PODE A CRISE DA RENAMO DESCARRILAR O PROCESSO DO #DDR? A reposta é não.
Apesar de estar a me divertir com a crise da Renamo, julgo que devo esta obrigação, de separar as águas e ajudar a tornar inteligível o que está a acontecer com esse velho partido doente.
Três são os fenómenos que em simultâneo estão a acontecer na Renamo. Para já, importa dizer que Ossufo Momade e a própria Renamo são os dois, pequenos demais para poderem ombrear com esses três assuntos delicados nomeadamente:
1. Primeiro: O processo de Paz e o DDR
2. Segundo: o processo eleitoral e as opções internas
3. Terceiro: aliado ao segundo, o processo de transição da liderança pós-Dhlakama.
2. Segundo: o processo eleitoral e as opções internas
3. Terceiro: aliado ao segundo, o processo de transição da liderança pós-Dhlakama.
Não devemos por isso confundí-los. O #DDR vai acontecer com qualquer milícia da Renamo. E este processo é independente do processo eleitoral. O processo do #DDR é o processo de Paz e ele está umbilicalmente ligado à questão eleitoral por meras razões de calendário e o compromisso de chegarmos em Outubro com o #DDR finalizado. Até lá, ainda precisamos, como povo, de mobilizar recursos para viabilizar o #DDR. Estamos recordados que no último encontro com Ossufo Momade, o Presidente Filipe Nyusi concordou com ele em organizar uma conferencia de mobilização de fundos para financiar o DDR. Os próximos passos são determinantes. Para já, o Secretário-geral da ONU António Guterres UNSGvisita-nos nos próximos dias, para além de outros dignitários, incluindo a visita do Presidente a Portugal; tudo; condimentos para um fim exitoso do processo do #DDR.
Por seu turno, as milícias da Renamo, independentemente da rebelião que estão a levar a cabo, têm duas opções no âmbito da sua desmilitarização:
a) Depois de acantonados, uns serão reintegrados nas forças da defesa e segurança, passando a servir os interesses do estado
b) Depois de desmobilizados, outros serão reintegrados na sociedade para passarem à vida civil.
b) Depois de desmobilizados, outros serão reintegrados na sociedade para passarem à vida civil.
Os primeiros serão apartidários e nem poderão ser membros de um partido político. Os segundos poderão escolher continuarem a ser membros de uma Renamo civil ou mesmo mudarem de partido. Os dois grupos não dependem tanto de Ossufo Momade, já que existe uma equipa mista composta tanto por serpentantes da Renamo e do governo e coordenados por peritos internacionais. São esses que estão a fazer o trabalho. A dependência desses militares de Ossufo Momade é mínima. Para já, as milícias são unânimes em quererem desmobilizar. Depois, é do interesse da própria Renamo em verem se livres deles, fazendo fé do vem dizendo. Logo, qualquer atraso no processo do #DDR não deverá ser imputável aos insurretos. Pelo contrário, eu vejo o lado positivo dessas insurreições. Eles estão a dizer por outras palavras “ESTAMOS AQUI. Venham nos desmobilizar.”
Apesar de os dois outros problemas da Renamo, nomeadamente o processo eleitoral e a transição da liderança estarem relacionados, não são iguais. Apenas coincidem em acontecer dentro de um período apertado, quando a Renamo se prepara para transitar para uma nova fase da sua vida; a vida totalmente civil.
Aposto que se Ossufo Momade tivesse assumido a liderança da Renamo durante a guerra civil, não haveria tanto barulho. E, se tivesse também assumido a liderança dois anos antes do processo eleitoral, também não teria tantos problemas. O problema é ele mesmo assumir a Renamo numa fase onde tem que lidar com três assuntos urgentes sem contar com a sua própria curva de aprendizagem.
É desafiante para qualquer um, principalmente para um partido gerontocrata e que precisa se acostumar à uma nova cultural organizacional, depois de atravessar um período de aproximadamente 40 anos sob a liderança de uma pessoa só. Superar a SÍNDROME DO FUNDADOR num contexto de transição e eleitoral não será fácil.
GLOSSÁRIO
Gerontocracia: gestão ou administração exercida por anciãos.
Síndrome do fundador: dificuldade enfrentada por muitas organizações, em que um ou mais fundadores mantêm poder e influência desproporcionais após a criação ou implementação inicial do projecto, levando a uma ampla gama de problemas, tanto para a organização quanto para as pessoas envolvidas com o mesmo (cf: Wikipédia-pesquise por síndrome do fundador).
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