quinta-feira, 21 de março de 2019

Pilotos de Boeing que caiu estavam à procura de solução no manual de instruções

21.03.2019 às 12h18

JASON REDMOND

O primeiro dos dois desastres envolvendo aviões Boeing 737 Max 8 teve lugar em outubro e matou 189 pessoas

Nos minutos antes de um Boeing 737 da companhia indonésia Lion Air cair no mar próximo de Jacarta, os pilotos tentavam desesperadamente encontrar uma solução para o problema que enfrentavam: o facto de o sistema do aparelho continuar a ordenar-lhe que descesse sem haver razão para isso.
O local onde os pilotos procuravam a resposta era o manual de instruções do aparelho, segundo conta agora a Reuters, que falou com três pessoas ligadas à investigação. A ilustrar a complexidade do sistema, uma dessas pessoas (que exigiu o anonimato, como as outras) explicou: "É como um teste onde há cem perguntas e quando o tempo chega ao fim apenas respondemos a 75. Entra-se em pânico. Não há mais tempo".
O acidente da Lion Air em outubro foi o primeiro de dois em meses recentes que envolveram aviões Boeing 737 Max 8. Já se suspeitava que os acidentes tivessem a ver com o novo software a bordo, e sobretudo com a dificuldade que alguns pilotos têm tido em perceber aspetos vitais do seu funcionamento, por deficiências de treino e dos manuais explicativos.
Segundo o relato da Reuters, o capitão do voo da Lion Air reportou anomalias no controlo de voo logo aos primeiros dois minutos. Nessa altura, a preocupação teria a ver sobretudo com velocidade e altitude. Os dois pilotos não se aperceberam logo que o computador de bordo, com base em informação incorreta fornecida por sensores, estava a dirigir o avião para baixo usando as suas superficies de controlo, incluindo o nariz.
Um problema semelhante já tinha acontecido na noite anterior com o mesmo aparelho, e só não houve um desastre graças à presença de um terceiro piloto que se encontrava de folga mas interveio para desativar o sistema de controlo de voo defeituoso. Infelizmente, o procedimento não foi explicado à tripulação seguinte.
Com esta a perceber que a tragédia se aproximava, o comandante passou os comandos ao copiloto e foi ele próprio consultar o manual. O avião recebia sinais enganadores de não ter fluxo de ar suficiente sobre as asas para subir, mas continuava a baixar o nariz.
Nos últimos momentos, antes de o avião bater na água, o comandante, de nacionalidade indiana, não falou. E o seu colega, indonésio, disse: "Deus é grande". Das 189 pessoas a bordo, nenhuma escapou com vida.

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