A racialização do passado e o plágio consentido
Quando ainda jovens, alguns dos adultos de hoje, iniciando-se na política através do forte trabalho ideológico e de mobilização que a Frelimo implantara em todo o território nacional depois de concluídas as hostilidades com os portugueses, aprendéramos que o projecto desta organização para o Moçambique independente seria o de construção de uma sociedade anti-racial, anti-tribalista e anti-regionalista.
E fazia questão de sublinhar, o primeiro Presidente da República, Samora Machel, que Moçambique não era uma sociedade multiracial. Melhor do que isso, era uma sociedade anti-racial, onde qualquer manifestação de racismo deveria ser combatida com a mesma tenacidade com que se havia combatido o colonialismo.
Lendo algumas obras escritas por destacados líderes do Movimento Libertação, tornam-se perceptíveis as razões porque a Frelimo considerava uma ameaça grave ao projecto de Moçambique tudo aquilo que eram manifestações de racismo, de tribalismo e de regionalismo. O racismo não era apenas uma questão de atitude individual; era uma das mais poderosas armas do inimigo, contra a unidade do povo. Se não fosse neutralizado, poderia enfraquecer a luta contra o verdadeiro inimigo, o colonialismo português.
Percebe-se, a partir desses escritos, que a questão da raça dentro da Frelimo nunca foi tão pacífi ca. Mas também torna-se claro que ela foi exaustivamente debatida, tendo-se chegado a uma conclusão unânime de que eram moçambicanos todos aqueles que tendo nascido nesta terra, ou que por quaisquer circunstâncias com ela se viessem a identifi car, a tomassem como a sua própria Pátria.
Por isso, desde os primórdios da luta de libertação nacional que a Frelimo sempre teve de entre os seus membros e quadros de direcção gente de todas as raças.
Constitui, por essa razão, um grande retrocesso que indivíduos que estiveram activamente envolvidos na fundação da Frelimo estejam hoje a ser alvos de uma vil campanha de descrédito, incluindo o questionamento da sua moçambicanidade.
O elemento comum nesta campanha de descrédito é a utilização da mesma arma que a Frelimo sempre identifi cou como o seu principal inimigo: o racismo.
Recorre-se ao racismo para explicar o fracasso de certas opções políticas do passado, extricando-as do sentido colectivo que sempre nos foi dito que tinha presidido à sua tomada.
Por outras palavras, nota-se da parte de alguns dos actuais dirigentes da Frelimo um esforço de se dissociarem do passado, atribuindo a responsabilidade sobre tudo o que correu mal a um punhado de indivíduos (não pretos) que se diz terem no passado concentrado o poder nas suas mãos, manipulando o Presidente Samora Machel para alcançarem os seus objectivos inconfessos.
Esta simplicidade analítica põe em perigo o projecto da Unidade Nacional que foi sempre uma das principais armas ideológicas da Frelimo. E instala no seio dos mais novos, um ambiente de confusão sobre o conceito e o alcance da moçambicanidade. Como é que se sentirão aqueles moçambicanos de terceira geração, descendentes de moçambicanos não pretos? A mesma questão se colocaria no sentido inverso, sobre aqueles pretos nas mesmas circunstâncias, em países onde os pretos não são a raça dominante.
O passado não deve estar isento de questionamento. Mas qualquer exercício nesse sentido deve ser feito no quadro de uma clareza ideological que nos permite em conjunto tirar lições e traçarmos um futuro que traga benefícios para todos.
O recurso a pseudónimos, a pessoalização e a racialização demonstra apenas falta de coragem e incapacidade de confrontar esse passado com ideias específicas e claras, que nos ajudem a sustentar o nosso argument e provar que estamos certos nas posições que defendemos. E pior ainda, o recurso a pseudónimos diferentes, para jornais diferentes, em artigos com o mesmo conteúdo, revela uma grosseira falta de respeito pelos leitores, que são tratados como uns verdadeiros idiotas, sem capacidade de entenderem que estão a consumir o mesmo produto literário com dois autores diferentes. Uma espécie de um plágio em que o autor original aceita ser plagiado.
EDITORIAL DO SAVANA, 01/11/13
A racialização do passado e o plágio consentido
Quando ainda jovens, alguns dos adultos de hoje, iniciando-se na política através do forte trabalho ideológico e de mobilização que a Frelimo implantara em todo o território nacional depois de concluídas as hostilidades com os portugueses, aprendéramos que o projecto desta organização para o Moçambique independente seria o de construção de uma sociedade anti-racial, anti-tribalista e anti-regionalista.
E fazia questão de sublinhar, o primeiro Presidente da República, Samora Machel, que Moçambique não era uma sociedade multiracial. Melhor do que isso, era uma sociedade anti-racial, onde qualquer manifestação de racismo deveria ser combatida com a mesma tenacidade com que se havia combatido o colonialismo.
Lendo algumas obras escritas por destacados líderes do Movimento Libertação, tornam-se perceptíveis as razões porque a Frelimo considerava uma ameaça grave ao projecto de Moçambique tudo aquilo que eram manifestações de racismo, de tribalismo e de regionalismo. O racismo não era apenas uma questão de atitude individual; era uma das mais poderosas armas do inimigo, contra a unidade do povo. Se não fosse neutralizado, poderia enfraquecer a luta contra o verdadeiro inimigo, o colonialismo português.
Percebe-se, a partir desses escritos, que a questão da raça dentro da Frelimo nunca foi tão pacífi ca. Mas também torna-se claro que ela foi exaustivamente debatida, tendo-se chegado a uma conclusão unânime de que eram moçambicanos todos aqueles que tendo nascido nesta terra, ou que por quaisquer circunstâncias com ela se viessem a identifi car, a tomassem como a sua própria Pátria.
Por isso, desde os primórdios da luta de libertação nacional que a Frelimo sempre teve de entre os seus membros e quadros de direcção gente de todas as raças.
Constitui, por essa razão, um grande retrocesso que indivíduos que estiveram activamente envolvidos na fundação da Frelimo estejam hoje a ser alvos de uma vil campanha de descrédito, incluindo o questionamento da sua moçambicanidade.
O elemento comum nesta campanha de descrédito é a utilização da mesma arma que a Frelimo sempre identifi cou como o seu principal inimigo: o racismo.
Recorre-se ao racismo para explicar o fracasso de certas opções políticas do passado, extricando-as do sentido colectivo que sempre nos foi dito que tinha presidido à sua tomada.
Por outras palavras, nota-se da parte de alguns dos actuais dirigentes da Frelimo um esforço de se dissociarem do passado, atribuindo a responsabilidade sobre tudo o que correu mal a um punhado de indivíduos (não pretos) que se diz terem no passado concentrado o poder nas suas mãos, manipulando o Presidente Samora Machel para alcançarem os seus objectivos inconfessos.
Esta simplicidade analítica põe em perigo o projecto da Unidade Nacional que foi sempre uma das principais armas ideológicas da Frelimo. E instala no seio dos mais novos, um ambiente de confusão sobre o conceito e o alcance da moçambicanidade. Como é que se sentirão aqueles moçambicanos de terceira geração, descendentes de moçambicanos não pretos? A mesma questão se colocaria no sentido inverso, sobre aqueles pretos nas mesmas circunstâncias, em países onde os pretos não são a raça dominante.
O passado não deve estar isento de questionamento. Mas qualquer exercício nesse sentido deve ser feito no quadro de uma clareza ideological que nos permite em conjunto tirar lições e traçarmos um futuro que traga benefícios para todos.
O recurso a pseudónimos, a pessoalização e a racialização demonstra apenas falta de coragem e incapacidade de confrontar esse passado com ideias específicas e claras, que nos ajudem a sustentar o nosso argument e provar que estamos certos nas posições que defendemos. E pior ainda, o recurso a pseudónimos diferentes, para jornais diferentes, em artigos com o mesmo conteúdo, revela uma grosseira falta de respeito pelos leitores, que são tratados como uns verdadeiros idiotas, sem capacidade de entenderem que estão a consumir o mesmo produto literário com dois autores diferentes. Uma espécie de um plágio em que o autor original aceita ser plagiado.
EDITORIAL DO SAVANA, 01/11/13
Quando ainda jovens, alguns dos adultos de hoje, iniciando-se na política através do forte trabalho ideológico e de mobilização que a Frelimo implantara em todo o território nacional depois de concluídas as hostilidades com os portugueses, aprendéramos que o projecto desta organização para o Moçambique independente seria o de construção de uma sociedade anti-racial, anti-tribalista e anti-regionalista.
E fazia questão de sublinhar, o primeiro Presidente da República, Samora Machel, que Moçambique não era uma sociedade multiracial. Melhor do que isso, era uma sociedade anti-racial, onde qualquer manifestação de racismo deveria ser combatida com a mesma tenacidade com que se havia combatido o colonialismo.
Lendo algumas obras escritas por destacados líderes do Movimento Libertação, tornam-se perceptíveis as razões porque a Frelimo considerava uma ameaça grave ao projecto de Moçambique tudo aquilo que eram manifestações de racismo, de tribalismo e de regionalismo. O racismo não era apenas uma questão de atitude individual; era uma das mais poderosas armas do inimigo, contra a unidade do povo. Se não fosse neutralizado, poderia enfraquecer a luta contra o verdadeiro inimigo, o colonialismo português.
Percebe-se, a partir desses escritos, que a questão da raça dentro da Frelimo nunca foi tão pacífi ca. Mas também torna-se claro que ela foi exaustivamente debatida, tendo-se chegado a uma conclusão unânime de que eram moçambicanos todos aqueles que tendo nascido nesta terra, ou que por quaisquer circunstâncias com ela se viessem a identifi car, a tomassem como a sua própria Pátria.
Por isso, desde os primórdios da luta de libertação nacional que a Frelimo sempre teve de entre os seus membros e quadros de direcção gente de todas as raças.
Constitui, por essa razão, um grande retrocesso que indivíduos que estiveram activamente envolvidos na fundação da Frelimo estejam hoje a ser alvos de uma vil campanha de descrédito, incluindo o questionamento da sua moçambicanidade.
O elemento comum nesta campanha de descrédito é a utilização da mesma arma que a Frelimo sempre identifi cou como o seu principal inimigo: o racismo.
Recorre-se ao racismo para explicar o fracasso de certas opções políticas do passado, extricando-as do sentido colectivo que sempre nos foi dito que tinha presidido à sua tomada.
Por outras palavras, nota-se da parte de alguns dos actuais dirigentes da Frelimo um esforço de se dissociarem do passado, atribuindo a responsabilidade sobre tudo o que correu mal a um punhado de indivíduos (não pretos) que se diz terem no passado concentrado o poder nas suas mãos, manipulando o Presidente Samora Machel para alcançarem os seus objectivos inconfessos.
Esta simplicidade analítica põe em perigo o projecto da Unidade Nacional que foi sempre uma das principais armas ideológicas da Frelimo. E instala no seio dos mais novos, um ambiente de confusão sobre o conceito e o alcance da moçambicanidade. Como é que se sentirão aqueles moçambicanos de terceira geração, descendentes de moçambicanos não pretos? A mesma questão se colocaria no sentido inverso, sobre aqueles pretos nas mesmas circunstâncias, em países onde os pretos não são a raça dominante.
O passado não deve estar isento de questionamento. Mas qualquer exercício nesse sentido deve ser feito no quadro de uma clareza ideological que nos permite em conjunto tirar lições e traçarmos um futuro que traga benefícios para todos.
O recurso a pseudónimos, a pessoalização e a racialização demonstra apenas falta de coragem e incapacidade de confrontar esse passado com ideias específicas e claras, que nos ajudem a sustentar o nosso argument e provar que estamos certos nas posições que defendemos. E pior ainda, o recurso a pseudónimos diferentes, para jornais diferentes, em artigos com o mesmo conteúdo, revela uma grosseira falta de respeito pelos leitores, que são tratados como uns verdadeiros idiotas, sem capacidade de entenderem que estão a consumir o mesmo produto literário com dois autores diferentes. Uma espécie de um plágio em que o autor original aceita ser plagiado.
EDITORIAL DO SAVANA, 01/11/13
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