sábado, 23 de março de 2019

Iraniano que se tornou cristão vê Reino Unido recusar-lhe asilo. Motivo: o cristianismo não é mais pacífico que o Islão...


A argumentação do Ministério do Interior britânico surpreendeu e chocou muita gente, e pelo menos um bispo protestou publicamente

O Ministério do Interior britânico recusou o pedido de asilo apresentado por um iraniano dizendo que o motivo por ele apresentado - o risco de perseguição que corria por se ter convertido ao cristianismo depois de perceber que era uma religião pacífica - não tinha fundamento. Para sustentar a recusa, o Ministério refere passagens de livros da Bíblia como o Êxodo, o Levítico e o Apocalipse, que supostamente indicam a natureza violenta do próprio cristianismo.
Numa das passagens citadas, retirada do Levítico, o autor escreve: "Perseguirás os teus inimigos, e cairão pela espada à tua frente. Cinco de vocês perseguirão uma centena, e cem perseguirão dez mil". Noutra, do Êxodo, lê-se: "Quebra os seus altares, esmaga as suas pedras sagradas". Para já não falar do Apocalipse, que abunda em imagens violentas - a carta do Ministério cita várias - e da própria afirmação do Cristo de que não veio trazer a paz à terra, mas uma espada.
Como em interpretações aparentemente literais de tudo isto, o funcionário do Ministério conclui: "Estes exemplos são inconsistentes com a sua alegação de que se converteu aos cristianismo depois de descobrir que era uma religião 'pacífica', por oposição ao Islão, que contém violência, raiva e vingança".
Nathan Stevens, o representante do requerente de asilo, nem queria acreditar quando leu a resposta ao pedido. "Tenho visto muito ao longo dos anos, mas mesmo eu fiquei genuinamente chocado ao ver esta diatribe incrivelmente ofensiva ser usada para justificar uma recusa de asilo", disse à imprensa. "Quaisquer que sejam as nossas perspetivas sobre a fé, como pode um responsável público selecionar arbitrariamente bocados de um livro sagrado e usá-los para arrasar a razão sincera para chegar a uma decisão pessoal de seguir outra fé?"
Um especialista legal com conhecimento de processos de asilo explicou o que estará em causa: "O Ministério do Interior é conhecido por se aproveitar de qualquer motivo que possa para recusar asilo, e este parece ser um exemplo particularmente criativo, mas implica necessariamente uma epidemia de anti-cristianismo lá dentro".
Por sua vez, o líder da Sociedade Secular Nacional, Stephen Evans, notou não é função do Ministério armar-se em teólogo. E pelo menos um bispo da Igreja Anglicana - o de Durham, Paul Butler, que lida em nome da sua igreja com questões de imigração e refugiados na Câmara dos Lordes - lamentou que "um departamento oficial possa determinar o futuro de outro ser humano com base num entendimento tão errado dos textos e práticas das comunidades de fé".
Perante a dimensão da reação pública, um porta-voz do Ministério veio esclarecer que a carta não está de acordo com a política oficial em relação a pedidos de asilo com base religiosa, prometendo continuar a manter ligação estreita com um amplo leque de grupos de fé e a providenciar formação aos seus funcionários nessa área, especialmente em questões de conversão.

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