O Papa e o jornalismo
O Papa Francisco, que como sabemos é chefe da Igreja Católica no mundo, deu uma aula semana finda que parecia dirigida a algum jornalismo moçambicano. Puxou o tema para o que parece o nosso pão de cada dia.
Jornalismo construtivo é o título que Francisco encontrou para atingir esta profissão que no mundo (não só em Moçambique) está a perder as suas bases, confundindo-se cada vez mais com política, os jornais e outros órgãos de comunicação social, com partidos.
Disse claramente que o “jornalismo não se pode transformar numa arma de destruição de pessoas ou povos, ou de alimentar medos”.
Parecia ter estado a passear pela cidade de Maputo pela avenida Samora Machel abaixo e parado na esquina do Café Continental ou da Pastelaria Scala, onde comprou alguns periódicos cuja sobrevivência só agora ficou clara e puxado para si uma das cadeiras de um desses locais de repouso para folhear as suas primeiras páginas.
Pareceu que depois disso o Papa atravessou metade da concorrida avenida 25 de Setembro e à espera do escoamento do trânsito de uma das faixas, disse: o jornalismo deve ser um instrumento de construção, um factor de bem comum, um acelerador de processos de reconciliação!
Não, não estava em Maputo, mesmo tendo em conta que no mesmo encontro, Jorge Bergoglio (nome próprio do Papa), tenha afirmado que “o jornalista tem um papel de grande importância e ao mesmo tempo de grande responsabilidade”, uma vez que, de alguma forma, “escreve o primeiro esboço da História”.
O Papa foi mais longe ao dizer que um artigo hoje publicado, embora amanhã seja substituído por outro, pode destruir para sempre ou difamar injustamente a vida de uma pessoa, para terminar com a achega segundo a qual “a crítica pode ser legítima, assim como a denúncia do mal, mas sempre com respeito pelos outros, a sua vida e os seus entes queridos”.
Dito isto, na semana em que o Presidente da República se encontrava na capital do mundo, parece ter-se dirigido aos semanários e “digitais” moçambicanos que se esmeraram para que a missão de Nyusi fosse mal sucedida nas terras do Tio Sam.
Houve jornais que se adiantaram a um hipotético fracasso da visita, simplesmente porque o seu/nosso Presidente da República não esteve na Casa Branca, ao lado de Barack Obama, como se isso fosse do interesse supremo dos moçambicanos.
Aqueles que cedo saíram à rua a dizer que se tratava duma humilhação inqualificável a visita do presidente do seu país, evitando, desse modo, avaliar a agenda presidencial aos EUA, a ver se era prioritário encontrar-se com um presidente que já em Novembro não é.
Aqueles que não foram ao programa presidencial para seguir, ponto por ponto, as tarefas a que Nyusi se propusera em Washington, Houston (Texas) e Nova Iorque, que só deixaram de aplaudir quando dia-após-dia foram sendo desmentidos pela diplomacia que muitos se esforçam em não reconhecer.
A ideia era pintar o país, ao sabor de quem de propósito não queremos nomear, de insucessos. Era dizer, ao agrado dos donos dos jornais que conhecemos, que vale a pena importar governantes deste país porque os nossos não valem o que deviam. Era afirmar que vale a pena que Moçambique continue “castigado” pretensamente por causa dos erros cometidos, voluntária ou involuntariamente, por moçambicanos alguma vez no governo ou fora dele.
Há, na verdade, jornais que confundem a verdade com a destruição da imagem das pessoas, desacreditam a todo o custo as instituições, tudo fazem para que o povo moçambicano seja visto continuamente de soslaio e permanentemente desconfiado.
O Papa estava, na verdade, a “ler” alguns jornais moçambicanos que na grande luta para a reconquista da confiança que o país precisa, estão na vanguarda de aconselhamento ao mundo para que ele nos dê a áurea oportunidade de nos redimirmos. Tudo, ao sabor das agendas dos patrões que pensam que se esconderam.
Jornais e mentes que nestas duas semanas aumentaram o seu descrédito, por uma simples razão: Nyusi contrariou-os.
Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com
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