Após protestos, presidente de governo Mariano Rajoy convocou reunião de emergência do partido para sábado
Um dia após a publicação de documentos que sugerem a existência de financiamento ilegal dentro do PP (Partido Popular), divulgados pelo jornal espanhol El País, alguns políticos implicados na denúncia reconheceram o recebimento das quantias informadas pela publicação.A irregularidade estaria na origem do dinheiro envolvido nas transferências, recebido pelo PP de maneira ilegal.
O presidente do Senado, Pio Garcia Escudero, confirmou que recebeu do partido o valor de 5 milhões de pesetas (moeda espanhola anterior ao euro) em 2000. A casa do político foi alvo de um atentado a bomba em agosto de 2000 e ele afirma ter pedido um empréstimo ao partido para reconstruí-la. No documento publicado pelo El País, figura que Garcia Escudero devolveu o dinheiro em 2001.
Outra figura política que confirmou os dados que vieram a público no último dia 31 de janeiro foi o ex-dirigente da UPN (União do Povo Navarro) Jaime Ignacio del Burgo, porta-voz do partido em 2001. Ele confirmou que em julho de 2001 recebeu 500 mil pesetas do PP após ter solicitado a verba para ajudar a uma integrante da UPN que também havia sofrido um atentado terrorista.
Reprodução El País
Segundo estimativas do El País, cerca de 70% das movimentações que figuram nos documentos são ilegais porque não seguem a lei de financiamento dos partidos políticos. Segundo esta lei, que esteve em vigor entre 1987 e 2007, os partidos não poderiam receber doações de pessoas físicas ou jurídicas superiores a 10 milhões de pesetas ao ano – aproximadamente 60 mil euros. Esse limite subiu para 100 mil euros após 2007.
Mesmo assim, as anotações demonstram quantias muito superiores ao permitido pela lei. Há ingressos únicos de até 250 mil euros e de 400 mil euros de uma mesma pessoa durante o transcorrer de um ano. Segundo os documentos, em mais de 30 operações o limite legal foi superado.
Cúpula do PP
Grande parte do dinheiro recebido por meio dessas doações ilegais servia para alimentar uma rede de pagamentos extraoficiais da alta cúpula do partido. Os nomes de todos os líderes e secretários-gerais do PP entre 1990 e 2008 aparecem nos documentos, exceto José María Aznar, ex-primeiro-ministro espanhol e líder do partido até 2004.
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Um dos nomes mais citados nas anotações é o do atual primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy. Segundo o jornal espanhol, o atual chefe do Estado recebeu quantias que somavam 25.500 euros a cada 12 meses. A atual vice-primeira-ministra do governo, Soraya Saénz de Santamaría, e a secretaria geral do partido, María Dolores de Cospedal, também aparecem como beneficiárias do suposto esquema.
Reações
Na noite do dia 31 de janeiro, cerca de 1,5 mil pessoas se reuniram diante da sede nacional do PP em Madri para pedir a renúncia do atual presidente de governo. O deputado Cayo Lara também se manifestou a favor da demissão de Rajoy e pediu novas eleições gerais. Lara pertence à IU (Esquerda Unida) e lidera o grupo de parlamentares de esquerda no Congresso de Deputados.
O maior partido de oposição se manifestou através do seu líder Alfredo Pérez de Rubalcaba que, em uma coletiva de imprensa pediu para Rajoy explicar publicamente o caso. “Que responda a duas perguntas que são bem simples: [ele] recebeu esses pagamentos, sim ou não? E se os recebeu, recebeu legal o ilegalmente?”, exigiu Rubalcaba durante ato público em Tenerife.
Rajoy ainda não se manifestou sobre as acusações e convocou uma reunião de emergência da cúpula do partido para este sábado (02/02). Pelo PP, quem se defendeu das denúncias foi a secretária-geral María Dolores de Cospedal, que reiterou que “a contabilidade do PP é única, clara, transparente e limpa”. Cospedal também afirmou que o partido irá entrar com ações judiciais contra o El País.
Contas na Suíça
As contas divulgadas pelo jornal seriam de autoria de Luis Bárcenas, ex-tesoureiro e ex-senador pelo PP. Ele manteve até 2009 uma conta na Suíça que, entre os anos de 2005 e 2009, teve um saldo médio de 15 milhões de euros. Segundo o juiz espanhol Pablo Ruiz, a conta alcançou 22 milhões de euros em 2007. Ruiz está encarregado de investigar as acusações que pesam sobre Bárcenas no caso Gürtel, rede de corrupção vinculada a altos funcionários do PP que afetou políticos das comunidades de Valência, Madri e Castilha e León.
O ex-tesoureiro regularizou no ano passado 10 milhões de euros provenientes de suas contas na Suíça. O advogado de Bárcenas afirmou no dia 18 de janeiro que o político aproveitou o período de anistia fiscal aprovada pelo governo Rajoy. O indulto fiscal vigorou entre 31 de março e 30 de novembro de 2012 e permitia que os espanhóis legalizassem os seus bens ocultos ao fisco pagando 10% ao Estado, quantidade que representa menos da metade dos impostos que deveriam pagar pelo processo regular.
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