Monday, October 5, 2015

Há planos para assassinar Dhlakama?

Sectores radicais fora da órbita de Nyusi comandam as operações
A acção armada em Amatongas (Manica) contra a comitiva da Renamo, na qual se fazia transformar Afonso Dhlakama é, talvez, deste o ataque de Chibata (Macossa), a 12 de Setembro, o mais sério recuo à possibilidade das partes voltarem à mesa do diálogo e/ou um encontro entre o líder da oposição e o Presidente da República, Filipe Nyusi. Ao que o SAVANA apurou, outros factos recentes mostram que há desnorte, nervosismo nos sectores mais radicais da Frelimo e até um perigoso plano para assassinar Afonso Dhlakama. Mas outras fontes ligadas às forças armadas moçambicanas afiançaram-nos que o ataque de Amatongas, tipificado como uma emboscada, foi minuciosamente em Maputo e visava apenas acabar com as caravanas de Afonso Dhlakama, decapitar a sua escolta, fragilizá-lo politicamente e reduzir o ânimo das suas forças “residuais”, na terminologia governamental. Segundo informações recolhidas pelo SAVANA, parece líquido que a operação não tinha por objectivo assassinar Dhlakama, dada a forma como foi executada, mas mostrar que a sua aniquilação física é possível sem grandes dificuldades. Obrigá-lo a retaliar é outro dos objectivos que se pretendia alcan- çar, justificação que alguns sectores fundamentalistas da Frelimo procuram para uma “ofensiva final” tipo Angola. Ao que o jornal apurou, Afonso Dhlakama preparava-se para se deslocar a Maputo e tomar parte das celebrações do 4 de Outubro, dia dos Acordos de Roma, que colocaram fim a 16 anos de guerra. Contudo, essa pretensão não caiu bem junto de alguns círculos do poder, com o argumento de que o líder da Renamo somaria politicamente pontos tal como o fez quando apareceu junto de Joaquim Chissano nas comemorações dos 20 anos da Universidade Católica na cidade da Beira. Embaraços No entanto, sectores mais moderados do regime acolheram com algum embaraço as acusações acerca da pretensa operação para assassinar Dhlakama, acção que consideram que pode empurrar o país para uma confrontação armada de desfecho imprevisível. Teodato Hunguana, uma voz sensível no interior na Frelimo, citado esta semana pelo Magazine Independente, confessa a sua perplexidade pelo curso actual dos acontecimentos. Os analistas políticos que acompanham a situação desde o ataque de Macossa (12 de Setembro) e a operação de Amatongas (25 de Setembro) são unânimes em que a actual tensão política poderia ser ultrapassada por via de um diálogo directo entre o líder da Renamo e o PR, Filipe Nyusi. Contudo, esta ideia é rejeitada por uma ala radical da Frelimo, que nos últimos tempos tem defendido uma “Solução Savimbi”. Quem nos últimos dias tem estado em força a defender uma acção vigorosa contra a Renamo, são os “intelectuais” do chamado G40, um grupo de comentaristas seleccionados a dedo para estuprarem a verdade e reduzir a cinzas todas as ideias não vindas do sector mais conservador e belicista no partido do poder. A rádio estatal (RM), por exemplo, esta semana, no programa “café da manhã”, foi usada para manipular os acontecimentos de Amatongas. No referido programa foram igualmente ventilados sentimentos de ódio em relação ao maior partido da oposição e há acusações de que a Renamo está ao serviço de interesses estrangeiros, que estão interessados numa situação de instabilidade para melhor saquear os recursos do país. A União Europeia (UE), que se reuniu com a Renamo logo após os acontecimentos de Amatongas, fez circular um comunicado a apelar à contenção mas foi alvo de duras críticas por parte de elementos da ala mais boçal dos G40. No dia do ataque, Armando Guebuza, a partir da Praça dos Heróis chamou “marginal” a Dhlakama e o chefe da polícia na Zambézia, agastado com a população de Morrumbala (Zambézia) por reagir mal ao reforço da presença de forças de segurança na região, acusou-os de conviver bem com a “cobra”, uma referência pejorativa contra as simpatias para com a Renamo naquele distrito. O diálogo é o caminho indicado Em comentários ao nosso jornal, o director do Centro de Integridade Pública (CIP), Adriano Nuvunga, condenou com veemência os ataques perpetrados contra comitiva do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, considerando que numa sociedade democraticamente organizada não pode haver uso de armas para silenciar o outro, mas sim, deve prevalecer a troca de ideias. Segundo Nuvunga, o diálogo é o caminho indicado para se chegar ao fim da tensão política pós eleitoral que se vive no país “e custa acreditar que corramos o risco de entrar em mais um confronto armado”. Disse que o futuro é imprevisível, porque o líder da Renamo, Afonso Dhlakama está uma vez mais em parte incerta e armado, o que não é bom para o crescimento do país, que tanto necessita de produzir para ganhar a estabilidade a vários níveis. No entanto, Nuvunga refere que o discurso do Presidente da República, Filipe Nyusi, sobre a manuten- ção da paz, não sugere que tenha sido ele a ordenar os ataques, e destacou os dois encontros que manteve com o líder da Renamo, logo após a sua tomada de posse, como sendo sinais de busca de paz. No entender do académico, este acto pode ter sido emanado por sectores mais fundamentalistas do partido no poder, que aproveitaram a saída do PR para o exterior. “Quando Samora Machel viajou pela primeira vez para os Estados Unidos de América (EUA) a fim de se encontrar com Ronald Regan, queimaram o paiol em Moçambique. Agora Nyusi viajou para o mesmo país e houve ataques à comitiva da Dhlakama, “referiu. Apesar desta situação, Nuvunga diz ser preocupante o facto da Renamo se manter armada duas décadas após a assinatura dos Acordos de Roma, mas avança que é preciso olhar para isto como resultado do difícil processo de reconciliação dos moçambicanos. Sectores da Renamo disseram ao jornal que aquando do primeiro ataque à comitiva de Dhlakama “estava-se muito perto de um encontro com Nyusi”, acrescentando que o mesmo já tinha acontecido quando um encontro tinha sido agendado para Nhamatanda e foi desmarcado à última hora. “Até parece que os tiros são dirigidos a Nyusi”, desabafou um analista polí- tico que não quis ser citado. Respeitar o desejo do povo Quem também acredita que há sectores influentes dentro da Frelimo, que olham para eliminação física de Afonso Dhlakama como a via primordial para a resolução dos problemas e não o diálogo, é Raul Domingos, o antigo número dois da Renamo e negociador-chefe do maior partido da oposição em Roma. O actual presidente do Partido para Paz Democracia e Desenvolvimento (PDD) defende que a actual situação entra em choque com o discurso do presidente aquando da tomada de posse, quando disse “em alto e bom som que não iria permitir que um moçambicano matasse o outro”. Com dois ataques em menos de 15 dias, Raul Domingos diz ser sufi- ciente para concluir que o debate sobre o desarmamento da Renamo é falso. Para Domingos, é preciso desarmar-se também a Frelimo que está a precipitar o país para um futuro incerto. “Estamos com 50% de probabilidade de guerra e 50% de paz. Os amantes da paz devem-se unir na busca de soluções e deixar de lado manifestações tendenciosas de culpar uma parte e confortar outra, que também tem seus pecados ”. Raul Domingos diz que o país está nesta situação, porque não se quer respeitar o desejo do povo, que tanto clama por ser governado por quem elegeu. A solução proposta por Domingos para se evitar que o país resvale para uma situação de derramamento de sangue passa por aceitar a descentralização. Explica que a democracia é o governo do povo e as populações do Centro e Norte votaram em alguém que não os está a governar, facto que gera descontentamento. “A democracia não é um processo acabado está sempre em reformas pelo que é chegada a hora de mexer no regime político vigente no país, adequá-lo à realidade eleitoral, o que significa respeitar a vontade do povo nas urnas”. “Podemos adiar o problema por um ou dois anos, mas não será eternamente e mais vale encarar a realidade do que contorná-la”, recomenda Raul Domingos. (Redacção)

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