Aproveitei a necessidade de me deslocar à Europa PARA rever o ditovelho continente (Velho? Como Humanidade e civilização surgimos uns bonsmilénios antes deles!). Visitei um pouco Portugal e a França, deambuleipela comunicação social do continente. O que transmitir?
Portugal faz parte dos países que envelhecem rapidamente, um caso raro em que o número de óbitos ultrapassa o dos nascimentos.Osjovens mais preparados e com maior iniciativa emigram PARAoutros países, incluindo onosso e Angola, no que toca a África. Perde o país a sua seiva.
A detenção do antigo Primeiro-Ministro Sócrates domina a vida e especulação política.
Certamente que durante o seu mandato melhorou as relações comMoçambique e que contribuiu para que Cahora Bassa se entregasse aos verdadeiros donos, o nosso país. Dossier que se arrastava desde a nossa independência.
Altas personalidades, sobretudo do Partido Socialista vão visitá-lo na prisão onde se encontra, entre as figuras de primeiro plano o Presidente Mário Soares, Almeida Santos, Manuel Alegre, António Costa e tantos outros. Uma autêntica romaria. Há que saber que, até prova em contrário deve-se considera-lo inocente. Manda a ética e a Lei.
Diz-se que detenção Sócrates surge como tentativa de sufocar o Partido Socialista e o seu novo dirigente, António Costa, mestiço com origem moçambicano-goesa,considerando o grande favorito para as eleições.
Costa faz um discurso mais à esquerda e deseja uni-la contra as direitas de Passos Coelho e Paulo Portas. Conseguirá o PS, se vencedor, governar à esquerda face a Bretton Woods e aos conservadores que dominam a União Europeia e as suas instituições financeiras? Com certeza um enorme desafio que determinará de algum modo a sobrevivência do país como nação independente e orgulhosa, o que merece.
Como garantir em Portugal e na Europa a sustentabilidade daspensões de reforma, a segurança social quando cada vez menos contribuem e cada vez mais aumentam os quedevem beneficiar? Nos emigrantes assenta cada vez mais o trabalho duro e o financiamentopara a segurança social europeia, esta a realidade ignorada pelos chauvinistas.
Circulando em Lisboa pelas ruas e locais públicos raras as mulheres grávidas, nos cafés e restaurantes, nos concertos encontram-se poucos jovens. Esta visão salta aos olhos. Ouvindo as conversas de uns e doutros surgem três temas principais: doença, dinheiro, medidas que restringem os salários, pensões e aumentos de salários.
O descontentamento social aumenta. Surgem greves contínuas, neste período de festas o metro de Lisboa passou um bom período parado. A greve prevista na TAP PARA o período do Natal e Fim do Ano, que comprometeria o reencontro tradicional das famílias, não ocorreu, devido à requisição civil feita pelo governo. A requisição civil impõe regras que transformam a greve num acto judicialmente punível enquanto crime de desobediência.
Muitos contestam a decisão do governo quando ainda decorriam as negociações com os sindicatos que se opõem à privatização da TAP.PARA nós a TAP faz parte de um absurdo, ela bate-se para que a nossa LAM continue interdita no espaço europeu, ficando pois como monopólio da ligação de Maputo a Lisboa. Qualquer ida a Lisboa via Paris, Barcelona,Londres, Madrid, com Air France, Emirates, Qatar,Ethiopian Airlines custa menos de metadedos preços da TAP. Há desafios para a LAM romper com o monopólio da TAP e buscarnovas e melhores parcerias.
Para quem visita o país e por ele deambula, claro que muito existe para agradar e incentivar a um regresso.
Publicam-se livros e bons, faz-se teatro a dar-nos inveja, existem realizadores de filmes, os museus qualificam-se cada vez mais, estrelas internacionais da música aqui se deslocam, boa música e boa dança que se trate da clássica ou das mais variegadas modernidades. Circos estrangeiros com qualidade vêm exibir-se
Por causa do fisco a Infanta Cristina de Espanha e o esposoenfrentam penas de 8 a 19 anos de prisão. Se a fuga ao fisco levasse à prisão, mais de metade dos portugueses estariam na prisão!Aplicada a norma aos mais diversos países veríamos um panoramaigual. Lembremo-nos que o fisco travou a carreira de facínora de Al Caponne um dosmaiores gângsteres americanos dos princípios do Século XX. Ele terminou os seus diasna cadeia. Quando a vez dos banqueiros especuladores irem para a cadeia, sobretudo quando sacrificam e espoliam muitos milhares de pequenos e médios depositantes?Oshomens do BES estão livres, claro, sob caução de três milhões de EUROS. Bagatelas paraquem pilhou centenas de milhões.
A Roménia elegeu um novo Presidente, Klaus Iohannis, quando celebra os XXV anos da queda da família de tiranos, os Ceausescu,casal que brandia a bandeira vermelhado socialismo, traindo-a, PARAmelhor impor a sua opressão, megalomania, o narcisismoe a pilhagem do povo. Apenas a dinastia norte-coreana ultrapassou nos nossos tempos onepotismo, a divinização e a tirania dos Ceausescu.
A crise do rublo russo resultante em parte da baixa enorme do preço do petróleo constitui um tema principal das análises económicas que se fazem na Europa. Há quem veja a crise como um resultado da confrontação entre a Rússia que deseja reequilibrar as relações com o Ocidente e os que buscam controlar e subjugar Moscovo.Putin que reforça o relacionamento económico com a China e a Índia tenta encontrar nesses mercados e alianças um novo sopro.
A vitória na Tunísia na segunda volta das eleições presidenciais de Béji Caid Essebsi, candidato não islamita, parece tranquilizar toda a Europa, a vizinha Argélia e os outros países limítrofes que receiam e com razão os perigos do radicalismo com cores confessionais. Apesar de 88 anos de idade mais de 55% dos tunisinos confiaram nele. Oseu adversário Marzouki reconheceu o resultado e felicitou o Presidente eleito. Um bomexemplo no nosso continente e PARA as nossas oposições em Moçambique. Essebi faz umdiscurso conciliador e deseja não entrar em confrontação com os islamitas dominando oscírculos eleitorais do Sul. Até agora trata-se de um caso único de boas notícias vindas de um país onde a revolta, essa realmente popular, derrubou um regime corrupto, tirânicoonde um grupo de famílias, incluindo a do Presidente derrubado, monopolizavam opoder e os recursos do país, forçando milhões de cidadãos a emigrarem para a Europa esobretudo a França.
Na Grécia prolonga-se a crise política. Samaras e partido governamental não conseguem formar o governo. Contra eles ergue-se o Partido Syriza e o seu leader Alexis Tsipras, uma esquerda forjada contra a miséria imposta pelas forças da Troika e do grande capital.
A França continua a atrair gentes de toda a parte, quer emigrantes, quer turistas, quer mesmo estudiosos, sobretudo das ciências sociais.
Para além do reencontro com velhas amizades e algumas sessões de trabalho, revisitei a Casa Picasso, o Museu Pompidou e o eterno Louvre, com a sua abominável pirâmide (há quem goste e respeite-se).
O país enfrenta ameaças de violência de grupos de fanáticos e de psicopatas. Reforçam as medidas policiais e… Até se gradeiam os bancos de jardim para aí não se instalarem os sem-abrigo! Uma solução? Boa para os fabricantes de grades! País que praticou o esclavagismo e que recebeu muitas dezenas de milhares de soldados vindos da África do Norte e das colónias, a miscigenação de há muito se tornou realidade, sem atenuar os preconceitos racistas. Verdade a sociedade reage contra o racismo. Negros e mestiços como os escritores Victor Hugo, Aimé Césaire, Léopold Senghor, Gaston de Mounerville Presidente do Senado e segunda personagem na hierarquia do estado, fazem parte dos ícones da República Francesa.
Passei um momento agradável e abraço as memórias,
Sérgio Vieira
P.S. Um amigo nosso, o almirante Victor Crespo, que representou o Estado português na transição de 74-75, partiu PARA sempre. Honra ao seu nome e aos capitães de Abril.
SV
O PAÍS – 06.01.2015