quinta-feira, 21 de março de 2019

Ex-presidente da Associação de Professores de Português expulsa do ensino público

20.03.2019 às 15h09

Edviges Ferreira, professora do ensino secundário numa escola pública e explicadora, foi durante anos presidente da Associação de Professores de Português. Foi substituída em fevereiro de 2018
LUÍS BARRA

Ministro da Educação anunciou esta quarta-feira a demissão da docente, que foi considerada culpada pela fuga de informação no exame nacional de Português, em junho de 2017. Decisão tem efeitos imediatos. Edviges Ferreira fica impedida de dar aulas nas escolas do Estado pelo menos durante três anos

A antiga presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, foi considerada culpada pela fuga de informação que divulgou parte do conteúdo do exame nacional do 12º ano da disciplina, em 2017, tendo sido esta quarta-feira demitida pelo Ministério da Educação, na sequência do processo disciplinar que lhe tinha sido instaurado.
"O ministro da Educação determinou a aplicação da sanção disciplinar de demissão à docente que, em violação do dever de confidencialidade a que estava vinculada, deu a conhecer informação relativa a conteúdos do exame de Português 639, realizado em 19 de junho de 2017", refere em comunicado o Ministério da Educação, sem nunca referir o nome da professora.
"Todas as infrações constantes dos artigos da acusação foram consideradas provadas, concluindo-se que a docente terá agido de forma consciente e intencional, desrespeitando gravemente os seus deveres funcionais e o interesse público", frisa o Ministério, adiantando que a professora já foi notificada da decisão.
De acordo com a Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, esta sanção disciplinar implica "a perda de todos os direitos do trabalhador, salvo quanto à reforma por velhice ou à aposentação". Edviges Ferreira ficará, assim, impedida de dar aulas no sistema de ensino público pelo menos durante três anos, período após o qual pode pedir a "reabilitação", um processo longo e complexo que não garante que volte a ter emprego nas escolas do Estado. A antiga presidente da Associação de Professores de Português não está, no entanto, proibida de dar aulas no ensino privado.
Segundo o Ministério da Educação, esta demissão tem efeitos imediatos, o que significa que Edviges Ferreira já não voltará à Secundária Rainha Dona Leonor, em Lisboa, onde lecionava há vários anos. O Expresso tentou contactar a docente, mas não obteve resposta.
Edviges Ferreira, que durante anos representou os professores de Português, enfrentava um processo disciplinar instaurado em 2017 pela Inspeção-Geral de Educação e Ciência (IGEC) por suspeita da autoria da fuga de informação.
Foi na qualidade de representante dos professores de Português que naquele ano Edviges Ferreira foi chamada pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), que elabora os exames nacionais, a participar na auditoria da prova, tendo tido acesso ao conteúdo do que ia sair.
Todos os que participam na elaboração e auditoria dos exames ficam sujeitos ao dever de reserva e confidencialidade e são obrigados a assinar uma declaração sob compromisso de honra em como não dão explicações, nem são familiares de nenhum aluno que vai fazer a prova.
Apesar disso, Edviges Ferreira dava explicações a vários estudantes, nomeadamente do ensino privado, tendo acabado por partilhar com estes parte do que ia sair na prova, uma das mais importantes para o acesso ao ensino superior.
Dias antes do exame de Português, realizado a 19 de junho de 2017, circulou no WhatsApp uma gravação feita por uma aluna que não se identificava e que revelava o conteúdo do teste. Segundo a estudante, a informação partia da "presidente de um sindicato de professores" que tinha tido acesso ao exame.
"Ó malta, falei com uma amiga minha cuja explicadora é presidente do sindicato de professores, uma comuna, e diz que ela precisa mesmo, mesmo, mesmo só de estudar Alberto Caeiro e contos e poesia do século XX. Ela sabe todos os anos o que sai e este ano inclusive. Pediu para ela treinar também uma composição sobre a importância da memória e outra sobre a importância dos vizinhos no combate à solidão", dizia a gravação.
No exame da 1ª fase acabou por sair, de facto, um poema de Alberto Caeiro e um excerto de Vergílio Ferreira, não havendo questões sobre nenhum outro autor. Mais estranho foi o facto de o tema da composição que os estudantes foram chamados a fazer no exame ter sido precisamente a memória.
Vários estudantes terão ouvido a gravação e tido, assim, acesso prévio ao que ia sair, comprometendo o princípio da igualdade no acesso ao ensino superior. No entanto, o Ministério da Educação considerou na altura que não era possível apurar se tinha havido ou não "benefício mensurável", tendo remetido a "aplicação de eventuais medidas" para depois da conclusão do processo disciplinar, que agora chegou ao fim.
Paralelamente ao inquérito conduzido pela Inspeção-Geral de Educação, foi aberta uma investigação a cargo do Ministério Público, tendo Edviges Ferreira sido já formalmente acusada, em maio de 2018, pelos crimes de violação de segredo por funcionário e abuso de poder.


Expresso
16 h
Edviges Ferreira foi considerada culpada por ter partilhado o conteúdo do exame nacional de Português, em junho de 2017
Comentários
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  • Carlota Maricato Erro grave?! Concordo 
    Tem de ter consequências? Concordo 
    MAs não façam justiça em praça pública, de alguém que durante anos foi uma excelente profissional!

    Terá de responder obviamente sobre este caso.
    Pena tenho que isto não seja válido para políticos e banqueiros, e..., e...., e ....
    Ocultar 11 respostas
    • Ricardo Mendes Excelente profissional looooooooooooooooooooooool cada anedota
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    • Carlota Maricato Ricardo Mendes conhece o trabalho da senhora?!
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    • Olímpia Pires Carlota Maricato esta notícia ven nas vésperas duma manifestação para desprestigiar os professores só pode. Até sábado devem surgir nais....
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    • Carlota Maricato Olímpia Pires o costume....
    • Ricardo Mendes Carlota Maricato só gostava de saber quantos alunos foram sendo favorecidos ao longo de anos e quanto ganhou esta excelente profissional?? 😂😂. Deve ter sido pro bono para crianças desfavorecidas. com uma gravidade destas não sei o que há de bom a emergVer Mais
    • Carlota Maricato Ricardo Mendes se desconhece, ignora... não teça comentários, nem opine. Fica-lhe mal ficar pelas suposições!
      Se nunca assistiu às aulas, nem aos projectos pedagógicos, restrinja-se ao silêncio.
      Comente apenas sobre este erro, não sobre a carreira.

      Falar sem conhecimento de causa e ser treinador de bancada do ataque é o vulgar e fácil “portuguesismo”
      Lá está... Umberto Ecco cheio de razão!
    • Eduarda Tavares Calma, vão de seguida
    • Clara Fileno Carlota Maricato, excelente profissional????!!!!
    • Clara Fileno Carlota Maricato, a profissão dela é ser PROFESSORA!!! E ser professora é, acima de tudo, ser formadora de jovens. Poderá saber muito da disciplina de Português - desconheço a sua competência científica -, mas ser PROFESSOR envolve muito mais competências. E, pelos vistos, essa senhora, é uma nulidade a nível da ética e da moral, competências que devem vem orientar, sempre, esta profissão tão nobre, cujos agentes têm a obrigação de tentar ser um exemplo a seguir por aqueles que estão numa fase da sua formação, enquanto indivíduos e cidadãos, para além de alunos. Péssima profissional, tenho a certeza. Lamentável ter colegas assim. Faz-me sentir envergonhada!... Infelizmente, estou quase certa de que a sua "pena" deverá ser a de passar para o privado, onde o "nome", o "estatuto" a levará a desempenhar um "papel" de diretora de qualquer coisa... A mediocridade raramente é devidamente castigada, neste país. Lamentável o que fez! Lamentáveis os critérios do IAVE na seleção dos seus colaboradores!
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    • Ricardo Mendes Carlota Maricato espero bem que não seja professora porque uma pessoa que chama excelente profissional a uma pessoa destas é igual ou pior. Fala em "portuguesismo" mas não há exemplo melhor desse adjectivo que você própria que outro país tem mais capacidade de desculpar um criminoso/aldrabao é embelezalo que o nosso.
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  • Lau Fernandes Esta senhora nada aprendeu com Camões que ela, supostamente, ajudava a compreender...sobre a vilania, o "vil metal" e as consequências da ambição desmedida! 😀 Ou os conselhos de Padre António Vieira no "Sermão de Santo António aos Peixes". Tudo programa dos exames! 😀😀😀 Os nossos fantásticos Autores sempre atuais no apontar da tremenda falta de ética do ser humano!
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  • Anabela Roodrigues E aos alunos que aproveitaram conscientemente a informação o que lhes aconteceu?
    • José M Villa Lobos Anabela Roodrigues , nada.
    • Alicia Gómez Pérez Eles não têm culpa de existir uma professora “mafiosa”
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    • Anabela Moutinho que pergunta mais parva
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    • Ana Valerio Anabela Moutinho ... parva porquê??? Tal é a sua consciência cívica!!! Não tiraram partido de uma situação fraudulenta???? Que mensagem se está a passar a fututros cidadãos que deveriam ser éticos??? Coitadinhos que não tiveram culpa??? Pois não, mas aproveitaram-se!!!
    • Luisa Antas Torres Ana Valerio No mínimo deveria ter sido anulada a prova. O ministério compactuou/ foi conivente, com a fraude.. E os alunos que não tiveram acesso à informação, não ficaram prejudicados em relação a esses? Temos de ser justos.
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    • Anabela Roodrigues Ana Valerio nem mais! Concordo consigo. A professora foi punida, pelo que no mínimo os alunos que beneficiaram da informação deveriam repetir a prova com outros conteúdos.
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    • Lau Fernandes Anabela Roodrigues , compreende-se. O problema é avaliar e contabilizar exatamente quem beneficiou da informação.
    • Carlota Maricato Anabela Moutinho não sei porquê. Se um é culpado por denunciar, outro é cúmplice por utilizar e divulgar!
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  • Francisco Carvalho Infelizmente na esfera política a incompetência e a corrupção não são punidas do mesmo modo
  • João Costa Mais uma greve anunciada pelo Nogueira é o que ele quer greves
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  • Patricia Izabel Até achei que ela lhes tinha quase dado o enunciado. Agora dar dicas do que vai sair, quando todos os anos se vêem os péssimos resultados à disciplina (penso que nem mesmo com o enunciado à frente, muito não teriam boa nota), não acho nada de extraordinário.
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  • Alvaro Natividade Também fazia greve?????
  • Antonio Serpa Que injustiça. Só em Portugal. Se os castigos fossem por expulsão, havia políticos e banqueiros fora do sistema solar
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  • Maria Lourenço Tinha idade para ter juízo
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  • Maria José Carvalho Demitida e feliz 😏
    • Augusto Leite Maria José Carvalho Então devia ter-se demitido... aí sim, seria enorme a felicidade.
    • Maria José Carvalho Augusto Leite é uma ironia.
    • Lau Fernandes Maria José Carvalho , Poderá dedicar-se às explicações a tempo inteiro, entretanto...sem pagar impostos. 😊 Ainda fica a ganhar, tirando o nome maculado!
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  • Miguel Fleming de Oliveira Muito bem. 
    E era proibir a essa desgraçada qualquer tentativa de reforma antecipada na Segurança Social.
  • Cabral Gomes Uma pena .Será esta Sra amiga de Mário Nogueira?Virá ele ameaçar com manifs contra o Despedimento?
  • Ricardo Passos Se revelasse informaçāo sobre a máfia do Dom Orelhone, ia presa.
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  • Anabela Moutinho concordo
  • Bento Coelho Do Amaral Nem sei como o sindicato deixou
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  • Manuel Fernando Marques Inácio A justiça é igual para todos! Foi provado? É punida assim? Então ....olho da Rua! Fora com ela!
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