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Escrito por Adérito Caldeira em 01 Março 2018 |
A promessa de atingir o acesso universal de energia em Moçambique em 2030 é uma utopia política, num país onde mais de metade da população vive na pobreza absoluta e é incapaz de pagar o preço cada vez mais elevado da electricidade. “As pessoas devem pagar para que se viabilize o funcionamento das empresas que produzem energia, de outra maneira não vai funcionar” afirmou Pedro Couto, o PCA da Hidroeléctrica que é “nossa” há mais de uma década, e que frontalmente revelou “quando eu era ministro lutei muito para que as tarifas fossem actualizadas, felizmente isso continua e ainda vão continuar a ser actualizadas”.
A Electricidade de Moçambique assumiu como seu objectivo o compromisso político do Presidente Filipe Nyusi que no seu discursos inaugural prometeu “que os Moçambicanos vivam num país cada vez mais iluminado, muito para além das sedes distritais” e ainda plasmou no Plano Quinquenal do seu Governo (PQG) o compromisso de “prosseguir a electrificação rural através da Rede Eléctrica Nacional com prioridade para as Sedes dos novos Distritos, Postos Administrativos e Localidades”.
Embora o PQG parta de um pressuposto errado, assume que 45 por cento dos moçambicanos tinha acesso à energia eléctrica em 2014, quando na verdade em 2017 só estavam ligados à Rede Eléctrica Nacional 28 por cento, a Electricidade de Moçambique (EDM) revela que tem 1,5 milhão de clientes no universo de 6,7 milhões de potenciais, mas o facto é que a electrificação de Moçambique está acontecer e já têm electricidade 151 das 154 sedes distritais assim como 258 dos 431 Postos Administrativos.
O drama é que 49,2 por cento dos moçambicanos vive na pobreza absoluta, segundo dados de 2015, e esses cidadãos não têm condições para pagarem o custo real da electricidade em Moçambique que, de acordo com as autoridades continua abaixo do real.
Durante um seminário de engajamento com a comunidade, realizado em Maputo na passada segunda-feira (26), o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) chamou atenção para a ambição da EDM de atingir a meta de 5,5 milhões de clientes em 2030.
“(...)Eu acho que o grande ponto de partida quando falamos de comunidade é termos um ponto de partida que saiamos totalmente de alguma tentação paternalista. Devemos evitar cair no paternalismo. Se nós não conseguirmos evitar isso não vamos resolver problema nenhum e vamo-nos enganar uns aos outros”, começou por afirmar Pedro Couto.
“Quando se fala de política pública geralmente a tendência é de pensar numa atitude paternalista ...isso está a matar-nos”
O antigo ministro dos Recursos Minerais e Energia, que também já foi vice-ministra da Economia, sustentou as suas afirmações no elevado número de moçambicanos que não têm capacidade financeira para arcar com os custos da electricidade. “(...) Em Moçambique as soluções que possamos ter não tem nenhum hipótese de se pensar que aquela outra parte (os mais ricos) vai cuidar da maioria que está no estado da pobreza absoluta”.
“As soluções devem ser estruturadas e sustentáveis para tirar esta gente da pobreza não por um atitude de caridade ou paternalismo, nós viemos dessa pobreza e é importante saber como se sai de lá. Não com uma atitude paternalista que só se entrega sem participação activa e retorno daí, senão cria-se uma mentalidade de mendigos”, disse Couto.
“E não é isso que nós queremos, queremos uma sociedade normal em que as pessoas saiam desse mais de 50 por cento da pobreza. E isso implica falar abertamente na produtividade, eficiência, rentabilidade, lucro, etc, para todos. Para as comunidades, para nós as empresas até para o Governo, porque há uma certa confusão. Quando se fala de política pública geralmente a tendência é de pensar numa atitude paternalista de transferência de renda, de oferta, de donativo, de caridade das igrejas, e isso está a matar-nos”, acrescentou o gestor máximo da HCB.
“Nós devemos dizer abertamente estou a relacionar-me contigo mas não penses que vou dar-te coisas de graça” Pedro Couto enfatizou que “primeiro as empresas devem tender a ter lucro e serem rentáveis, e não podem comprometer isso, não há nenhuma solução aqui que há de ter em base fazer distribuições gratuitas de energia. A energia tem um custo e tem um preço”.
“Por isso quando eu era ministro lutei muito para que as tarifas fossem actualizadas, felizmente isso continua e ainda vão continuar a serem actualizadas”, revelou o antigo governante presente no evento como convidado, acrescentando que “as pessoas devem pagar para que viabilize o funcionamento das empresas que produzem energia, de outra maneira não vai funcionar. Quem consome energia deve pagar e não há ninguém que possa pensar que não vão pagar, 52% da população não podem ligar energia sem pagar. Naturalmente que devemos aumentar a nossa produtividade, a nossa eficiência para sermos rentáveis”.
“Ouvi aqui uma coisa interessante, é preciso que eduquemos o pepino quando é verde, as crianças nas escolas. Óptimo, estou totalmente de acordo, mas que isso não seja a troco de sermos francos e sinceros para os adultos de hoje. Nós devemos ser muito francos e sinceros com as pessoas adultas de hoje. Essas comunidades não é só os filhos deles que devem ser educados para o futuro. Nós devemos dizer abertamente estou a relacionar-me contigo mas não penses que vou dar-te coisas de graça”, declarou o Presidente do Conselho de Administração da HCB.
Couto adicionou que “se não formos capazes de dizer estaremos a enganar e estragamos tudo. E aí não é só as empresas, honestamente o Concelho Municipal deve dizer isto e não deve ter medo de perder eleições. E também o chefe dos consumidores deve dizer isso aos seus consumidores. Cada um nós deve ser consistente e dizer claramente que não te vou dar nada de graça aqui”.
Frontal o antigo governante foi claro “Toda a confusão que há aí é porque as vezes nós temos posicionamentos dúbios, e não sendo sinceros semeamos a vã esperança de que alguma coisa gratuita vem, e este é o problema”.
“Já é subsidiada essa energia que estão a usar então paguem e vamos meter o pré-pago”
Pedro Couto deu a conhecer a experiência recente que tem na HCB e no relacionamento com a comunidade do Songo, “nós temos uma pequena rede que gerimos diretamente para fornecer energia a comunidade mesmo junto à nós. A tendência do povo é que nós não pagamos porque isso é nosso. Nosso é do Governo, logo não pagamos, impossível”.
“Claramente no fim do ano passado dissemos quem não vai pagar vamos desligar, e desligamos mesmo. Naturalmente que há quem se zangou, foram-se queixar, o povo tem que pagar. Já é subsidiada essa energia que estão a usar então paguem e vamos meter o pré-pago. E mais, vamos querer actualizar as tarifas de acordo com aquelas que são as tarifas que todo povo de Moçambique apanha. Tem de ser assim, senão é um paternalismo que não resolve o problema de ninguém” confessou o PCA da Hidroeléctrica de Cahora Bassa que disse ainda que apesar dos bons que a empresa que dirige tem com os líderes tradicionais, “reunimos com eles mas afastando a ideia de paternalismo, nós conversamos e desligamos energia do chefe tradicional que não pagou”.
Entretanto no seminário a EDM tornou público um programa de engajamento da comunidade que está a testar, ainda só em dois bairros de Maputo, mas que se propõe a tornar nacional como uma plataforma de comunicação “nos dois sentidos” com o objectivo de atender melhor o cliente e facilitar os processos da empresa distribuidora de energia.
Através dessa iniciativa a Electricidade de Moçambique pretende ainda conscientizar e educar os seus clientes nas medidas de segurança, no combate ao roubo de energia e ao vandalismo da sua infraestrutura, e também incutir os benefícios da adopção de eficiência energética.
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Thursday, March 1, 2018
Cahora Bassa é nossa mas as tarifas da electricidade “vão continuar a ser actualizadas”, Pedro Couto
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