Fundador da Microsoft investe em empresa que tem um sistema de transformação de dejectos humanos em água e electricidade.
Bill Gates está impressionado e entusiasmado com um dos últimos copos com água que bebeu e que saiu do Omniprocessor, um sistema que transforma as fezes humanas em água “deliciosa” e “segura”, segundo o fundador da Microsoft. O sistema desenvolvido por uma empresa de engenharia de Seattle prepara-se para pôr em prática um projecto-piloto no Senegal, mas Gates acredita que esta alternativa à produção de água será útil para todos. Afinal, o “lixo de um homem é o tesouro de outro”.
Os três últimos posts de Bill Gates na sua página no Facebook são sobre o Omniprocessor, criado pela Janicki Bioenergy, e que o norte-americano quis experimentar no âmbito dos projectos de saneamento em países subdesenvolvidos que cria com a sua fundação, a Bill and Melinda Gates Foundation. O sistema funciona através de numa estrutura semelhante a qualquer outra numa unidade fabril, com a diferença de que o produto final é água e também electricidade.
Segundo a descrição nos vídeos publicados no Facebook, o Omniprocessor começa por ferver o conteúdo dos esgotos. Durante este processo, o vapor da água é separado dos sólidos, que são queimados, produzindo igualmente vapor que é depois utilizado para alimentar um engenho que produz electricidade para alimentar o próprio sistema e a comunidade local onde estiver inserido.
A água que resulta do vapor do conteúdo dos esgotos passa por um sistema de limpeza e purificação, do qual sai um “copo com deliciosa água para beber”, segundo Gates. “A água sabia tão bem como qualquer outra engarrafada que tenha bebido. E, tendo estudado a engenharia por trás disto, ficaria contente se a pudesse beber todos os dias. É tão segura quanto isso”, escreve o filantropo.
O Omniprocessor tem capacidade para tratar os dejectos de 100 mil pessoas, produzindo 86 mil litros de água por dia e uma rede de abastecimento de electricidade de 250 kw.
“E por que é que alguém queria transformar lixo em água potável e electricidade?”, questiona Gates. A resposta é baseada em estatísticas: “Porque um número chocante de pessoas, pelo menos dois mil milhões, usa latrinas que não são devidamente drenadas. Outras simplesmente defecam a céu aberto. O lixo contamina a água potável para milhões de pessoas, com consequências terríveis: doenças causadas pela falta de saneamento matam cerca de 700.000 crianças por ano e impedem muitas mais de se desenvolverem totalmente mental e fisicamente.”
Gates sublinha que a solução não passa pelo saneamento básico aplicado nos países desenvolvidos, porque nos países pobres não há capacidade para criar infra-estruturas como as ocidentais e os custos de abastecimento eléctrico seriam insustentáveis. Tornou-se um hábito nesses países recolher os dejectos das latrinas e despejá-los nos rios ou lençóis de água mais próximos ou num unidade de tratamento de lixo que não o faz de forma eficaz.
Segundo Gates, a Janicki Bioenergy visitou países africanos e a Índia para se inteirar das dificuldades locais no acesso a água potável e no tratamento dos dejectos humanos. A empresa vai iniciar em breve um projecto-piloto em Dacar, no Senegal, onde será instalado um Omniprocessor. Além da ajuda às populações locais, o fundador da Microsoft acredita que o sistema irá contribuir para o crescimento da economia. “O nosso objectivo é fazer com que os processadores sejam suficientemente baratos para que os empresários dos países de baixos e médios rendimentos queiram investir neles e, em seguida, iniciar um negócio de tratamento de resíduos rentáveis.”
Gates argumenta que o Omniprocessor não iria apenas manter dejectos humanos fora da água potável mas ainda “transformar resíduos numa mercadoria com valor real no mercado”. “É o maior exemplo de uma velha expressão: o lixo de um homem é o tesouro de outro.”
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