O triste episódio que ocorreu há dias na Escola Secundária Josina Machel convoca-nos a uma introspecção colectiva. Se tivermos de enveredar por um retiro, que assim seja. Se para tal tivermos de largar os telemóveis, idem aspas. Os adolescentes, jovens, educadores, professores e a sociedade em geral agradecerão o gesto porque se aperceberão que, finalmente, acordamos e vivemos para eles.
Não temos nem conhecemos a fórmula, mas de uma coisa estamos certos: temos de resgatar o respeito. A boa educação. A humildade. O saber ouvir. A boa vizinhança. Enfim, a moral e os bons costumes. Temos de incutir na sociedade, nas nossas crianças e jovens, não importa o sexo, que os desejamos bem, tal e qual o nosso pai, a nossa mãe, o nosso irmão ou irmã.
Não lucraremos nada se de cada vez que o vizinho chamar à atenção ao nosso educando, ainda que complementado com um carolo, chegados dos nossos afazeres nos atiremos linearmente a ele com impropérios à mistura e ameaça aberta de agressão.
Não lucraremos nada se, pelo mesmo motivo, corrermos à esquadra mais próxima para meter queixa do nosso vizinho ou próximo que, na expectativa de corrigir um arreliante desvio de padrão comportamental da criança, se excedeu na metodologia.
Não lucraremos nada se não conseguirmos incutir nas cabeças dos nossos filhos que o professor é a bengala e lanterna que já ilumina o nosso futuro quando no nosso cérebro tudo ainda são trevas ou madrugada a roçar ocrepúsculo.
Também não lucramos se não defendermos os nossos professores, quer no recinto escolar quer fora dele, de comportamentos agressivos dos nossos estudantes – graças a DEUS que ainda são uma minoria – que mais ou menos ébrios perdem-lhes completamente o respeito sob pretexto de que estão fora das fronteiras físicas da escola.
Entulhar, literalmente, os nossos filhos de dinheiro e telemóveis de última geração, carros top de gama, férias gordas, mas não tendo tempo, espaço e preocupação para com eles só nos fará colher penúria e pegar um valente susto quando acordados da nossa distracção tivermos de ir à esquadra porque o nosso filho foi trancado numa cela quando devia estar, sim, fechado na sala de aulas, tendo ele borla ou não, batendo-se valentemente com os manuais para descobrir os segredosdesenlaçáveis da Matemática, Química, Física, Biologia.
Exemplo mais do que elucidativo de como andamos distraídos é como os nossos filhos se vestem e o que levam nas mochilas. Se dúvidas havia ficou mais do que claro para quem acompanhou o que sucedeu na “Josina Machel”, na cidade de Maputo: alunos esfaquearam-se na escola!
Quem viu o vídeo ou as imagens que passaram pelas televisões sentiu-se duplamente violentado. Primeiro pela agressividade da contenda e segundo pelos largos minutos de repetição da briga que obrigou não poucas pessoas a deitar mão ao controlo remoto para mudar instantaneamente de canal.
Entendemos que a violência, quase assassina, naquele caso, como poderia ter sido noutra, não é para esconder, escamotear, mas da maneira como foi mostrada levanta-nos sérias dúvidas se a mensagem, cremos educativa, para lá do lado noticioso da questão, tenha sido, efectivamente, entendida pelos telespectadores.
Agora, pais e encarregados de educação estão em estado de choque mas, se essa paralisia for igual à velocidade de um TGV (comboio rápido), dentro de 24 horas teremos esquecido completamente do caso e estaremos tão a leste do dia-a-dia dos nossos filhos como estávamos antes do episódio da “Josina”.
E, já agora, porque os protagonistas do caso “Josina” eram adolescentes a pender para jovens talvez valha a pena recordar que a adolescência é considerada uma fase difícil – talvez a mais difícil de um jovem – devido à chamada crise de identidade. Há quem avance que os pais são parte do problema e, segundo essa corrente de opinião, se você não entender o que está acontecendo com o seu filho, a crise irá se agravar. Nós ainda vamos a tempo de evitar males maiores.
Se calhar é preciso revermos o papel que nos é reservado enquanto pais. A sabedoria popular diz claramente que na escola o indivíduo vai para ser instruído; a educação recebe-a em casa. Com a desculpa dos afazeres diários (legítima ou não) há cada vez menos pais a investirem na relação directa com os filhos. Outorgam essa responsabilidade para a sociedade e em particular para os professores. Sucede porém que o homem é lobo do homem. Há responsabilidades que não se podem denegar. São intrínsecas à condição de pais e encarregados de educação.
O incidente da “Josina Machel” é apenas a ponta de um enorme iceberg. Aliás, foi postada há dias outra filmagem onde um menino esbofeteia outro na mesma escola. Algo vai mal. Ali e noutros cantos das nossas escolas. A sociedade é convocada a fazer uma leitura profunda dos caminhos que está a seguir. É tempo de agir. Se andarmos com panaceias vamos apenas adiar o mal maior. Eduquemos as crianças hoje para não termos adultos problemáticos amanhã!
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