Sábado, 17 Janeiro 2015 00:00 |
É CASO para se dizer “Renamo, para onde nos leva!” com todas as exigências que faz dia após dia, se calhar, animado com a ideia de que “é só pressionar que o Governo cede”. Confesso que fica difícil compreender a Renamo e seu líder Afonso Dhlakama, se não vejamos:
1º A Renamo iniciou hostilidades militares na Estrada Nacional nº1, alegadamente porque reivindicava a revisão do pacote eleitoral. É preciso não perder de vista que, quando as referidas hostilidades começaram, a Renamo estava em conversações com o Governo de Moçambique no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano. Passamos por aproximadamente dezassete meses de escolta de viaturas e pessoas em determinadas regiões onde, a circulação estava condicionada;
Este facto fez com que a Renamo abdicasse da sua participação nas eleições autárquicas de 2013, ressalve-se que, por infortúnio do Presidente de Cuamba, viria a participar nas intercalares em Dezembro de 2014 e saiu derrotada isto, fruto de outras situações que me proponho a olhar mais adiante.
2º Como corolário das referidas hostilidades e, porque todos clamavam pela PAZ, o Governo fez cedências ao Partido Renamo que culminaram com a revisão do pacote eleitoral, visto por muitos como sendo o pomo de discórdia A este propósito, o líder da Renamo, ainda em “parte incerta” comunicava-se com a sociedade moçambicana, regozijando-se com a revisão da referida lei e, assumiu que estavam criadas as condições para a participação do seu partido e de si próprio nas eleições gerais e das assembleias provinciais de 15 de Outubro e porque não se achava recenseado e os prazos estavam se esgotando, encontrou-se uma engenharia política para acomodar a prorrogação do processo eleitoral;
3º Afonso Dhlakama recenseia-se nas matas de Gorongosa e por conseguinte aparece em público moçambicano através dos órgãos de comunicação social e, mais uma vez regozija-se pelo sucesso no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano. Quando tudo indicava que iria sair do lugar incerto, com o advento da aprovação da nova lei eleitoral, eis que se levantam questões de fundo, as hostilidades militares por si provocadas causaram luto nacional, criaram perdas humanas económicas e desintegraram famílias e havia que encontrar formas de segurança que excluísse a hipótese de responsabilização por tudo quanto praticou;
4º É preparada a Lei de Amnistia para todos os actos cometidos durante o período em referencia e, por via disso, os seus correligionários que estavam nas prisões da República de Moçambique por prática de vários crimes são libertos e criadas condições para ele próprio sair do lugar incerto de onde de vez em quando se comunicava em vídeo-conferências, para o caso pessoal, a Lei não era suficiente para garantir que não seria preso, para tanto;
5º Embaixadores acreditados em Moçambique e que se assumem como amigos do povo moçambicano se oferecem para servir de seu “escudo” e são mobilizados para um determinado lugar de onde iria aparecer o líder da Renamo e sua gente, desta vez, para o convívio com a sociedade. A presença dos embaixadores serviu também para dar visibilidade internacional a Afonso Dhlakama mas;
6º Antes disso e, porque o prazo de apresentação de candidaturas a Presidência da República, onde se assumia como candidato “natural” pelo seu partido ia expirar, mais uma vez, engendrou-se uma engenharia política que permitisse a sua candidatura e foi visível que, a imagem de Afonso Dhlakama no boletim de voto não correspondia a sua situação actual, tudo tolerado em nome de concórdia e da PAZ;
7º Numa cerimónia pública, havida na Presidência da República, Afonso Dhlakama assina com o Presidente da República o acordo que põe fim as hostilidades militares, acordo esse que abre espaço para a livre circulação de pessoas e bens e, ao mesmo tempo, coloca Afonso Dhlakama na arena nacional, por uns visto como “mártir” por outros visto como um puro “fora da lei”, por umas e outras razões, sem duvidas que, Afonso Dhlakama arrastou e paralisou cidades e vilas por onde passava;
8º Esse facto, criou em si e seus seguidores, a ideia de que, as eleições de 15 de Outubro estavam ganhas. Ao nível da opinião pública urbana, estavam divididos, muitos analistas já “endeusavam” Afonso Dhlakama e visto como futuro inquilino da Ponta Vermelha, outros havia que desdramatizavam e diziam que tudo tinha a ver com o facto de ter vivido muito tempo nas matas e as pessoas o admiravam e queriam vê-lo sem querer dizer que votam nele e;
9º De facto, as eleições vieram, com todos os condimentos que, a partida levou Afonso Dhlakama a considerar que “seriam as eleições mais livres e transparentes de Moçambique multipartidário”, refiro-me a paridade em tudo quanto se desenrola o processo, desde as mesas de votação, órgão do STAE e da CNE, a Renamo e outros partidos estiveram representados, contudo, as primeiras indicações de contagem mostravam que, Afonso Dhlakama e Renamo não estavam nas primeiras escolhas da maioria dos moçambicanos e;
10º Afonso Dhlakama, o mesmo a que nos referimos como tendo afirmado de viva voz que não haveria condições de fraude, aparece em público e declara que “desta vez a fraude foi monumental”, por forca disso, aqueles analistas e apoiantes que acreditavam que as multidões determinam vitória, afinaram pelo mesmo diapasão, assim sendo, procura uma saída airosa para si e para o partido que dirige “governo de unidade nacional não, governo de gestão sim;
11º Os diferentes órgãos de comunicação social passam a propalar a ideia avançada pelo líder sobre o “Governo de Gestão “ trata-se um governo que, por aquilo que deu a conhecer, o próprio proponente não estava esclarecido, primeiro, pelo tempo que iria durar, um mandato normal como estabelece a constituição, 5 anos, segundo a sua composição na opinião do proponente seria a Frelimo e a Renamo, numa reedição do cenário do CICJC.
Muitas pessoas não compreenderam o alcance do tal Governo e, a opinião pública ficou, por assim dizer, indiferente, na procura de alianças na propagação da ideia, num comício popular indica Raul Domingos, Daviz Simango e Yacub Sibindy como prováveis integrantes do mesmo;
12º Daviz Simango distância-se do “Governo de Gestão” por não lhe reconhecer o alcance, Raul Domingos “esquiva-se” em não ter recebido formalmente o convite e, Yacub Sibindy “pula” de satisfação e mostra-se incondicionalmente disponível;
13º A par do “Governo de Gestão” vai proferindo ameaças de dividir o país caso o Governo da Frelimo não acolha as suas pretensões, ao mesmo tempo que, de forma velada, vai ameaçando as instituições públicas que lidam com os processos eleitorais, estes não se intimidaram, fizeram a sua parte que culminou com a divulgação dos resultados eleitorais, validadas pelo Conselho Constitucional a 29 de Dezembro de 2014, dando vitória a Frelimo e Filipe Jacinto Nyusi;
14º Como que a andar atrás do prejuízo, Afonso Dhlakama, depois de férias merecidas na sua terra natal, eis que anuncia em comício popular na cidade da Beira, no largo dos Caminhos de Ferro que “vai criar a República do Centro e Norte” e que isso não iria ferir a Constituição e disse mais, “sou inteligente para negociar a revisão da Constituição da República”;
15º Para tanto, usa um trunfo que, no passado não funcionou, não tanto por provado a ineficácia, mas porque os seus partidários não entendiam o alcance disso, não tomar posse dos seus lugares na Assembleia da República e nas Assembleias Provinciais, desta vez adiciona-se um condimento, represálias a que desobedece e sua família;
16º Por assim dizer, passamos da hipótese de um Governo de Unidade Nacional que, a partida foi descartado por causa das diferentes interpretações, passamos pelo de Gestão, que cai por falta de apoio e sustentação e rumamos para as “Repúblicas do Centro e Norte” cujo líder ou Presidente já se auto-proclamou, Afonso Macacho Marceta Dhlakama. Para onde nos leva com tudo isto senhor Afonso Dhlakama e a Renamo!
Adelino Buque
Sem comentários:
Enviar um comentário