O 22 de Fevereiro e a Eterna Saudade - Vitorino Nhany
Luanda - Já lá vão 14 anos desde que perdi o meu Mestre, o Dr Jonas Malheiro Savimbi, um homem de convicções profundas, um homem erudito, poliglota, um homem corajoso, um homem de discursos sem fronteira e de mensagem clara desde o homem que trabalha no campo ao inquilino da Casa Branca. Enfim, estatisticamente falando, o Dr Savimbi foi uma amostra invulgar.
Fonte: Club-k.net
Foi com ele que aprendi a valorização da nossa cultura ; aprendi com ele a política ; aprendi com ele, em suma, aquilo que eu não tinha domínio. Ao meu Mestre, os meus profundos agradecimentos.
É muito difícil fazer-se uma narração completa do que foi a figura do Dr Savimbi.
Aos 17 anos, já era professor no Tchivaulo - Andulo. Recordo-me como hoje quando o Dr Savimbi dirigiu um encontro de dois dias em 1998 nessa localidade, tendo afirmado a sua entrada na docência muito cedo.
A vida dele foi sempre colocada ao serviço de milhões. Foi assim que em 1962 convencendo os dirigentes do PDA ( Partido Democrático Angolano ) e da UPA ( União dos Povos de Angola ), da fusão veio surgir a FNLA. Lembro-me num serão no Leste do País em 2001 quando dizia e eu cito : " a história não é enganadora e tem a virtude de ser teimosa; algum dia ela esclarecerá aos angolanos de que foi o velho Holden Roberto quem iniciou a Luta de Libertação Nacional; hoje, Angola não consegue ajudá-lo com 6 mil dólares para ir fazer um check up fora " !
Quando foi constituído o GRAE ( Governo Revolucionário de Angola no Exílio ) , o 1º instrumento político-jurídico nacional opositor ao regime colonial português, coube ao Dr Savimbi a Pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros. A sua missão notabilizou-se devido às suas habilidades.
O Dr Savimbi participou, aos 25 de Maio de 1963, na criação da OUA, como Presidente da Comissão de todos os Movimentos de Libertação de África, endereçando um Memorando aos chefes de Estado africanos, lido diante da Assembleia Magna da OUA pelo veterano do Kenia Onginga Ondinga, Comissão dinamizada por ele, tendo como Secretário Mário Pinto de Andrade e como Relator, Julius Kianu.
As divergências de pensamento na condução da luta política tais como :
a) Direcção no interior do País junto do Povo, soldados e comandantes;
b) Contar essencialmente com as forças próprias;
c) Consciencializar o Povo e uni-lo na luta pelos seus direitos inalienáveis, entre outras; fizeram com que o Dr Savimbi abandonasse a FNLA, tendo vindo fundar aos 13 de Março de 1966, a UNITA.
De recordar que aquando da rotura com a FNLA, Sam Nujoma dirigindo-se ao Dr Savimbi, disse: " meu irmão, agora arranjaste dois inimigos; os portugueses e os americanos que apoiam a FNLA; para não morreres como um animal qualquer, ofereço-te esta pistola ".
Dizia eu que a narração seria difícil face os seus infinitos feitos em prol das angolanas e dos angolanos.
Digam o que quiserem dizer, foi a entrega total do Dr Jonas Malheiro Savimbi, à frente de uma coluna de mulheres e homens patriotas, abnegados e desinteressados, que conseguimos conquistar a Democracia e por mais que esteja a engatinhar, vai crescer e vencer. Muito obrigado, mais uma vez, meu querido Mestre.
A morte do Dr Savimbi constituiu para mim a dor mais sentida por perdurar aos dias de hoje. Depois de ter estado com ele, nos seus últimos dias, durante 50 dias no Leste, ter recebido dele a missão de transmitir as Resoluções da 16ª Conferência Anual do Partido aos quadros do COPE Huambo e 30 dias depois seguir para Benguela onde cheguei aos 18 de Outubro de 2001, fixando-me na Base Kassembe entre Balombo e Ganda, eis que 10 meses depois de me separar do meu Mestre, já de regresso ao COPE-Centro, dia 23 de Fevereiro, pelas 11 horas, quando me preparava para falar para as populações num comício a leste da montanha conhecida por Luponde, no território do Bocoio, recebo o caderno de mensagens que trazia a mais lúgubre notícia da morte do Dr Savimbi!!! Abandonei o recinto deixando a responsabilidade do comício à pessoa do Brig Sindako.
O que mais me encoraja é que tanto o Dr Savimbi que foi vítima da intransigente defesa dos que não podem, como aqueles que tudo fizeram para que fosse silenciado e todos nós, ninguém ficará incólume sobre esta superfície da parte física que se chama Angola. Todos passaremos, uns como patriotas e outros como traidores, deixando todas as recompensas "beneficiadas" como prémio à matança de um homem que hoje teria colocado Angola na base do respeito mútuo , uma Angola organizada, uma Angola disciplinada, uma Angola sem lixo a coabitar com os seus cidadãos, uma Angola sem nepotismo, uma Angola sem corrupção, uma Angola sem fome, uma Angola sem a febre amarela, uma Angola sem a segregação de espécie alguma, uma Angola com identidade cultural tipicamente africana, uma Angola circunscrita numa cooperação com reciprocidade de vantagens, uma Angola de igualdade em que o bife que come o general é o mesmo que come o soldado, enfim, uma Angola que colocasse acima de tudo os interesses dos angolanos tal como os outros países o fazem.
Nesta minha breve reflexão, termino com duas notas :
1) Se aqueles que mantêm sob custódia, os restos mortais do Dr Jonas Malheiro Savimbi são patriotas, então entreguem-nos à família para que em cooperação com o Partido por ele fundado, sejam realizadas exéquias condignas à moda da nossa cultura.
2) Outra nota dirijo-a aos intelectuais da nossa querida Angola : será que perante tamanha incúria em que o País está mergulhado, perante tamanha desordem e incertezas, perante tamanha insensibilidade e falta de compaixão, perante tamanho recuo em todos os campos, vamo-nos deixando ultrapassar sem que se tomem medidas? O intelectual não é a consciência da sociedade? Terá alguma importância uma intelectualidade que defende apenas o " sim " quando devia dizer " não " ? Em qualquer canto, doutor fulano tal ! Em qualquer esquina, doutor beltrano ! Em qualquer talve gue, doutor sicrano ! Coloque-se então esse doutoramento ao serviço dos homens e não conformar-se com a situação que vivemos no nosso País! É um desafio no qual eu sou voluntário.
Lá onde estiver, se no Moxico ou em Luanda, Dr Savimbi, os angolanos patriotas vos agradecem e aguardam que venha ser depositado no Lopitanga onde erguerão um monumento para a eternização dos vossos feitos.
Vitorino Nhany
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Porta-voz da Unita diz que processo de exumação do corpo está em fase avançada.
22.02.2016 17:51
Catorze anos após a morte em combate do seu fundador e líder, a Unita e a família de Jonas Savimbi voltam a exigir ao Governo que permita a realização dos funerais condignos do antigo combatente e de outros responsáveis e dirigentes mortos durante o conflito armado angolano.
O processo de exumação do corpo está em fase avançada.
Unita exige funeral condigno de Jonas Savimbi - 1:54
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Jonas Savimbi morreu em combate no dia 22 de Fevereiro de 2002 na região do Lucusse, e o seu corpo foi formalmente sepultado na cidade do Luena, capital da província do Moxico.
A vontade da família é que o fundador da Unita seja sepultado na sua terra natal, na província do Bié..
O porta-voz do partido galo neto, Alcides Sakala disse à VOA que o processo de exumação do corpo da Jonas Savimbi está numa fase avançada podendo os funerais acontecerem ainda este ano, em homenagem ao 50º aniversário da fundação do principal partido da oposição.
“Temos esta firme vontade de levar os restos mortais do Dr. Savimbi para a sua aldeia, no Andulo”, declarou.
Sakala revelou ainda que o pensamento do seu líder deve ser objecto de estudo em universidades e centros de investigação científica, de modo a ser uma referência para os angolanos ao lado de Holden Roberto e Agostinho Neto.
“É importante que os líderes e nacionalistas da luta de libertação sejam conhecidos e respeitados como tal”, defendeu o porta-voz do partido.
Numa declaração publicada esta segunda-feira, 22, a direcção da Unita diz ser urgente dotar Angola de um governo que encare de forma diferente a governação do país e que implemente o pensamento estratégico de Jonas Savimbi, no que respeita à busca de soluções económicas, priorizando o campo para beneficiar a cidade, tal como recomenda o Projecto do Muangai.
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