ENTREVISTA
NUNO SÁ LOURENÇO
11/04/2015 - 08:34
Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional dos Açores, acredita, contudo, que ainda há espaço para solução de compromisso.RUI SOARES
MAIS
FLAD vai apoiar empresas tecnológicas
Foi logo no início do seu mandato como presidente do Governo Regional dos Açores que a base das Lajes aterrou no gabinete de Vasco Cordeiro. Tem sido essa a “batata quente” que tem dado mais notoriedade ao socialista que substituiu na liderança do executivo do arquipélago o agora presidente do PS, Carlos César. Cordeiro elogia o caminho que António Costa está a fazer como secretário-geral do PS e considera que Sampaio da Nóvoa tem o perfil adequado para ser Presidente da República.
Passaram cerca de três meses desde a reunião da comissão bilateral marcada para discutir a redução militar nas Lajes e o silêncio instalou-se. Está preocupado?
Nem todas as diligências que se fazem neste âmbito se revestem da publicidade e da mediatização que uma reunião em concreto teria. Nesta fase estarão a ser acertados os calendários e os pormenores logísticos para a próxima reunião e o que eu gostava de dizer é que tenho confiança que o agendamento dessa reunião extraordinária corresponda a um acto de boa-fé de ambas as partes no sentido de se discutir com seriedade o assunto.
Quais são os assuntos que têm de ser abordados para poder considerar que o processo estará no bom caminho?
Não é possível chegarmos à próxima reunião com alguns aspectos fechados. Isso seria a negação da utilidade da própria reunião. Tudo o que tenha a ver com a configuração da intenção que foi manifestada pelos EUA quanto a números e calendários, a assunção de uma responsabilidade de ajudar a lidar com o impacto social e económico. Há um conjunto de dúvidas que considero legítimas da nossa parte e que devem ser debatidas. Houve compromissos públicos da parte americana — refiro-me às declarações que o então secretário Leon Panetta fez quando esteve em Portugal — e aquilo que foi anunciado não corresponde ao cumprimento desse compromisso.
Ao longo deste processo, muito do esforço de pressão centrou-se no Congresso norte-americano. Foi a estratégia correcta?
Face à forma e aos sinais que foram sendo recebidos quanto à abertura de outros níveis do Governo americano, essa incidência no Congresso foi uma boa abordagem. Porventura terá sido mais publicitada, mas também sei que não foi exclusiva. Houve outras diligências a outros níveis para demonstrar que se estava perante uma má intenção.
Mas ir pelo Congresso não é um desafio à Administração? Se apostamos na oposição, não colocamos em risco a disponibilidade da Administração Obama?
Nós socorremo-nos de todos os meios que temos à disposição. Há um dado na sua pergunta que faz toda a diferença. Nós não deixámos de falar com o Executive Branch. Não cortámos pontes. Mas também não era aceitável que limitássemos as possibilidades de abordar esse assunto com outros níveis de poder apenas por causa dessa situação. Foi a abordagem correcta, e foi a que da parte do Governo dos Açores teve a intervenção talvez mais incisiva, fruto também das ligações que existem entre congressistas e os Açores. Saliento que não está em causa a legitimidade dos EUA em definir, com o seu dinheiro, a organização dos seus meios militares. Se é certo que o pode fazer desta forma no seu território, quando estamos a falar do território de um país aliado o assunto não deve ser conduzido desta forma.
Está a referir-se à forma como o anuncio foi feito?
Sim. Ignorar todos os esforços que o nosso país fez ao longo de dois anos, não havendo a mínima consideração quanto aos alertas que foram lançados, parece-me algo de ostensivamente hostil.
Essa hostilidade não lhe parece um mau sinal em relação ao resultado final disto?
O que eu sei é que o assunto, pelas várias dimensões da nossa relação, não devia ter sido tratado dessa forma. E na sequência de todo o esforço feito ao longo de dois anos não podíamos ter chegado ao resultado a que chegámos, que é exactamente o mesmo que foi anunciado em 2012. Não encontro qualquer justificação para que não tenham sido considerados argumentos que me parecem válidos da parte portuguesa. Até admito que não considerassem todos os argumentos.
Quando o ex-secretário da Defesa dos EUA Leon Panetta veio a Portugal, foi recebido pelo ministro da Defesa português. Panetta passou por outros países europeus nessa altura e foi recebido pelos primeiros-ministros. Isso teve consequências?
Deixe-me responder desta forma: cometo a ousadia de invocar o que tenho feito ao longo destes dois anos. Eu, para defender os interesses da minha região, faço aquilo que for preciso, reúno-me com quem for preciso. Vou aonde for preciso. Acho que é assim que estes assuntos devem ser tratados.
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Passaram cerca de três meses desde a reunião da comissão bilateral marcada para discutir a redução militar nas Lajes e o silêncio instalou-se. Está preocupado?
Nem todas as diligências que se fazem neste âmbito se revestem da publicidade e da mediatização que uma reunião em concreto teria. Nesta fase estarão a ser acertados os calendários e os pormenores logísticos para a próxima reunião e o que eu gostava de dizer é que tenho confiança que o agendamento dessa reunião extraordinária corresponda a um acto de boa-fé de ambas as partes no sentido de se discutir com seriedade o assunto.
Quais são os assuntos que têm de ser abordados para poder considerar que o processo estará no bom caminho?
Não é possível chegarmos à próxima reunião com alguns aspectos fechados. Isso seria a negação da utilidade da própria reunião. Tudo o que tenha a ver com a configuração da intenção que foi manifestada pelos EUA quanto a números e calendários, a assunção de uma responsabilidade de ajudar a lidar com o impacto social e económico. Há um conjunto de dúvidas que considero legítimas da nossa parte e que devem ser debatidas. Houve compromissos públicos da parte americana — refiro-me às declarações que o então secretário Leon Panetta fez quando esteve em Portugal — e aquilo que foi anunciado não corresponde ao cumprimento desse compromisso.
Ao longo deste processo, muito do esforço de pressão centrou-se no Congresso norte-americano. Foi a estratégia correcta?
Face à forma e aos sinais que foram sendo recebidos quanto à abertura de outros níveis do Governo americano, essa incidência no Congresso foi uma boa abordagem. Porventura terá sido mais publicitada, mas também sei que não foi exclusiva. Houve outras diligências a outros níveis para demonstrar que se estava perante uma má intenção.
Mas ir pelo Congresso não é um desafio à Administração? Se apostamos na oposição, não colocamos em risco a disponibilidade da Administração Obama?
Nós socorremo-nos de todos os meios que temos à disposição. Há um dado na sua pergunta que faz toda a diferença. Nós não deixámos de falar com o Executive Branch. Não cortámos pontes. Mas também não era aceitável que limitássemos as possibilidades de abordar esse assunto com outros níveis de poder apenas por causa dessa situação. Foi a abordagem correcta, e foi a que da parte do Governo dos Açores teve a intervenção talvez mais incisiva, fruto também das ligações que existem entre congressistas e os Açores. Saliento que não está em causa a legitimidade dos EUA em definir, com o seu dinheiro, a organização dos seus meios militares. Se é certo que o pode fazer desta forma no seu território, quando estamos a falar do território de um país aliado o assunto não deve ser conduzido desta forma.
Está a referir-se à forma como o anuncio foi feito?
Sim. Ignorar todos os esforços que o nosso país fez ao longo de dois anos, não havendo a mínima consideração quanto aos alertas que foram lançados, parece-me algo de ostensivamente hostil.
Essa hostilidade não lhe parece um mau sinal em relação ao resultado final disto?
O que eu sei é que o assunto, pelas várias dimensões da nossa relação, não devia ter sido tratado dessa forma. E na sequência de todo o esforço feito ao longo de dois anos não podíamos ter chegado ao resultado a que chegámos, que é exactamente o mesmo que foi anunciado em 2012. Não encontro qualquer justificação para que não tenham sido considerados argumentos que me parecem válidos da parte portuguesa. Até admito que não considerassem todos os argumentos.
Quando o ex-secretário da Defesa dos EUA Leon Panetta veio a Portugal, foi recebido pelo ministro da Defesa português. Panetta passou por outros países europeus nessa altura e foi recebido pelos primeiros-ministros. Isso teve consequências?
Deixe-me responder desta forma: cometo a ousadia de invocar o que tenho feito ao longo destes dois anos. Eu, para defender os interesses da minha região, faço aquilo que for preciso, reúno-me com quem for preciso. Vou aonde for preciso. Acho que é assim que estes assuntos devem ser tratados.
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