sábado, 24 de janeiro de 2015

Não confundam "horror" com "arrepio"!

Não confundam "horror" com "arrepio"!
23.01.2015
PEDRO BACELAR DE VASCONCELOS
1 Pretender medir o terrorismo pelo número de óbitos ou pelo grau da brutalidade praticada, só pode conduzir a conclusões aberrantes. O facto de as bombas lançadas sobre Hiroxima e Nagasaki - até hoje, sem verosímil justificação militar - terem provocado muitos mais mortos do que o atentado contra as torres gémeas de Nova Iorque, não atenua a gravidade do segundo. Também é verdade que a exibição brutal das decapitações executadas pelos carrascos do chamado "Estado Islâmico" contrasta com a higiene asséptica das câmaras de gás onde os nazis, secretamente, consumaram o holocausto de milhões de judeus, ciganos, homossexuais e social-democratas. Todavia, a "discrição" dos segundos não os indulta da condenação pelo maior crime da história da humanidade.
2. Embora a brutalidade seja um traço comum à multiplicidade de manifestações vulgarmente designadas por "atos terroristas", a compreensão do terrorismo - e das formas de o combater! - é umaquestão política delicada, até para aqueles que, reféns do condicionamento emocional que os próprios terroristas sempre pretenderam incutir, recusam que tais atos careçam de algo mais do que o veemente repúdio liminar e a punição tempestiva. Há que não confundir o horror com o arrepio. Na Europa, o terrorismo continua a ser ocasional, segue motivações diversas, invoca causas antagónicas e recruta os seus adeptos em grupos sociais diferenciados. Para o combater, é necessário descobrir o que pode levar seres humanos - é da humanidade que falamos! - a enveredar por comportamentos tão extremos. E, claro, é preciso contar também com serviços de informação e com forças policiais adequadamente preparados. Tudo, enfim, a reclamar decisões políticas que, em democracia, devem evitar precipitações e submeter-se ao debate e ao escrutínio dos cidadãos.
3. É por isso de louvar a iniciativa da ministra da Administração Interna de convidar todas as forças políticas a dar o seu contributo para a definição de uma "estratégia antiterrorista". O tema é complexo, porque implica a limitação de certos direitos em benefício de outros e a ponderação do sacrifício legítimo das liberdades de cada um, à segurança de todos. Ainda que esta inesperada abertura do Governo à discussão e ao contraditório - quaisquer que sejam as suas reais motivações - não venha a desembocar numa política sufragada por unanimidade, sempre se ganhará alguma coisa quanto à percepção dos riscos, à mitigação dos danos e ao esclarecimento cívico.

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