Provavelmente, eu fui uma das primeiras pessoas a aceitar e declarar publicamente que o que existe em Moçambique não é tensão político-militar, mas, sim, guerra! Em todo caso, isto em nada nos beneficia como país.
Por exemplo, depois de ver os serviços noticiosos de algumas televisões nacionais, qualquer cidadão quer seja nacional ou estrangeiro chega à fácil conclusão de que Moçambique está em guerra, embora haja episódios em que tal levanta muita dúvida.
A título de exemplo, o vídeo que aqui posto fala de um assalto havido na província da Zambézia, alegadamente protagonizado por homens armados da Renamo. Repito: alegadamente. Há uma coisa que deve ficar sublinhada: em tempos de guerra há muita propaganda enganadora.
O que pretendo não é negar ou aceitar que o referido assalto haja sido protagonizado por homens armados da Renamo, mas sim colocar a questão num outro ângulo. É que o país está de rastos. Sendo assim, é de esperar que haja grupos oportunistas que se associem para roubar, assaltar às populações, aproveitando-se do clima de guerra. Chama-se a isto de oportunismo.
E pode ser que tanto a Polícia e as televisões estejam enganadas ao atribuírem determinados assaltos à Renamo. E essas notícias difundidas pelas televisões nacionais são vistas fora do país. A BBC, Reuters, Al Jazira, Lusa e tantos outros, têm repetidas vezes falado de assaltos protagonizados por homens armados da Renamo. E, em determinadas circunstâncias, têm como fonte os órgãos de comunicação social moçambicanos.
A meu ver, acho que falta a precisão, pelo menos às nossas televisões, de quem efectivamente protagoniza tais distúrbios. Estamos em guerra, claro. Mas também temos oportunistas. E muitos. Existem várias pessoas marginalizadas pelo país fora, não lhes custa nada associarem-se em grupos e vandalizar tudo e mais alguma coisa. E as fontes oficiais e as nossas televisões acabam dizendo que foi a Renamo.
O país a esta altura precisa muito de prudência. De envolvimento de todos os moçambicanos na promoção do bem comum que é a paz. Já nos basta o facto de as grandes cadeias de televisões do mundo terem banalizado Moçambique por conta dos refugiados no Malawi e dívidas ocultas.
Eu, Nini Satar, que vejo os noticiários das televisões mundiais, fico escandalizado quando falam mal do meu país. E recorrentes vezes me tenho perguntado: quem ainda vai investir em Moçambique? É que a situação está pior, de tal sorte que não tardará para vermos prateleiras dos supermercados às moscas. Não haverá nada para comer. Isso que chamamos de guerra, se vai alastrar até ao centro da cidade de Maputo.
O dólar vai a passos galopantes para a casa dos 100 meticais. O rand também está a subir. O metical sempre a depreciar-se. E vivemos única e exclusivamente de importações em tudo. O que será de Moçambique?
Eu disse aqui, certa vez, que os ladrões de amanhã, serão pessoas que nunca roubaram a ninguém. Vão aprender a roubar por causa da fome. Teremos até medo de comer uma sandes na rua sem sermos arrancados. Estamos à beira do abismo. E com as propagandas da guerra das nossas televisões, tornaremos tudo pior. Há que colectivamente, mudarmos de atitude.
E mais: como povo, em nome da nossa cidadania, até já devíamos ter saído à rua quantas vezes forem necessárias para exigirmos que o Governo da Frelimo e a Renamo parem de escangalhar o nosso país. Moçambique não é só deles. É nosso e todos temos os mesmos direitos.
Nini Satar
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