A Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) condicionou hoje a realização de um encontro entre o líder do partido, Afonso Dhlakama, e o Presidente moçambicano à aceitação das suas exigências.
"Importante não é o encontro com o líder da Renamo, importante é acolher o que a Renamo reivindica", defendeu hoje à Lusa António Muchanga, porta-voz do maior partido de oposição, no dia em que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, declarou a sua disponibilidade para dialogar com Dhlakama.
"Estou pronto", afirmou hoje Filipe Nyusi, à margem da cerimónia do Dia dos Heróis, em Maputo, considerando que "o povo tem de ter a certeza de que vai viver em paz" e que já deu sinais da sua disponibilidade para o diálogo, "agora mesmo", e que só assim será possível um entendimento.
O porta-voz da Renamo disse hoje que o seu partido "já indicou algumas pessoas para iniciar essa aproximação e que é com elas que Nyusi tem de falar", para que um eventual encontro com Dhlakama "não seja um fracasso".
O presidente do maior partido de oposição percorreu nas últimas semanas as províncias do centro e norte do país, continuando a atrair multidões aos seus comícios, agora centrados na mensagem de uma região autónoma nas províncias onde tenciona governar.
"Juro pela alma da minha mãe, eu vou criar o governo do centro e norte", disse Dhlakama no sábado, durante um comício em Nampula, durante o qual voltou a rejeitar pegar em armas para conseguir os seus objetivos, na condição de não ser provocado.
"Não queremos guerra, mas se os comunistas da Frelimo tentarem provocar, disparar, a resposta da Renamo será dada na cidade de Maputo", afirmou, repetindo a ameaça já deixada há uma semana, em declarações à Lusa, durante uma visita a Quelimane, província da Zambézia, em que também dava conta da sua recusa em avistar-se com Nyusi, "uma pessoa que roubou votos, que fala de boca cheia e arrancou a vitória à oposição".
Nas últimas duas semanas, os enviados do presidente da Renamo encontraram-se quatro vezes comrepresentantes do Presidente moçambicano, assegurou António Muchanga, sem avançar mais detalhes.
O Governo moçambicano nunca confirmou estas reuniões, deixando apenas a garantia que está disponível para dialogar e nos últimos dias apelou à Renamo que faça as suas reivindicações nas sedes próprias e que os seus deputados levantem o boicote parlamentar e se sentem nos seus lugares na Assembleia da República e assembleias provinciais.
O porta-voz da Renamo disse ainda que, "lamentavelmente, enquanto a Ponta Vermelha [residência oficial do Presidente da República] faz um discurso, a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] diz outra coisa", questionando "quem tem verdadeiramente vontade de dialogar".
A Frelimo desmentiu categoricamente a realização dos encontros entre Renamo e a presidência e hoje, enquanto Nyusi mostrava a sua abertura para o diálogo, o ex-Presidente Armando Guebuza, que se mantém líder do partido no poder, considerou os pronunciamentos de Dhlakama "desastrosos" e reveladores de alguém que "não quer, de facto, dar a sua contribuição para que este país viva em paz".
A Renamo tinha dado um prazo de sete dias ao Governo para se pronunciar sobre a sua exigência de uma região autónoma, e que expirou a 24 de janeiro, mas, segundo Muchanga, a abertura para o diálogo do executivo levou a que não sejam necessários mais ultimatos.
"Acreditamos que havendo boa-fé podemos ultrapassar os nossos problemas", afirmou o porta-voz da Renamo, anunciando a continuação da digressão de Dhlakama país, com uma visita programada à província de Cabo Delgado, até sábado, a que se seguirá uma deslocação a Niassa.
HB // VM
Lusa – 03.02.2015
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