse, Deus existe. Mas
é bonito assim, e que estejam a
fazer assim [emboscadas], porque,
no dia que a Renamo declarar
ou pretender declarar a guerra
mesmo no país, ninguém irá
nos condenar”, afirmou Afonso
Dhlakama no local da emboscada,
visivelmente preocupado com
a situação.
“Quem responde em defesa
à vida não está a fazer guerra.
Portanto naquele dia 12 respondemos
e todo o mundo esperava
que a Renamo reagisse, nós
não reagimos, assim como aqui
(Zimpinga, a 25), continuo a dizer
que não me vou vingar disto,
porque já me vinguei durante 16
anos e não é hoje que me vou
vingar desta brincadeira”, declarou
Afonso Dhlakama, enquanto
se ouviam novos disparos durante
a entrevista. Ele garante que
eram os seus militares em perseguição
de um atacante.
Dhlakama referiu que não se vai
vingar do ataque para não criar o
caos no seio da população, mas
avisou à Frelimo “para parar, porque
isso é uma brincadeira de
mau gosto”.
“Nunca pensei que depois de
23 anos da “paz, entre aspas, a
Frelimo em pleno dia fosse nos
atacar”, afirmou Dhlakama, que
ainda no local tentava desdobrar
a sua guarda para criar um cordão
de segurança, pela ameaça de
uma nova investida de “militares
que vinham em cinco carros civis
4x4 em socorro dos atacantes”.
O SAVANA viu quatro carros,
que estavam a uma distância mé-
dia de 150 metros do local onde
Afonso Dhlakama concedeu a
entrevista. Mas depois de mandar
os seus comandos para vasculhar
os carros, estes recuaram
apressados.
Além dos mortos no local, o
SAVANA testemunhou ainda
a existência de civis feridos, em
número não contabilizado, alguns
dos quais com marcas de
balas. Havia também, na encosta
junto da via, de onde terá partido
o alegado ataque, vários civis, que
permaneciam deitados, à espera
de socorro.
“É guerra, em guerra morre-se
e fere-se”, comentou Afonso
Dhlakama, referindo que os tiros
saíram de uma elevação próxima
da estrada e que os seus homens
apreenderam três armas, uma das
quais uma AK47, um carregador
com munições e uma arma
lança roquetes RPG7, que disse
pertencerem às forças estatais
“porque as minhas eu entreguei à
Onumoz em 1992”.
Os homens da Renamo, descreveu,
responderam aos tiros e
entraram mata adentro em perseguição
dos supostos atacantes,
acrescentando que, “se não fugissem,
seriam capturados à mão” e
que os ataques estão a “estão a
fazer morrer os filhos do dono”.
Dhlakama apelou para que o
presidente moçambicano, Filipe
Nyusi, leve a sério a actual situação
e pare os ataques.
“São filhos de população inocente
que estão a apanhar tiros,
mas isso tem de terminar, porque
como eu disse que a morte do
(Afonso) Dhlakama não signifi-
ca o fim da Renamo, porque se
calhar é para acelerar com a vitória
de Dhlakama com a revolução,
porque a Frelimo não pode
pensar que a morte do Dhlakama
é apanhar tiro, é enterrado e a situação
mantém-se assim, não”,
declarou, insistindo que não tem
medo de morrer, mas com a sua
morte poderia entrar quem não
tivesse a sua paciência.
“Ele, Nyusi, é que me roubou votos,
ele é que me atacou e nem
tem capacidade militar”, afirmou
o presidente do maior partido de
oposição, insistindo que, apesar
da emboscada, os seus homens
conseguiram “correr com eles [os
alegados atacantes]”.
“Quero aproveitar apelar ao (Filipe)
Nyusi para que de facto tome
em consideração que não pode
brincar, aquele senhor (Nyusi)
é jovem e é criança. O povo de
Moçambique e o Dhlakama são
filhos de alguém, e esses que estão
com Dhlakama são filhos de
pessoas, e esses que nós capturamos
suas armas são filhos de
pessoas”, insistiu apelando ao
diálogo.
Sobre a interrupção rodoviária
no troço Beira-Machipanda, levando
a longas filas de camiões e
transportes públicos na região da
Maforga, o líder da Renamo afirmou
que “estão a criar instabilidade
nas estradas, mas há pessoas
que querem passar da Beira para
Chimoio, isso é retardar o desenvolvimento,
mas é a Frelimo que
diz querer a paz, é a Frelimo”.
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