segunda-feira, 8 de julho de 2019

Pela integridade (1)


Pela integridade (1)
Jaime Langa expôs-me recentemente ao confessar-se adepto da forma como ele acha que abordo o assunto da corrupção. Vaidoso que sou, fiquei contente. Houve depois, e continua, uma discussão no seu mural que me obriga, mais uma vez, a dizer o que eu penso sobre o assunto e como acho que ele devia ser abordado. Vou fazer isso numa mini-série de textos que quero apresentar como estratégia alternativa ao que se faz – ou pensa-se em fazer – no País.
Porque nessa discussão alguém colocou em causa a minha idoneidade para falar sobre o assunto dado que sou fã confesso daquele que é considerado o maior lesa-pátria que temos, gostaria de esclarecer duas coisas. A primeira é que sempre fui contra a maneira como esse “lesa-pátria” queria combater a corrupção e isso tudo está documentado em vários textos no jornal Notícias assim como aqui no Facebook. A segunda é que o texto em que me declarei “fã” dele foi acompanhado de dois outros em que manifestei a minha admiração pelos líderes da oposição, portanto, da Renamo e do MDM. A terceira é que em todos esses textos destaquei aspectos do perfil político dessas pessoas que é independente de possíveis defeitos de carácter.
Neste primeiro texto quero destacar uma questão retórica. Acho infeliz que neste assunto da corrupção enfatizemos mais o negativo. Falar sempre da corrupção parece-me contraproducente, pois um País não se define pelo que é negativo, mas sim pelo que é positivo. O CIP contém no seu nome aquilo que devia ser destacado: a integridade pública. É sobre isto que devemos falar. A questão não é como combater a corrupção, mas sim como promover e proteger a integridade pública.
Tenho em mim que a discussão seria outra. Iríamos sair do falso moralismo, da caça às bruxas e da indignação barata que caracterizam a actual discussão. O desafio é definir a integridade pública duma maneira que nos permita identificar áreas de intervenção política. A questão da intervenção política é importante, pois a promoção da integridade tem que ter como objectivo consolidar e preservar a política. Um País morre quando a política é substituída pela técnica. Uma boa parte do discurso anti-corrupção constitui-se como uma máquina anti-política, o que não surpreende, pois ele faz parte da lógica da indústria do desenvolvimento.
Podemos definir a integridade pública ao longo de três dimensões: ética, política e instrumental. A dimensão ética confunde-se com o que nos define como País. Quando se fala de integridade pública quer se dizer, essencialmente, que somos um País em que como cidadãos assumimos responsabilidade pelo bem-estar comum. Cada um de nós é responsável pela sua felicidade, claro, mas a responsabilidade colectiva reside na preocupação do Estado em promover a justiça social. Neste sentido, a integridade pública é uma questão ética, pois reflecte o compromisso do Estado com o bem colectivo. Servir é responder a este compromisso.
A dimensão política traduz a concepção que aquele que dirige (ou pretende dirigir) o Estado tem de como viabilizar esse compromisso. É neste ponto onde muita coisa se estraga entre nós. Não existe, dum modo geral, uma ideia clara de que fazer política consiste justamente nisto e que, por isso, definir um problema e propor a sua solução é essencialmente operacionalizar o compromisso. A Frelimo gloriosa tinha uma ideia clara disso. Depois dela foi Guebuza que também teve uma ideia clara disso. Chissano, talvez pela preocupação com a paz, nunca tornou clara a sua ideia de como queria responder ao compromisso. Na oposição não existe absolutamente ideia disto. É a miséria total.
A dimensão instrumental diz respeito ao tipo de instituições que precisam de ser criadas para que sejamos o País que queremos ser. Isso inclui também o perfil das pessoas que vão trabalhar nessas instituições, os meios ao seu dispôr e a relação que devem ter com as pessoas a quem servem. No nosso País temos a tendência de perverter o serviço público colocando o Estado acima dos cidadãos.
Se você não tem ideia destas três dimensões ou nunca pensou nelas (ou em aspectos relacionados) dificilmente vai ser um interlocutor válido na discussão sobre a corrupção. E mais. Uma estratégia anti-corrupção que não se pronuncie claramente sobre estas três dimensões não vale o papel em que está imprimido. Uma discussão que não se debruce sobre estas coisas é, em minha opinião, completamente inútil.
Comentários
  • Jemusse Abel Eu entendi.... Realmente o discurso que se cria sobre este fenômeno é mais moralista e opressora. Acho melhor que bem identificado o problema se procurasse acção pragmática, que envolve muito bem disse Prof a criação de instituições sérias com pessoas também a medida. O que temos hoje é limitar-se nos comícios, lamentações aqui e acolá outras até com interesses pessoais pra algum ganho numa possível luta a corrupção quando na verdade não passam de oportunistas..
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  • Júlio Mutisse presunçoso
  • Jaime Langa Wani xavissa...
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  • Jeremy Timbe Pela integridade e salvaguarda da ética e moral pelo menos nas sociedades Africanas, não existe outro caminho SE não o caminho do sacrifício.

    A crença da igreja ser o local de edificação da ética e moral, deve morrer para eliminarmos a corrupção.


    Muito pelo contràrio, foi a igreja que destruiu a ética e moral de nossos ancestrais sob o pretexto de nos converter ao Deus do ceu como se nós Africanos ja nessa altura não conhecessemos Deus. Para mim, como conhecedor da espiritialidade Africana (ciências espirituais Africanas) não é complicado entender de onde vem a corrupção e como acabar com isso.

    A corrupção em Africa provêm da construção de estados Africanos numa narrativa forçada (narrativa Europeia) - isto introduz um defeito em nós irreparàvel, faça o que fizer, não vai conseguir reparar, Mas apenas multiplicar as acções como tentativa de solução mas nem minimizar vai se conseguir. 

    COMO SE RESOLVE ISTO
    Fàcil; reconstruir a nossa narrativa. Como? Óbvio que como povo oprimido, precisamos de um tempo só Nosso para nos encontrarmos; serà um tempo de recordar o que somos - na Espiritualidade Africana existe um termo que se chama Sankofa; que indica a habilidade de voltar no tempo e recordar de modo a avançar seguro.

    Devemos nos fechar para nos concertar; isto significa que todas as religiões devem ser desacreditadas por meio de demonstrações que elas nao passam de facto de plàgios da Espiritualidade Africana, ensinando a Espiritualidade Africana aos Africanos. As religioes devem ser entregues de Volta aos Europeus; aos Africanos ja convertidos a essas religiões, devem ser reorientados por meio de educação especial. A razao para esta solução é simples; na Espiritualidade Africana, a mulher é quem deu luz ao homem e por conseguinte ela é Deusa e a sociedade Matriacal. O Homem é Deus; ele, o homem, a mulher e criança, formam aquilo que na cosmologia Africana, chama se a Trindade Sagrada. Os europeus, têm a sua trindade que é Pai, filho e Espírito Santo; uma aberração de trindade esta! Em Africa concebe se a Pessoa como o provedor de si mesmo sem haver necessidade de chamar Por um deus fora do homem porque de facto esse deus não existe. A nossa Espiritualidade ainda que nao a conheçamos, està inscrita no nosso ADN; quando vivemos o contrario do que esta inscrito em nós, tornamo nos seres pequenos e fracos e ficamos extremamente corruptos ate a auto destruição nossa. Quem é Africano na verdade nao precisa de religião porque ele ja é um ser espiritual. Ele so precisa de saber como despertar essa espiritualidade em si de modo a tornar se Deus que na verdade Ele/Ela é.

    Antes do contacto com os Árabes e depois com os Europeus, os Africanos eram Deuses na terra porque Sabiam conectar se com o seu Eu verdadeiro. Quando os brancos chegaram e perceberam isso em nós, pensaram numa maneira de nos impedir de manifestar o Deus em nós e escreveram a bíblia e outros textos ditos por eles como sendo sagrados; nos quais, se exige que alguem deve rezar para um Deus no céu. Esta claro que isto estava se a desviar o Africano a desligar se da sua força espiritual e com isso torna lo fraco, idiota e extremamente corrupto. 

    O Branco criou esta narrativa de mundo corrupta com base em apropriação da espiritialidade Africana mal compreendida (ciencia, tecnica e tecnologias) e nao tem solucao para o combate a essa corrupção. Para nós os Africanos, é hora de voltarmos a nossa força espiritual e voltar novamente a dominar o mundo; esse mundo foi concebido por nossos ancestrais e so nós com as ciencias espirituais Africanas podemos concerta lo.

    O Japão também foi atacado pelo Cristianísmo no século 16; e a resistencia ao cristianismo pelo povo Japonês seguiu a mesma solução que aqui proponho; o isolamento do Japão ao mundo durou 212 anos. Os Japoneses ficaram entre eles a praticar o "Shintoísmo" - que é o culto aos Antepassados exactamente como a nossa ciência espiritual. Esses 212 anos foram chamados anos de sacrifício ou "Sakoku". Quando o Japão SE abriu novamente ao mundo, os Europeus Ja não tinham campo para converter os Japoneses; a Europa havia perdido! E o Japão hoje é o país Mais ético e moral do mundo e não tem la igreja nenhuma.
  • Antonio Gundana Jr. Como Prof. tem dito várias vezes, é necessário abordar o País tendo em conta os valores que queremos ver nele, o tipo de sociedade que pretendemos construir.

    Acessoria de borla feita com sucesso!
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