by Eusébio A. P. Gwembe on Saturday, 9 February 2013 at 03:14 ·
Liriana Bruto era órfã, pobre e desprezível. Em viagens, levava sempre o único par de botas, mas só as calçava quando tinha de atravessar alguma ribeira e logo depois as descalçava outra vez! Certa vez, admiradas, as companheiras de viagem perguntavam-lhe porque procedia dessa forma. Liriana costumava responder:
·
As botas servem para proteger os pés. Ora, em
terra, vejo muito bem onde há pedras ou espinhos e desvio-me deles, mas na água
não sei o que piso e portanto lá é que preciso das botas.
Continuando jornada, descansaram à sombra duma árvore e
Liriana abriu então o seu guarda-sol! Uma das companheiras espantou-se e disse:
·
Ó Liriana, isso é para sol e não para a sombra,
abra olho moça!
·
O sol não me mata facilmente, mas aqui, debaixo
desta árvore, tamanha, se se desprende do alto um ramo seco, bem me pode matar
num instante, se eu não tiver qualquer coisa a defender-me. – respondeu ela.
E as amigas julgavam que assim fazia por ser pobre e por não
ter pais que a ensinassem. Andando, pelo caminho encontraram cavalos
abandonados em número igual ao delas. Decidiram montar ao que ela montou-se com
a cara voltada para a cauda!
·
Assim, o que é isso, Liriana? Perguntou, uma
amiga.
·
Nas viagens – explicou ela – há muitos perigos e
podem surgir de qualquer lado. Ora, indo eu montada desta maneira, se o perigo
aparece pela frente, o cavalo dará sinal, e, se vier por detrás, cá estou eu
sempre alerta.
Enquanto atravessavam o rio, saíram da água alguns homens.
Eram donos dos cavalos. Chegados, prenderam as moças e as levaram aos juízes
daquela terra. Mas os juízes recusaram-se atender o caso delas porque andavam
há mais de dois anos às voltas com uma questão e não eram capazes de a
resolver. A questão era esta: enquanto o marido andava por longe, o demónio
tomou a figura dele e apresentou-se à esposa, que o recebeu como se fora o
ausente. Quando o verdadeiro marido voltou, não sabia a esposa nem ninguém
distinguir um do outro. Também os juízes estavam na mesma. Apresentaram-se como
solução muitos e famosos mágicos, mas o resultado era nulo.
·
Posso ajudar – disse Liriana aos juízes.
·
Não nos incomode – ameaçaram eles – levem estas
infelizes à prisão – concluíram.
Enquanto a polícia a prendia, a
mulher que exigia justiça, pediu que a deixassem tentar primeiro, mas Liriana e
suas amigas já estavam algemadas e os juízes recusaram-se.
·
Ao menos deixem-na dizer uma palavra – insistiu
ela, ao que os juízes aceitaram.
Ainda algemada, Liriana, mandou
colocar duas garrafas em cima das mesas dos juízes e ordenou aos dois supostos
maridos que entrassem lá para dentro de tal sorte que só seria o marido aquele
que fosse extraordinário. Logo o intruso se transformou em abelha e entrou.
Liriana imediatamente mandou arrolhar a garrafa e deu a seguinte sentença:
·
É este o falso marido, porque assim como tomou a
forma da abelha do mesmo modo tinha a faculdade de tomar a forma do marido
ausente.
O rei mandou prender todos os juízes e falsos mágicos. A
partir daquele dia, a órfã Liriana passou a viver no Palácio e as companheiras
foram soltas. Tal como a Liriana não precisou das mãos para resolver o grande
problema, cada um de nós pode resolver o seu usando os instrumentos a seu
dispor. Não esperemos pelos extraordinários. Podemos ser outra Liriana, hoje.
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